More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

(narrado por America)



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Cheguei em casa tropeçando. Mas que merda foi aquela? Acho que Caleb pensou que fui estuprada, ou algo do gênero. Tirei aquele vestido à la prostituta e o enfiei num saco plástico junto com os sapatos. Não teria nem o trabalho de lavá-lo, iria devolver daquele jeito mesmo.

A maneira como Soraya e Megan me aceitaram de cara. Me convidaram pra festa. Me empurraram pra um cara. Tudo parecia tão... armado.

Fiquei pensando se eu vacilei porque tinha medo de que... bom, de que acontecesse, ou porque tive medo de que acontecesse com o Evan. Foi tudo rápido demais, estranho demais e eu não queria perder minha virgindade daquele jeito.

Prendi meu cabelo e me enfiei numa blusa xadrez que ia até a altura dos joelhos. Me joguei na cama mas só consegui adormecer depois das três, com a intenção de nunca mais acordar.

Quem dera.

No dia seguinte, acordei com a campainha tocando insistentemente. Abri os olhos e procurei meu celular, até me lembrar de que ele estava na casa de Soraya. Olhei pela janela, mas não reconheci o cabelo loiro. Lavei o rosto e tentei tirar os resquícios do batom que se resusavam a sair. Calcei os chinelos e desci as escadas. Quando abri o portão, levei um susto. Evan estava diante de mim, usando a mesma regata da noite anterior e segurava um embrulho. Deu um sorriso mostrando todos os dentes assim que me viu.

– Oi, loirinha.

– Evan. – minha voz saiu mais baixa do que o devido.

– Sabe – ele se aproximou enquanto eu recuava – você me deixou louco ontem. Tem uma perna forte, ein?

– O que você ta fazendo aqui?

Ele me estendeu o embrulho, mas não o peguei.

– O que é isso?

– Um presente.

– Não quero nenhum presente vindo de você.

– Pense nisso como um pedido de desculpas. – ele insistiu – Olha, eu sei que o que aconteceu ontem não foi nada legal. E eu fiquei pensando nisso a noite toda. Foi a forma que eu encontrei de me desculpar.

Apanhei o pacote meio hesitante. Era uma caixinha pequena. Abri e retirei de lá um colar, um pingente metálico redondo. Dava pra ver estrelas, flores e pequenos corações. Era bem bonitinho, na verdade, mas me esforcei para manter a expressão inalterável.

– Não sei se... – comecei, mas ele me interrompeu.

– Só use amanhã, pra eu saber que estou perdoado, ok? É pedir demais?

Na verdade, não era. Assenti e dei um passo pra trás, mostrando que era hora de ir.

– Então, a gente se vê. –Ele sorriu misteriosamente e se foi.

Subi as escadas de dois em dois degraus, ansiosa. Será que eu havia me enganado? Talvez Evan não fosse um completo idiota. Talvez aquilo tudo não passasse de uma coincidência.

Pendurei a joia na maçaneta do banheiro, pensando se usaria ou não na segunda-feira. Aproveitei e fui tomar um banho. Vesti a primeira roupa que vi na gaveta, calcei tênis e peguei o saco plástico, com o intuito de ir caminhando até a casa da Soraya para devolver. E recuperar meu celular.

Não foi uma boa ideia. Na verdade, foi uma péssima ideia, porque eu andava, andava, andava e nunca chegava. Me perdi numas cinco ruas e pisei numa poça de água. Quando, finalmente, cheguei, minha aparência não estava nada bem. Toquei a campainha e o mesmo mordomo atendeu.

– Sim?

– Ah, oi. A Soraya está?

– Desculpe-me, mas a Srta. Walker ainda não voltou.

– Ah. Pode entregar isso pra mim, por favor?

– Mas é claro. Mais alguma coisa?

– Eu esqueci meu celular aqui ontem. Será que eu poderia pegá-lo?

– Só um minuto. Martha! – e chamou uma das empregadas trocou palavras em italiano e a moça surgiu uns minutos depois, segurando meu aparelho.

– Muito obrigada.

– Tenha uma boa tarde – e fechou a porta.

Olhei para o celular e tentei ligá-lo. Em vão. Era óbvio que a bateria tinha acabado. Guardei no bolso da calça jeans e sentei na calçada, amargamente arrependida por não ter levado dinheiro comigo. Teria que voltar a pé e eu estava cansada de tanto caminhar. Abracei os joelhos e fique por ali, observando as árvores altas, as pessoas passando de um lado para o outro, os carros que iam e vinham nas duas direções... espera. Aquele não era o carro do Caleb?

Ele abriu a janela do carro e sorriu.

– Ta me seguindo? – perguntei, surpresa.

– Não, eu não. – ele riu. – que coincidência. Ta fazendo o que aqui?

– Fui pegar meu celular... por acaso sua namorada mora aqui perto? Já que você ta sempre nesse condomínio.

A expressão dele endureceu um pouquinho. Fiquei imaginando o porquê daquilo.

– Não, são uns clientes do meu pai. To cobrindo o turno de um dos funcionários. Na verdade, eu tava indo pra firma dele que fica há poucas quadras do seu apartamento. Quer uma carona?

– Adoraria. – e entrei no carro.

