Lembre-me! escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 20
Capítulo 19




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Ao abrir meus olhos...

-Que? –Era o teto de meu quarto, reconheci. Como era possível? Deduzi, de imediato, que eu devia estar sonhando. O quarto estava escuro, parcialmente iluminado pelo brilho mortiço da lua que adentrava pela parede de vidro. Além disso, a luz do corredor estava acesa e minha porta aberta. Levantei-me da cama notando que usava um vestido vermelho, tomara-que-caia, que ia até os joelhos. Estava descalça e estranhei minhas unhas perfeitas pintadas de preto. Segui para fora do quarto.

-Edward? –Sussurrei olhando para o final do corredor. Caminhei lentamente até ficar de frente para as portas duplas do quarto de Edward. A porta não estava trancada. Entrei no cômodo e acendi as luzes. Estava vazio. Sai rapidamente sentindo algo estranho, uma agonia.

Não sei o que me guiou para aquele compartimento da casa, mas lá estava eu correndo em direção a garagem pelo acesso que tinha na sala de visitas. Um barulho soou pelo amplo salão e nossa mansão, algo se quebrando. Apressei meu passo e então eu vi a cena, algo que preferiria não ver. A Bella diante de mim usava o mesmo vestido vermelho tomara-que-caia, salto preto agulha, uma jaqueta de couro preta sobre o vestido. Uma maquiagem pesada, borrada, o rosto aparentando cansaço, fúria, doença. Segurava uma garrafa quebrada em uma das mãos. Ela olhava diretamente para mim, temi que tentasse me ferir, mas ignorou-me virando-se e ficando de frente com outra pessoa.

-Não... –A palavra saiu entre meus dentes enquanto via a tal Bella, tão parecida e tão diferente de mim, fazer um movimento brusco e ferir Edward. Gritei apavorada querendo avançar naquela Bella e detê-la, mas não consegui me mover e meus gritos não foram notados. Como e eu não estivesse ali. Olhei apavorada para Edward que olhava para aquela Bella insana com os olhos arregalados.

-Bella... –Edward pronunciou trêmulo, meu nome. Vi que sua mão esquerda estava sangrando, foi lá que ele foi lesionado. Eu não conseguia ver o rosto de Bella, apenas olhava apavorada para Edward vendo sangue descer de sua mão e lágrimas cortarem seu rosto.

Eu senti nos lábios o sabor dos lábios de Edward. Acordei assustada. Tudo estava em seu lugar, nós dois no quarto arejado e simples da cabana de madeira branca. Olhei atordoada para Edward que estava a centímetros do meu rosto. Não demorou a ele captar que eu não estava bem. Acariciou minha testa e com um semblante preocupado disse:

 -Você está bem? Eu a assustei?

-Bem... Assustou-me sim, mas está tudo bem. –Sorri tentando conter aquela sensação opressiva no meu peito pelo pesadelo. Edward tinha a expressão insondável enquanto olhava meu rosto, acariciando-o com a ponta dos dedos. Coloquei minhas mãos em seu rosto puxando-o para mim, deliciando-me com seu hálito de menta em minha boca. Quando nossos lábios se tocaram toda a agonia se dissipou. Edward riu entre meus lábios.

-Acho que com esse beijo você deixou bem claro que tudo está bem. –Edward disse. Olhei para um pequeno relógio em cima da mesinha ao lado da cama.

-Nossa, você não acha que está muito cedo? São sete da manhã. Nós fomos dormir as cinco. –Disse manhosa aconchegando-me melhor no edredom.  Edward ajeitou-se sentando a minha frente.

-Sei que está cedo, mas o iate virá nos buscar ao entardecer então eu pensei em acordá-la cedo para aproveitarmos um pouco mais a ilha antes de ir. Mas se estiver cansada demais podemos ficar aqui. Eu não me importo, desde que estejamos juntos.

Edward era tão meigo, tão carinhoso. E era meu.

-Que foi? –Edward perguntou enquanto eu ria. Eu o puxei pela gola do roupão branco que usava deitando-o na cama e em contrapartida deitando-o em cima dele.

-Você é tão fofo. Dá vontade de fazer de você um chaveiro e andar para lá e para cá com você. –Disse beijando-o com vontade e sendo correspondida com a mesma intensidade. Edward ria entre os beijos, suas mãos mantendo-me comprimida contra seu corpo.

