Annie P.O.V

Sinceramente, nunca me senti tão enganada? Quem Reiji pensava que era? Disse que não entenderíamos sobre quem era Harimi Makiko ou porque eles eram gentis, educados e até animados com ela.

— Ela está morta sim, Reiji. — Evanecer abaixou a cabeça, parecia muito nervosa, algo que eu nunca tinha visto ela ficar. — Mas para tudo existe uma explicação. Para tudo!

— Sim, Evy-chan. — Kanato falou pela primeira vez — Mas tem algo que vocês, humanos, não entenderiam. Não é, Teddy?

— Apenas tentem nos explicar. Se não entendermos, vocês esqueçam do que falamos aqui. Fingimos que não sabemos quem é Harimi Makiko e vocês nos aplicam a punição que quiserem. — Miki falou.

— Vocês não vão desistir, não é? — Subaru colocou a mão na cabeça e depois nos olhou, com ódio — Humanos são persistentes demais. Reiji, comece, não quero falar sobre isso.

Reiji nos olhou, como se nos avaliasse e depois começou:

— Pode não falar aí, mas Harimi foi a primeira noiva. Ela viveu há mais de cem anos atrás. E, na verdade, ela não foi a nossa noiva. Ela era a noiva dos Mukami. Eles são meio que parentes distantes de nós.

— Eles vieram nos visitar um dia — Ayato continuou —, e nós a conhecemos. E, como vocês dizem mesmo? Foi “amor à primeira vista”, apesar que não creio que isso exista. — Akemi arregalou os olhos e abaixou a cabeça — Ela não tinha medo de nós, vampiros, sempre nos obedecia, mas não parecia uma empregada. Ela era gentil e amigável.

— O incrível é que ela preferia ficar conosco do que com os Mukami. E foi aí que a coisa virou. Nosso pai pediu aos pais dos Mukami para que a deixassem um tempo na Mansão Sakamaki. — Shuu ainda não encarava nenhuma de nós — Ela ficou e a coisa apenas melhorou, para nós, os Mukami odiaram.

— Como a própria disse, Harimi se apaixonou por todos nós. — Raito disse, sorrindo — Não nos importamos, também estávamos apaixonados. E o lado bom é que vampiros não engravidam humanos.

Todas coramos com essa última frase, ele não sabia ser menos pervertido e mais sério? Francamente, sinto pena de Noriko.

— E então a temporada aqui na Mansão acabou e os Mukami vieram busca-la, mas Harimi se recusou à ir. Nós também não queríamos que ela fosse. Houve um desentendido. — foi a vez de Subaru.

— Os Mukami e nós, os Sakamaki, brigamos. Harimi tentou apartar a briga e acabamos a matando. Ela não tinha doença nenhuma, nós a matamos. — Kanato finalizou.

Então era isso, Harimi nunca havia sido noiva deles, bom, não verdadeiramente.

— E os Mukami? O que aconteceu com eles? — Noriko perguntou.

— Foram embora, nos vemos raramente. Vocês os conhecerão. — Reiji respondeu — Entrem, não tem nada mais o que saber.

— Espera, tem sim. — Akemi se pronunciou — Por que vocês a mataram?

— Já disse que não foi intenção. — Subaru trincou os dentes.

— Não importa. Vocês deveriam ter pressentido ou sentido o cheiro dela se aproximando de vocês e... mesmo assim, vocês a mataram.

— Ela já era uma meia vampira. — Shuu balançou a cabeça, já ficando irritado.

— Como... como ela morreu? — Aria falou, a máscara de ódio se quebrando.

— Como um vampiro pode morrer: arrancando a cabeça. — Ayato falou.

Nós apenas assentimos, tínhamos que descobrir mais e mais, só que não era um bom momento, os garotos estavam nervosos, até Shuu, que tinha muita calma, bom, pelo menos aparentava.

— Não vão nos punir? — Evanecer perguntou.

— Bom ter lembrado. — Raito riu, malicioso — Reiji, que tal o que estou pensando?

— Sim, estava pensando a mesma coisa. Nos sigam.

