As minhas sete ex-melhores amigas. escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 3
Parte I - Cigarros que anteciparam a minha morte.




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Naquela noite cheia de indecisões, eu certamente não consegui dormir direito, o que fez com que eu acordasse às seis da manhã. Assim que acordei, fui direto para a cozinha, e então percebi que meu pai já havia ido trabalhar. Ainda mancando e com dores musculares não muito incomodas, fui me apoiando nos móveis para pegar no forno o sanduíche de presunto que ele sempre prepara para mim antes de ir para a oficina. Embora eu não estivesse com muita fome, consegui comê-lo inteiro.

Depois de me trocar, vestindo uma bermuda de pano curto e uma camisa velha e desbotada vermelha, resolvi abrir meu notbook e entrar no facebook. A princípio, nem olhei direito quem pediu minha amizade, porque provavelmente era aquela garota ruiva e insuportável que só sabe encher o saco dos outros. Tão linda... Mas tão babaca! Oh, deus. Percebi que Noelle entrou em um relacionamento sério com Marco, e não fiquei tão decepcionado, somente triste. Deixei pequenas lágrimas salgadas escorrerem de meus olhos, até que meus lábios sentissem o sabor da tristeza. Tudo era tão deprimente. Tão frio. Tão cinza.

Enfim, tomei coragem para ver quem havia me enviado mensagens nos últimos dias. Uma delas era de Henrique, meu melhor amigo negro. Ele me avisou que voltaria do litoral para cá na próxima semana, o que não me deixou muito animado, já que Henrique está namorando, e não irá me dar muita atenção. Também havia mensagens do JP, meu melhor amigo branco, mas como ele também estava namorando, não fiquei com esperanças de que sua vinda pra cá realmente importasse. A última mensagem era de Tia Hellen, a irmã hippie do meu pai que passa o dia inteiro fumando cannabis.

Respondi todos os recados educadamente. Logo após isso, vi quem me pediu em amizade, e certamente era a garota ruiva. Seu nome ‘Alice Ivanov’, sua foto de perfil era dela em lugar com neve, e ela parecia ainda mais linda numa simples imagem. Os cabelos estavam mais encaracolados, a pele mais branca, e o sorriso mais verdadeiro. Ela parecia uma pessoa muito melhor do que agora...

Passei o resto daquela hora vendo as postagens e fotos que encontrei em seu perfil. Ela vinha de uma família sueca, que provavelmente seria de classe média, morava sozinha com o irmão, e acho que os pais haviam falecido. Também existiam fotos dela com um garoto muito parecido comigo, sendo que a única diferença é que:

1 – Ele tinha olhos azuis.

2 – Ele era bonito.

3 – Eu nunca namoraria uma menina bonita.

4 – Ele provavelmente tem vinte anos e é um universitário viciado em sexo e academia, o que provavelmente faz com que meu complexo de inferioridade piore ainda mais.

Quando olhei o status de relacionamentos de Alice, percebi que ela não estava mais namorando, então boa parte de sua tristeza deveria ser por conta disso. Ou da morte de seus pais, entre outras coisas que acontecem em nossas vidas. E eu a julguei por fora, e não por dentro, o que fez com que eu ficasse um pouco mal. Porque todas as pessoas querem ser algo que, verdadeiramente, não são.

Eu já estava tão entretido ao utilizar a internet novamente, que demorei a perceber que meu celular estava tocando. Corri rapidamente para atendê-lo, o número não identificável, vai que era a Noelle em outro telefone...

“Dante Collins?”, perguntou-me uma voz feminina do outro lado da linha.

“Uhum, eu mesmo, quem é?”, respondi, em tom de decepção, logo após perceber que não era Noelle.

“Jura que você não sabe, seu merda?”

“Ah, você de novo não... Alice!”