-Você não existe. Então acho que vamos ficar aqui. –Falou e seus lábios encontraram a pele do meu pescoço, dando beijos curtos.

-Quer saber, acho que você tem razão. Melhor aproveitarmos a ilha. Só tem um problema.

-Qual? –Edward perguntou. Eu me aproximei e sussurrei em seu ouvido.

-Eu não tenho roupas limpas. Deveria ter avisado que ficaríamos em uma ilha, teria trazido roupas para cá.

-Não se preocupe amor. Você tem sim o que vestir. –Edward falou afastando-me de si e levantando. Mantive meu corpo embrulhado no edredom enquanto o via abrir o pequeno guarda-roupa e retirar algo branco de lá. Edward me estendeu a peça e a peguei.

-Um roupão? –O olhei confusa. Ele sorriu.

-É a única coisa que tem para vestir aqui.

-Mas e as minhas roupas? –Perguntei vestindo o roupão ofertado.

-E as lavei juntos com minhas roupas. Estão secando ao Sol. Acho que até o entardecer estarão limpas e secas para usarmos.

Após vestir o roupão fui diretamente ao banheiro. Eu estava um caos! Cabelo emaranhado, lábios inchados, marcas vermelhas no pescoço e em alguns outros lugares. Sorri ao me lembrar do por que de estar daquele jeito: a noite intensa, maravilhosa que tivera com Edward.

-Eu estou um horror! Vou tomar um banho. –Disse enquanto passava as mãos no cabelo tentando colocá-lo em ordem. Edward abraçou-me por trás.

-Você está linda, como sempre.

Virei-me enlaçando seu pescoço com meus braços.

-Quer me fazer companhia? –Sugeri cheia de segundas intenções. Edward inclinou-se me beijando nos lábios; se afastou.

-Se eu entrar no chuveiro com você nós não iremos comer nada. Tenho que terminar de preparar o café da manhã.

-Quer ajuda? Posso ajudá-lo e cuidar de mim mais tarde. –Sugeri, mas Edward negou com a cabeça.

-Negativo. Vá tomar seu banho e deixe o café comigo.

-Você está tão mandão! –Brinquei enquanto retirava o roupão. Edward deu um tapinha em minhas nádegas antes de sair do banheiro.

-HEI! –Esbravejei, mas ele já não estava lá.

Eu estava me sentindo tão bem que poderia utilizar a expressão “andando nas nuvens” sem problemas. Edward era assim, ele tinha esse poder de distribuir bem-estar a quem estivesse por perto.  Pensei em um banho rápido a fim de ajudá-lo em algo, mas a sensação da água caindo em meu corpo e o cheiro do sabonete me manteve por mais tempo ali. Após me enxugar com uma toalha, vesti o roupão (única coisa que tinha para vestir) e sai do banheiro. Lembrei-me, antes mesmo de passar pela porta, que em minha bolsa havia o presente de Edward. Peguei minha bolsa retirando o embrulho com o cordão de prata e pingente no formato da face de Jesus Cristo. 

Edward arrumava o café na mesa de madeira branca na varanda. O abracei por trás.

-Que menino mais cheio de talentos! –Disse olhando a mesa impecável que Edward havia preparado.

-Não me considero uma pessoa cheia de talentos por ter feito um café descente, mas agradeço o elogio, amor.

Antes de dizer algo mais, retirei do bolso do roupão o embrulho do presente de Edward.

-Tenho algo para lhe dar. Feche os olhos. –Exigi. Edward virou-se para mim e fechou os olhos. Um sorriso lindo brincando no canto de seus lábios. Retirei o cordão do saquinho de veludo e pus no pescoço de Edward.

-Pode abrir os olhos. –Disse. Edward logo moveu a cabeça para o peito pegando nas mãos o pingente. Parecia maravilhado com o que estava segurando.

-Presente seu? –Murmurou. Eu assenti. Ele me abriu um sorriso ofuscante.  –É a primeira vez que sou agraciado com um presente seu. Obrigado.

-Gostou? Eu não sei muito bem do que você gosta então...

