As minhas sete ex-melhores amigas. escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 13
Parte III - Suicídio em forma de palavras.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, desculpa ao pessoal por demorar uma semana para escrever esse capítulo. Andei meio ocupado com a escola, etc, mas com a reta final da história postarei os capítulos mais rápido ;)



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No exato momento em que Noelle me pegou a traindo, seu corpo pareceu ter entrado em estado de choque. Deixou algumas sacolas de supermercado caírem de suas mãos, despejou algumas lágrimas do rosto, até sair em disparada contra as escadas sem dizer nada.

Naquele exato momento, abotoei minha calça jeans novamente, e mesmo sem camisa fui correndo atrás dela. Só consegui alcança-la na rua, também chorando de angustia e implorando perdão a ela.

“Por favor... Me perdoa Noelle, eu lhe amo.” Sussurrei, saboreando o gosto salgado das lágrimas que caiam em meus lábios.

Naquele exato momento, uma pequena garoa fria começava a ganhar notoriedade no céu. A noite já caia e o frio aumentava, de modo com que seus narizes e bochechas esbranquiçados ficassem vermelhos.

Noelle matinha uma distância de cinco metros de mim, e nenhum de nós ousavam se aproximar do outro. Ficou me encarando por longos segundos, até se aproximar com passos lentos, a bota fazendo um barulho estranho ao pisotear o asfalto molhado. Logo após, a garota ficou embaixo de meu corpo, quase grudada a mim. Achei que ela não iria fazer nada além de me dar um tapa na cara, mas ao invés de disso, ela fez algo que surpreenderia a todos: Noelle havia me beijado.

“Porque está fazendo isso?” Perguntei a Noelle, após ela ter se afastado alguns metros de mim depois do beijo.

“Eu não quero que a última imagem sua seja ruim, Dante Colllins.”

Virou-se de costas rapidamente, caminhando sozinha pelas ruas gélidas e escuras de São Paulo. Naquele momento, eu só desejaria deixar de existir.

***

Assim que abri a porta do apartamento com o rosto todo enxado e encharcado de lágrimas, me deparei com Alice sentada ao sofá da sala. Ela tragava um cigarro sabor canela, sob o qual eu não me importava muito. Ficamos nos encarando por um tempo sem dizer nada, já que não tínhamos nada para conversar: simplesmente nada. Eu só me sentia um completo merda, o tipo de pessoa idiota que eu nunca gostaria de me tornar.

“Eu me odeio Alice.” Sussurrei, logo após me sentar ao lado dela. A garota ruiva pousou meu rosto em seus ombros magros, trocando o tabaco de mão.

“Se lamentar não vai trazer ela de volta, Dante Collins. O grande problema seu é que você é muito inocente, sei lá, você poderia resistir. Poderia resistir aos seus desejos sexuais se amasse aquela garota de verdade, mas você não a ama, cara! Você deveria viver umas cinco vidas para merecê-la novamente. A realidade é que ela é boa demais para você. E bom, no fundo você sempre me amou mais do que ela.”

“Ah, cala boca Alice!” Gritei, parecendo extremamente estressado.

“Não, eu não vou calar a boca seu idiota. É que você não consegue reconhecer que nós dois nos amamos verdadeiramente, que você é o cara da minha vida, o primeiro em que eu quis ficar sem pensar só no sexo. Fora que você é inexperiente, feio e todo esquisito, ou seja: se alguém ficar com você, ou topar transar, é porque realmente te ama. Porra vê se você toca, ué!”

Naquele exato momento, Alice levantou-se do sofá, dando uma arrumada em sua roupa, dirigindo-se a porta. Ela provavelmente estava indo embora, o que me deixaria ainda mais com raiva.

“Adeus, Dante Collins. Quando sentir vontade de me ver é só ligar pra bosta do meu telefone.”

Não respondi nada além de um sussurro que possuía a palavra ‘vadia’.

