Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 20
Briga


Notas iniciais do capítulo

Olá! Fiquei muito contente por todos vocês continuarem aqui depois do hiato. Vamos em frente, agora!
Boa leitura!



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Com o passar dos dias, pegar os livros e os pergaminhos todos os dias após as aulas e ir estudar nos jardins havia se tornado uma rotina para Andrômeda.

Ela se divertia planejando as aulas de reforço que dava para os outros alunos, e também fazendo os seus próprios estudos individuais, deitada na grama macia, à sombra de uma árvore, enquanto os últimos raios de sol do dia incidiam sobre a escola. Gostava de ouvir o canto dos pássaros e os outros alunos correndo e brincando em volta dela. Era sempre o seu momento favorito do dia.

E cada vez mais pessoas se juntavam a ela, conforme os estudantes iam se cansando de ficar confinados no castelo, como havia sido durante todo o inverno. Chegou a um ponto em que, em uma plena quinta-feira, a maior parte dos alunos se reunia perto do lago, para aproveitar o final da tarde.

Enquanto alguns dos mais novos brincavam de atirar uns aos outros ao lago ali perto e outros estavam deitados na grama descansando, Andrômeda fechou o grosso livro de Transfiguração Avançada que estava lendo e puxou outro da pilha, em busca de uma informação que não tinha conseguido encontrar. Tinha pegado cinco na biblioteca, todos sobre o mesmo assunto. Ela nunca se conformara em apenas realizar a magia – não se satisfazia enquanto não a compreendesse por completo.

O estado decrépito do livro fez com ela imaginasse, por um segundo, algum ancestral de sua família lendo aquele mesmo exemplar, ainda novo. Algo neste pensamento lhe causou certo incômodo, como tudo relacionado à sua família, nos últimos tempos.

Como o índice do livro parecia ter sido perdido ao longo de sua jornada, ela precisou folheá-lo para procurar o capítulo que lhe interessava. Já estava se perguntando se não valeria mais a pena ir pessoalmente à Professora McGonagall com a dúvida quando notou dois meninos se aproximando dela. Pensando que eram primeiranistas quaisquer jogando algum jogo, ela abriu a boca para pedir-lhe que se mantivessem longe de seus livros – e então viu que se tratava de Sirius e seu amigo Tiago, e que eles pareciam querer realmente falar com ela, de modo que esperou que eles parassem de se bater com os rolos de pergaminho que estavam segurando e chegassem até onde ela estava sentada.

— Ei, Drômeda – cumprimentou Sirius, sorrindo de lado. – Você pode nos ajudar em uma coisa?

— Depende – respondeu ela, na mesma hora. Sabia que devia muito a Sirius, já que ele a tinha ajudado tanto quando ela quis entrar em contato com Ted, mas tinha medo dos esquemas daqueles garotos, que sempre se metiam em confusão. – O que vocês fizeram dessa vez?

 - Na verdade, dessa vez a questão é o que a gente fez – ele admitiu, trocando um olhar com o amigo. – E sim o que a gente não fez. No caso, prestar a atenção na aula, e agora temos um trabalho difícil para entregar.

Ela sorriu. Era um problema inocente, com que ela definitivamente podia lidar.

— Então está ótimo. Qual é a matéria? A da “aula de dormir”? – Debochou, repetindo a maneira como eles se referiam à História da Magia, e eles riram.

— Não, dessa vez é Poções.

Ela não entendia o que era tão complicado na matéria de Poções do primeiro ano, mas não fez comentários sobre isso.

— Tudo bem. Posso ver as anotações de vocês?

— Que anotações? – Tiago riu com desdém, e Sirius lhe deu uma cotovelada.

— Hm, não tem muita coisa – informou, entregando o pergaminho que segurava para a prima, que o abriu e franziu o cenho.

O conteúdo era quase incompreensível. Entre algumas receitas de poções anotadas com letra apressada, desenhos malfeitos e manchas de tinta, a matéria era escassa e fora copiada com desleixo.

Depois de alguns minutos tentando decifrar o que estava escrito e entender o que eles queriam dizer com aquilo, ela gesticulou para que eles se sentassem no chão ao lado dela.

— Bem, não é difícil. Para quando vocês têm de entregar este trabalho?

— Amanhã – disseram eles, em coro. Ela suspirou.

Pegou uma pena e um pergaminho em branco para lhes explicar a matéria, já deixando claro que não faria o trabalho por eles. E, depois de pensar por alguns segundos em como poderia dar essa aula, começou a falar tudo o que sabia sobre o assunto, enquanto escrevia no pergaminho com clareza, para eles poderem fazer consultas posteriores.

Como sempre, em pouco tempo ela já estava tão absorta pela explicação que todo o resto deixou de existir. Os garotos não a interrompiam, o que podia significar que estavam ouvindo com atenção ou que estavam concentrados em outra coisa – para conferir qual das duas opções era a certa, Andrômeda sempre parava para lhes fazer alguma pergunta ou mesmo olhar para o rosto deles e ver se pareciam confusos.

