Não falei mais nada depois de perceber onde eu estava, apenas entrei no local olhando para os pés, mesmo que eu sempre faça isso agora foi proposital mesmo. Assim que entro no restaurante já vejo o Gui trabalhando lá nos fundo fazendo não sei o que e o cumprimento com a cabeça.

– João, e ai tudo bem? Até que enfim decidiu vir aqui hein- um homem veio até meu pai o cumprimentando

– Eu estou bem e você? Ah eu disse que viria e ainda trouxe a família toda – parece que meu pai e esse homem se conhecem, mas quem é ele afinal?

– Bem, esses dois estão sempre aqui – ele olha pra minha irmã e meu cunhado – chego perto da minha irmã e pergunto “quem é ele?”, mas ela me ignora – meu filho esta me ajudando aqui por enquanto, Guilherme vem aqui – ok já sei quem ele é

– Nossa, Marco seu filho já ta um homem praticamente- ah fala sério pai! Se eu só estou olhando pro chão? Claro que não, puff.

– Então você viu – o Gui cumprimenteou meu pai e minha madrasta e dá apenas um oi pra gente – E ela é a Izabela certo? – a hora que ele fala meu nome já olho automaticamente pra cima.

– É a minha caçula – ok agora fudeu, apenas dou um sorriso amarelo e começo a mexer no meu celular

– Não é ela que é a sua...

– Amiga – o Gui interrompe o pai dele

– Não foi o que eu soube hein filho – ok agora já podemos ir embora certo? Errado.

Peço licença e sigo a minha irmã até a mesa que estava reservada pra nós e fico tentando prestar atenção no que eles falam, mas não tenho sucesso, afinal não enxergar de longe é uma merda.

Algum tempo depois meu pai e minha madrasta se juntam com a gente na mesa e por incrível que pareça meu pai não fala nada. Claro que o Marco deve ter dito o que ele acha que eu e o filho dele somos, e meu pai provavelmente vai me matar por causa de uma mentira.

(...)

Meu pai é aquele tipo de pai super protetor, que acha que ninguém pode nem se quer pensar em namorar sua filha caçula, ainda mais agora que ele se sente “carente” por causa que minha irmã começou a namorar. Ainda me lembro do dia que ela foi contar pra ele que estava namorando ela passou mal, tremeu mais que tudo e ainda por cima teve de ouvir discurso por uma hora, e só de pensar que minha irmã já tinha 18.

Agora comigo, que tenho 16, quase 17 anos ele vai deixar? Mas nunca, acho que se passar pela minha cabeça essa coisa ele já me coloca de castigo, sei lá o que ele faz, só sei que namorar ele não deixa. Agora o Marcos vai e fala “Meu filho namora a sua filha”, olha só eu morrendo em três, dois, um....

– Por que você não me contou? – meu pai fala olhando para mim assim que terminamos de comer

– Contei o que pai? – ele me olha com aquele olhar de não me enrola menina

– Que você esta namorando com o filho do Marcos

– Ai é que está a questão, eu não estou – falo com convicção

– Não precisa ficar com medo eu não estou zangado – não está?- Eu dou meu consentimento pra você namorar com ele

– O que?

– É isso mesmo, você pode namorar com o Guilherme filha e não precisa fingir eu já sei, só queria que você tivesse me contado

– Aí é que está pai, eu não contei porque não tinha nada a ser contado, mas que saco – meu pai da de ombros e vai pagar a conta.

Assim que meu pai chega nós vamos rumo ao carro e meu celular apita nova mensagem

Gui: Ó o seu pai pra mim “Eu já autorizei o namoro de vocês, agora você fala pra Izabela te levar lá em casa qualquer dia pra gente poder conversar”

Iza: Fala sério, meu pai ta com problemas mentais liga não

Gui: Iza a porra ta séria agora, o que a gente faz?

Iza: Sei lá eu Gui, já falei milhões de vezes que não tem nada ver ninguém acredita

Gui: Uai fazer o que né

Iza: é

O que aconteceu com meu pai? Até umas três horas atrás qualquer pessoa que falasse Izabela e namoro na mesma frase teria que ouvir trilhões de coisas, agora um amigo parece que de infância dele chega e fala olha João meu filho esta namorando a sua filha e ele aceita numa boa? Aposto que se fosse verdade ele se mataria, apesar de que ele acha que é verdade...

– O pai? – ele olha pelo retrovisor do carro e murmura um Hm – Como você muda de idéia tão rápido?

– Do que você está falando?

– Do assunto de eu namorar o Guilherme, porque pelo que eu saiba até a gente entrar naquele restaurante era meio que proibido né?

– Era mesmo, mas quando eu e o Marco éramos mais novos ele brincou que ele iria ter uma filha e eu um filho e eles iriam namorar e casar, meio que foi ao contrario eu tive você e ele o Guilherme, meio que desde antes de nascer vocês deveriam ficar juntos.

– Espera ai um pouco – começo a colocar as idéias no lugar – Você já pensou na possibilidade de eu não querer namorar o Guilherme pai?

– Você fica ai cheia de graça falando que vocês não tem nada, mais minha filha eu já tive a sua idade – lá vem esses assuntos de velho e olha que meu pai nem quarenta tem- E sei como as coisas funcionam, eu sei como duas pessoas apaixonadas se olham, eu sei como eles sorriem um para o outro.

– Ta, mas aonde eu entro nisso tudo mesmo?

– Na onde, na parte em que você não parava de olhar para ele lá nos fundos ajudando o pai, na parte em que você desviava o olhar quando ele te olhava e quando os dois olhavam juntos sorriam sem graça – olhei para ele incrédula – Sou um bom observador filha, por isso tenho a profissão que tenho.(Meu pai é delegado e também investigador só para constar)

– Tanto faz pai- ele estaciona na porta de casa e eu abro a porta e ele também – Filha, você não precisa se fechar dos sentimentos, admite para si mesma o que você sente. – ele beija a minha testa e vai embora. Mas que diabos aconteceu com meu pai? Quando a gente pensa que já viu te tudo na vida, esta totalmente enganado, ele pode te surpreender, tipo como isso tudo que aconteceu hoje.

Enfim essa é a questão pai, o que eu sinto afinal?