Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 30
Capítulo 30




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O primeiro desafio

Nathália estava impassível diante dos três inimigos. A espada e o escudo estavam em meia guarda, prontos para ação. Todo o corpo dela estava retesado, como se estivesse prestes a explodir. Minutos se passaram sem que nada acontecesse. Por fim ela baixou o escudo e se aproximou do cavaleiro, com uma expressão de dúvida e perplexidade...

– Vem cá... eles não deveriam me atacar ou coisa assim? Quer dizer, é um desafio de combate, no final das contas.

O cavaleiro a fitou, o peso dos anos forçando suas grossas sobrancelhas para baixo. Ele suspirou como se estivesse entediado. Por fim forçou um largo sorriso, mostrando os dentes amarelados.

– Mas o meu português não é assim tão bom. Eu deveria ter dito que se tratava de um desafio de combate. Você deve escolher um dos contentores. Eu lhe advirto que cada um deles é tão capaz quanto qualquer outro e igualmente mortal. Será a luta da sua vida contra qualquer um deles. Se lutar com um deles já é formidável, enfrentar os três é puro suicídio. Escolha com cuidado.

“Qualquer um deles serve, vamos acabar logo com isso”. A frase explodiu na mente de Nath e queimou em sua boca. Mas ao invés de gritar a frase e atacar o primeiro deles, Nathália se conteve. Ele tinha levado a pior na última batalha que tinha travado contra a caçadora de Artemis e o gosto da derrota ainda amargava a sua boca. Pense, ordenou ela para si mesmo. Quem eu devo enfrentar? O guerreiro da espada parecia magro e ágil. O jeito como segurava a arma dava uma idéia de suas habilidades. A espada parecia veloz. O segundo com a rede e o tridente parecia ser o mais equilibrados dos três. Já o do machado parecia ser força bruta encarnada. Ele precisava de apenas um golpe para partir Nathália ao meio.

– Escolha. – a frase do guardião ecoou pela arena recém montada arrancando Nathália de seus devaneios. Ela olhou para trás, em busca do apoio dos amigos, mas viu-se sozinha. Eles estavam lá, mas é como se estivessem distantes, do outro lado de uma tela de TV.

– Eu escolho o guerreiro da rede e do tridente.

– Pois que comece a batalha!

Um brilho cegou Jade por um segundo. Ela cobriu os olhos e depois sentiu o ar seco à sua volta. O cenário tinha mudado. Ela e seus amigos estavam de volta ao setor militar urbano, mas havia algo errado. Nathália tinha de novo seis anos de idade e estava vestida com um uniforme de escola. Ao lado dela vinha Verônica. As duas corriam desesperadamente pelas ruas desertas, sendo perseguidas por aranhas monstruosas. Jade olhava para o lado e via seus colegas vendo a mesma cena, mas incapazes de se mover. O cavaleiro pousou ao seu lado e puxou um banquinho de plástico. Separando o banquinho em dois ofereceu um para Jade e sentou-se no outro.

– Nunca fui bom para deter filhos de Apolo. É a luz – ele disse como se estivesse se desculpando – Não se preocupe. Os seus amigos não sofrerão qualquer mal. Mas você parece familiar com as imagens que sua amiga está revivendo.

– Sim – disse Jade sem pensar, sentando no baquinho que lhe fora oferecido – ela me contou desse pesadelo centenas de vezes. Chegamos ao santuário juntas e ficamos amigas. Depois nos separamos – a imagem de Dezan surgiu na sua mente por um segundo – mas acho que superamos isso. Mas pelo que eu me lembro as criaturas aranhas atacaram os pais de Nathália. Sua mãe foi mortalmente ferida.

– Ah, aquela é, ou era a realidade. Pelo menos a realidade que a mente da guerreira guarda. O poder do tridente é transformar as memórias mais dolorosas da pessoa fazer trazer de volta à vida essas memórias, mas de uma maneira mais cruel e caótica. Mas não pense que Tridente é maligno por causa disso. É um dom. Da mesma forma que ele oferece o inferno ele também oferece a redenção. A sua amiga deve achar que parte do que aconteceu foi culpa dela. Por isso a memória surgiu. Só ela e, ninguém mais, pode vencer as memórias ruins.

– É como se o Bruce Wayne criança interferisse e impedisse o assassinato dos pais? – a voz de Eric rasgou a serenidade do aposento, fazendo com que o cavaleiro quase caísse de seu banquinho de plástico. Ele vinha acompanhado de Oliver e Isabel.

