More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

(narrado por Caleb)



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– Caleb! Meu Deus, você quer me matar? – Ela se escorou na porta e apoiou a mão no peito – como você entrou aqui?

Ri e me levantei do sofá.

– Pela escada de incêndio. Você deixou a janela aberta.

Ela sorriu. Quando nós éramos crianças, eu me esgueirava e me infiltrava em todo tipo de coisa: armários, porões, casas abandonadas. Tenho certeza de que ela se lembrou disso também. Dava pra ler em seu sorriso.

– Apartamento bacana. – olhei em volta. Teto rebaixado, carpete, decoração profissional. – Posso dar um palpite?

– Vá em frente.

– Sua mãe?

– Isso mesmo. Eu nunca tive o bom gosto dela. – suspirou – Mas por que exatamente você invadiu o meu apartamento?

– Bom, eu não vou poder sair pra almoçar amanhã, então vim te avisar.

– Podia ter me ligado.

– Preferi te fazer uma surpresa. – ergui o DVD para que ela pudesse ver. – Dawson’s Creek. Como nos velhos tempos. Tá ocupada?

Ela trocou o peso para a outra perna.

– Dawson’s Creek? Isso não é série de mulherzinha?

– E eu sou o que? – brinquei, balançando a mão no ar.

Ela gargalhou e foi fazer pipoca enquanto eu colocava o filme pra rodar. Nos sentamos e assistimos a primeira temporada inteira enquanto conversávamos.

– E como está indo a faculdade? – ela perguntou, levando os joelhos até o peito.

– Vai bem. Eu não sou o mais brilhante, mas com certeza não sou o pior. Quero dizer, medicina. – fiz uma careta – não é um curso fácil.

– Com certeza não. – ela concordou, olhando pra tela da tevê. – e aquela menina? “Ca” alguma coisa?

– Caroline.

– Essa mesma.

Caroline era minha namorada. Falei sobre ela com Meri no verão anterior.

– Saímos algumas vezes. Ela é um ano mais velha que eu. Sabe? Convicta. Ambiciosa. Sabe o que quer. Estamos namorando há alguns meses. – joguei uma pipoca pra cima, mas ela bateu na minha bochecha, quicou e caiu no tapete. Meri riu. – ela é bem legal. E o Brad?

Brad era namorado dela. Mas eu sabia que eles tinham terminado, porque, bom, fofocas correm soltas por aí.

– Terminei com ele antes de me mudar pra cá. Acho que ele queria sair pegando as universitárias da vida.

– Que droga. – comentei.

– É sim. – Meri concordou, mas não houve alteração na expressão dela.

– Não. Digo, vocês terminarem foi ótimo! – virou-se pra mim, perplexa. – Que foi? Ele era uma droga.

America pegou um punhado de pipoca e jogou em mim.

– Desculpe! – me rendi, dando risinhos. – mas você não costuma sair com caras muito interessantes.

– Tem razão. Eu ainda ando com você.

Ai.

– Não sou eu que saio com ruivas excluídas e psicopatas. – ela continuou.

– Lizbeth. Você não perdoa, né? Aquilo foi na 7ª série! E eu tinha perdido uma aposta!

– Não foi nada cordial. Nem ético. Iludiu a coitada.

Sério, eu adorava aquele jeito intelectual meio zoado dela. Uma das razões pelas quais nossa amizade durou tantos anos.

– Não vai se repetir, falou? – ri novamente – e aí? Fez alguma amizade?

– Não exatamente. Hoje conversei com duas meninas. Megan e Soraya, do segundo ano. São meio patricinhas. Mas foram as únicas que pareceram ir com a minha cara e até me chamaram pra sair.

Ih. Eu sabia muito bem quem eram aquelas duas. Meu rosto se contorceu numa careta.

– O que foi? – perguntou.

– Não entra nessa. Sério, Meri, é fria.

– Ah. Sei lá. Eu sinto falta das amigas do Ensino Médio. – ela abraçou as pernas e apoiou a cabeça nos joelhos.

– E eu não sirvo?

– Claro! Vem aqui, vamos pintar as unhas e conversar sobre meninos! Fazer chapinha, talvez? Ler biografias de artistas pop americanos? Ei, que dia chega a sua menstruação? – ela falou, num tom condescendente.

Eu gargalhei.

– É. Eu não sirvo. Mas, se quiser falar sobre hóquei ou beisebol, e ver revistas da playboy, conte comigo!

– O que seria de mim sem você?

Os créditos começaram a rolar na tela. Me inclinei sobre o aparelho e guardei o DVD.

– Bom, eu vou jogar boliche com uns amigos agora. – comentei – só não vou te convidar porque você seria uma péssima influência pros caras.

– Por que eu?

– Converteria todos eles às boas maneiras. Usem guardanapo! Lavem a mão depois de usar o banheiro!

– Meu Deus, Caleb! Você é nojento.

– E você me ama mesmo assim. – ri, beijei a bochecha dela e me levantei pra sair. A porta estava só encostada, então eu não esperei ela se levantar. E America também não fez menção disso.

– Eu te ligo. – avisei.

– Okay. Tchau! – ela gritou, permanecendo onde estava.

Preferi descer as escadas a tomar o elevador (coisa de anti sedentarismo). Atravessei a rua e liguei meu carro. Saí dirigindo pela rua, peguei uma avenida na interestadual e atravessei o bairro até uma ruazinha agitada no centro da cidade. Estacionei e desci do carro. Era a casa de Caroline. Queria vê-la antes de ir pro jogo. Atravessei a portaria e subi até o quarto andar. Bati na porta. Nada. Bati de novo. Eram 18h, com certeza já tinha voltado do estágio. Contornei o prédio até a porta dos fundos. Ora, ora, estava aberta! Entrei e encostei a porta atrás de mim. Ouvi murmúrios vindos do quarto dela. A essa hora eu já sabia o que estava acontecendo, mas eu queria ver com meus próprios olhos. Subi as escadas e abri a porta como quem retira um curativo. Obviamente, Caroline estava na cama. Obviamente, com um cara que não era eu. Por um momento, nossos olhares se cruzaram. Então eu voltei a bater a porta e saí correndo.

Bom, eu não costumo ser agressivo. Nem em horas como essa. Então, eu comecei a rir. Mas quando eu alcancei meu carro, o riso se tornou um soluço que se tornou um choro. Dirigi voando, atravessando todos os sinais vermelhos, em tempo de acabar com a minha vida. Cheguei em casa, tranquei a porta e me joguei na cama. Meu celular estava tocando. Chequei. Número confidencial? Bom, o Papai Noel é que não era. Desliguei o celular e me afundei no travesseiro.


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