É claro que eu estava com medo. Eu estava era morrendo de medo e morrendo de raiva. Raiva de Evan, mas principalmente raiva de Soraya, por ter me enganado. Raiva de mim, por ser impotente e fraca. E tão vulnerável, por precisar que Caleb fosse meu “guarda-costas”. E ainda tinha aquele maldito colar que eu ainda não tinha descoberto o significado. Mas, com certeza, era algo para me “marcar”.

Eu tinha razões para acreditar que Evan fazia as pessoas crerem em coisas que não aconteceram de fato. Isso porque algumas delas continuavam a me olhar de maneira estranha.

Consegui evitar um encontro indesejado por muito, muito tempo. Eu me misturava à multidão na hora de sair da sala e Caleb sempre estava me esperando do lado de fora. Almoçava com seus amigos, que tinham se tornado companhia frequente. Voltava para casa de carona ou de ônibus, então não corria perigo. E comecei a passar os fins de semana na casa dos meus pais.

No domingo de manhã da semana seguinte, Caleb me ligou para contar sobre o encontro com Caroline.

– Te acordei, Meri?

– Não. – menti, tentando disfarçar a voz de sono. – pode falar. Aconteceu alguma coisa?

– Encontrei Caroline ontem.

– É mesmo? – sentei na cama, arqueando as costas e coçando os olhos – e aí, como foi?

– Eu tenho que te agradecer, Meri. Se não fosse por você, eu ainda estaria me corroendo de raiva.

– Eu sempre estou certa. – brinquei. – E o que você disse para ela?

– A mesma coisa que você disse ao Brad, na verdade. – continuou. – que eu a perdoava, mas que não queria voltar a vê-la. Devolvi tudo que ela tinha me dado, também.

– Você fez bem, Ca. – encorajei-o. – vai ver que sua vida vai seguir bem mais leve a partir de agora.

Conversamos mais um pouco, até que eu desliguei. Ele tinha que começar a organizar os preparativos da formatura, que seria na mesma época das minhas provas finais, dali a duas semanas. Passei o resto dos dias estudando como uma condenada para não ser reprovada em nenhuma das matérias e não ter que dever alguma no próximo período.

Caleb começou a se animar, comprando smoking e sapatos novos para a festa de formatura.

Numa sexta-feira à tarde, quando eu estava na casa dos meus pais (o quarto permanecia do mesmo jeito que eu tinha deixado: os ursos de pelúcia na prateleira, os livros empilhados em cima da bancada, minhas roupas nas mesmas gavetas), minha mãe bateu à porta enquanto eu lia um livro sobre psicologia, de Floyd. Avisei que estava aberta e ela entrou com aquele olhar carinhoso característico das mães. O cabelo meio grisalho estava preso num rabo de cavalo e ela usava um avental de cozinha.

– Querida, você não saiu dos livros desde que chegou.

– Eu sei mãe, desculpe. – fechei-o, olhando para ela. – é que eu não posso correr o risco de ficar abaixo da média.

– É claro que não vai, filha. Você é muito esforçada e não para de estudar há dias. Agora larga isso e vamos conversar. – ela se sentou na minha cama. Parecia com uma daquelas ocasiões em que os pais descobrem algo errado que você fez e tentou omitir, mas, bem, eles têm aquele sexto sentido. Minha garganta ficou apertada.

– Fiquei sabendo que Caleb terminou o namoro.

Suspirei aliviada.

– É. Ele estava bem triste.

– Mas você não, certo?

– Mãe! – reclamei. – Nós somos bons amigos. Só isso.

– Ele ligou duas vezes enquanto você estava no banho, só para perguntar se você estava bem. Pra mim, “bons amigos” não têm toda essa preocupação. – ela sorriu, divertida. – e ele te convidou para o baile de formatura também.

– Eu sei. Mas só porque ele não está namorando ninguém.

– Talvez ele queira que você seja a namorada dele. – ela disse, por fim.

Ri. Acho que todas as mães têm um “quê” de inocência quando se trata da vida amorosa dos filhos.

– Não acho. Acho que agora ele vai focar na vida profissional, já que está perto de se formar... Mas quem sabe.

– Em falar em amigos, não quer convidar as suas para passar o dia de Ação de Graças aqui com a gente?

– Eu não fiz amigas na faculdade... Só tem os amigos do Caleb. E eles, com certeza, vão estar ocupados.

– Não fez amigas na faculdade? Por quê? Você costuma ser tão sociável... – ela estranhou, talvez se perguntando se tinha alguma coisa errada.

– Porque eu estou concentrada em outras coisas agora, mãe. – menti. – não tem espaço na minha vida agora.

– Ah, tudo bem. – ela se levantou. – e que tal você sair desse breu que está o seu quarto, e ir comigo escolher o seu vestido?

– Vestido?

– Claro. E acha que vai para o baile de formatura do Caleb de calça jeans?