Todos me chamam de idiota por estar brigada com Daryl, mas ninguém entende como isso me machuca. É preciso o mundo acabar para meu pai contar que não foi preso e sim, me deixou, aliás, ele nem me contou, eu precisei ouvir. Então, a todos que me tripudiam, entendam minhas razões.

Estamos há mais ou menos, uma semana sem nos falarmos. Daryl parece nem se importar com isso, me deixando cada vez mais distante dele. O bom nisso tudo é que não tivemos nenhum ataque surpresa de Negan. Com esse suspiro, nós conseguimos arrumar muitas coisas. Fizemos milhões de contagens e recontagens, colocamos mais guardas nos portões de WE. Nossas plantações estão ótimas, nossos animais estão se reproduzindo e a segurança reformada.

Rick decidiu fazer reuniões familiares - um nome menos sério para chamar de reunião de conselho - todo final de produção, ou melhor dizendo, no nosso final de semana. Eugene e Andrew conseguiram terminar nossa ideia de energia solar. Hoje temos energia nas ruas. WE está indo de bom à melhor em um pulo, o que faz ser uma grande atração a Negan.

Eugene entrou para o conselho, mas não para o conselho oficial. Ele fica como segunda base caso algo aconteça. Carol saiu para tomar a frente da segunda base, mas ela ainda participa das reuniões. Acabou que eu e Mika nos acostamos a chamar Carol de mãe, isso foi o grande e único passo que dei em relação aos demais.

Daryl foi o último a descer para o café. Com o clima tenso entre nós, ele prefere passar o tempo cuidando dos muros ou de coisas relacionadas à WE.

– Está uma manhã bonita, não acham? – Carol perguntou colocando os pratos sobre a mesa.

– Não. – Daryl respondeu seco. – A manhã estaria agradável se não houvesse coisas para resolver.

– Largue de ser chato Daryl! Está um dia bonito – Mika falou. – Você só está de mau humor, como sempre...

– Pela tarde darei as aulas de tiro que você tanto quer – ele comunica Mika – Espero que seja boa como fala! Vai ficar em casa?

– Não. Tenho alguns assuntos para resolver. – Carol respondeu.

– Quem ficará com as meninas?

– Nós sabemos nos cuidar sozinhas – retruco semicerrando os olhos.

– Quem ficará com as meninas? – ele me ignorou.

– Elas podem ficar sozinhas. Eu nem vou demorar tanto, são assuntos rápidos. Por quê? Você vai sair?

– Ontem na estrada Jesus encontrou um novo grupo. Eles parecem ser confiáveis e não são da laia de Negan. Nós vamos até o refugio deles. Alexandria!

– Que nome legal! – comentou minha irmã. – Combina bem com o tema.

– Você acharia ainda mais legal se descobrisse que o líder de lá tem um tigre.

Eu odiava ver essas cenas de pai e filha que os dois provocavam. Mika nem filha dele é, e tem mais intimidade. Não consegui continuar a ver a cena e me levantei, pegando uma torrada e indo para o meu quarto. Uma coisa que aprendi nessa semana foi tentar ignorar as cenas de Daryl e Mika, a filhinha preferida dele.

Deitei na minha cama e terminei de comer minhas torradas. O dia realmente estava bonito, mas eu ainda preferia ficar dentro do meu quarto. Lauren deveria estar caçando com seu pai — Jase inventou uma festa para comemorarmos a caça da cidade e agora um grupo está nas florestas caçando esquilos e outros bichos — Carl deve estar com Rick trabalhando em alguma coisa. Dentre ficar na cozinha e vê a boa relação entre Daryl e Mika, eu prefiro ficar enterrada nos meus livros novos.

Ganhei três livros de Maggie na noite passada. Ela os achou em seu porão e decidiu me entregar pois acreditava que eu gostava de ler. Eu nunca gostei de ler, mas os livros acabaram me atraindo. O que mais me atraiu foi ‘’O diário de Anne Frank’’. Tenho descendência alemã e o tema me agradou muito. Meu tempo perdido com eles é muito mais agradável.

Ouço a porta da sala bater e marco a página em que parei. Encontro Mika na sala mexendo com sua nova arma e me junto a ela. Como Daryl tem andando atolado de coisas, eu a ensino a como mexer com uma arma.

– Você deveria perdoa-lo. Eu vi como você está triste com essa situação. – ela comenta.

– Perdoa-lo Mika?! Você sabe o que eu te contei, ele me abandonou – retruco.

– Eu sei, eu sei! Mas quem nunca errou na vida? Ele teve seus erros, mas agora cuida de você como a coisa mais preciosa para ele. Você deveria largar essa marra de você e perdoa-lo.

– O que você entende de perdão? Seu coração nunca foi quebrado! – disparei.

– Realmente nunca foi, mas se um dia isso acontecesse, eu saberia ser madura e perdoa-lo. – ela fica alguns segundos em silêncio – Você precisa entender que estamos no fim do mundo e há poucas chances de se redimir.

Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Eu realmente deveria perdoa-lo? Pais precisam de perdão ou filhos precisam se desculpar com como tratou o pai? Mika conseguiu montar e desmontar sua arma com agilidade e eu terminei o que prometi a ela. Decidimos andar um pouco e conseguimos chegar ao portão minutos antes de Daryl partir. Iam dois carros e dois cavalos, Abraham ficou pois Rick também partiria.