Tudo pareceu correr bem durante os primeiros quinze minutos. E então, em um momento em que estava olhando para o pergaminho, ouviu a voz de Tiago dizendo:

— O que esse babaca está fazendo aqui?

Andrômeda ergueu os olhos, confusa, e perdeu toda sua concentração na matéria assim quando viu de quem ele estava falando. E sentiu uma onda de irritação passando pelo seu corpo. Seu estoque de paciência, que costumava ser consideravelmente grande, já tinha se esgotado fazia tempos.

— Estou sem tempo, Norman – disse, com frieza, antes mesmo que o garoto parasse ao lado deles. Ela conhecia o sorriso que ele estava dando. Não significava boa coisa.

— Você não parece muito ocupada para mim – ele retrucou. – Quero dizer. É, você definitivamente está fazendo algo, mas dar aula para dois traidorezinhos nojentos não é algo tão importante.

— Porque você não enfia a sua opinião no... – Sirius começou a falar, mas Andrômeda o cortou:

— Olha, se você veio aqui só para implicar, vá fazer isso com os seus amigos, que estão, provavelmente, tão desocupados quanto você. Deixe-nos em paz.

— E quem é você para me dizer o que fazer? – Norman aumentou o tom, perdendo o sorriso imediatamente. Ela percebeu que o tinha irritado, mas não se importou.

— Alguém que não vai dar moral para seus acessos de infantilidade – Andrômeda respondeu, recolhendo seus livros e o resto do material e se levantando. – Vamos para dentro da escola, garotos. Realmente já está ficando escuro demais para ler aqui.

O que aconteceu logo depois foi rápido demais. Norman a empurrou com força ao chão, e ela, que não contava com qualquer ato do tipo, caiu e bateu no solo. A grama amorteceu sua queda, e, além das palmas das mãos e do joelho ralado, ela não se machucou, mas sentiu seu coração se apertar ao ver os livros antigos que segurava caindo sem cuidado, suas capas frágeis se amassando e as páginas soltando da lombada e se misturando. Como se a cena, por si só, não fosse muito triste, ela ainda tinha certeza de que a bibliotecária a mataria.

Andrômeda mal tinha terminado de processar o que tinha acontecido e Sirius e Tiago já estavam em pé, parecendo prontos para enfrentar Norman, e ela pretendia dizer algo para impedi-los quando viu algo que a fez perder a voz e o ar.

— Ei – Ted estava com o olhar e o tom frios, e tinha a ponta de sua varinha encostada na garganta de Norman, de tal maneira que poderia perfurá-la se desejasse. – Está com algum problema, Parkinson? Porque eu posso resolver isso agora mesmo.

Ah, não... Lamentou-se ela, dentro de sua mente, mas não podia mais fazer nada para evitar aquilo. A confusão já estava armada.

— Olha quem apareceu – Norman falou, e, por trás de seu tom controlado e irônico, era fácil perceber seu ódio intenso. – Por que não estou surpreso?

— Cala essa boca – ordenou ele. Ela nunca o tinha visto com tanta raiva. – Ou juro que vou te matar agora mesmo.

— Realmente, estou morto de medo do lufano revoltadinho – ele provocou, e Andrômeda notou tarde demais que ele estava, discretamente, tirando a própria varinha das vestes.

O pânico fez com que ela, finalmente, conseguisse respirar fundo e encontrar sua voz para gritar:

— Ted, cuidado!

Ela não ouviu o feitiço que Norman usou. A voz dele soou distante e foi abafada pelo seu grito, mas ela pôde ver perfeitamente o resultado do ato dele.

Ted voou para trás e caiu de costas no chão, com os olhos arregalados e fixos no céu como se estivesse morto – o que ela só teve certeza de que não foi o caso porque o peito dele continuou subindo e descendo, indicando que estava respirando. Sua pele adquiriu uma coloração esverdeada e, em determinados pontos, começou a descascar, abrindo grandes feridas, de onde começou a escorrer uma grande quantidade de sangue. Andrômeda desejava ajudá-lo, mas Norman se aproximou primeiro – e voltou a apontar a varinha, decidido a finalizar o trabalho.

Ela não podia permitir que isso acontecesse.

Sem nem mesmo pensar, ela puxou sua varinha das vestes e a apontou. Estava em tal estado de espírito que sentia que poderia facilmente usar um feitiço que fosse feri-lo gravemente, mas sabia que, em uma situação de urgência como aquela, ela precisava ser o mais prática possível. E exclamou:

Expelliarmus!

A varinha de Norman saltou de sua mão, e ele se voltou para Andrômeda com um olhar assassino. Um grande grupo de estudantes agora se reunia em torno deles, assistindo, e alguns até gritavam palavras de incentivo e xingamentos, que ela mal ouvia.

Sentou-se, e, com os braços e pernas, tentou se arrastar para longe dele, assim que ele começou a se aproximar a passos largos. Ela achara que, ao tirar a varinha dele, ele iria primeiramente recolhê-la, de modo que ela ganharia tempo para ajudar Ted. Ele parecia, contudo, estar muito mais preocupado com ela do que com a própria varinha.