Assentimos novamente, começamos a acompanhar Reiji, os garotos foram em forma de círculo ao nosso redor, como se para garantir que não fugíssemos.

Andamos por uma boa parte da floresta, aquela era a punição? Eu não me importaria de fazer aquilo todos os dias, a floresta era cheia de flores e outras plantas.

Depois de mais cinco minutos andando, saímos da floresta e chegamos até um lago. A água era clara e então dava para perceber que era bem funda.

— Tirem os sapatos. — Reiji ordenou, obedecemos, tirei a sapatilha e a coloquei perto de um tronco, as garotas fizeram o mesmo com seus chinelos, sapatilhas e tênis. — Fiquem aqui.

Reiji apontou para a borda. Evanecer tentou abraçar o corpo, ela estava com uma regata e ali ventava.

Mal tive tempo de perguntar se ela queria o meu casaco, pois senti um empurrão nas minhas costas e fui de encontro com a água. Senti como se facas estivessem me perfurando, a água estava muito fria. Algo insuportável.

Vi a silhueta de Akemi, Evanecer, Aria, Noriko e Miki também sendo empurradas.

Noriko, Aria e Akemi se desesperaram. Eu sabia nadar, e por isso tentei ir até a borda, a água me puxava para o fundo, meus pulmões estavam quentes e ardiam.

Quando consegui, finalmente, emergir a minha cabeça, percebi que Akemi e Noriko não haviam voltado, Aria estava apoiada em Evanecer e Miki já estava sentada na margem. Ela me viu e estendeu a mão, tentando não entrar na água novamente.

Todas estavam pálidas, as bochechas rosadas e com os lábios roxos.

— Cadê a Nori-chan e a Akemi-chan? — Evanecer perguntou com dificuldade, a voz estava falhando e seu peito subia e descia rapidamente, tentando capturar o máximo de ar que conseguia, percebi que não estava tão diferente de mim.

— Eu... eu não sei. — me ajoelhei na margem e cuspi um pouco de água. Olhei para o lago e vi que em uma parte distante da margem, bolhas submergiam e estouravam, essa não! — Garotas!

Mesmo fraca, levantei-me e pulei novamente na água, vi que Miki e Evanecer fizeram o mesmo. Nadamos com muita dificuldade, a água parecia congelar a cada instante.

Vi a silhueta de uma garota de short e blusa de manga comprida branca. Era Akemi! Cheguei até ela e a peguei, logo subindo para pegar fôlego.

Segundos depois, Miki e Evanecer emergiram com Noriko. As levamos até a margem e as deitados na terra.

O cabelo branco de Akemi parecia cinza comparado ao rosto da garota, seus olhos estavam fechados e seus lábios minúsculos e arroxeados.

Noriko, assim como Akemi, estava desmaiada. Seus cabelos, agora parecendo sem vida, estavam sendo tirados de seu rosto por Aria.

Evanecer veio até mim.

— Como ela está? — perguntou.

— Desmaiada. Aquelas bolhas deveriam ser das duas, elas estavam à tempo demais na água.

— Devem ter engolido água. Temos que leva-las para a mansão, vão ficar pior aqui neste frio. — ela me ajudou a colocar um braço de Akemi no meu ombro e colocou o outro no dela, depois me ajudou a levantá-la.

Miki e Aria fizeram o mesmo com Noriko.

Olhei para os garotos, eles estavam com a cabeça abaixada. O que foi que eles fizeram? Tínhamos que sair dessa Mansão, eles iriam nos matar!

Raito e Ayato vieram até nós.

— Pode deixar que as levamos. — Raito falou e tentou pegar Noriko, Ayato tentou pegar Akemi.

— Não! Já não basta o que fizeram com elas? — indiquei Akemi com a cabeça, ela ficava cada vez mais pálida.

— Acha que vamos deixa-las com vocês? — Miki balançou a cabeça. — Podem mata-las de vez.

Os dois trincaram os dentes ao mesmo tempo e avançaram para cima da gente, mal deu tempo e não senti mais o braço de Akemi nos meus ombros.

Arregalei os olhos e olhei Ayato; este segurava Akemi no colo. Depois olhei Raito, ele segurava Noriko também. Os dois nos olharam mais uma vez e, num piscar de olhos, já haviam desaparecido.

