More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

(narrado por America)



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A matéria estava começando a apertar. Nem tinha completado um mês e eu já me matava de tanto estudar, anotar, revisar. Mas, poxa, era sábado. E eu não tinha absolutamente nenhum plano. Me peguei olhando pro endereço da Soraya e pensei: “quer saber? Eu vou. Se não me enturmar, vou passar meus sábados à noite batendo papo com a atendente do Starbucks”.

Tomei um banho, vesti uma calça jeans e uma blusa meio soltinha de seda, calcei all star e prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Peguei minha bolsa e chamei um táxi.

Soraya morava num condomínio fechado na parte rica da cidade. Quando bati na porta, um mordomo me atendeu.

–Oi, ér. É a casa da Soraya?

– Senhorita. – ele me ofereceu a passagem. O interior era tão sofisticado quanto a fachada.

Nesse exato momento, Soraya desce as escadas usando um roupão. Um roupão felpudo. Um roupão felpudo cor-de-rosa.

– America! Que bom que veio. – ela correu até mim e me agarrou pelo pulso. – você não tá pensando em ir assim pra festa, né?

Ela nem me deu tempo de responder.

– De jeito nenhum. Venha, eu vou te apresentar às meninas e depois vamos dar um jeito em você. – me arrastou escada acima até seu quarto, onde cinco meninas pintavam as unhas e liam revistas.

– Gente! Essa é America. America, essas são Eliza, Rose, Jane e Samantha. A Megan você já conhece.

Elas me cumprimentaram e elogiaram meu cabelo.

Soraya me levou pra um outro canto, ainda segurando meu pulso. Fez um gesto dramático em direção ao closet.

– Vamos, eu vou te ajudar a escolher algo que preste. Você não está apresentável, querida.

Se ela estava tentando ser legal, tinha um jeito estranho de demonstrar isso. Olhei pra mim mesma e depois para o closet. Eu não via nada de errado com minha roupa. Ela notou que eu continuava imóvel e muda, e então entrou e começou a remexer os cabides. Voltou com três peças de roupa e as estendeu na cama. Era um vestido tomara que caia, com um corpete justo preto e com a saia vermelha. Bem curto, na verdade. Nem chegava na metade da coxa. As outras peças eram uma blusa justa com um decote do tamanho do mundo, e uma saia ainda mais colada e curta. Soraya voltou com um par de saltos agulha de 10cm, combinando com o corpete do vestido.

– Você calça 37, né? Acho que serve. Experimente.

– De jeito nenhum – neguei com a cabeça – eu to muito bem assim.

Ela riu como se eu fosse um cachorrinho engraçado. Eu estava ficando muito frustrada.

– Não dá pra ir à festa assim. Use as roupas e me devolva na segunda. – ela sorriu, agindo da forma como se faz caridade. Pegou o vestido e me empurrou até o banheiro. – experimente!

O fiz. Tranquei a porta e coloquei minhas roupas em cima da pia enquanto me vestia. Eu sou magra, então, em geral, ele ficou bem ajustado. Só um pouco folgado no busto (mas, convenhamos, provavelmente o presente de dezoito anos de Soraya foi aplicar silicone).

Abri a porta só o suficiente para ela dar uma espiada e seu rosto se iluminou.

– Perfeito! Eu o daria a você se não o tivesse comprado na Itália. – as meninas riram, eu não. Checou o relógio. 20h. – vamos maquiar você!

Me empurrou até sua penteadeira e me sentou com força.

– Samantha! – gritou. Uma ruiva boazuda apareceu no meu campo de visão. – faz esse favor pra mim? Eu vou pegar a chapinha.

– Okay. – ela esticou a mão e pegou uma pequena maleta com todos os tipos de todos os tipos de maquiagem possível. Fiquei impressionada, porque o máximo que eu tenho em casa é rímel, lápis e gloss.

Samantha encheu meu rosto de pó compacto e base corretora e, em seguida, blush. Delineador, rímel, lápis, batom. Tudo com a agilidade de uma profissional. Depois de algum tempo, Soraya apareceu com a chapinha e baby-liss, ligou-os na tomada e disse que assumiria dali em diante. Aquilo tudo parecia uma cirurgia médica.