“Primeiro: Se pronuncia ‘Élice’, e não ‘Alicê’. Segundo: Você até que é gostosinho nas fotos do facebook. Terceiro: Posso ir aí à sua casa, e tal? É que eu tô sem nenhum amigo por aqui, eu briguei com meu namorado, e eu estou muito deprimida. Por favor...”.

“Hum, pra mim tanto faz, mas o meu apartamento fica num bairro um pouco perigoso. Me encontra no Parque do Ibirapuera às três, ok?”

“Eu odeio parques”, comentou Alice, numa voz enjoada.

“Eu também te odeio, e não tô reclamando, Alice.” Respondi, num tom ironizado.

Ela aceitou minha oferta, e logo então eu comecei a me arrumar para encontra-la. Tomei um remédio para dor e tampei meu pé com uma faixa de curativos, para assim podê-lo apoiar no chão. Dessa vez eu me vesti de uma forma melhor: camisa social vermelho-vinho, calças jeans e um tênis vans que Tia Hellen me deu de aniversário. Resolvi botar um boné de aba reta do New York Yankees, porque meus cabelos são feios, e também porque eu gosto de Beisebol, embora isso seja incomum para um brasileiro.

Ainda com pequenas dificuldades para andar, desci as escadas lentamente. Cumprimentei o porteiro, dei um real pro mendigo da rua, e passei em frente à casa de Noelle. Pude observar sua mãe lavando louça da janela, o que não é algo lá muito interessante.

Durante todo o trajeto de ônibus até o Parque do Ibirapuera, tive que aguentar uma idosa gorda e enrugada gritando com um menino, que provavelmente era seu neto, e que provavelmente também não ligaria para as broncas dela. Porque ele é criança, e crianças não se importam se somos ricos ou pobres, negros ou brancos, felizes ou tristes. Ela só quer brincar e mandar todo mundo se foder, enquanto adultos idiotas idiotizam ainda mais nosso mundo de merda.

Não demorei muito para chegar ao Parque do Ibirapuera. O clima estava ligeiramente frio, o sol exibia raios tímidos que não iluminavam muito o dia, as pessoas ficavam olhando as lagoas, as crianças brincavam com outras crianças, enquanto adolescentes fumavam cigarros em baixo de uma árvore com medo de serem pegos pela polícia.

Sentei no local combinado e fiquei esperando Alice, que chegou dez minutos depois, um pouco atrasada. Ela vestia um casaco preto grosso, e um short jeans que deixavam parte de sua coxa branca exposta. Não usava muito maquiagem como no primeiro dia que eu a vi, o que tornava a beleza dela cada vez mais simples.

“Hum... E aí, Alice.” Cumprimentei, logo após dar um beijo em suas bochechas macias.

“Olá, Dante Collins”, cumprimentou-me de volta a menina ruiva, em um tom animado.

“Hum, olha, cara... Você já pode parar de me chamar pelo meu nome inteiro. É muito estranho cara, fora que eu não gosto muito do meu sobrenome”, adverti.

“Tanto faz Dante Collins. Eu não quero parecer sua melhor amiguinha, te chamando de Dan e tal, mas por mim não há muita diferença”. E então Alice sentou no banco de madeira ao nosso lado, sacando dois cigarros embalados de seu bolso. Um estava escrito ‘Dante Collins’, o outro ‘Alice Ivanov’. Ela me entregou o cigarro que estava com meu nome, sem dizer nada, e depois acendeu o que estava com o seu. Depois de umas cinco tragadas, ela jogou o tabaco na grama, e depois soprou toda a fumaça na minha cara.

“Eu não sabia que você fumava”, comentei, sem querer parecer o tipo de pessoa que julga a outra só pelo fato dela ter o hábito de fumar.

“E quem disse que eu fumo, Dante? Eu só roubei dois cigarros do meu irmão porque queria que você fumasse comigo, como as pessoas legais fazem. Só pra ter certeza de que não somos um casal, essas coisas assim. A cada cigarro que você fuma, sua vida é reduzida em sete minutos. Logo, eu abri mão de sete minutos de minha existência por você, Dante Collins. E quero faça isso por mim.” Alice suspirou, passando um isqueiro com o smile do Nirvana pra minha mão.

