Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 22
Capítulo 22




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Entre semideuses e lobos.

Embora a rajada de energia não tivesse sido tão impressionante quanto a que usou contra Zeus, Oliver sabia que o golpe tinha surtido mais efeito do que qualquer das caçadoras de recompensa queria admitir. A líder delas demoraria a voltar ao campo de batalha, pelo menos tempo o bastante para que ele resgatasse Nathália. Ele correu entre as poças de água se colocando ao lado da jovem.

Ela respirava com dificuldade, com o peito chiando quando ela inspirava, efeito secundário das costelas quebradas, com certeza. Estava desmaiada. Oliver vasculhou os bolsos em busca do frasco de ambrosia que trazia sempre consigo. Era do tipo comum, que Roberto sempre carregava consigo o tempo todo, e ele esperava que fosse o bastante para colocar Nathália de pé. Afinal de contas não ia demorar para que o lugar estivesse coalhado de semideusas virgens vingativas. Enquanto administrava os primeiros socorros a mente de Oliver devaneou até vinte minutos antes, quando sentiu o desejo irresistível de seguir Nathália e Hyparsia a uma distância segura. A distância garantiu que nenhuma das duas o visse, mas não permitiu que ele chegasse a tempo de impedir que a amiga fosse brutalmente espancada. Não sabia ainda porque tinha vindo, mas julgava que tinha algo a ver com a tatuagem mágica que partilhavam.

– Será que os outros sentiram a mesma coisa? – perguntou ele enquanto enfaixava a cabeça da amiga. Ela tinha tomado a ambrosia e Oliver podia ver seus efeitos como num filme do Wolverine: as feridas estevam fechando a olho nu, deixando apenas algumas leves cicatrizes. Ele precisava apenas de mais alguns minutos. Minutos que lhe faltaram quando ouviu o ronco dos motores se aproximando.

Eram as companheiras de Hyparsia. Duas das três. Elas o circundavam de longe, como tubarões espreitando a sua presa. Uma delas trazia nas mãos uma corrente e a outra trazia o que parecia uma lança curta que mais parecia um tipo de arpão. A distância podia ver Hyparsia voltando, carregando nas mãos o que sobrara da sua jaqueta de couro. Mesmo com a chuva e naquela distância Oliver sabia que ela estava possessa. Ele guardou o resto da ambrosia e ficou em posição de luta. Um relâmpago rasgou o céu, como se protestasse quando ele sacou sua espada novamente. Era a mesma espada, mas um pouco diferente. Ela estava mais agressiva, com um toque de crueldade maculando seu design simples e belo. O semblante de Oliver também ganhou contornos soturnos a medida que ele foi andando em direção ás motoqueiras.

Era possível sentir a tensão no ar. Cada passada do rapaz ecoava pelo campo apesar do barulho dos motores e da chuva. A névoa fraquejava em suas vistas, deixando a cena o mais real que ela podia fazer. O ar crepitava de ansiedade. Uma das motoqueiras arremeteu sua moto-lobo na direção do menino, o ronco do seu motor substituído por um uivo selvagem, capaz de gelar a alma do mais valoroso dos combatentes. Ela girava a corrente bem no alto. Sua intenção era atropelar Oliver e se ele se desviasse para qualquer lado atacar com a corrente. Teria funcionado se Oliver não tivesse tido as aulas com Karine. Aquela manobra era velha conhecida dos filhos de Ares e Oliver conhecia pelo menos dois modos de sair dela. Mas ele não agiu de nenhuma das maneiras que ele pensava. Num instante a sua mente ficou em branco, e ele simplesmente agiu. Ou melhor, sua espada agia por ele. A rajada de energia atingiu o lobo na testa, fazendo-o parar bruscamente e jogando a motoqueira para frente, como se tivesse sido arremetida de uma catapulta.

A menina motoqueira com a corrente deve ter voado uns bons dez metros sem controle no ar, até que se dobrou sobre si mesma e, imitando uma ginasta olímpica em meio aos exercícios de solo, pousou sobre a grama enlameada do descampado, deslizando até parar com segurança do outro lado. A segunda delas apontou o arpão para cima e Oliver sentiu o ar se encher de energia. Uma descarga elétrica desceu do céu, errando seu alvo por pouco. Oliver então percebera que a menina tinha o mesmo semblante altivo e superior de Zeus. Enfrentava uma de suas filhas neste exato momento. A menina sorriu satisfeita, os cabelos longos, molhados e esvoaçados pelo vento que começara a soprar emprestavam a seu rosto uma expressão madura e concentrada. As nuvens começaram a ficar densas. Era claro que preparava outro raio. E dessa vez Oliver talvez não fosse rápido o bastante. Não que ele pudesse realmente se preocupar com isso, já que a moça das correntes estava a ataca-lo mais uma vez.

Ela combatia a meia distância, usando a corrente para manter Oliver ocupado. “ela está ganhando tempo para a outra atacar você com o raio”, Oliver ouviu a voz na sua cabeça. Já tinha ouvido aquela voz antes, mas era quase como um sussurro e sempre com palavras curtas que o incentivavam a continuar quando estava para fraquejar. Era a primeira vez que a voz lhe falava com tanta potência. Potência que o distraiu, a um preço bem caro. Um dos ataques da corrente atou-se a seu braço esquerdo. O puxão foi imediato e ele foi arrancado do chão com muita força, caindo de cara na lama. O ombro explodia em dor. Estaria deslocado? Quebrado? Oliver ergueu a cabeça a tempo de esquivar do pisão de Hyparsia. A motoqueira tinha se aproximado mais rápido do que ele previa e atacava com ferocidade. A espada fora arrancada de sua mão com um chute no antebraço. Antes de tocar o chão a lâmina especial desparecera em pleno ar. Oliver desesperou-se. Sem a espada ele era menos que um nerd que a uma semana começara a ter aulas de artes marciais. Não era páreo para um briga num pátio de escola, o que dizer enfrentar três caçadoras experientes e armadas? Fez o melhor que pode para se defender, mas os golpes de Hypersia insistiam em atingi-lo. Nenhuma sequencia espetacular como a que ela usara em Nathália. Ela estava ferida sim, um dos braços parecia quebrado pelo modo que pendia ao longo do corpo, mas isso não a impedia de atacar. E a cada soco que levava, mais perto da inconsciência Oliver chegava.