Caleb sorriu e deu partida. Pude sentir o cheiro de hortelã e colônia masculina. As mangas de sua camiseta estavam arregaçadas até os cotovelos, deixando seus músculos sobressaltados. A pele bronzeada e impecável, as covinhas quase imperceptíveis e um pouco de barba no queixo. Com certeza, nada parecido com aquele moleque que eu havia conhecido anos atrás.

– E então. – ele se virou pra mim por um segundo. – se divertiu ontem?

– Ah. Não fiquei por muito tempo. Tinha uma galera legal. Umas pessoas babacas também.

Ele deu uma risadinha nervosa.

– Normal. Sempre assim, você vai aprender a distinguir as pessoas.

– Mas e você? Foi falar com a Caroline? Ela devia estar preocupada, já que tinha ligado mais de oito vezes... E quando eu vou conhecê-la?

– Ah. – ele tossiu, limpando a garganta. – mandei uma mensagem pra ela. – ele tamborilou os dedos no volante. – ta tudo bem. – disse – tudo bem.

Ele acelerava demais e sua voz estava embargada. Não a voz de choro, mas de álcool.

– Caleb.

– Sim?

– Para o carro.

– Mas por que?

– Só para o carro. – reforcei.

Ele encostou no meio-fio. Eu pressionei a trava do meu cinto de segurança e saí do veículo, contornei-o e abri a porta do motorista.

– Saia.

– Eu posso dirigir.

– Anda logo.

– Mas você nem tem carteira!

– Não significa que eu não saiba. Anda logo.

Ele obedeceu, reclamando. Trocamos de lugar e eu recomecei a dirigir.

– Agora me explique.

– Explicar o que? Eu não estou bêbado.

– Quem foi que terminou? Você ou ela?

Caleb ficou calado. Eu podia jurar que vi seus olhos marejados.

– Fui eu.

– O que aconteceu?

– Como você descobriu?

– Ah, por favor. – eu revirei os olhos. – posso ter ficado muito tempo sem te ver, mas eu te conheço. Você só bebe quando tá angustiado ou muito feliz, balança os joelhos quando ansioso e sua barba está por fazer há uns dois dias. – falei, parando num sinal – sorri com os lábios mas não com os olhos e sempre que eu pronuncio “Caroline” você pisca e tenciona o maxilar.

Ele se surpreendeu.

– Uau.

– Por que não me contou antes?

– Não parecia importante no momento.

– É claro que é importante. Quer conversar?

– Não sobre isso.

– Foi falar com ela? Por que terminaram?

– Eu acabei de falar que não quero conversar sobre isso. – ele sorriu da minha insistência. Mas dava para perceber a tristeza e as olheiras.

– Tudo bem.

– Tudo bem. – ele concordou, olhando pela janela.

– Você não estava indo pra firma do seu pai, né?

– Talvez.

– Estava indo para onde?

Ele bufou, reconhecendo que eu o conhecia mais do que esperava.

– Acho que beber.

– Não passam das onze da manhã, Caleb.

– Eu sei. Não há hora pra cerveja. É tipo sorvete.

Estacionei no Starbucks e desliguei o carro.

– Aqui não tem cerveja.

– Vamos tomar um café. – falei.

– Desde quando você ficou tão autoritária?

– Acho que nos últimos dez minutos. Anda, levanta daí.

Sentamo-nos numa mesa no fundo da loja, com dois copos de cappuccino e um prato de rosquinhas entre nós.

– Comece a falar.

Ele bebericou do copo e se contorceu numa careta.

– O que é isso? Algum tipo de interrogatório? Eu, por acaso, vou parar na cadeira elétrica?

– Que engraçadinho.

Caleb começou a mexer no canudinho, que oscilava de um lado para o outro (ele era a única pessoa da Terra que bebia cappuccino no canudo). Não olhou para mim ao falar.

– Sabe aquele dia que eu fui ao seu apartamento te fazer uma surpresa e a gente assistiu aquela série gay...

– Aham.

– Bom, eu fui pra casa dela depois. A porta estava aberta e sabe como é... quando se namora há quase nove meses com alguém se tem alguma liberdade. Eu entrei e ela tava transando com outro cara. E não era eu, porque, bom, eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. – riu, ou engasgou, e disse: – foi isso.

Estiquei minha mão até a sua e ele deixou que eu a pegasse.

– Caleb, eu sinto muito.

– Horrível, né? A pior parte é que fui eu que queria esperar. Quer dizer, eram só nove meses...

– Você não tem culpa nenhuma. Se ela fez isso com você, é porque não o merece mesmo.

Ele sorriu agradecido.

– Mas eu acho que você deve conversar com ela.

O sorriso desapareceu.

– De jeito nenhum.

– Mas ficou mal resolvido.

– É.

– Vai deixar por isso mesmo?

– Exatamente.

– Prefere não conversar com ela à resolver as coisas?

Ele sorriu ao se lembrar da nossa brincadeira. Quando éramos crianças, impúnhamos condições e desafios um para o outro. (“prefere limpar a quadra inteira com a língua, ou se casar com o professor de Artes?”).

– Aham.

– Tudo bem.

– A gente pode voltar agora? Eu tenho prova amanhã.

Sorri.

– Eu dirijo.


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Notas finais do capítulo

Atualizando :xxx



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