More Than This escrita por Ana Clara
Notas iniciais do capítulo
(narrado por Caleb)
Quando eu a vi, eu soube. Ela estava com um vestido que nunca usaria por livre e espontânea vontade. Descalça, com os sapatos na mão, os cabelos meio bagunçados, o batom borrado e a roupa amassada. Abaixei o vidro e ela se surpreendeu (assim como eu, na verdade. Acho que eu estava mais assustado que ela).
– Caleb! Caleb. Oi. – ela se abaixou até ficar na altura da janela. – será que você pode me emprestar o celular? É que eu não achei o meu e preciso ir pra casa e...
– America! Meu Deus, você tá bem? Foi roubada?
– Não! Não. Esqueci o celular na casa da Soraya e, bom, eu me perdi.
– Entra aí, eu te dou uma carona até sua casa.
– Eu não quero incomodar, só me empres...
– Meri – cortei – entra no carro. – meu tom de voz era autoritário e urgente.
Ela contornou o carro e sentou-se no banco de passageiro. Bateu a porta e ficou olhando para o para-brisa. Dei partida no motor e liguei o ar-condicionado, devido ao calor momentâneo. Dirigi os dois primeiros quilômetros em silêncio, escolhendo as palavras.
Eu poderia dizer: “então... você se divertiu?” ou “hm. A Soraya te passou a perna, né?”. Ou poderia ser mais direto: “você transou com alguém, America?”. Minha garganta ficou seca e meus batimentos cardíacos acelerados. Os nós dos meus dedos ficaram brancos de tanto apertar o volante.
– Primeira à esquerda. – ela comentou, se referindo a rua.
– Aham.
Que tipo de amigo eu sou? Por que não te avisei antes?
Meu celular apitou no console do carro. America leu o nome que apareceu na tela.
– Sua namorada. – alertou. Meus ombros e meu maxilar tencionaram.
– Retorno depois.
– Aconteceu alguma coisa?
Eu não queria falar disso ali, muito menos com ela.
– Não. Ta tudo bem. E você?
– Só quero ir pra casa.
Coloquei a mão no joelho dela sem perceber. Meri ficou assustada e eu tirei na mesma hora.
– Vai ficar tudo bem. – e me concentrei em dirigir.
Chegamos ao apartamento em menos de dez minutos. Ambos em silêncio. Eu me perguntei o que havia acontecido com aqueles dois amigos inseparáveis e que podiam conversar o dia todo.
– A gente mudou, né? – ela falou, como se lesse meus pensamentos.
– É. A gente cresceu.
America abriu a porta do carro.
– Ei! Sabe que pode contar qualquer coisa pra mim, né?
Ela ficou um pouco desconsertada com a pergunta. Mas assentiu com a cabeça, agradeceu pela carona e saiu.
Desliguei o motor e permaneci ali por algum tempo. Desbloqueei meu celular e li a mensagem.
Carol Lancaster
Ca, precisamos conversar. Por favor, me responda.
Demorei algum tempo para responder.
Caleb
Pra você é “Caleb”. Não temos nada a conversar. Terminamos.
Selecionei as mensagens e as deletei. Fiquei tentado a pedir o nome do cara. A matá-lo. Mas então eu me lembrei de uma situação parecida de quando eu era mais novo. Quebrei o braço direito, torci o tornozelo, fraturei a clavícula e a bacia. Cinco dias em coma, meus pais desesperados. Não, eu não ia me meter numa briga de novo. Não valia a pena. Até porque eu tinha coisas mais importantes com as quais me preocupar.
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