Ice Cream escrita por IsaChan


Capítulo 12
Eu posso me lembrar.


Notas iniciais do capítulo

Olá o . Bem, eu nem vou pedir desculpas pois sei que posso ser apedrejada D: . Mas mesmo assim, me desculpe! T_T eu estava tendo muitos trabalhos, e alguns problemas pessoas. E quando estava em casa, sentia vontade de dormir e não acordar mais. T_T mas o capítulo está aqui agora :3

Por fim, quero oferecer esse capítulo, não só pra quem acompanha, e sim a uma pessoa em especial. Uma amiga. Seu nome é Sabrina. Bem, muito obrigada por tudo. Muito obrigada por me dar um forte abraço até naqueles dias em que o Sol está nos queimando. Muito obrigada por sempre estar ao meu lado, sorrindo, e assim, me fazendo sorrir também. Muito obrigada por me apoiar, e fazer greves de abraços quando eu demoro muito pra escrever, hehe ^^''. Bem, muito obrigada por estar aqui. É muito difícil encontrar uma amizade como a sua, e agora que encontrei, quero tê-la para sempre. Bem, eu te amo. Muito obrigada.

Enjoy ^3^



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Depois de longas duas semanas, eu finalmente fui autorizada a sair daquele escuro quarto de hospital. Sinceramente, eu não podia mais aguentar. Já elaborava em minha mente uma fuga com lençóis. Mas não foi necessário. Minha mãe havia dito que iria me buscar, mas eu não podia mais esperar. Resolvi andar pelas ruas, sozinha, enquanto chutava as pedras que se encontravam pelo caminho. Com as mãos no bolso, as cenas de minha mãe carregando caixas pela casa se repetiam em minha mente. Eu estava desamparada. Não podia me lembrar de nada. Não sentia nada.

Caminhei em percurso reto durante 45 minutos, até eu me tocar de que eu não fazia a mínima faísca de consciência de onde eu me encontrava. Observei o céu por um certo tempo. Alguns pássaros sobrevoavam por ele. Durante alguns segundos desejei ser como os pássaros. Livre. Mas eu estava presa entre meu passado e meu presente.

Depois da choradeira da garota na semana retrasada no hospital, eu realmente me dei conta do que havia ocorrido. Com os olhos manchados por lágrimas a garota me xingou, e disse coisas como "Estou me retirando." , "Você é idiota. Como pode fazer isso comigo? ". Os médicos a agarraram pelas mangás, e retiraram ela do local. Depois disso eu não a vi mais. Nem minha mãe tocou em seu nome. Pois bem, é melhor assim. Eu não posso me prender a algo do qual eu não faço ideia do que seja. Não posso ficar perto daquela garota sem nem mesmo sentir algo por ela. Algo perdido e deixado em minhas lembranças esquecidas.

Antes de eu sair do hospital, o médico me passou vários medicamentos. Ele me disse que se eu os tomasse, poderia me lembrar de algumas coisas. E assim, iria progredindo aos poucos. Me disse também para visitar os lugares em que eu costumava ir antes do acidente, e com isso eu poderia recordar de momentos importantes. E o pior, eu havia esquecido os remédios sobre minha maca e, não fazia ideia de como voltar lá naquele momento. Peguei meu celular e tentei achar o número de minha mãe nele. Não encontrei. O único número que havia na lista era de Jaqueline. Não poderia ligar para ela. Não naquele momento. Não depois do que ela me disse. Ela não queria me ver. Eu não queria ver a ela. Balancei minha cabeça para dispersar os pensamentos. Precisava continuar em frente. Talvez quem sabe eu encontrasse minha mãe sentada numa cadeira de balanço, frente a nossa casa. E ela me receberia com um abraço apertado.

Andei por muito tempo. Andei tanto que meus tornozelos começaram a tremer, e, logo em seguida, renderam-se. Antes disso, passei por uma sorveteria. Lá pedi uma garrafa de água. Disse que os pagaria depois, e o homem do caixa disse que estava tudo bem. Ele sorria para mim como se já me conhecesse por um longo tempo. Forcei-me para me lembrar de algo, mas foi em vão. Despedi-me do homem e saí de lá o mais rápido que pude. Cheguei até uma praça. Lá havia um pequeno morro gramado. Deitei-me ali e observei o azul do céu. Levantei minhas mãos, e senti um calor as preenchendo. Foi como se um circuito elétrico estivesse passado por minha cabeça. Um sorvete. Vozes desconhecidas. Cabelos negros e curtos. Uma claridade tomou minha visão e eu soltei um grito. Tão alto que não acreditava que quem estava gritando daquela forma era eu mesma. Um grito profundo, vindo direto da garganta, quase as rasgando. Logo em seguida comecei a chorar. Eu gostaria de me lembrar. As pessoas sentadas na praça começaram a me olhar. Algumas formaram rodas em minha volta, perguntando se eu estava bem. Levantei-me e corri. Corri sem nem mesmo olhar para trás. Eu queria Jaqueline. Eu precisava de Jaqueline. Eu não me lembrava dela, mas, sabia, que de alguma forma, ela era importante para mim. Aquele local gramado era importante para nós.