— Você cometeu um erro, Black – disse ele. – E vai pagar por isso.

Ela não teve tempo para tentar atacá-lo, e só conseguiu proteger o rosto com os braços antes de Norman agarrá-la pelos cabelos e puxá-la violentamente para mais perto dele. Ele iria espancá-la, e Andrômeda percebeu que, nessa hora, os protestos indignados do público superaram os encorajamentos. Sua varinha foi arrancada de sua mão, e ele pegou seu braço para torcê-lo quando, finalmente, alguém tomou uma iniciativa.

Estupefaça! — Gritou uma voz feminina.

O feitiço passou tão próximo de Andrômeda que seus pelos se arrepiaram, mas não foi atingida. Por sua vez, Norman foi acertado em cheio, sendo lançado pelos ares até bater na árvore sob a qual ela antes estudava, e então desabar ao chão, desacordado.

Ela se virou para a direção de onde o feitiço tinha vindo, para ver quem tinha sido sua salvadora, e sua surpresa foi grande ao ver Amy Rogers, da Lufa-Lufa, abaixando sua varinha e olhando com nojo para Norman. Foi o suficiente para ela se arrepender de qualquer pensamento negativo que já tinha tido sobre a garota.

  - Você está bem? – Perguntou Amy para ela, de longe. Ninguém parecia se sentir confortável para se aproximar da cena, por mais que a briga tivesse visivelmente acabado.

A resposta era “não”. Ela estava atormentada e assustada, e, a poucos metros dela, Ted estava perdendo muito sangue e parecendo a cada segundo mais pálido. Precisava de ajuda. Abriu a boca para responder isso, mas não teve a oportunidade – naquele momento, a Professora McGonagall abriu caminho correndo entre os alunos e se aproximou do grupo com um ar horrorizado.

— O que é isso? O que está acontecendo aqui?!

A presença dela ali fez com que Andrômeda se sentisse fora de perigo – e isso piorou sua situação. A adrenalina que a dominava começou a se esvair, e, enquanto a professora estava ocupada demais analisando os machucados de Ted, toda a intensidade que aquele caso carregava a invadiu, parecendo real e desesperador demais para ela aguentar. Seus olhos se encheram de lágrimas contra a vontade dela, e de repente ficou muito difícil enxergar.

— N-Norman – balbuciou, já que ela era a única que terminara a briga consciente e, portanto, era de quem a resposta era esperada. – Ele atacou Ted e eu... E-Eu estava estudando... Ted... Os l-livros...

— O Parkinson estava batendo nela! – Ela ouviu a voz de Sirius gritar. Quase esquecera que ele estava lá. – O Tonks só tentou ajudar.

— E quem lançou o feitiço no Parkinson?

— Fui eu – Amy admitiu, corajosamente, mas, assim que a professora voltou o olhar para ela, ela recuou, amedrontada. – Bem, não vi outro jeito. Desculpa.

No entanto, a Professora McGonagall não parecia interessada nela ou em desculpas. Ela encarou fixamente todos os envolvidos na briga, com os lábios comprimidos, e todas as dezenas de alunos próximos ficaram subitamente silenciosos, temendo irritá-la ainda mais e não querendo perder uma palavra do que acontecesse em seguida.

— Eu nunca – disse a professora, após um suspiro nervoso. Mesmo que seu tom fosse normal, sua voz soou muito mais alta por ser o único som no ambiente –, nunca me senti tão envergonhada dos alunos desta escola. Além de uma violência sem precedentes, vejo aqui um caso de intolerância e total incapacidade de resolução de problemas entre os alunos que estão aqui há mais tempo e deviam servir de exemplo. Não me resta opção além de tirar cem pontos da Sonserina e levar o caso ao diretor.

Nenhum sonserino ousou protestar, mas os rostos de todos perderam a cor enquanto eles se entreolhavam, boquiabertos, e trocavam algumas palavras. Perder cem pontos era um absurdo. Era uma sentença de morte. Tinham apenas mais dois meses de aula, e jamais conseguiriam recuperar tantos pontos até lá. Estavam oficialmente fora da competição. Até Andrômeda, que nunca tinha se importado muito com aquilo, sentiu um calafrio.

Com um gesto de varinha, a professora fez com que as feridas de Ted parassem de sangrar, e com outro, ela fez com que os dois rapazes levitassem.

— Você está machucada, Black? – Ela perguntou para Andrômeda, que, mais uma vez, não conseguiu responder. Seu corpo foi dominado por uma vontade tão urgente de sair dali e fugir para longe que ela não podia mais pensar em qualquer outra coisa.

E ela não pensou duas vezes ou mediu as consequências – apenas se levantou com um pulo, pegou sua varinha do chão e saiu correndo aos tropeços, o mais rápido que conseguia.


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Notas finais do capítulo

Eee, agora a coisa ficou punk... De novo.
Até o próximo capítulo!



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