– Mas como...?

– Magia de filha de Hécate, poderes do rei das fechaduras e luz do filho das estrelas – a voz serena de Isabel soou pesada como uma bigorna na sala. Oliver estava com a sua espada sacada, o que deixou o cavaleiro preocupado. Foi preciso apenas um olhar de Jade para que o amigo percebesse e guardasse a espada. Eric trouxe mais baquinhos e todos se sentaram observando a frenética perseguição.

– O que acontece se Nathália não vencer a ilusão do tridente? – Eric perguntou após abrir um pacote de M&M’s de sua mochila e oferecer para os presentes.

– Ela morre – sentenciou o cavaleiro.

Nathália estava sendo arrastada por Verônica até que uma das criaturas saltou e separou as duas com um golpe de suas patas peludas de aranha gigante. Verônica desacordou com o golpe e foi levada pelas feras de oito patas. Nathália começou a correr no outro sentido, querendo apenas fugir. Ela só queria fugir. Buscar ajuda. Chegar em casa e avisar alguém que pudesse ajudar. O medo a queimava por dentro como uma faca sutil cortando sua alma lenta e inexoravelmente. Foi quando sua mão esbarrou no bracelete de bronze. Por um momento ela parou e todos puderam ver a disputa que estava acontecendo em seus olhos. Pouco a pouco o medo deu lugar à raiva e a essa mesma raiva deu lugar ao desejo de salvar a irmã. Ela irrompeu por onde as aranhas tinham ido.

– É assim que se faz menina! – Oliver torceu genuinamente. Jade olhou para ele como se o repreendesse mas Oliver não percebeu. Ele estava vidrado, como uma criança de quatro anos vendo a galinha pintadinha na TV. Foi que Jade percebeu que não era censura que ela sentia e sim, uma desagradável pontada de ciúmes pelo amigo.

Nathália seguiu as aranhas até uma praça. No alto de uma luminária a sua irmã gritava seu nome em desespero. Entre as duas mais daquelas aberrações. Nathália pôs-se a correr desviando com habilidade e vontade das aranhas que tentavam agarrá-la. Por fim ela saltou sobre uma delas e aproveitando o impulso rolou no chão deixando a aranha para trás. Foi quando ela viu a sua irmã cair do alto do poste, estatelando-se no chão antes que ela pudesse alcançá-la.

– Verônica! – gritou ela num soluço, apoiando a cabeça da irmã no seu colo.

– Nathália, fuja daqui. Fuja enquanto pode, pequen...

Ela não terminou a frase. Seus olhos reviraram e sua cabeça pendeu sem força para a esquerda, deixando sangue escuro escapar pela boca entreaberta. Nathália gritou de novo o nome da irmã, agarrando e sacudindo o seu corpo já frio e sem vida. Ela olhou para o lado e viu as seis aranhas monstruosas arrastando-se na sua direção. Do outro lado ela viu uma porta aberta, de onde uma voz adocicada clamava por seu nome.

Nathália deitou a cabeça da irmã no solo e se levantou. Ela olhou para as Aracnys – as filhas monstruosas de Aracne – e cerrou os punhos. Ela olhou com desdém para a porta e virou para as aranhas. Ela tocou o bracelete de bronze e este começou a brilhar. O brilho a envolveu e a silhueta do seu corpo mudou. Cresceu. Ficou como a Nathália que todos conheciam.

– Ares, atenda minhas preces! Conceda a minha vingança! Ou pode ir para o inferno.

O bracelete brilhou ainda mais, cobrindo o seu corpo com uma luz dourada. Por fim ela estava coberta por uma armadura de corpo inteiro, feita de bronze celestial. Uma armadura que faria qualquer cavaleiro de ouro do novo filme dos Cavaleiros do Zodíaco ficar com inveja. O brilho cessou e uma das Aracnys saltou sobre ela. Nath simplesmente saltou para o lado e chutou a criatura, fazendo o monstro subir pelo menos uns três metros no ar, caindo de costas no chão. Mas Nath não teve tempo de saborear o seu primeiro nocaute: uma segunda criatura a agarrou mas Nathália a derrubou com um golpe de judô. Ela se levantou rápido e aplicou um gancho de esquerda na criatura, fazendo-a vergar-se sobre o próprio corpo. Aproveitando a posição vantajosa Nathália golpeou as costas da criatura, fazendo-a rolar para o lado. Uma terceira criatura tentou acertar um golpe, sendo prontamente bloqueada. Ainda agarrada a criatura Nathália girou a cintura e arremessou a fera para o alto de uma casa. O monstro não demonstrou espanto, pousando sobre as patas inferiores. Ela se virou e saltou sobre Nathália, presas à mostra, descrevendo um arco mortal no ar. Nath flexionou os joelhos e voou em direção a criatura, acertando um chute poderoso na mesma, fazendo-a sumir através de uma janela estilhaçada da mesma casa.

