Pov. Merida

Correr.

É tudo que consigo fazer agora.

A neblina branca e espessa entrou pela minha janela do quarto e me segue pelo corredor enquanto eu grito para meus pais correrem também.

Nada.

Silêncio.

Meus pais provavelmente dormem e parecem não me ouvir.

Parece que não existo.

Não consigo verificar se eles estão no quarto porque a neblina me segue arduamente.

Corro para fora do castelo montando em Angus no caminho, e a neblina tenta me alcançar enquanto cavalgo floresta adentro.

–Venha conosco, - consigo ouvir - junte-se a nós - a mesma voz de antes chama dentro da minha cabeça.

–Nem morta - sussurro para mim mesma acelerando Angus.

–Filha! - uma voz diferente, a voz da minha mãe ecoa vinda de dentro da neblina.

Desacelero Angus mas não o paro, fico ao contrário nele, olhando diretamente para a neblina.

–Mãe?

–Sim, filha, por favor nos ajude.

–Onde... Como...

–Nos ajude. - a voz era chorosa.

Olho para o outro lado.

Algo me chama a atenção.

–As luzes mágicas... - sussurro, uma fila de luzes em forma de uma gota flutuante azul aparece bem na frente do meu cavalo fazendo ele parar bruscamente e dar alguns passos para trás. - Calma garoto, calma.

Ambos lembramos muito bem para os lugares que essas luzes são capazes de levar.

–As luzes não são reais Merida, eu sou real, venha nos salvar.

–Você não é minha mãe!

–Como pode dizer isso? - a voz parece por um momento...atingida.

–Minha mãe de verdade acredita em mágica!

Não penso duas vezes.

–Vamos Angus! - me desviro e cavalgo em direção às luzes. - qualquer coisa menos o que quer que esteja nessa neblina.

Cavalgo rapidamente seguindo as luzes e a última coisa que escuto antes de me perder completamente do caminho de casa por causa das luzes, é uma risada.

Uma risada que fez os calafrios subirem pela minha espinha.

Mas eu continuei cavalgando e deixei que as luzes me guiassem novamente para qualquer que seja o lugar.

E dessa vez eu não olhei para trás.

~•~

Pov. Hiccup

Parou?

Já fazem 13 horas desde que Jack foi embora que Berk não é atacada.

Parece pouco mas é praticamente um milagre.

Normalmente eles estavam atacando a cada duas horas, com exceção da meia noite até as 5Am.

Estranho, muito estranho.

–Tem alguma coisa errada.

–O que? - Bocão vira-se para mim. Ele estava amolando uma espada.

–Eu estava pensando... Alguma coisa anda errada.

–É, claro... - caminha com a espada colocando ela de modo desajeitado em cima da mesa ao meu lado - Você acabou de perder seu pai e encontrar sua mãe e logo depois Astrid some e uma confusão entre os dragões e nós começa... É soluço, alguma coisa não somente anda errada, ela está literalmente voando.

–Sua sinceridade é comovente.

Ele dá de ombros.

–Tenho escolha?

–É só que...eu sinto que eu deveria estar fazendo outra coisa, por exemplo...onde está a Astrid? Ninguém conseguiu acha-la, não acha que eu deveria estar procurando?

–Sim... E não. - ele para na minha frente e coloca suas mãos, ou quase isso, já que uma de suas mãos é um gancho, em meus ombros. - escuta soluço, eu lamento dizer isso mas deixar a ilha para procurá-la sem ajuda nenhuma e sem destino... Isso seria suicídio.

–Eu estou disposto a correr esse risco.

–Não, não está! Você por acaso pensou no que poderia acontecer conosco se você morresse? Já não basta seu pai? Já não basta meu amigo ter morrido, agora eu devo deixar o filho dele morrer?

–Já cheguei perto disso umas duas vezes e...

–Eu prometi ao seu pai que lhe protegeria, assim como eu prometo a sua mãe. - ele bufa o ar e tira as mãos dos meus ombros voltando para amolar a espada mais uma vez - Jamais me perdoaria se você morresse sabendo que eu poderia ter impedido. - ele desvia o olhar e coloca a espada na bainha.

–Bocão eu...

Precisava dizer a ele que está tudo bem, que ele não precisa me proteger, que lutar poderia não ser a melhor opção, quando o som do alarme de ajuda é tocado.

Saio correndo lá para fora a tempo de ver minha mãe mancando para fora de seu dragão, mais um dos poucos dragões que resistiram ao que quer que isso seja.

Banguela está longo atrás de mim.

–Mãe?! O que aconteceu.

–Soluço! Filho! - ela corre mancando um pouco e algumas pessoas nos olham com olhares preocupados.

–Mãe, calma, o que houve?

–O horizonte! - ela parece apavorada.

–O horizonte?

–Neblina filho, uma neblina branca!

–Mãe, mãe - tento acalma-la.

Ela se coloca de joelhos e tampa os ouvidos com força enquanto grita.

–Rápido! Me ajudem a levá-la para dentro! - grito enquanto suspendo minha mãe do chão.

~•~

O começo do fim da tarde, a hora perfeita para ataques, mas nada vem.

O que é bom.

Já que tenho uma mãe um pouco fora de si nos meus braços nesse exato momento.

Ela murmura tapando os ouvidos.

–Mãe, fique calma, já estamos chegando em casa.

–Filho - ela chama e faz sinal para eu aproximar meu ouvido da sua boca.

–Oi mãe.

–Ele está vindo.

–Ele quem?

–O mal, soluço, ele está fraco mas algo o está ajudando.

–Como assim?

–Uma neblina branca apareceu soluço, e eu escutei você gritar meu nome, escutei você pedir ajuda, por isso entrei dentro dela. - ela aproxima ainda mais sua boca do meu ouvido e fala uma única coisa antes de desmaiar em meus braços - Haja o que houver soluço, jamais entre naquela neblina!

~•~