Na segunda-feira, acordei com uma dor de cabeça excruciante e desesperadora às 4 horas da manhã. Tomei uma dose de analgésicos, mas a dor se recusava a passar, então eu me levantei e fui tomar um banho. Me deparei com o colar que pendia da maçaneta e o fitei por algum tempo. Depois, o coloquei no pescoço e dei uma espiada no espelho (nada mal, para ser sincera). Assim que terminei o demorado banho, vesti uma legging preta e uma regata estampada, e peguei um blusa de lã por causa do frio.

Fiquei fazendo hora em casa até dar 7h da manhã. Fiz café, arrumei a cama, abri as janelas, mandei uma mensagem para meus (e desesperados) pais, que haviam ligado mais de vinte vezes no fim de semana, e avisei que tinha esquecido meu celular na casa de uma (nem tão) amiga.

Peguei minhas coisas e fui andando até a faculdade. Dirigi-me à secretaria para obter informações e uma mulher baixinha perguntou se eu precisava de ajuda.

– Sim, por favor. Queria saber onde vai acontecer a palestra sobre... – li o papel que trazia comigo. – sobre dinâmica da sociedade e teorias pedagógicas.

– Ah, só um minutinho. – a secretária consultou seu computador e imprimiu um folheto para mim. – aqui está, é bem fácil de chegar. Bonito colar. – comentou, acenando com a cabeça.

Toquei-o instintivamente, agradeci e dei meia-volta. Caminhei por corredores, escadas e salas, escutando Bastille. Pensei estar perdida, porque demorei uns dez minutos para chegar ao auditório, que estava quase cheio. Me sentei no primeiro assento que avistei, no canto direito, ao lado de uma garota de cabelos vermelhos. Ela me olhou, se surpreendeu e fez uma cara de pena. O garoto da frente se inclinou pra trás, riu e cochichou algo com o colega.

Senti-me exposta e não entendi a razão de tudo aquilo.

Me encolhi durante as duas horas seguintes, torcendo para que a palestra terminasse o mais rápido possível. Juntei meus cadernos e anotações e saí voando daquela sala. Me encontrei num corredor lotado e comecei a andar em direção a próxima aula. Um garoto moreno do terceiro ano apontou pra mim e riu. Algumas das meninas faziam caretas, outras mandavam mensagens assim que me viam. Comecei a ficar tonta e brava, não sabendo exatamente com quem.

Na hora do intervalo, eu caminhava apressadamente pelo campus, com a intenção de ir pra casa e perder os horários seguintes, quando esbarrei com força em alguém. Levantei a cabeça pra pedir desculpa e vi que era ninguém mais, ninguém menos que Evan.

– Loirinha! – ele sorriu, ajeitando a alça da mochila no ombro. – que mundo pequeno.

– Campus pequeno. – corrigi, sem paciência para maiores diálogos.

– Bom te ver. – ele me olhou de cima a baixo, parando na altura de quadril e logo em seguida no meu pescoço – você ta usando o colar!

– Eu estou. – olhei para baixo. Alguns dos seus amigos tinham chegado e começado a rir.

– Então quer dizer que eu estou perdoado? Quem sabe você não quer sair comigo um dia desses?

– Sabe o que é, Evan, eu estou mesmo atrasada. – abracei os livros e comecei a andar, mas ele agarrou meu braço.

– Ta fugindo de mim, loirinha?

Meu pai costumava me chamar daquele jeito quando eu era mais nova. Mas o apelido saído da voz dele ficava nauseante.

Me soltei de seus braços e saí, sem rumo. As pessoas continuavam a olhar pra mim de um jeito estranho, meio torto, a cochichar e rir. Pude até escutar algumas delas me chamando de vadia. Então percebi que a razão era aquele maldito colar. O que ele significava? Que jogo era aquele? Meu celular apitou. Caleb havia acabado de me mandar uma mensagem, perguntando se eu queria almoçar com ele e uns amigos. Respondi que sim, deslizei o colar para debaixo da blusa e comecei a caminhar para o restaurante, pensando que aquilo seria a única coisa boa do meu dia inteiro.