More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 30
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

(narrado por Caleb)



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O dia se arrastava como nunca antes. Posso apostar que o relógio fixado à parede do meu quarto já estava constrangido de tanto que eu o encarei por duas horas consecutivas. Revirei na cama, chequei o celular e migrei do quarto para a sala, da sala para o quarto. Lá pelas três da tarde, meu notebook apita, revelando que eu havia recebido um email. Abro-o sem muita expectativa (deve ser só um daqueles avisos inúteis do Twitter) e me deparo com a secretaria do hospital de Manhattan como remetente. Meu coração vai à boca. Desorientado, clico desesperadamente no email e desço o mouse, correndo os olhos pelo texto.

Prezado senhor Caleb,

Recebemos seu currículo na semana anterior e o hospital de Manhattan tem o prazer de recebê-lo para uma entrevista. Pedimos que compareça, na data e endereço em anexo, para que a entrevista seja realizada. Pedimos também que o senhor preencha o formulário, também em anexo, para coletarmos os dados necessários. Para mais informações, favor ligar para o número 555 3122 2464 e solicitar o protocolo.

Desde já agradecemos,

Comitê e Secretaria de Cancerologia do H. de Manhattan

Não acreditei quando li. Precisei conferir o endereço de email do remetente para me convencer de que não se tratava de uma brincadeira maldosa. Cara, o hospital de Manhattan! Manhattan, Nova York! Era a melhor notícia de toda minha semana. Minha mente vagou pelas ruas da cidade em que eu poderia ter a oportunidade de trabalhar, de morar.

– Calma, Caleb... – falei comigo mesmo – só porque te chamaram pra uma entrevista não significa que você vai ser admitido. Melhor abaixar essa expectativa.

Mas não pude evitar. Tive vontade de sair pulando pelas ruas, de gritar das janelas, de contar para Meri! Meri! Queria que ela fosse a primeira a saber. Voei até meu guarda roupas, peguei a primeira blusa do cabide e estiquei as mãos até a cômoda, a fim de apanhar as chaves do carro. Bati a porta da frente e deslizei degraus abaixo, até meu carro. Dei partida num segundo e segui pelas ruas, com o caminho até a casa de Meri na minha cabeça. Essa não era uma notícia para se contar pelo telefone. Eu precisava vê-la, precisava dizer pessoalmente.

Parei num sinal fechado, afoito para ultrapassá-lo, e depois dobrei uma esquina pela direita. Num determinado momento, porém, um porsche prateado me fechou numa curva e, por um milésimo de segundo, não bateu com tudo no meu carro.

Não costumo ser um cara nervoso. Mas o estresse repentino me ferveu o sangue e, quando dei por mim, já havia saído do carro pra tirar satisfação com aquele imbecil. E quando a pessoa saiu do carro, fiquei ainda mais furioso.

– Ora, ora, ora... O que temos aqui? – Evan murmurou em tom esnobe, tirando sua Ray Ban e pendurando os óculos naquela regata irritante. Que bom que ele os tirou. Até senti dó de quebrar uns óculos tão caros. Que fosse só a cara dele mesmo.

– Seu desgraçado. – soltei por entre os dentes – mesmo depois de todo o transtorno que você causou, ainda quer bater no meu carro?

– Que eu causei? Pera aí, né, colega, não posso fazer nada se nenhuma mulher tá satisfeita com você. E ainda fica bravinho? A culpa foi sua, seu idiota. Se você tivesse arranhado um centímetro do meu porsche, ia fazer você consertar com a língua.

Juro que senti meu sangue borbulhar. Ofereci minha melhor risada sarcástica.

Minha culpa? Você que me fechou naquela maldita curva, seu filhinho de papai. E como assim nenhuma mulher tá satisfeita comigo? Foi mal aí, mas se você não se lembra, America fugiu de você desde a primeira vez que tentou colocar as mãos nela.

Ele retribuiu o riso irônico.

– É claro. Aposto que você andou colocando merda na cabeça daquela loirinha estúpida. É outra que não presta, nem liberar ela liberou. Pode ficar com aquela megera.

Ah não, a Meri não. Agora era pessoal. Avancei na direção de Evan e dei um empurrão em seu peito. Evan retribuiu e eu pude escutar alguns dos telespectadores ameaçarem ligar pra polícia.

– O que foi? – Evan provocou, já meio ofegante, erguendo uma das sobrancelhas. – Resolveu virar homem agora? Faça-me o favor, seu viado de merda. Devia ter decidido isso antes de ser corno pela primeira vez.

Minha expressão se decompôs num grande ponto de interrogação. Ele percebeu minha confusão e sorriu.

– Ah, você não sabia? Então deixa eu refrescar sua memória. Sabe quando você pegou aquela morena gostosa na cama com outro cara?

Não...

– Isso mesmo. Era eu.

Aquilo foi um soco no estômago pra mim. A partir desse momento, não me lembro bem do que exatamente aconteceu. A certeza de que tenho é que nunca senti tamanha fúria queimar, se alastrar e consumir em meu peito, meus braços, minha cabeça. Desferi um, dois, três, quatro, cinco socos na cara de Evan, com tanta força que um homem que observava da rua teve de correr e me conter. Pensei na Meri e por ela eu parei. Larguei Evan sangrando e desacordado no asfalto e segui cambaleando até meu carro, enquanto o mesmo homem ligava para a ambulância às pressas. Ignorei os gritos e as exclamações, dei partida no carro e comecei a dirigir, totalmente desconcertado e perdido. Toda minha felicidade se esvaiu e tive vontade de chorar. Evan conseguia atrapalhar minha vida bem quando tudo parecia se resolver.

Peguei um desvio e retornei ao caminho trivial, rumo à casa de America. Eu precisava vê-la. Ela era a única que me impedia de fazer besteira e era a única capaz de me dar a paz que o mundo me tirava.


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