Alisou todo o meu cabelo e em apenas dez minutos, apesar dos meus protestos. Depois, fez cachos nas pontas do meu cabelo. Deu uns retoques na maquiagem, mandou que eu calçasse os sapatos e em nenhum momento permitiu que eu me olhasse no espelho.

Puxou-me até que todas as garotas pudessem ver e elas aplaudiram. Eu me senti uma verdadeira estranha. Depois, me guiou até o espelho no fim do corredor e eu não acreditei no que vi. Aquele reflexo não era o meu. Aquela pessoa não era eu. Tão maquiada que nem dava para ver as sardas que salpicavam a ponta do meu nariz. Soltei um sorriso bobo enquanto Soraya me encarava, orgulhosa.

– Não ficou escandalosamente linda? – riu – espere que agora é minha vez.

Em uma hora, todas estavam prontas. Soraya disse que fazia questão de me levar até lá e me apresentar aos seus amigos. Eu achei muito simpático da parte dela.

O restante foi embora e Soraya (dentro de seu tubinho azul incrustado) me levou até sua BMW, onde um motorista a aguardava. Em vinte minutos, chegamos à casa de "Steve”. O motorista estacionou e eu já estava abrindo a porta quando ela me repreendeu. Fez um gesto para que eu esperasse que abrissem pra mim. Quando, enfim, saí, notei o quão cheia estava a casa. A maioria das pessoas aparentando cerca de vinte e dois, vinte e três anos, e eu com meus humildes dezoito. Também percebi várias pessoas de calças jeans e camiseta. E eu não estava apresentável? Não entendi muito bem o motivo daquele alvoroço todo. Acho que Soraya quis ser minha amiga.

Caminhamos para dentro, atravessando o jardim lotado de copos de plástico, latas de cerveja e gente fazendo bagunça. A música que vinha de dentro da casa estava ensurdecedora. À medida que andávamos, Soraya cumprimentava diversos conhecidos com dois beijinhos no rosto e hora ou outra me apresentava a eles. Sempre dizia “Essa é America. Ela é caloura”. Eu estava ficando ligeiramente desconfortável.

Entramos, abrindo caminho em meio à multidão. Ela me apresentou ao dono da casa (aquele tal de Steve) e depois continuou me puxando para o segundo andar. Nos encostamos numa parede, ao lado de uma porta que eu supus ser o quarto de hóspedes, e Soraya começou a falar.

– Aquele ali é o Zack. – ela acenou com a cabeça – preso duas vezes por furto e tráfico de drogas antes de completar dezoito. É encrenca. O ruivo é o Eddie. Tá sempre chapado. Mas aquele loiro ali... – ela apontou.

Ele vestia uma blusa preta com as mangas cortadas, jeans surrados e tênis da DC. E usava um óculos da Ray Ban, apesar de ser quase dez horas da noite. Virou-se na nossa direção e sorriu pra Soraya (ou foi pra mim?), cumprimentando-a erguendo o copo de cerveja.

– Evan! – e virou-se pra mim. – Eu vou buscar algo pra beber – ela comentou. – vai querer alguma coisa?

Eu tinha vergonha de dizer, mas além o champanhe dos meus pais no Natal, nunca havia ingerido nada alcoólico.

– E eu vou ficar aqui?

– Faça amigos! – ela disse, já se afastando. Antes de descer as escadas, Soraya sussurrou algo para Evan, que sorriu e veio em minha direção. Ah, que legal.

– Oi, loirinha. – ele falou, largando o copo numa mesa ao nosso lado – é caloura?

– Agora é crime? – rebati. Tive que levantar a cabeça, Evan era bem mais alto. Ele sorriu no canto da boca. Tirou os óculos e eu pude encarar seus intensos olhos verdes. Nossa, o cara era um gato.

– Claro que não. Mas sabe que se você não tivesse falado, eu teria achado que você tinha uns vinte anos?

– E por que?

– Por causa do seu corpo. – e me olhou de cima a baixo, sem medir esforços, exibindo seu melhor sorriso cafajeste.

– Ah. – comecei. Tive a certeza de que minhas bochechas estavam coradas. – Obrigada, eu acho.

– E aí, você é amiga da Soraya?

