Alguns meses então finalmente se passaram. Minha mãe estava bem agitada, e meu pai cheio de serviços. E eu, é claro, cheia de complicações na escola. Estávamos bem perto das férias de verão, então as coisas começariam a dificultar.

Meus pais, principalmente meu pai, me perguntava quase todos os dias o que eu faria de meu futuro. Bem, e eu não fazia a mínima ideia. Eu estava no segundo ano, que já estava por fim,aliás. O ano seguinte seria meu último, e então eu deveria escolher algo para fazer. Se fosse por mim, eu pegaria minhas coisas e viajaria para todo canto do mundo. Ou até mesmo, me trancaria no quarto e ficaria comendo porcarias o dia todo, ao lado de Jaqueline.

Mas a única coisa que eu tinha certeza, era de que eu jamais voltaria para minha cidade, para ficar junto de Carlos e estudar Teatro. Isso sempre sera meu sonho. Mas não mais, agora ele havia mudado. Eu havia até cortado meus cabelos, aqueles que batiam nas costas e que eu tanto adorava, e os tingi de azul. Coisa que eu jamais pensaria em fazer.

Meu pai estava numa outra cidadezinha, bem perto dali. E quando voltasse, traria minha prima para nossa casa. Ela ficaria algumas semanas, pois seus pais haviam se separado, e ela estava numa crise familiar. Ficaria conosco até as coisas melhorarem.

Só que eu estava preocupada, pois minha prima, era extremamente ligada a mim. Ela não ficaria longe nem por um segundo, e isso poderia trazer problemas entre mim e Jaqueline. Tudo bem que ela sempre dizia não sentir ciúmes, mas era uma coisa que eu jamais me deixaria acreditar.

No dia que em minha prima chegou, Jaqueline estava em casa.

–Acho que minha priminha chegou. -Eu disse, soltando as mãos de Jaqueline, que estavam entrelaçadas entre as minhas, quando escutei o carro de meu pai chegar.

–Vai lá buscar ela. -Respondeu Jaqueline.

Mal pude então abrir a porta. Quando dei por mim, minha prima já estava pendurada em meu pescoço, quase cheirando meu cangote.

–Ah, como senti saudades. -Disse ela, olhando no fundo de meus olhos.

Minha prima tinha os cabelos perfeitamente cumpridos. Eles eram loiros, com cachos ao final das pontas. Ela tinha olhos claros, e bochechas rosadas. Sempre usava roupas estilosas e femininas, totalmente ao contrário de mim. Ela tinha 15 anos, quase três anos mais nova que eu. E seu nome era Gabriela.

Jaqueline viu aquilo, e se levantou no mesmo momento. Ela então passou seus braços por trás de mim, e sorriu de canto para minha prima. Fazendo-nos soltarmos imediatamente.

–Quem é ela, Li? -Perguntou minha prima, inclinando o pescoço para o lado, olhando diretamente para Jaqueline, confusa. Li era o apelido que ela me dera quando éramos menores,e que ainda o usava, por sinal.

–Bem, ela é minha ami-. - Mal pude terminar a frase quando me vi sendo interrompida por Jaqueline, com um de seus dedos sobre meus lábios.

–Somos namoradas, lindinha. -Completou Jaqueline, dando-me uma mordida bem leve e provocante nas bochechas. Bem ali, na frente de Gabriela.

Ela então arregalou os olhos, com uma expressão de espanto.

–H-ha, é claro que é uma brincadeirinha dela, não é? Ela é bem possessiva, sabe. -Eu disse empurrando o rosto de Jaqueline para o lado, lhe jogando um olhar de, "Não diga isso, besta." Que a fez rir e me olhar maliciosamente.

–Bem, que seja... -Ela então sentou-se em minha cama, e respirou fundo. -Qual seu nome, gata? - Perguntou minha prima olhando fixamente para Jaqueline.

–Jaqueline. - Disse ela mordendo os lábios, caminhando em direção de minha prima e lhe dando um beijo nas mãos.

Eu fiquei ali igual uma idiota, observando tudo. Na altura provavelmente eu já estava com tanto ciúme que já não podia mais esconder, e muito menos conter.

