A Sombra do Norte escrita por Remmirath


Capítulo 4
Rastros e Cogumelos




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Enquanto a comitiva do Rei cavalgava para o sul até Osgiliath, o príncipe da Floresta Verde seguia pelo norte, beirando a floresta de Ithilien e o Grande Rio. Legolas parou para verificar os rastros no final da trilha arborizada, sentindo o vento e ouvindo as árvores, procurando o caminho que devia seguir. Estava sendo muito fácil até agora, apesar de ter cavalgado desde a última manhã, direto para não perder a sombra.

Mastigou um pedaço de lembas, enquanto seu cavalo comia algumas flores do campo, recuperando a energia. Pensando um pouco, o elfo refletiu que aquilo parecia uma loucura agora, mas suas aventuras passadas lhe mostraram que se não fosse atrás imediatamente quando algo acontecia, como quando os uruk-hai raptaram Merry e Pippin, o rumo dos acontecimentos poderia ter sido muito diferente.

Esperava que aquele sentimento de dúvida que crescia em seu coração fosse apenas um reflexo das incertezas de Eldarion ao receber tantos conselhos sombrios, no entanto, precisava falar direto com a fonte e descobrir quem era aquela Sombra. E o que estava crescendo nos lugares esquecidos pelos Povos Livres da Terra Média.

Montou novamente, agradecendo ao seu cavalo pelo bom trabalho antes de continuarem cavalgando para o norte, ainda que aquele caminho provocava um temor sob a alma do elfo. Que espécie de assuntos aquela sombra poderia ter a tratar em terras tão desertas e desoladas, ele não poderia imaginar.

Ao amanhecer do quarto dia de viajem, quando seus olhos élficos já podiam vislumbrar e até mesmo sentir o enorme Pântano que se estendia por milhas à sua frente, e quando já estava perdendo a esperança de que estava na trilha certa, Legolas resolveu fazer uma pausa e repousar sob algumas árvores de um pequeno bosque, que crescia apesar da desolação e aridez do local. Qual foi a sua surpresa quando, ao embrenhar-se entre as árvores e andar por algu momento, encontrou um corcel negro mastigando folhas secas que espalhavam-se pelo chão. O elfo estacou, não querendo assustar o animal – e muito menos alertar seu dono – então apenas observou-o resfolegar pelo chão, sem se importar com sua presença ou de outro companheiro equestre. 

Legolas inclinou levemente a cabeça para o lado ao ver o cavalo começar a mastigar alguns cogumelos no tronco de uma árvore, imaginando que Merry e Pippin iriam brigar pelo alimento com o animal. Pausando suas divagações, tentando não se perguntar se aquilo faria mal ao cavalo, já que nunca vira um comendo tal alimento, deu um tapinha no seu branco que apenas esperava uma ordem para pastar, andando cautelosamente para mais dentro do bosque, observando as árvores. Ate que encontrou a figura sombria que procurava, encostada contra o tronco de uma, sentada sob o manto de peles enquanto analisava um mapa.

O elfo inspirou profundamente, pensando em como abordá-la agora que finalmente a encontrara – em circunstancias incomuns, pensava que teria que lutar e até mesmo imobilizá-la com uma flecha para obter suas respostas – quando a pessoa levantou o olhar para ele, perguntando.

— Você tem lembas?

Legolas piscou duas vezes, aturdido.

— Aposto que você tem algumas – acrescentou a sombra, casualmente, dobrando o mapa e guardando dentro da capa negra que a cobria. – Ou já foram todas enquanto me perseguia?

— Não, eu ainda tenho – respondeu o elfo, finalmente recuperando a fala. – Posso trocar algumas por informações.

— Nossa, eu nem imaginava tal acordo – falou sarcástica a sombra, apesar da voz que continuava sendo modificada pelo lenço que cobria sua boca, observando enquanto o elfo tirava a mochila das costas e abria, sem tirar os olhos dela, estendeu um embrulho de folhas, permanecendo onde estava.

Arqueando uma sobrancelha que ele não viu, graças ao seu capuz e lenço que escondia a maioria do rosto, levantou-se para pegar a lembas que estava a um metro, constatando que ele era meio palmo mais alto, antes de voltar a se sentar. A sombra indicou o tronco atrás dele, enquanto desenrolava as folhas que guardavam as lembas.

Ficando menos tenso ao perceber que ela não pretendia lhe atacar, o elfo encostou-se contra o tronco, cruzando os braços com os sentidos alertas. Prendeu a respiração quando viu que ela removia o lenço negro que encobria a maior parte do rosto, revelando-o alvo e sem traços de velhice, o semblante sério emoldurado pelos olhos dourados e lábios bem feitos, avermelhados. Definitivamente ela não era do mesmo tipo de Gandalf. Lembrando-se de respirar, o elfo ficou torcendo para que ela também retirasse o capuz, será que teria orelhas pontudas ou humanas iguais às de Gandalf? Não conseguia defini-la como bela, como Arwen ou Galadriel com sua beleza etérea, no entanto o rosto não era simplório como o das humanas. Havia algo no mistério que a envolvia, tornando-a agradável de observar.