“Você é bem estranha”.

“Fuma logo essa porra”.

E então eu assenti as instruções dela, e acendi o cigarro. Não consegui dar mais do que três tragadas antes que uma ânsia de vômito me atacasse por completo, fazendo assim com que eu atirasse o tabaco no chão. Tossi por alguns segundos, enquanto Alice só ficava me observando com seus olhos incrédulos.

“Você é uma bichinha, Dante Collins. Não consegue dar mais que três tragadas sem tossir?”, perguntou-me a menina ruiva, dando um suspiro, provavelmente de decepção.

“Eu não sou bichinha, meus pulmões é que são. E eu abri mão de sete minutos da minha vida por você, Alice, então se sinta especial”.

Naquele exato momento, Alice levantou-se do banco, e sem dizer nada, fez um gesto com as mãos para que eu a seguisse. Andamos lado a lado sem proferir uma palavra, passando ao lado de árvores, plantas, aves, lagoas, velhos, adultos, crianças, grávidas. E eu imaginei que todas elas tinham sua própria história, seu próprio livro de vida. E que provavelmente esse dia em que estou passando com uma menina estranha, seria só uma história de um livro que mal passou do começo.

“Já brincou de verdade ou desafio?” Perguntou-me Alice, assim que viu uma garrafa de Pepsi-cola ateada ao chão. Eu balancei a cabeça com um gesto positivo, enquanto ela se abaixava para pegar a garrafa na grama. Novamente, segui ela até uma parte do parque onde haviam mais grupinhos de adolescentes, onde a maioria dos garotos não tirava o olho de minha companhia, como se ela fosse simplesmente um pedaço de carne, e os meninos, uma espécie de urubu. Caminhamos até encontrar um lugar não muito movimentando, sentando num chão de cimento, para assim iniciar a brincadeira.

“Mas, pera aí cara...”, comentei em um tom duvidoso, “Porque estamos trazendo uma garrafa, sendo que só há nós dois para brincar?”.

“Você é um merda, Dante Collins. Essa garrafa não ira servir pra ser girada, ou sei lá o que você tá pensando. Ela só vai servir pra ficar no canto, caso eu preciso quebrar o vidro na sua cabeça, ou coisa do tipo”.

“Você tem sérios problemas mentais garota.”

“Como se eu não soubesse...”, e então Alice sacou do bolso uma cartela de comprimidos, engolindo três de uma só fez. Ela fez uma careta, como se o gosto fosse ruim, e logo retornou a falar. “Mas é pra isso que serve meus remédios...”.

“São remédios pra quê?”

Alice pareceu não ficar muito alegre com minha pergunta, olhou para os dois lados num movimento incrédulo, e depois de enfim pensar na resposta resolveu abrir a boca.

“Hum... São antidepressivos, analgésicos, genéricos, anticoncepcionais, dipironas, etc. Sou uma pessoa com imunidade muito baixa, e minha saúde física e psicológica não contribui muito para meu bem estar.” Assim que ela terminou de falar, percebi que não estava muito feliz falando sobre seus problemas, o que me deixou mal. Eu odeio fazer esse tipo de pergunta para as pessoas.

Percebendo que eu estava acanhado, a garota ruiva propôs que começássemos logo a brincadeira, mas que antes disso comprássemos refrigerantes e batatas. Depois de torrarmos nosso dinheiro com besteiras num mercado próximo, voltamos novamente ao parque, sentando no mesmo lugar de sempre. A ideia de brincadeira era responder uma pergunta, contanto que resposta terminasse com outra pergunta. Uma coisa um pouco louca, mas quando se tratava de Alice, eu já estava acostumado.

“Qual sua banda favorita?”, perguntei, começando a brincadeira, logo após dar um gole na minha garrafa de coca-cola.