– Não vai fazer nada essa tarde? – ouço a voz de Mika tirando-me do transe.

– Eu acho que não. Lauren está caçando com seu pai, Carl deve estar conversando com Michonne ou algo do tipo – respondo acompanhando-a por uma breve caminhada pela cidade. – E você?

– Eu acho que vou conversar com Josh. Ele disse que precisava falar algo muito importante comigo.

– Deve ser um pedido de namoro – brinco e ela me bate. – Qual é? Ele pode estar apaixonado por você!

– Ele é mais velho que eu!

– Patrick também.

– Mas existe um abismo enorme separando Patrick e Josh.

– Mal começou esse namoro e já está defendendo o namorado? Vai ser uma boa namorada. – zombo e Mika bufa. – Tudo bem, pode ir vê-lo. Vou para casa.

Ela joga um adeus antes de sair correndo. Mika pensa que ainda é uma criança, mas encontro mais maturidade nela do que em mim. Seus pensamentos são maduros para sua idade, eu encontro conselhos ótimos com uma garota de 11 ou 12 anos.

O que mudou foi Patrick e Isabelle começarem a namorar. Parece mais um namoro de fracassos ou coisa do tipo. Alex vem passando muito tempo com Rick, minha mãe acha que vai acabar em namoro, mas Beth teima em dizer que não. Beth é outra que finalmente assumiu seu namoro com Jess. Agora o rapaz não sai da casa de Glenn.

– Emma? Será que podemos conversar? – me deparo com Isabelle parada a minha frente.

– Não. – respondo seco.

– Por favor... – ela segura meu braço.

– O quê você quer?

– Me desculpar com você. – minha testa franze. Sua voz não carrega nenhuma ironia ou deboche, coisa costumeira dela. – Eu percebi como fui uma vadia com você. Eu, eu não era assim. Nunca fui. Acho que essa merda de mundo me transformou.

– Está ficando difícil confiar em você...

– Eu estou implorando. – ela afirma. – Eu andei conversando com minha mãe e revendo meus conceitos. Você sofreu muito e eu só queria tentar ser superior a alguém, pelo menos uma vez na vida.

Isabelle parecia estar falando a verdade. Quando uma pessoa muda, tudo nela acaba mudando. Ela parecia resentida com isso, mas mesmo assim, eu não conseguiria ser amiga dela.

– Eu vou tentar ser sua amiga, mas não vá pensando que eu esqueci tudo que você fez. – falo e ela ri. – Agora eu preciso ir!

Demos uma breve despedida e eu cheguei em casa finalmente. Pouco tempo depois Carl apareceu cansado e exausto. Bebeu uns dois copos d’águas e finalmente sentou ao meu lado.

– Eu queria falar com você. – ele começa meio embargado. – Sabe, eu estou vendo que você não está feliz em estar brigada com seu pai.

– De novo? Vocês vão querer enfiar na minha cabeça que devo perdoa-lo? - queixo-me irritada.

– Eu não vim falar que você deve ou não perdoar seu pai, só vim falar que um dia, uma garota me ensinou que não devemos esquecer os erros dos outros e olharmos somente para o futuro. Eu posso estar parecendo um retardado, mas é assim que consegui sobreviver e perdoar meu pai.

– Nossa! Essa menina parece bem interessante! Quem é ela? – pergunto em tom de brincadeira e Carl me beija.

Nós começamos a nos beijar e alguma coisa foi mudando. Foi como se meu físico deixasse Carl me beijar com mais liberdade enquanto minha consciência começava a permitir isso. Eu não entendia como que meu coração e mente reage em situações diferentes. Carl me puxa para mais perto dele e eu sinto um tremendo calor.

Ouço o trinco da porta abrir e rapidamente me livro dele. Estamos ofegantes, praticamente entregando o que estávamos fazendo, mas Carol nem percebe, o que me deixa mais aliviada.

– Josh está te procurando! – Carol falou para Carl.

– Tudo bem, senhora... Eu vou atrás dele – ele falou entre gaguejos e saiu.

Daryl entrou logo em seguida, me espantando bastante com sua volta. Ele falou que não foi a Alexandria pois tinha outros planos. Quando levantei para ir embora, ele pediu para que eu ficasse.

– Por quê? Você vai brigar comigo por ter ficado sozinha com um garoto? – pergunto brava.

– Eu só quero te mostrar algo. – ela me responde retirando da sua mochila um álbum de fotos.

– Para que isso? – pego o álbum de suas mãos e vou vendo, com o passar das páginas, fotos minhas em todas as idades.

– Eu sei que não foi um pai presente, eu só queria dizer que sempre acompanhei você. Te deixar sem um pai com certeza foi meu pior erro, mas talvez, eu possa concerta-lo agora se você colaborar comigo.

Meus olhos estavam cheios d’águas, eu fui uma cretina com Daryl e deveria perdoa-lo. Tudo o que me falaram era a pura verdade, eu só era uma metida em não aceitar.

– Eu... Eu te amo, pai! – o abraço.