More Than This escrita por Ana Clara


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

(narrado por America)



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Primeiro período de pedagogia. Universidade da Califórnia. A alguns quilômetros de Los Angeles, onde eu morava com meus pais e meu irmãozinho, Sammy. Quando fui aceita na Universidade, meus pais concordaram que não era viável continuar morando em Los Angeles (eu não havia nem tirado carteira de motorista para percorrer aquela distância todo santo dia). Então eu tinha duas opções: alugar um apartamento próximo de onde eu estudaria ou me contentar com os dormitórios da própria faculdade. Um quarto, um frigobar, uma companheira de quarto.

Fiquei com a primeira opção. Uma semana antes, meus pais foram comigo inspecionar o local. Achamos um pequeno apartamento, dois quarteirões dali, de três andares. Era bem pequeno, mas aconchegante. Me instalei no segundo andar. Uma sala, um quarto, uma cozinha, um banheiro e uma varanda. Minha mãe, que é dona de uma rede mobiliária, salpicou o apartamento de móveis e aparelhos eletrodomésticos. Tevê, máquina de lavar, microondas. Disse que eu podia começar a pagar quando arrumasse um emprego. Agradeci e prometi que conseguiria me virar dali pra frente.

Depois, fui conhecer o campus. A universidade é gigante, com muitos prédios, salas, laboratórios e observatórios. Meu pai cuidou da papelada, então basicamente eu só tive que comparecer.

O primeiro dia de aula foi assustador. Me sentei numa sala com um quadro gigante e cerca de cem alunos ao meu redor. Todos eles mais bonitos, mais centrados e mais interessantes que eu. Me senti uma verdadeira formiga. Não, uma formiga não, porque cada uma delas é importante e tem uma função. Uma criatura ainda mais inútil e indigna. Tipo um verme.

Fiz todas as anotações possíveis e tentei só focar no professor do primeiro turno (um tal de Sr. Waters, bem gato, pra falar a verdade), mas foi difícil não ficar dispersa. As mulheres corpulentas e destacadas com maquiagem, os homens com bíceps sobressaídos por debaixo dos suéteres apertados é que me chamaram a atenção. Eu era tão... desinteressante comparada a eles. Só queria que a aula acabasse logo para que eu pudesse voltar para meu pequeno aconchego. Comer. Estudar. Encontrar Caleb, talvez. Apesar de que eu achava um tanto improvável, porque ele estava muitos períodos na minha frente, e deveria ter muito mais o que fazer.

A primeira semana foi solitária. Não fiz uma amizade sequer. Meus colegas não eram muito amistosos. Basicamente, eu falava com meus pais e meu irmãozinho pelo skype, o atendente do Starbucks e a moça da secretaria. Passava as tardes repassando o conteúdo das aulas, lendo, vendo tevê e dormindo. “America, a faculdade bomba!”, Alicia tinha me dito.

Aham. Bomba. To vendo.

Na terceira semana, trombei com Caleb quando estava voltando do almoço. Tipo, literalmente. De frente e com tudo. Deixei todos os livros caírem. Aterrissei de bunda na grama (droga! Essa calça era nova! Não vê pra onde você anda, não, seu...).

– Meri! – ele exclamou, se levantando e me ajudando a me erguer. – que saudade!

– Caleb – Respondi. Fazia alguns meses que eu não o via. Estava mais alto. Forte. Covinhas acentuadas. Olhos escuros e pele perfeita. – Você tá... diferente.

– E você tá ótima! Quer tomar um café?

Ótima? Onde? Quem? Me dei conta de todos os detalhes errados em mim. Moletom. Calça jeans. Nem mesmo um mísero batom.

– Na verdade, eu to meio atrasada pra próxima aula. Ainda não me acostumei com os horários.

–Ah, é sua primeira semana, não é verdade? Tá morando aqui?

– É. Eu me mudei pra um apartamento aqui perto.

– Você se acostuma – ele sorriu, aquele sorriso incrível. – Quer almoçar comigo amanhã?

Pisquei duas vezes.

– Claro. – Respondi. – então, até.

– Bom te ver!

– O mesmo. – sorri e continuei andando. Andando, andando e andando. O campus pareceu infinito. As pernas doíam quando cheguei ao auditório, onde haveria uma palestra sobre comportamento humano.

Nesse dia, conversei com uma menina. Seu nome era Megan. Loira, bonita e atlética. Eu não precisei que ninguém me dissesse que ela era popular pra tirar essa conclusão. Tava na cara. Mas ela foi bem legal. Perguntou de que escola eu tinha vindo, rotulou metade da turma em menos de dez minutos. (“Nerd, hipster, esquisito, bom de papo, mesquinho, retardado, gatinho, gay, e aquele ali... ah, já peguei”). Bom, nem tão legal. Mas eu não podia reclamar, porque ela foi a única a tentar me enturmar e a única a se aproximar de mim. “Gostei do seu cabelo. Sabe, loiro natural. E liso natural também, né? Você não parece o tipo que faz chapinha” riu. “Seus olhos são bonitos também. Azuis e escuros. Se passasse rímel, ficariam perfeitos.”. Aí outra menina chegou, uma morena alta e completamente maquiada.

– Ah, Soraya, essa é a America. Ela é caloura.

Pelo visto eles levaram muito a sério esse negócio de distinguir os veteranos dos calouros.

– Oi. – cumprimentei.

– Ah, oi! Que cabelo lindo.

– Isso que eu tava falando pra ela agora mesmo. – A Megan riu histericamente, como se essa fosse a coincidência mais bombástica de toda a face da Terra.

– E aí, America. – Começou a morena. – a gente vai ter uma festa da Fraternidade no sábado. Chamamos de...

– Ritual de Iniciação.

Ta, aquilo já estava irritante. Completar as frases uma da outra não era coisa de filmes da Disney?

– Pois é. – continuou Soraya. – não é nada como afogar as cabeças dos novatos em privadas e tal. – risos – é só uma festa mesmo, com bebida e garotos. Normalmente vai só o pessoal da Fraternidade. Mas a gente convida uns calouros legais.

– Quer ir com a gente? – emendou a loira. – vai ser na casa do Steve, um amigo nosso. Fica por aqui perto.

– É. – concordou Soraya. – Uma turma vai pra minha casa umas horas antes da festa pra gente se arrumar. Aparece lá, vai ser legal.

– Ah, tudo bem. – respondi. – Onde você mora?

Ela me passou o endereço. Eu perguntei meio que só por educação, porque não sou do tipo que vai em festas com gente que mal conhece. (Nem em nenhum tipo de festa, na verdade).

Agradeci e voltei pra casa a pé.

Subi a escadaria da frente e entrei no elevador. Antes de entrar no apartamento, tirei os tênis e soltei os cabelos. Girei as chaves na fechadura. Bati a porta atrás de mim com um estrondo. Luz acesa? Engraçado. Me lembro de tê-la apagado. Jogo o molho de chaves numa cesta ao lado da porta e caminho até a porta do quarto enquanto tiro a blusa de frio por cima da cabeça. Quando giro a maçaneta, escuto alguém pigarreando atrás de mim. Estremeço e me viro pra trás.


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Notas finais do capítulo

Os primeiros capítulos são introduções, mas logo, logo a coisa esquenta :xx
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