“Não sei. Eu nunca gostei muito de música e tal, e só costumo ouvir alguns remix’s eletrônicos... E a sua música favorita, qual é?”

“Tempo Perdido, da banda Legião Urbana. Porque era a música que meu pai tocava pra minha mãe no violão, e eu a cresci ouvindo, e ouvi no velório e no casamento dela. Não é uma música triste ou feliz, é uma música que só serve pra estar lá... Que só existe. E você, qual sua comida favorita?”

“Qualquer uma que não engorde tanto. Qual seu melhor amigo?”

Revirei o saco de batatinhas, colocando duas na boca, antes de responder. “Meu melhor amigo é meu pai. Eu tenho alguns amigos da escola, mas eles não fazem nada além de estarem lá, mas acho que no fundo são todos bons companheiros. E você, já teve quantos namorados?”

“Só um. Mas já fiquei com muitos caras, embora eu não goste muito de falar sobre isso. E você já transou com quantas garotas?”, perguntou-me Alice, num sorriso doce e sensual.

Engoli em seco, até ter coragem pra responder.

“Nenhuma. Se você olhasse bem pra minha cara saberia que eu sou virgem, garota. Mas e você, já transou com quantos caras?”

Ela demorou pra responder por que ficou contando nos dedos, embora eu ache que ela esteja sendo irônica, porque ela sempre é irônica.

“Uns sete, ou sei lá quantos. E você, já beijou quantas garotas?”

Senti uma pontada de nojo no meu estômago, porque era difícil imaginar que uma garota tão bonita e nova como aquela viva a base de sexo, mas talvez isso explique os anticoncepcionais entre outras coisas.

“Só beijei uma, e você?”. Responder a essa pergunta me deixou com vergonha, porque você só ter beijado uma pessoa em todos os seus dezesseis anos de vida é algo deprimente.

“Hum, provavelmente, foram mais de cinquenta caras beijados e tal. Mas isso não vem muito ao caso Dante Collins. O que mais me impressiona é como uma pessoa tão inteligente e sedutora não consegue arrumar uma namoradinha que goste de super-heróis pra transar aos sábados à noite. Já tentou ficar com quantas meninas?”

“Ao todo foram sete. Todas eram minhas melhores amigas, e você também tá virando minha melhor amiga, o que significa que...”.

“Nossa, tadinho de você.”, comentou Alice, fazendo um biquinho com seus lábios. Ela realmente parecia triste por mim, mas não podia fazer nada. Simplesmente... Nada.

Abaixei a cabeça, e então comecei a chorar. E então contei a Alice sobre Noelle, e sobre todas as outras, e sobre como eu já estava cansado de tudo aquilo. Eu via as pessoas juntas e felizes, e imaginava o que era necessário pra eu fazer parte desse grupo, e fiquei um dia imaginando, quando eu teria uma pessoa que me amasse tanto como eu amo ela. Mas tudo parece tão distante... Tão... Impossível!

Fiquei abraçado com Alice durante um bom tempo, a cabeça encostada em seu seio, enquanto ela remexia meus cabelos cacheados com suas unhas cumpridas e pretas. Ela só estava sendo legal e fofa comigo, o que já era o suficiente.

Não demorou muito para que a menina ruiva resolvesse quebrar o silêncio de nossas bocas. “Bom, eu posso te ajudar, Dante Collins. Quer dizer: eu irei te ajudar!”

“O que você quer dizer? Vai ficar comigo por pena, ou algo do tipo? Se for isso, eu recuso sua caridade Alice Ivanov, porque você não é uma prostituta”.