— Então, que tipo de informação você quer, elfo? – perguntou a Sombra em uma voz séria e aveludada, depois da terceira mordida, cortando as divagações do ser à sua frente.

— Meu nome é Legolas Thranduillion(1), príncipe da Floresta das Folhas Verdes – apresentou-se ele, antes de tudo, na intenção de que ela fizesse o mesmo.

— Sim, eu sei, e o que você quer desta Sombra? – inquiriu desta vez ela, terminando a metade de uma lemba e sentindo-se satisfeita.

— Eu esperava que você me dissesse quem é, primeiramente – retrucou Legolas, recebendo um olhar frio em resposta, junto com o silêncio. Suspirando, ele sentou-se contra o tronco, encarando os orbes dourados com a mesma intensidade por algum tempo, até que se sentiu incomodado, e não querendo acabar sendo enfeitiçado, algo ainda lhe dizia que ela poderia ser do mesmo tipo de Gandalf, resolveu fazer outra pergunta. – E também... Por que devemos nos preocupar com os lugares esquecidos pelos povos livres da Terra Média. É o Pântano dos Mortos um desses lugares?

— Acredito que sua pergunta já se auto responde – falou finalmente a Sombra.

— E o que você estava indo fazer lá, verificar, procurar algo? – acrescentou ele, nada satisfeito com a comunicação que estavam tendo. Geralmente conseguia ler a maioria das expressões de humanos e até mesmo de elfos e outros seres, mas aquela sombra, seja lá de que raça era, o intrigava, e os olhos dourados pareciam perfurar sua alma.

— Talvez... – começou ela, levantando-se e batendo as migalhas do manto surrado, uma mecha castanha fugiu de dentro de seu capuz, mas rapidamente a arrumou. - Eu espero não encontrar nada, dessa vez.

— Posso lhe acompanhar? – perguntou rapidamente o elfo, já de pé.

— E você ia me deixar ir embora depois de tanto trabalho para me encontrar? – revidou, sarcástica.

O elfo ficou calado, de olhos estreitados enquanto ela prendia novamente a aljava com arco e flechas nas costas, assim como a espada, antes de andar para seu corcel negro, com o louro em seus calcanhares. Ia levar um tempo para se livrar dele.

Rauthar galopava quase saltitante em círculos quando ela o alcançou, cruzando os braços e reclamando.

— Ah não, eu já te disse para não comer os cogumelos, cavalo tolo – bufando, a Sombra deu uma palmada no lombo do animal, que relinchou e bufou em deboche.

Legolas apenas assistia aturdido a cena, enquanto adiantava-se para o seu cavalo branco, Aerlinn, montando enquanto a Sombra bronqueava o cavalo negro. Que bufava, relinchava e pateava enquanto ela reclamava em uma língua que soava estranha para o elfo, até que o corcel aproximou o focinho da capa dela, farejando curioso e obrigando-a a lhe dar um pedaço de lembas antes que ficasse sem a capa. Era realmente uma cena muito inusitada. O louro olhou-a divertido e com uma sobrancelha arqueada, quando finalmente ela montou, de um impulso no chão.

— Todos prontos? – perguntou a Sombra, mais para os cavalos que patearam o chão, do que para o elfo. Pressionou levemente os joelhos e Rauthar galopou calmamente pelas árvores do bosque, até que alcançassem o começo da parte árida e desolada.

A Sombra olhou para o caminho que viera, com os orbes dourados ficando distantes e nebulosos, antes de voltar-se para frente.

— Temos mais meio dia pela frente, não fique muito para trás, sussurros estranhos tem se espalhado por esta terra e temo que minha presença esteja chamando a atenção – pediu para o elfo que a observava silenciosamente, antes de esporear Rauthar, que desatou a correr em um galope rápido digno de sua raça.

Noro lim, Aerlinn – o cavalo de Legolas seguia a Sombra, tentando manter o galope rápido do Mearas à frente.

No começo, ele não entendia o porquê de tanta pressa da mesma, deixando os rastros para ele seguir – e qualquer outra coisa que espreitava no caminho, também – mas então, decorrida algumas horas ele olhou para trás, percebendo que o chão parecia intacto assim que eles passavam. Definitivamente ela devia ser alguma parente de Gandalf... ou ela praticava algum tipo de feitiçaria, quem sabe o que o povo do norte havia desenvolvido, também. Se é que ela vinha de lá mesmo. Eram muitas as probabilidades e Legolas no momento só queria descobrir quem era aquela Sombra. Ao menos um nome ela deveria ter. Esporeou Aerlinn, forçando-o um pouco para emparelhar com o corcel negro que já conhecia o caminho, e ao olhar para o lado percebeu que ela estava abraçada ao animal e de olhos fechados. Piscando, o elfo voltou o olhar para o caminho à frente, de vez em quando olhando para ela e perguntando-se qual era sua história.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

[1]Thranduillion – Filho de Thranduil

Acredito que não precisaria avisar, mas por via das dúvidas, estou me baseando nos livros - e portanto nas obras originais de Tolkien. Para quem não leu, não se preocupe, tentarei fazer com que a narrativa seja mais fácil de acompanhar do que a história da folhinha que rolou pelo ar e Frodo acordou ^^'