Uma Mentira Virtual escrita por sasaricando, Ana Luiza


Capítulo 3
30/06/2001




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A macarronada com molho funghi secci estava da forma como gostava. Devorou com uma fome admirável o prato cheio. Os cogumelos mal foram degustados, apenas engolidos.

 

A mesa era de estrutura metálica com tampo de vidro, com lugar para doze cadeiras. Um espaço enorme para apenas uma pessoa sentada em sua margem completar o cenário daquele apartamento demasiadamente grande para duas pessoas morarem.

 

Após almoçar foi para o quarto. Estava se sentindo estufada, havia comido demais. A massa ingerida parecia ter sido estufada em seu estomago. Todo seu almoço estava prestes a descer para o vaso sanitário. A música alta já não era precisa, já que ninguém ouviria seus barulhos. O seu dedo já não fazia o mesmo efeito quando tocava a garganta, tinha que fazer mais força.

 

Apertou a descarga e encarou seu rosto no espelho. Seus dedos já estavam marcados com as marcas dos dentes, mas ainda não estava satisfeita. Enfiou o cabo da escova de dente contra a garganta até sentir que havia vomitado tudo o que restava no estômago.

 

Retirou a blusa e a calça que vestia. Olhou-se no espelho e viu uma garota gorda. Encostou suas costas na parede do closet e sentou, batia seu queixo contra seus joelhos enquanto chorava. Sentia-se melhor por ter livrado daquela gordura indesejada. Ainda se achava gorda, era preciso mais.

 

Alguém estava batendo na porta. Vestiu suas roupas com rapidez. Antes de abrir a porta colocou uma bala na boca para disfarçar o cheiro do ácido gástrico que permanecia lá.

 

- Está pronta para o ensaio? – A empregada perguntou com paciência, como sempre.

- Já desço. – Fechou a porta.

 

Pegou sua bolsa, que tinha uma grande foto da atriz hollywoodiana Jane Fonda estampada e foi até a garagem. Seu motorista a levou até a agência.

 

Após a saída do carro ela se dirigiu para outro lugar. Uma loja de doces ao lado da porta que deveria estar entrando a chamou atenção. Gastou dez libras em doces. Não estava se sentindo bem, foi para a casa de seu amigo que não era muito longe dali.

 

Duas horas depois, ligou para o motorista buscá-la. Seu amigo Christian era o único que suspeitava que ela tivesse sérios distúrbios alimentares. Mas com a magreza tão em alta em Londres, isso deveria ser normal.  

 

Um garoto com o cabelo pintado de laranja não era estranho naquela cidade. Gostar de animes como ele gostava o tornava diferente. Seus quilos superiores aos convencionais tornavam-no o “amigo fofinho”. Anna sempre o achou gay, mas pensava que ele não estava pronto para saber disso sobre seu respeito. Demoraria a aceitar que era gay.

 

Novamente em seu quarto escondeu os doces recém comprados. No alto de seu armário não os veria. Não teria que vomitá-los. Precisava sentir algo doce em sua boca, sempre foi louca por doces. Dentro de uma caixa de madeira retirou outros doces guardados. Controlou-se para não devorar todos eles. Tirou um pirulito com a embalagem mal posta, que aparentava que já ter sido aberta. Chupou um pouco e o guardou no mesmo lugar.

 

Sentou na sua cadeira vermelha tão adorada e ligou o computador com o dedão do pé enquanto atendia um telefonema no seu celular.

 

Iniciando o Windows em seu computador, aproveitou para arrumar as fotos que estavam jogadas sobre a mesa. Algumas ainda da infância e outras de sua carreira precoce.

 

Retirou a maquiagem da prateleira, passou corretivo nas olheiras. Um pouco de blush na pele anêmica e delineador nos olhos. Seu rosto estava magro, podia-se ver os ossos quase saltando quando sorria.

 

Uma luz laranja piscava. Era ele no messenger.

 

B! diz: Amoooooooooooooooooooooooooooooooooooor!

Anna diz: Oi x)

B! diz: Que demoooora pra aparecer!

Anna diz: Eu não tava bem

B! diz: Aconteceu alguma coisa?

Anna diz: Nada demais

Anna diz: Dor de cabeça

B! diz: Acho que vou voltar pra londres

Anna diz: Quandooo?

B! diz: Ainda não sei direito

B! diz: Acho que brevemente

Anna diz: =)

B! diz: Foi fazer as fotos lá?

Anna diz: Deu um problema, nem fui.

B! diz: Faz tempo que não vejo fotos suas novas

Anna diz: É mesmo, mas ainda te verei todos os dias, até seus olhos cansarem de me ver

B! diz: Talvez eles já te olhem

 

A conversa parou por ter travado o messenger junto com os outros programas. Não conseguiu o fazer voltar a funcionar. Pensou na última frase talvez eles já te olhem, como podiam olhar sem estarem em Londres? Devia estar falando das fotos que já tinha visto.


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