-Imagina! Eu adorei! Muito obrigado pelo presente. Vou cuidar muito bem dele. Agora vamos comer. –Edward afastou a cadeira para que eu sentasse. Sentou-se a minha frente. O evento do café da manhã foi silencioso, mas agradável. Às vezes pegava Edward distraído, olhando para o seu presente. Ao final do café ajudei Edward com a louça, conversamos sobre os detalhes de nossa partida para o continente. Verdade seja dita eu não queria ir. Queria viver para sempre naquele paraíso com Edward ao meu lado, desfrutando intensamente dele todo sem reservas. Eu temia secretamente que as coisas mudassem quando voltássemos para nossa casa, nossa vida.

“Bobagem” –Pensei. Tudo já estava resolvido, nada iria nos atrapalhar. Quando terminamos de limpar a cozinha Edward disse:

-Sabe, eu achei algo interessante em um cômodo desta casa. Dois caiaques, remos e coletes. Que tal um pouco de canoagem? Conhece um local com piscinas naturais ótimo para essa prática.

-Tudo bem, mas não entendo nada de canoagem.

-Não se preocupe Bella, eu explico. Não é nada difícil.

-Mas Edward, eu não tenho nenhum biquíni pra vestir. Como vou praticar canoagem?  -Perguntei encarando-o com duvida, duvida esta acentuada com a expressão divertida em seu rosto.

-Simples: vamos praticar canoagem nus!

...

Era uma idéia ridícula, mas por algum motivo eu aceitei. E não foi por que Edward me garantiu que ninguém nos veria ali, nus, mas sim por que eu deixava a razão de lado por ele.

Edward carregou os dois caiaques (nunca saberei como fez isso) enquanto eu levava os remos e os coletes salva-vidas. Seguíamos para as piscinas naturais próximas a cabana ainda trajando nossos roupões. Após alguns minutos de caminhada Edward parou deixando os caiaques no chão. Vi um pouco mais a frente rochas, um monte delas.

-As piscinas naturais ficam além daquelas rochas, são magníficas! Ótimas para a prática da canoagem. –Edward foi retirando seu roupão enquanto falava. Caminhou até uma árvore e pendurou o roupão em um galho. Ruborizei ao vê-lo nu, embora já conhecesse muito bem seu corpo. Retirou o cordão que lhe dei de presente colocando no bolso do seu roupão, certamente não querendo que a água salgada o estragasse.

-Muito bem, os caiaques que iremos utilizar não afundam então você só precisa entrar e remar. Lembre-se do movimento que deve executar com remos? –Edward perguntou pegando um dos remos que estava na minha mão. Assenti com a cabeça.

-Ótimo. Então só preciso ensiná-la como entrar no caiaque, o resto é fácil. Vem. –Edward pegou os caiaques levando-as com certa dificuldade para a beira de uma das pedras. Levei os dois remos e os coletes. Ficamos na beira da pedra, fiquei deslumbrada com as águas abaixo de nós, tão transparentes que podíamos ver com clareza o recife de coral e espécies aquáticas. Edward colocou os dois caiaques na água, elas realmente não afundaram. Veio para o meu lado. Meus olhos ainda em toda aquela beleza.

-É lindo, não é? –Murmurou no meu ouvido.

-Sim. –Senti as mãos de Edward desfazendo o nó do laço do meu roupão. Virei para ele e senti o roupão escorregar até o chão. Desviei os olhos para qualquer outro ponto, envergonhada demais para encará-lo. Edward sorria satisfeito. Pegou um dos coletes que deixem cair no chão e o vestiu em mim. Pegou o segundo colete e vestiu nele próprio.

-Vem, vou mostrar como entrar. –Disse pegando minha mão e conduzindo-me até a beira da piscina. Ensinou-me a como entrar no caiaque e tão logo estávamos remando para lá e para cá na bela piscina. Foi algo muito divertido. Nem sei por quanto tempo ficamos ali ora praticando a canoagem, ora nadando, ora nos amando em cima das pedras, aproveitando a ausência de roupas. Quando nos tocamos estávamos famintos e o Sol estava no meio do céu.

Eu estava deitada em cima de uma pedra, Edward deitado ao meu lado, segurando minha mão.

-Melhor nós irmos. Você precisa comer. –Edward murmurou.

-Você também. –Eu me ergui e beijei sua bochecha.

-Tem razão. Estou com fome. –Edward levantou-se. Sorriu para mim. Seguimos juntos para a cabana.

...

Fiz o almoço, algo prático e simples, e Edward comeu com gosto. Nossas roupas ficaram secas antes do tempo previsto e ao entardecer estávamos à espera do iate.

