Meu estômago se contorceu de desprezo e desespero. Senti náuseas e o gosto de bílis subia pela garganta. Tentei me desvencilhar de seus braços, mas ele me apertou com mais força e eu choraminguei sentindo meus pulsos latejarem.

– Achou que ia se safar dessa? – ele riu sadicamente. – você, por acaso, acha que eu sou otário? Que ia me enganar e se livrar de mim tão facilmente?

Fui girada e empurrada para trás. Bati com as costas na parede áspera e o baque do impacto ecoou pelo cômodo, as notas secas repercutindo até desaparecerem por completo. Uma fraca e tímida luz da lua adentrava pela janela parcialmente vedada por lona envelhecida. Pude enxergar seus olhos vidrados.

Tentei correr, aproveitando a distância de três ou quatro metros entre nós, mas Evan conseguiu me alcançar em poucos segundos e me empurrou pelos ombros violentamente.

– Acha que eu sou estúpido? Que não ia custar nada o que você fez comigo? – continuou, sem esperar pelas respostas.

– Eu fiz com você? Foi você que tentou me enganar desde o princípio! – rebati, com a voz ríspida.

Ele riu, dando de ombros.

– Vai custar muito caro, sabia? Por ter me humilhado e me envergonhado na porra daquele motel. – ele apertou minhas mãos juntas acima da cabeça enquanto descia o zíper da calça jeans. – agora você vai ter o que merece, loirinha. E eu não vou pegar leve contigo como fiz da última vez.

Gritei, pedindo socorro, e Evan apertou meu maxilar até que eu me calasse. Meus olhos lacrimejaram de dor.

– Shh. – cochichou. – fique caladinha ok? Se não quiser sentir dor, é claro.

Gritei mais uma vez, e ele me jogou no chão, me prendendo no encontro de duas paredes. Com a mão direita, puxei minha bolsa, que havia caído, até as costas e consegui tirar o celular sem que Evan percebesse. Cliquei no ícone de histórico de chamadas, sabendo que a última pessoa para quem eu liguei fora Caleb. Deixei chamar com o aparelho desbloqueado e virado para baixo, no canto da parede. “Ainda tenho uma chance” – pensei. Mesmo que ele não atendesse de primeira, a chamada cairia na caixa postal, e gravaria a mensagem por uns vinte ou trinta segundos, até desligar.

Evan desafivelou o cinto e abaixou a calça. Depois fez com que eu me deitasse, forçando meus ombros contra o chão empoeirado. Segurou meus pulsos com força enquanto beijava meu pescoço. Tentei empurrá-lo e afastá-lo com os joelhos, mas Evan me pressionou até que eu machucasse os calcanhares e joelhos.

– Evan! Evan, me solta! – berrei, me contorcendo.

– Cala a boca, pirralha. – ele respondeu, urrando. – acha que aquele filho da puta do Caleb vai te proteger agora? – riu alto. – se você acha, está muito enganada.

Esperneei quando ele tentou agarrar o zíper do meu vestido. Evan me sacudiu e minha cabeça bateu no chão.

Cruzei os dedos para que Caleb estivesse ouvindo. Pensei em facilitar o resgate.

– Socorro! – gritei o mais alto que pude. – alguém me tira da droga desse depósito!

Ele mergulhou a mão na minha boca com força.

– Dá pra calar a boca? –respondeu, sem paciência. – ninguém vai te ouvir. E você fica linda desesperada, sabia? – tentou arrancar meu vestido e o impedi. Evan esbofeteou meu rosto, deixando a marca dos dedos na minha bochecha esquerda.

Na mesma hora, alguém jogou a porta no chão, que caiu com um estrondo. Evan saiu de cima de mim assustado, e pude ver o vulto de alguém correndo e o derrubando. Me levantei, tremendo, e vi Caleb e Evan se confrontando. Joshua correu até mim.

– Meri! Graças a Deus! – ele passou as mãos pelos meus braços, me confortando. – Você está bem? Precisa ir ao hospital?

Ignorei as perguntas olhando por trás de suas costas. Evan, um pouco alterado pelo álcool que consumiu, cambaleava. Ainda assim, conseguiu acertar um soco na lateral do rosto de Caleb. E em cheio. Avancei para aplacar a briga, mas Josh me agarrou pelos cotovelos.

Caleb chutou-o e o encurralou na parede. Desferiu dois, três, quatro socos na boca do estômago de Evan, que se curvou sem conseguir respirar. Aproximou-se, os olhos tomados de ódio, e fez menção de chutá-lo, já caído no chão. Caleb era muito mais forte.

Josh me soltou e eu corri até Caleb, aos tropeços.

Puxei-o com força, impedindo que ele fizesse besteira. Comecei a chorar.

– Caleb, pare! – gritei, fazendo-o olhar pra mim. – vai matá-lo.

Ele olhou para Evan, se contorcendo no chão. Ameaçou-o antes de sair comigo e com Josh, para fora daquele quarto do pânico.