–Hey, ela é minha. -Eu disse puxando Jaqueline para meus braços e a apertando fortemente contra meus peitos.

Jaqueline olhou para dentro de minha blusa, e então eu a afastei.

–Sua...? -Perguntou minha prima, com um sinal de curiosidade.

–Minha melhor amiga. -Eu disse erguendo a cabeça.

Pude ver então que Jaqueline tampou a gargalhada com as mãos.

–Ah claro, sei. -Respondeu minha prima olhando para meus traços de orgulho. E como eu já sabia, mais do que qualquer coisa, ela era a única que sempre sabia quando eu contava alguma mentira. Ou a única que não era boba o bastante para não perceber.

Minha prima então soltou um sorriso e se sentou ao meu lado, me abraçando e segurando minhas mãos. Parecia até que queria fazer ciúme para Jaqueline, coisa que não conseguiria, de forma alguma. Não daquele jeito.

Jaqueline então ficou pensativa, e logo após quebrou o silêncio:

–Hm, que pena que vocês são primas, senão poderíamos...- -Nesse momento saí correndo e tampei a boca de Jaqueline. O que aquela louca iria dizer, afinal? Jaqueline estava definitivamente mais pervertida do que nunca naquele dia. E eu estava feliz por minha prima estar por perto para poder deter algo. Se é ao menos que Jaqueline ligasse para isso.

Minha prima então riu. Ela parecia estar se divertindo conosco, e isso era bom.

Mais tarde nós assistimos um filme, e passamos a noite acordadas, conversando. Jaqueline também passou a noite em casa, é claro. Pois meus pais estavam numa viagem a trabalho, então assim, eu e minha prima não ficaríamos sozinhas.

No dia seguinte, que era um sábado, as meninas me acordaram pulando em cima de mim. As duas. Não sei se elas queriam me acordar ou me colocar para dormir de vez.

Fomos tomar nosso café da manhã, até que passou na TV um comercial sobre um Parque de diversões que estava na cidade.

–Li, vamos? -Disse minha prima com um brilho nos olhos.

–O que acha? -Eu disse olhando para Jaqueline, que estava com o pão na boca.

–Eu acho uma boa. -Respondeu ela.

–Então vamos. -Falei, sorrindo.

–Ah, obrigada Li. -Minha prima então me abraçou bem forte. Parecia até que nunca havia ido num daqueles antes.

–Bem, se vamos, temos de nos preparar logo, não acham? -Disse Jaqueline, se levantando.

–Certo! -Eu e Gabriela havíamos respondido na mesma hora.

Como meus pais naquele dia não estavam em casa, e eu não queria ligar e poder interromper algo, então eu teria de deixar algum bilhete os avisando que iria passar o dia no Parque com as meninas.

Nós três então subimos até meu quarto, para nos aprontarmos.

–Li, posso tomar banho com você? - Perguntou minha prima. E neste momento, eu e Jaqueline nos espantamos com a pergunta.

–Q-que? -Gaguejei, envergonhada.

–Vai, como nos velhos tempos. -Insistiu ela.

–A-acho melhor não... -Respondi.

Jaqueline nos olhava de canto, e parecia não estar gostando daquilo.

–Bem, vamos nós três então. -Disse Jaqueline, colocando suas peças de roupa em cima da cama.

–N-não...-Neste momento então Jaqueline puxou nós duas até o banheiro. E então tomamos o desejado banho juntas.

Eu fui a primeira a sair, e estava mais vermelha do que nunca. Alguma vezes Jaqueline brincava com meu corpo, como se fosse algo normal. Todas então saímos, por fim.

Minha prima vestiu um vestido florido rosa, com um sapatinho de laços. Eu estava com uma camiseta branca com gravata e um casaco por cima, e Jaqueline com uma bolsa de lado e uma blusa verde e amarela.

–Como estou? -Perguntou Jaqueline, virando-se para mim.

Eu então ajeitei a gola de seu casaco, e respondi, dando lhe um beijo de leve em seu rosto:

–Está linda.Minha garota.