***

Depois de ser abandonado pelas duas pessoas que realmente me amam, resolvi correr atrás de quem realmente se importava comigo: meu pai. Ele ainda não havia saído do hospital, já que sua alta foi adiada para amanhã, mas já são quase meia noite e eu estou entediado. Não é o tipo de tédio que você fica se perguntando ‘Eu não tenho nada para fazer sem ser ficar na Internet vendo pornô’, mas sim o tipo de tédio em que sua vida é um completo mar de dor sob a qual eu me afogava todos os dias.

O que eu quero dizer é que ter uma vida normalzinha e pacata, como a que eu tinha antes de conhecer Alice, é bom de certas formas. Antigamente minha maior diversão era ir jogar videogame na casa do JP tomando refrigerante, enquanto agora eu sou do tipo de cara que transa com garotas e sai fumando cigarros por aí. De certa forma, ter uma vida superprotegida sob a qual não acontece nada, sinceramente nada, é bom. Não bom com b maiúsculo, mas você se afastava de decepções e coisas tristes. Ou seja, não vão acontecer coisas boas, mas também não haverá nada de ruim. Eu só viria a ser mais um entre sete bilhões de pessoas.

Fico me perguntando como é que tudo isso começou. Eu era um cara chato e desprezível há dois meses, até que conheci uma menina ruiva que conseguiu fazer com que eu ficasse com várias meninas. Isso não é uma história de romance maneira, mas no fundo eu realmente me apaixonei por Alice: eu iria amá-la com todos seus pecados e defeitos. Era diferente de quando eu me apaixonei por uma menina bissexual e depende química, sob a qual eu não iria me aventurar para carregar aquela cruz. Provavelmente eu não faria isso porque não a amava de verdade. Ou talvez porque eu só tivesse treze anos, e ela dezessete, e nessa época os garotos só pensam em se masturbar.

De qualquer forma, eu já havia bebido toda a garrafa de café enquanto pensava naquelas teorias malucas. O tédio já ganhava uma forma mais complexa de existência dentro de mim, e então resolvi ligar para João Paulo, meu provável único e melhor amigo.

Ele atendeu ao segundo toque, o que me levou a crer que estava ocupado, já que ele sempre atendia no primeiro toque. Era uma pessoa um tanto quanto afobada.

“Hum... É madrugada Dante, que merda você quer?” Sussurrou JP do outro lado da linha, com uma voz sonolenta. Ele parecia ter tido um dia bem cansativo.

“Preciso da sua ajuda. Tem como você ir comigo pegar meu pai no hospital amanhã de manhã?”

“Amanhã é a ultrassom da Sandy cara, pra ver se o bebê anda bem e tal. Mas vou ver o que posso fazer, beleza?”

“Ah, você não vai ver, você vai ir comigo seu gordo miserável. Senão fosse por mim você ia mendigar dinheiro aí na rua pra sustentar seu futuro filho, mas isso não vem ao caso, cara: a Noelle terminou comigo!”

“Sério isso? Que vadia idiota! Quer dizer, ela é gostosinha e é muito legal, mas eu odeio que as pessoas magoem meus amigos. Isso é algo tão repulsivo!” João Paulo parecia extremamente nervoso do outro lado da linha. No fundo, acho que ele realmente se importava comigo, ou algo do tipo.

“Não cara, eu é que errei! Eu a trai com Alice, ela pegou nós dois transando aqui em casa, então não há nenhuma probabilidade que nós voltemos a reatar.” Minha voz soava extremamente triste, de modo com que eu voltasse a chorar novamente.

“Você pisou feio na bola, hein cara. Me espera aí, vou pegar o carro da minha mãe e ir até sua casa.”

“Você não tem idade pra dirigir” Adverti.

“Você não tem idade para fumar”. Retrucou.

“É, talvez você tenha razão JP. Agora se apresse, ok?”

“Pode deixar.”

E então desliguei o telefone com uma batida forte, que quase quebrou ele e o gancho. Por sorte eu sou do tipo fraco e magricela que não aguenta levantar um saco de arroz.