“Hum, tem razão, seu idiota. Nenhuma prostituta ouviria você chorar enquanto fica desabafando, né.” Ela fez uma longa pausa, tomando todo seu refrigerante num gole, até continuarmos conversando. “Vou te ensinar todas as regras de um projeto meu e tal, sobre relacionamentos, sobre como conquistar mulheres. Eu tive um amigo gordinho e feio, tipo, ele era muito mais feio que você cara!”, e então ela deu uma alta gargalhada, deixando todo o brilho de seu riso à mostra, “pois bem, isso foi há uns sete meses atrás. Hoje em dia ele tem namorada, e muitas meninas brigam pra ficar com ele. O que eu quero te dizer, Dante Collins, é que você não precisa ser um loiro de olho azul com tanquinho pra conquistar alguém. Não estamos numa novela, meu querido. As garotas querem que você simplesmente proponha a elas um desafio, algo que valha a pena, pra elas fugirem de suas rotinas tediosas. E você é tão certinho... Não estou dizendo que tu precisas começar a fumar maconha e fazer sexo com prostitutas, mas também não precisa ser tão entediante assim, tão mórbido, sem nenhuma expectativa de vida.”

“Bom... Eu até tento, mas...”

Ela interrompeu minha fala novamente.

“Não, você não tenta, Dante Collins. Você é só uma capacho com uma vida de bosta que perde todo seu tempo se apaixonando por suas melhores amigas, na esperança de que algum dia seus relacionamentos sejam como em filmes americanos. Mas eles não serão assim, cara, alô! Estamos na vida real. Na realidade você não precisa dar flores e uma caixa de bombons, porque isso você compra com dinheiro, e se dinheiro conquistasse os corações das pessoas, as prostitutas viveriam apaixonadas”.

Certamente, Alice era inteligente demais para que eu vencesse uma discussão com ela.

“Mas não se preocupe com isso, Dante Collins. Eu vou te ajudar. Farei você ser uma espécie de desafio, um cara tão cobiçado que até a garota mais gostosa de São Paulo pagaria para transar com você”.

“E como você vai fazer isso, ué?”

Alice não respondeu nada, e ao invés disso, sacou uma folha de papel amassada do bolso seu moletom. Assim que eu ia a abrindo, ela me disse que eu só deveria ler quando estivesse em casa e de cabeça fresca, já que aquilo era um ‘barato muito louco’ (eu sinceramente não sei da onde essa menina tira tantas gírias).

Pelo resto da tarde, ficamos conversando sobre nossas vidas entediantes. Quer dizer, eu e Alice não temos nenhum gosto em comum, mas somos pessoas de merda vivendo num mundo de merda. Pelo menos foi isso o que ela disse, não é? E então ficamos falando como o mundo era uma porcaria, enquanto deitávamos na grama e não fazíamos nada além de simplesmente estar lá. E pela primeira vez em muito tempo eu não me senti tão bem. Acho que, no fundo, nenhuma pessoa havia me feito tão bem como aquela garota de cachos ruivos.

Nos despedimos ao anoitecer com um beijo na bochecha. Ela ligou para seu irmão ir busca-la, enquanto eu ficava no ponto de ônibus esperando. Ele não demorou muito pra chegar, e assim que entrei no ônibus e sentei-me ao lado de um homem de meia idade, resolvi abrir o bilhete que ela me entregara. Eu não sei quando e como ela conseguiu escrever aquilo, mas bem, certamente era algo importante. Li o bilhete em voz baixa, sussurrando para não incomodar as pessoas:

“Querido Dante Collins, abaixo está uma lista baseada em teorias conspiratórias para que você consiga arrumar uma namorada. Eu provavelmente estou escrevendo isso chapada com analgésicos, então se você encontrar algum erro vá se foder e deixe meu português em paz.

Item I – Você precisa representar um desafio a alguém, deixar de ser tão bonzinho. Não quero que vire um Bad Boy que bota fogo em mendigos, não é pra fazer isso, seu merda. Simplesmente não trate uma menina como se ela fosse à única do mundo, nem leve flores pro primeiro encontro, e nem queira ficar comprando coisas pra ela numa lanchonete: ela não é uma vadia pra ter seus sentimentos comprados por dinheiro. Simplesmente dê a ela um CD de sua banda favorita, e diga que algumas músicas do álbum te lembram dela e de algumas pessoas, como se ela não fosse a única a merecer um lugar especial em seu pensamento. Geralmente, garotas gostam de caras competitivos, porque os consideram “alfas”, uma espécie de “se todas gostam dele, ou se tem gente querendo ele, é porque esse cara não é um zero a esquerda”.

