Finalmente o tão esperado dia. Eu e Candance roíamos as unhas enquanto esperávamos as outras meninas chegarem. Nos dias anteriores, tínhamos nos encontrado todas as tardes a fim de fazermos um levantamento das que marcaram presença. Um grupo de vinte e três garotas. Apesar de estarmos felizes pelo sucesso da campanha, também nos entristecemos por saber que tantas delas tinham sofrido o mesmo e cruel tipo de agressão.

A reunião aconteceria no salão de festas do apartamento de Candance. Dispomos fileiras de cadeiras de plástico, uma atrás da outra, ao longo do ambiente. Também decoramos uma mesa com pizza, limonada e diversos tipos de chá. Consegui, através de um dos amigos de Caleb, um projetor emprestado que eu usaria para uma pequena apresentação de slides. Estava tudo organizado e pronto para recebê-las.

Por volta de três da tarde, as primeiras convidadas começaram a chegar e tomar seus assentos. A maior parte delas colocou o colar numa caixa que Candance havia colocado ao lado da entrada com os dizeres “despeje aqui seu lixo”. Trinta minutos mais tarde, contamos quantas haviam chegado e demos início à reunião.

– Boa tarde, garotas – comecei, tentando parecer amigável. – sei que vocês devem estar se perguntando o real motivo desse encontro e eu queria dividir com vocês o que tenho planejado. – então comecei a contar minha história. Dos meus primeiros meses na universidade, nas garotas que se aproximaram de mim com o intuito de me convidar para a festa, de Evan e do maldito site que descobri por acaso, através de outra pessoa. Ao longo do relato, muitas meninas se identificaram e pediram a palavra, partilhando um pouco das próprias experiências. Agora tudo começava a se encaixar para elas. A verdade vinha à tona, de maneira abrupta e inesperada.

– Mas as coisas não podem ficar assim, não é? – umas delas, chamada Alissa, questionou. Não depois de termos descoberto toda a verdade.

– Exatamente! – concordou uma morena de óculos, com as bochechas vermelhas – isso não deve continuar. A vingança é necessária!

Candance tomou as rédeas da situação e interrompeu o rebuliço.

– Meninas, foi por isso que reunimos vocês, pra que tudo isso seja resolvido e para que próximas vítimas sejam protegidas. Mas nós não queremos vingança. Queremos justiça.

Aproveitei a deixa e iniciei a apresentação de slides.

– Bom – comecei – eu e Candance temos analisado a melhor forma de tirar a limpo essa situação e chegamos à conclusão de que a maneira mais correta e eficiente é levar às autoridades da Califórnia. Mas nós não queríamos que a notícia vazasse. Precisamos que o site continue no ar, pelo menos por enquanto. A ideia é executarmos da maneira mais organizada possível.

– Andamos pesquisando – continuou Candy, trocando os slides – e descobrimos vários crimes diferentes pelos quais as pessoas envolvidas podem responder. Entre os virtuais estão calúnia, difamação e injúria que, além da prisão preventiva, também requerem uma multa no valor de mil e duzentos dólares para cada vítima por danos morais. Sem contar que todas as vítimas têm livre arbítrio para entrar com um processo.

– Além dos crimes virtuais – continuei – há também os de estupro e tentativa de estupro, que levam de dois a quatro anos de prisão, desde que haja maneiras de comprovar o crime.

– E nós temos. – concluiu Candy – por isso pedimos a colaboração de vocês, para que não se exaltem e saiam espalhando. É estritamente necessário que as provas sejam preservadas. E com o consentimento de vocês, iniciaremos hoje mesmo um processo de resguarda das provas.

– Pensamos em gravar todos os dados do site num DVD e imprimir todas as informações possíveis, desde a identidade dos criminosos até o link do site. E também pedimos a vocês que, caso tenham alguma outra prova concreta, que tragam até nós antes de irmos à polícia registrar o boletim de ocorrência, onde, aí sim, poderemos solicitar a retirada do ar do conteúdo ofensivo.

E, depois de terminarmos, a decisão foi unânime. Nomes de advogados e diversas sugestões surgiram incansavelmente pelas próximas horas, enquanto comíamos e fazíamos piadas maldosas sobre toda a situação. Pode não ter acabado em pizza, como diz o ditado, mas tudo caminhava para um fim bem melhor.