As cinco feras restantes começaram a rodear Nathália, como se tivessem pensando em outra estratégia. Elas agiam como leões em caça cercando a presa a esperando pela hora de dar o bote fatal. De repente uma delas vomitou um sedoso bloco de seiva branca que prendeu o braço direito de Nathália. Antes que ela pudesse contra-atacar outras aranhas fizeram o mesmo, cada uma prendendo um de seus membros. Puxada por vários lados Nathália foi derrubada no chão.

– Ah, cinco contra um é covardia! – berrou Eric, cuspindo fragmentos de M&M para todos os lados.

– Verdade – comentou Oliver – a prova de combate está desigual. Não podemos ajudar?

– Não. A filha de Ares deve se mostrar digna da primeira vitória ou morrer tentando. – o cavaleiro parecia resignado, mas Jade pode ver que sua expressão facial o traía. Ele torcia, contido, pela vitória de Nathália, que no fim de todas as contas era sua irmã.

Nathália sentiu que as aranhas tentavam imobilizá-la para que pudessem derrotá-la. A teia era pegajosa e resistente como o aço. Por mais força que ela fizesse não conseguia fugir do seu abraço. “Ah se eu tivesse uma serra elétrica” pensou ela quase em voz alta antes de sentir a perna esquerda estalando com o esforço. Então o braço esquerdo da armadura brilhou e o antebraço foi coberto por uma proteção mais grossa terminando num gládio serrilhado. Com um giro do pulso Nathália livrou uma das mãos. A aranha monstruosa caiu para trás, enroscando-se momentaneamente na própria teia. Com o braço livre Nathália tratou de agir, livrando o resto do corpo. As aranhas se reagruparam rapidamente na frente dela, buscando a força e a proteção do grupo numericamente superior.

– Vá Nath! Acaba com eles! – gritou Jade, erguendo-se do banquinho de plástico e batendo palmas. Logo seguida por Oliver e Eric. Os dois fizeram uma cadeirinha com os braços e colocaram Jade sentada nela, jogando-a para cima enquanto a filha de Apolo torcia.

– Que tolice. Ela não pode ouvir – pensou o Cavaleiro, quando ele mesmo pode perceber que as aranhas ficaram confusas por um momento. Tamanha era a energia dos três amigos que as aranhas podiam ouvir a voz deles, mesmo através da barreira dimensional. Por baixo do Elmo da armadura Nathália sorriu. Não estava mais só. Aliás, nunca estivera.

Nathália arremeteu sobre o grupo inimigo, numa clara manobra de carga. Duas das aranhas monstruosas foram simplesmente jogadas de lado como pinos derrubados por uma certeira bola de boliche. As restantes buscaram refúgio para dentro de uma das casas abandonadas em volta.

– Nathália – a voz de Verônica ecoou pelo campo – você deveria ter fugido. Por que ficou?

O elmo da armadura retraiu como um capuz metálico. O rosto de Nathália estava paralisado. A névoa tremeluziu um segundo e a face de verônica ficou exposta como a do guerreiro que Nathália tinha desafiado. Ele aproximou-se lentamente da guerreira imóvel, cada passo fazendo sua formidável armadura de bronze recuar mais um pouco.

– Vai ficar tudo bem, Nath.... eu prometo. - A voz era melodiosa como uma harpa. Ele estendeu os braços em volta de Nathália sem esconder a adaga em suas mãos. Ele abraço a menina com força e os dois convulsionaram. Mas no fim, apenas Nathália estava de pé. A menina trazia consigo uma adaga atada ao pulso, ligado ao bracelete.

– O primeiro desafio foi vencido! – anunciou o cavaleiro depois de servir-se dos M&Ms restantes. – Hmmm... isso é bom, tem mais disso aí?


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