-E então? Gostou do passeio? –Edward perguntou. Sorri.

-O que você acha? –Ironizei. Edward abraçou-me.

-Eu sei, foi uma pergunta muito idiota. Fico feliz que tenha gostado. –Ficamos abraçamos olhando para a paisagem e ignorando os outros passageiros, sorrindo. Como se soubéssemos que em nosso futuro apenas coisas felizes iriam acontecer.

...

Secava meus cabelos com um secador, estávamos no hotel em nosso quarto. Edward estava com seu notebook resolvendo um contratempo qualquer da empresa pela internet. Ao término de todo o ritual do banho, sai e segui para a cama. Edward, quando me viu, largou seu notebook em cima da mesinha ao seu lado. Joguei-me na cama sendo abraçada por ele no processo.

-Pronta para dormir, senhora Cullen? –Disse em meu ouvido.

-Pronta. Estou morta de cansaço. –Murmurei já sentindo o cansaço me tomar e me embalar. Edward deitou-se melhor na cama e me aconchegou em seus braços. Tínhamos dormido muito mal (algo que eu não reclamava visto que isso tudo era por que fazíamos amor freqüentemente) e precisávamos repor as noites perdidas. Por isso, assim que anoiteceu, nós nos recolhemos para dormir. Dormi abraçadinha com Edward, a cabeça deitada em seu peito, os braços de Edward a minha volta, seus lábios em meus cabelos...

...

-Não! –Gritei arfante. Olhei desorientada para o local onde eu estava, era o quarto de hotel. Edward dormia tranquilamente, nem mesmo os sons que fiz o despertaram, o que agradeci. Afastei-me dele e fiquei ao seu lado, sentada na cama, lembrando-me de meu pesadelo. Foi o mesmo pesadelo da noite anterior, o pesadelo em que eu via a mim mesma ferir Edward com uma garrafa de Uísque quebrada. Lembro-me que no pesadelo eu provocava um corte na palma de sua mão esquerda. Olhei para Edward ao meu lado dormindo como um ano. Lentamente eu peguei sua mão esquerda que repousava em sua barriga e a virei.

Tudo em mim desejava não ver nada em sua mão, nenhuma cicatriz. Eu precisava disso, saber que, apesar de todos os absurdos que aprontei, eu nunca machuquei Edward.

Jamais conseguirei descrever o sentimento que me tomou ao ver, na palma da mão esquerda de Edward, uma cicatriz. Fiquei parada, sentada ao lado dele, segurando sua mão por mais tempo que o normal. Eu certamente estava em estado de choque e não conseguia sair daquele torpor. Por fim, após alguns minutos naquela posição, eu consegui me erguer da cama, caminhei lentamente ao banheiro.

Eu não queria me ver no reflexo do espelho, mas o fiz. Tranquei a porta e me encarei, enojada com meu próprio rosto. Liguei a torneira e lavei o rosto tentando, sem sucesso, esquecer o pesadelo e a confirmação de que meu pesadelo era real. Impossível. E então, como que tomada por alucinações, vi meu reflexo sorrir debochado. Encarei incrédula aquela situação pensando pela primeira vez que eu devia estar ficando louca.  

Meu reflexo mantinha um sorriso cínico no rosto, divertindo-se com a minha miséria e aquilo me enervou.

-Eu não vou deixar... –Murmurei. –Não vou deixar que tire ele de mim. Vá para o inferno.

A Bella do outro lado do espelho riu de mim, de minhas palavras. Senti a fúria me tomar.

-Vai pro inferno! –Falei com potencia na voz desferindo então um forte soco no espelho, quebrando o vidro e machucando bastante minha mão. O espelho ficou em pedaços, minha mão doía e sangrava, mas não me importei. Sentindo um alivio por não ver meu reflexo no espelho, aquele reflexo zombeteiro, eu me sentei no piso do banheiro longe da bagunça de vidro na pia e no chão. Dobrei os joelhos e descansei minha cabeça lá. Deixei que o remorso e a culpa fizessem seu trabalho comigo, me castigassem.

E as horas se passaram, mas eu as ignorei como ignorei a dor do ferimento causado pelo golpe no espelho. E quando o remorso e culpa fizeram seu trabalho, castigando-me, levantei e segui para o quarto, para ficar ao lado do meu porto seguro, do meu marido.


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Notas finais do capítulo

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