— O que vão fazer com elas? — gritei, minha raiva era tão grande que eu tinha medo do que poderia fazer.

— Vão cuidar delas. — Reiji falou — Já receberam a punição de vocês. Nos sigam.

Pegamos os nossos sapatos e calçamos, peguei o de Akemi e o de Noriko e os levei.

Fiquei olhando as costas de Shuu e pensei: Será que tudo aquilo que eles disseram era verdade? E será que depois de Harimi... eles amaram outra pessoa?

Apertei o passo e fiquei ao lado de Shuu, ele me olhou de esguelha e depois me ignorou.

— Depois de Harimi, vocês amaram outras noivas? — perguntei, ele arregalou os olhos e não me respondeu, indo lá pra frente, juntando-se à Kanato.

Era sempre assim! Shuu era calado e na dele. Ah, como eu queria que os garotos nos tratassem como tratavam a Harimi-san, mas sabia que isso era impossível. Eles já haviam se apaixonado por ela, por que se apaixonariam por nós? “Simples humanas”.

Evanecer P.O.V

Vi a cara de decepção de Annie e fui ao seu encalço.

— O que foi, Annie?

— Ãhn? Evanecer? Ah, nada. Eu estava pensando. É bobagem, ignore. — ela sorriu forçadamente.

— Pode me contar. — sorri — Sou sua amiga, todas somos amigas umas das outras.

— Eu gostaria que os garotos nos tratassem como tratavam à Harimi-san.

— Eu também. — suspirei e me abracei com os braços quando um vento gélido me atingiu.

Quase gritei quando vi um casaco estendido na minha frente, olhei e percebi que era Kanato.

— Está com frio? — apenas assenti e ele me estendeu o casaco dele.

Olhei-o atônita, mas rendi quando outra rajada de vento veio. O casaco se esquentou rapidamente e eu suspirei, aliviada.

Chegamos à Mansão e entramos.

— Onde estão as garotas? — perguntei à Reiji.

— No salão principal. — respondeu e desapareceu em seguida.

Nós assentimos e seguimos para lá. Akemi estava deitada em um sofá e Noriko em outro.

Ake-chan não estava tão pálida, mas seu cabelo parecia acinzentado comparado ao rosto. Um cobertor a cobria e a garota respirava fracamente, o que não tinha visto no lago. Para falar a verdade, nem Nori e nem Akemi estavam respirando naquela hora. Noriko estava menos pálida e seu cabelo vermelho parecia mais brilhoso, ela também estava coberta.

Percebi dois baldes ao lado de cada sofá e estranhei, o que estavam fazendo ali?

— Pra que são esses baldes? — perguntou Aria. Miki chegou mais perto e entortou a boca.

— Tem água dentro.

— É claro que tem água dentro. — ouvi uma voz masculina perto da escada, olhei para lá e vi Raito apoiado no corrimão e Ayato sentado em um dos degraus. Ayato quem havia falado — Essa é a água que elas haviam engolido.

Engoli em seco e aproximei-me do balde Noriko, ali tinha mais ou menos quatro dedos de água. Olhei o de Akemi e estava igual, mais ou menos quatro dedos.

— T-Tudo isso? — perguntei, assustada.

— Sim. — Raito respondeu.

— Elas estão desmaiadas ainda? — Annie perguntou.

— Apenas dormindo.

— Agora as deixem descansar. — Ayato já falou grosseiro.

Miki lhe deu língua e nós subimos, indo para o meu antigo quarto, ou atual, já que eu ainda não havia arrumado as minhas coisas e levado para o quarto de Kanato.

Nos sentamos na cama.

— Pelo menos elas estão bem. — Miki falou, pegando o cobertor e nos cobrindo. Sorrimos agradecidas.

— É verdade. — Aria falou se encolhendo ao máximo que podia para debaixo do cobertor. — Essa punição... vocês não acham que foi bruta demais?

— Eu também achei — suspirei, coçando a nuca —, mas não podemos desistir tão facilmente, certo?

— Temos que buscar respostas. — Annie sorriu — Todas juntas.