Item II – Nada de falar sobre sexo, ou de seus problemas, ou de outras garotas com a menina. Isso é broxante, e ela vai pensar que você não passa de um capacho que precisa ter uma amiga gostosinha por não ter dinheiro pra pagar um psicólogo. Então, evite falar sobre coisas constrangedoras sobre o que você fala com seus amigos. Para puxar conversa, simplesmente pergunta o que ela gosta, porque toda mulher gosta de uma infinidade de coisas, e isso já é uma garantia de que o assunto não morrerá tão cedo.

Item III – Se ela te chamar de melhor amigo, ou ‘best’, fodeu! Sai dessa que é burrada...

Item IV – Eu sou péssima com números romanos e isso aqui tem mais palavrões que um filme pornô, então não me julgue, pois eu estou chapada.

Item V – Nós iremos correr atrás de todas as meninas que te deixaram na friendzone, por toda a vida. Ver qual o perfil do namorado atual delas, o porque delas não toparem namorar com você, e o que acham da sua aparência. Baseado nesses fatos, eu montarei uma teoria completa sobre como você deverá agir pra arrumar uma namorada em menos de um mês. Me mande o nome de TODAS elas por um mensagem de texto, eu correrei atrás delas, mesmo que estejam lá na China.

Item VI – Sabia que eu sou viciada em sexo?

Item VII – Eu não irei te ajudar de graça, Dante Collins. Isso terá um preço a se pegar... Eu só estou querendo fazer isso porque você é um cara legal, assim como meu amigo gordo mais feio que você era. Só que você deverá cuidar de mim, pois minha saúde mental anda muito baixa. Preciso que me mantenha afastada de todos os caras babacas, e que me mostre um motivo real para existir nesse mundo. E acho que você é o único que poderá fazer isso por mim amigo... Provar que existem paixões e coisas melhores sem ser sexo e analgésicos.

Item VIII – Eu não quero me apaixonar por você, e não quero que você se apaixone por mim, então não manteremos muito contato físico. Nada de beijos, abraços maliciosos, apertos em lugares não muito ideais do corpo... Nada de me ver de sutiã e calcinha, assim como eu não quero ver um magricela igual você de cueca. Beijos na bochecha? Só quando estivermos com o trabalho bem encaminhado. Abraços? Só quando um de nós estiver chorando. Ver o outro seminu ou pelado? Só se a gente transasse o que é impossível, né!

Enfim, agora eu preciso terminar esse bilhete de merda, porque tô com sono e tal. E sim, Dante Collins, eu li o seu diário virtual no celular. E cheguei à conclusão de que você é a pessoa mais especial que o universo poderia me fazer conhecer...

Com amor,

Alice Ivanov,

A garota ruiva super esquisitona.”

Quando terminei de ler a carta, o ônibus já estava chegando perto de casa, e uma fina chuva começou a cair, deixando o ar que entrava por entre a janela aberta ainda mais gélido. As pessoas estavam indo de seu trabalho para suas casas, enquanto os faróis e semafaros acesos ganham destaques sobre a escuridão noturna, me dando também a oportunidade ver como a garoa era fina.

E então eu virei a cabeça para o lado. Estava perto do ponto de ônibus da minha casa, e eu a pessoa ao meu lado parecia estar caindo num sono repentino.

“Imagina essa porra dá certo...” Sussurrei, referindo-me ao teorema de Alice. Eu realmente espero que nenhum passageiro tenha ouvido meu palavrão, porque odeio parecer mal educado na frente dos outros.


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