João Paulo demorou por volta de dez minutos para chegar à minha casa, trajando uma camisa regata amarela e shorts jeans desbotados. Seus cabelos louros estavam bagunçados e seus olhos sonolentos, enquanto ele continuava gordo da mesma forma que sempre foi.

“E aí cara” Cumprimentei.

“E aí Dante. Caramba, eu tô morrendo de fome! Tem alguma coisa pra comer aí?” Perguntou-me JP, passando a mão em sua barriga. Eu não havia ficado surpreso, pois ele sempre estava com fome.

“Na cozinha tem pão, presunto, queijo, leite, refrigerante. Essas comidas rápidas de se fazer e tal.”

Caminhamos até o cômodo e preparamos um lanche rápido, o qual eu não consegui digerir por completo, já que meu apetite não anda muito bom ultimamente. Eu passava a maior parte do tempo preocupado com meu pai e os restantes do problemas diários, como o meu namoro e as atividades escolares. Talvez esse seja o motivo de eu conseguir ficar o dia inteiro sem por algo na boca...

“E então, vamos visitar seu pai agora? De madrugada?” Perguntou-me JP, a boca cheia de comida a ser mastigada. Confesso que ele era um pouco nojento.

“Se você quiser, sim. Não vou conseguir dormir direito hoje mesmo.”

“Beleza então, cara. Vamos descer já?”

Eu só assenti com a cabeça, levantando da cadeira e sacudindo a minha camiseta cheia de farelos. Descemos rapidamente as escadas, e enquanto cruzávamos as ruas desertas e silenciosas, comuniquei via celular que estava indo buscar meu pai. Ele estaria na sala de espera, com suas mochilas e muletas, já que ainda possuía dificuldades para andar.

O circuito de minha casa até o hospital demorou por volta de dez minutos, e assim que João Paulo estacionou o carro, sai em disparada da rua até lá. Senti o vento fresco da noite bater em meus cabelos cacheados, a sensação de liberdade por se sentir bem, pelo fato de quem você ama estar bem. Sinceramente, essa é uma das melhores sensações que a vida pode lhe proporcionar.

Adentrei em disparada pela entrada do hospital, e assim que observei os olhos cinzentos de meu pai emocionados ao me ver, não pude deixar de lhe dar um abraço apertado. Lágrimas de felicidade escorreram de meus olhos, embora eu não me lembre quando foi a última vez que eu havia chorado de felicidade. Em geral sou uma pessoa mórbida que não fica muito feliz com as coisas.

“Eu te amo pai...” Sussurrei em seus ouvidos.

“Não! Eu te amo mais, filho. E o céu não irá precisar de mais estrelas por enquanto, pois toda beleza em excesso torna-se feia”.

Por longos minutos ficamos conversando sobre as coisas que eu havia feito nos últimos dias, e ele apareceu bem alegre quando contei que não fumava mais (embora isso seja mentira). Ele também pareceu ficar pensativo quando lhe falei sobre Alice e Noelle, e me contou que eu deveria seguir meu coração. Pois se eu me importar com a felicidade dos outros, nunca serei feliz sozinho. Meu pai realmente é o tipo de cara muito inteligente.

Enquanto ele discutia com JP sobre esportes, senti meu celular vibrar no bolso. Saqueio-o e rapidamente percebi que a ligação pertencia a Alice.

“Eu tô morrendo por dentro” Gritou Alice do outro lado da linha, logo após lançar um gemido de dor. Ela parecia estar brincando...

“Ah, conta outra! Para de frescura e vamos lá pra minha casa curtir a volta do meu pai e tal, ele até vai liberar umas cervejas.”

“Vai se foder Dante Collins! Eu tô morrendo, caralho, ou você não entende? Tem... Tem... uma faca enfiada na parte lateral de minha barriga, perto dos rins, e eu tô sangrando muito. Estou tonta e fraca, não consigo enxergar nada direito, enfim eu tô morrendo. Não pensei que meu suicídio fosse ser tão chato assim...”.

Eu não tive tempo para responder Alice, pois a ligação havia acabado de cair.


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