– Hm. Acho que sim. Passei o dia na casa dela... – comentei, olhando ao redor para encontrá-la. Pelo visto ela não tinha a menor intenção de voltar. – mas não a conheço por mais de uma semana.

Evan percebeu que eu a buscava com os olhos e deu um risinho contido.

– Que foi, loirinha? – voltei a olhá-lo. – Relaxa. – ele puxou minha cintura com as duas mãos. – Eu não mordo... – e sussurrou ao pé do ouvido: – só se você quiser.

Legal. O cara tinha me colocado na parede (literalmente) e começado a beijar meu pescoço. Se o contexto fosse outro, eu teria gostado. Mas eu estava no meio do corredor, em uma casa desconhecida, com pessoas desconhecidas nos olhando, sendo beijado por um desconhecido (gato, mas ainda assim, desconhecido) e a única pessoa com a qual eu podia contar tinha saído para dar uns amassos. Me desvencilhei de seus braços com um empurrãozinho sutil (pelo menos foi a intenção).

– Todo mundo tá olhando. – eu falei o mais baixo que pude.

– Deixa eles olharem. – ele riu, se aproximando de novo.

– Não, eu to falando sério.

– A gente pode ir pra outro lugar...

Opa. Não foi isso que eu quis dizer.

Sem a menor cerimônia, Evan me agarrou pela cintura e começou a me beijar, e eu senti suas mãos tatearem algo na parede. Ele agarrou a maçaneta do suposto quarto de hóspedes e me empurrou pra dentro, fechando a porta atrás de si. Cambaleei para trás com meu modesto salto agulha e, claro, caí na cama. Me levantei, mas Evan me empurrou e eu acabei deitando de mal jeito, enquanto ele me prendia com o seu corpo. Seu braço direito enlaçou meu quadril e o esquerdo buscava alguma coisa no bolso da calça jeans. Eu sabia o que era. E com certeza não queria aquilo. Quando achou, jogou o pacotinho em cima da cama e recomeçou a beijar meu pescoço.

– Você fica muito sexy nesse vestidinho, sabia? – falou, e quando pronunciou a palavra “sexy”, subiu sua mão pela minha coxa. – Completamente sexy. – e começou a descer o zíper na lateral do corpete.

Quando eu tinha quinze anos, meu colégio forneceu um curso de cinco dias para as meninas do oitavo ao segundo ano. Naquela semana, depois das aulas, nós, inscritas, nos encontrávamos na sala de Ed. Física para termos aulas de defesa pessoal. Basicamente, nós aprendíamos a chutar, bater e socar homens que usavam aquelas roupas especiais de proteção. Mas, bem, Evan não estava usando nenhuma roupa de proteção. Então tenho certeza de que doeu bastante quando eu desferi uma joelhada em sua virilha.

Ele me olhou desconcertado. Eu me esquivei de seus braços, peguei minha bolsa que tinha caído no chão e saí correndo. Tipo, correndo mesmo. Quase tropecei e rolei pela escada, mas consegui recuperar o equilíbrio no último segundo. Soraya estava agarrando um moreno (devo dizer, nada como o Evan, mas era bonitinho) e nem se deu conta do que estava acontecendo quando eu passei voando ao seu lado, disparando para a saída. Parei no passeio para tomar fôlego e busquei meu celular dentro da bolsa para chamar um táxi. Meu Deus, onde está meu celular? Me dei conta de que deveria tê-lo esquecido na casa de Soraya, provavelmente na bancada do banheiro. Droga. E agora, como eu voltaria pra casa? A rua estava vazia, exceto pelos carros estacionados no meio-fio e eu não voltaria para a festa de jeito nenhum. Não quando eu poderia dar de cara com Evan novamente.

Resolvi caminhar até a portaria do condomínio e pedir pra alguém chamar um táxi pra mim. Era o único jeito, já que eu nem sabia pra que lado ficava a minha casa e já passava das dez. Quando eu atravessei a rua, vi um Honda passando na esquina e sinalizei pra ele. (por favor, não pense que sou uma prostituta). Ele para e abaixa o vidro.

– Caleb?


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Notas finais do capítulo

Não sejam leitores fantasmas! (se é que há leitores). Comentem :xxx



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