Coloquei minhas mãos em meu bolso, com os dedos trêmulos, agarrei meu celular. Me encostei numa árvore. Uma, duas, três vezes. Nada. Ninguém atendia. Fui deslizando pelo tronco com minhas costas, até estar sentada. Puxei meus joelhos para perto de meu peito, e afoguei minha cabeça entre eles. Fiquei ali até sentir pingos de água caindo sobre os fios de meus cabelos. Corri para debaixo de uma lona, e quando fui ver o horário, o visor do celular avisou que a bateria estava em estado crítico. Eu precisava tentar. Ao menos uma última vez. Disquei novamente o número de Jaqueline, e após dois toques, uma voz atende.

–Oi? -Falou uma voz com entonação de sono.

Não respondo. Minha respiração estava forte. Puxei o ar.

–Oi.

–Ahn...

–Estou perto de uma praça. Debaixo de uma lona. -Respondi rapidamente, e com força apertei o botão vermelho para finalizar a chamada.

Sentei com as pernas juntas sob o plástico transparente. A água que caía sobre ele fazia um barulho legal, e então eu me vi distraída com tal ação. Enquanto olhava para o teto observando os pingos barulhentos de água caindo, senti uma pedrinha cutucar meu rosto. Foi um pouco dolorido. Encostei minha mão sobre minha bochecha, e estreitei um pouco os olhos. Uma moça de calças pretas, cachecóis e sobretudo estava em minha frente. Jaqueline. Seus cabelos que naquele dia no hospital caíam em ondas um pouco abaixo de seus ombros, estavam curtos. Ela usava um guarda-chuva também preto. Conforme ela se aproximava, eu sentia meu coração pular. O barulho que seu sapato fazia martelava em minha cabeça. Com a dor, revirei um pouco o rosto. Ela se encurvou e encostou seus dedos gélidos em meu maxilar, deixando meu olhar sobre ela.

–O que uma garota como você faz aqui a essa hora? -Ela checou o relógio que carregava em seu pulso. -Olha, já são seis da tarde. Crianças como você não devem andar sozinhas por aí. É perigoso. -Ela diz num tom sarcástico. Com um sorriso sarcástico. Um doce sorriso sarcástico.

–Bem... Você cortou os cabelos. Por quê? -Olho para ela, enquanto ela volta a ficar reta.

–Você se lembra disso, pelo menos? -Ela crítica.

–Bem, parece que sim.

–O que faz aqui, afinal?

–Me perdi.

Ela deixa escapar uma risada.

–Ora,se quiser, eu te dou o mapa da cidade. Você pode o decorar nas horas livres. -Ela continua, com o mesmo sorriso nos lábios.

–Estou com frio. -Digo, enquanto mordo meu lábio inferior.

O olhar dela é substituído por uma feição despreziva, mas ao mesmo tempo, de pena. Ela franze o senho e retira seu longo sobretudo.

–Não precisa, apenas quis comentar. -Tento impedir. Mas ela o joga contra mim, cobrindo-me por inteira. Tiro ele de cima de minha cabeça, e o envolvo sobre meus ombros.

–Venha, vamos. -Ela estende suas mãos e eu as agarro.

Ela seguiu todo o caminho em silêncio. Sempre com os braços cruzados. Sua bota passava pelas poças de água e respingavam. Ela nem mesmo ligava. A chuva havia passado,já não era mais necessário o uso do guarda-chuvas. Ela então deixou o cabo do objeto pendurado em seu braço. Reparei que ela tinha a mesma altura que eu. Ela parecia ser uma pessoa séria. Por alguns segundos me via perdida pelo desenho de seu rosto, mas logo me distanciei e segui olhando em frente.

Minutos depois, chegamos até uma pequena casa. Ela era marrom. Tinha duas janelas à vista, e uma porta grafitada. Havia também uma escada, que provavelmente dava passagem para um porão. Era estranho pois, mesmo que eu tentasse, aquela pequena casinha não era familiar para mim. E seria mais estranho ainda se, minha família comprasse alguma daquele tipo.

–Porta grafitada? -Pergunto, com as mãos juntas.

–Pois é. -Jaqueline responde, sem vontade.

–Original.

Ela abriu o portão. E conforme ela fazia tal movimento, ele rangia. As rodinhas passando pelo metal. Parecia até que iriam se soltar pequenas faíscas de fogo. Ela entrou, e me deu passagem. Conforme eu passava pelo local, ia observando cada pedaço do mesmo. Haviam alguns quadros até mesmo na parte de fora.

–Você não tem medo de que alguém roube? -Perguntei, direcionando a ponta dos dedos para a pintura.