“Maldito seja moleque!” a voz ecoou novamente na sua mente. “Liberte-me: deixe que eu lute esta batalha ou nós dois vamos morrer”. Oliver estava confuso. Mal conseguia raciocinar. “Diga meu nome… você já fez isso antes. Diga meu nome e deixe que proteja sua amiga”. Oliver relutou. Algo dentro dele dizia que era melhor morrer do que libertar todo o poder da espada. Quem sabe o melhor fosse desistir e deixar que a inconsciência o levasse embora. Mas o seu corpo ansiava por viver. Ele queria viver. Uma chama despertou dentro dele quando a voz deu sua última cartada: “me deixe sair, ou jamais verá sua mãe novamente”.

Hyparsia ergueu o corpo quase desacordado do semideus do chão, pela gola da camisa. Ergueu alto como se portasse um troféu. A chuva molhava ambos, limpado o sangue do rosto de Oliver. Se sobrevivesse ia acordar com o rosto muito machucado. Eis que ela se assustou quando o menino abriu os olhos, tomados de pura fúria, e com os dois pés chutou Hyprsia no peito, libertando-se de seu agarro. A espada ressurgiu em seu punho, ainda mais ameaçadora e cruel que antes. O menino tombou a cabeça para o lado e gargalhou inumanamente.

Uma das motoqueiras arremeteu sobre ele. A corrente estava enrolada em seu braço, como se fosse uma luva de aço. O movimento do menino foi fluído e veloz, esquivando do ataque e cortando o baço da moça, pouco acima do cotovelo. A menina caiu no chão, berrando de puro pânico e dor, agarrada ao coto do braço que sangrava profusamente. Num piscar de olhos Oliver estava sobre ela. Ele agarrou o braço decepado do chão e bateu na menina pelo menos duas vezes antes dela desmaiar. Ele olhou para Hyparsia e para a filha de Zeus, ambas petrificadas de terror. Num movimento rápido ele arremeteu-se para frente, golpeado com rapidez inumana.

– Pelos deuses! – gritou Hyparsia – ataque agora Kleynna!

– Mas estamos muito perto… – reclamou a filha de Zeus antes de tomar a decisão de atacar. O ar crepitou em volta dela e o relâmpago desceu dos céus, atingindo com força o seu arpão. No mesmo instante ela direcionou o arpão para Oliver e gritou – frágma vronterí!

O menino pareceu ficar sem ação por um segundo e depois uma sequencia de vários raios abate-se sobre ele. Uma sucessão brilhante de pelo menos uma dúzia de raios caiu sobre ele, o som dos trovões ensurdecendo tudo a volta de todos e a sucessão de flashes tão ardentes quanto olhar diretamente para o próprio sol. A onda de choque dos ataques foi o bastante para varrer tudo num raio de 20 metros do campo de batalha, criando um semicírculo de mato queimado e terra cozida. No centro dele, Oliver estava de pé. A espada agora não estava sozinha. Seu braço direito e ombro estava cobertos por uma meia armadura que parecia feita de fragmentos de diamante colados com fios de ouro. Espinhos finos nasciam em toda extensão do braço, como se lembrassem da natureza guerreira e perigosa da armadura.

O menino não mais gargalhava. Ele andou devagar até Kleynna. A menina respirava com dificuldade. O golpe especial que usava drenara toda a sua energia. Era um milagre ter sobrevivido. Oliver ergueu a espada e golpeou com força.

– Não! – gritou Hyparsia. Sua visão borrou por um instante e ela viu a espada parada a poucos centímetros do pescoço da companheira. Ela viu o rosto do menino se contorcendo, como uma pessoa que está tentando a todo custo acordar-se de um pesadelo. Ela retirou do bolso um apito e soprou com força, embora não produzisse qualquer som. As moto-lobos atravessaram velozmente o campo de batalha, cada um pegando a sua amazona, partindo em seguida. – Nos encontraremos de novo, jurou Hyparsia enquanto que ela e suas companheiras rumavam para fora do alcance do menino.

Oliver finalmente abriu os olhos. Na frente dele estava um rapaz. Ele tinha pouco mais que sua idade. Era impossível não notar a semelhança. Um filho de Astréia, como ele. Mas muito antigo, como se fosse um eco de um passado longínquo. Os cabelos longos emolduravam com selvageria o rosto magro e o tapa-olho de cor preta lhe emprestava um ar sinistro. Ele falou em grego, mas Oliver compreendeu perfeitamente em português:

– Cedo ou tarde você vai ter de me deixar sair irmãozinho. Essa é a maldição da espada.

Tudo ficou escuro e Oliver ouviu outra voz, dessa vez mais conhecida e amiga:

– Aguenta firme, irmão. Você está comigo e nada de errado vai acontecer!

– Eu sei. – a voz de Oliver sumiu num sussurro enquanto ele desfalecia nos braços de Eric.


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