–Bem, mesmo que você proteja incondicionalmente algo que ame, a qualquer momento, alguém pode vir e roubar de você. Por isso, eu prefiro deixá-los aqui fora. Vão saber que é meu. Ninguém irá mexer. Pois são meus. -Ela diz. E discretamente, ainda olhando em frente, passa as mãos por seus olhos.

Desvio o olhar e aceno com a cabeça.

Ela continuou seu caminho, e eu a segui. Ela destrancou a porta grafitada, e quando se viu dentro do cômodo, jogou seus sapatos longe.

Era uma sala que continha um sofá grande, e outro mediano. Havia uma pequena mesa no centro, com alguns recortes de revista. O chão era manchado de tinta. Ao invés de uma TV, havia uma madeira em formato de televisor posto em cima do raque. Nele estava pintado meu rosto. Senti minhas bochechas ficarem quentes. Ela me olhou de canto e logo desviou.

–É aqui onde eu moro? -Perguntei, inocentemente.

–Essa casa não preenche todos os padrões impostos por sua mãe. -Ela ri. -Não, esta não é sua casa. O problema é: Eu não me lembro como chegar até ela . Mas não se preocupe, vou encontrar o telefone de sua mãe e liga-lá para que ela venha lhe buscar. Enquanto isso, você pode se sentar.

Sentei-me no sofá. Ele estava coberto por um lençol laranja. Retirei o sobretudo e o coloquei de lado.

–Sabe, talvez seja você quem precise de um mapa da cidade. -Retruquei.

Ela ficou em silêncio.

Ela entrou e saiu do corredor várias vezes. Depois voltou novamente até mim.

–Sua mãe disse que não poderá vir lhe buscar.

–Por quê? -Pergunto.

–Você quer falar com ela? -Diz Jaqueline, estendendo o telefone sem fio até a mim.

Eu nego.

–Ótimo. -Diz ela.

Eu olhava para ela enquanto tentava lembrar de algo. Várias coisas passavam pela minha mente, e ao mesmo tempo, nada. Foi a primeira vez que eu não me senti estanha por estar com uma estranha.

–Bem, já são sete e meia. -Diz ela. -Eu costumo dormir meio cedo, então, vou tomar um banho. Pode ficar à vontade. Assim que eu terminar, você vai. E então eu preparo um colchão pra você se deitar na sala.

–Ah, tudo bem. Sem problemas. -Digo olhando para ela, dando um sinal com as mãos.

Ela sorri e então saí do cômodo.

Durante alguns minutos, eu fiquei sentada naquele sofá laranja. Pensando sobre o nada. Pensando na vida que eu levava na cidade grande. E como naquele momento, estava ali. Sem me lembrar de nada. Na casa de uma estranha que chorou como uma criança por mim no hospital. Uma estranha que tatuou meu nome em seus dedos, e que tem uma caricatura minha desenhada de carvão em sua televisão de mentira. No desenho eu estou sorrindo. Tem uma flor em meus cabelos, presa por minha orelha. Sem perceber algumas lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. As limpei com o antebraço e estampei um leve sorriso nos lábios. Eu vou me lembrar. Eu vou me lembrar. Por Jaqueline. Eu tenho de me lembrar.

Levantei e chutei os sapatos de Jaqueline que impediam meu caminho. Segui até o corredor. Podia ouvir o barulho das águas caindo lentamente pelo ralo do banheiro. Podia sentir o calor. O vapor. Por um breve momento senti vontade de chutar aquela porta, e dizer a Jaqueline que eu faria de tudo para ficar com ela. Pensei bem. Não seria bom. Continuei seguindo em frente, e logo avistei uma porta cinza. Provavelmente seria o quarto dela, quando já não havia mais nada para se explorar.

Com medo, girei a maçaneta. Fiquei encantada com o que vi. Várias fotos. Vários recortes. Várias pinturas. Pinturas minhas. Fotos minhas. Meus olhos brilharam. Eu não podia me ver, mas se eu pudesse, me descreveria como um chafariz de emoções. Fui passando meus dedos pela parede. Até encontrar uma fileira de fotos repetidas. Na foto estavam eu e Jaqueline. Um beijo. Eu estava de olhos abertos. Novamente o choque que havia passado por minha cabeça na praça voltou. Mais vozes. Música. E uma claridade. Pude sentir braços me envolvendo. Coloquei minhas mãos ao lado de minha cabeça. Ela doía. Eu estava sonolenta. Fechei meus olhos bem apertados. Senti vontade de gritar. O sono me consumiu. Caminhei até a cama de Jaqueline, e me deitei. Agarrei seu travesseiro junto a mim. Ele cheirava a rosas. Um cheiro doce e forte. Algumas lágrimas molharam a fronha branca. Eu não me importava. Só queria dormir. E quando acordasse, iria me lembrar de tudo.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso :3
Espero que tenham gostado e, até loguinho o



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