A notícia de que Carl havia terminado o namoro, de alguma maneira desconhecida, me deixou feliz. Talvez porque eu não goste de Isabelle e certamente, existiria outra pessoa que realmente combinasse com ele.

Mas fora isso, a semana continuou tranquila, sem muitos zumbis. O conselho estava se reunido para tentar fazer alguma festa, já que há meses não acontecia nenhuma de interessante. Patrick havia passado mais cedo por minha casa, quando Daryl não estava.

Ele falava em assumir nosso namoro, e isso ficou martelando na minha cabeça. Eu amo Patrick, mas não gostaria de assumir agora, nosso namoro. Acho romântica essa fase de ficar escondida, deixa tudo mais divertido.

– Emma? - Mika apareceu no meu quarto, com cara de alguém que estava aprontando. Eu estava sozinha, com alguns livros ao meu redor, sentada na minha cama.

– O que você quer? - perguntei sem um pingo de educação, levando meu olhar ate ela.

– Venha ver o que encontrei. - ela respondeu, num tom irresistível.

Eu levantei, deixei os livros jogados mesmo no chão e fui atrás dela. Carol estava lá embaixo preparando o almoço, Daryl estava resolvendo as questões da nova casa que os habitantes estavam construindo, não havia nada para fazer já que Lauren acabou ficando de castigo.

– O que é isso? - eu perguntei, assim que ela retirou um pacote da última gaveta de Carol, no quarto dela.

– Camisinhas. - ela sussurrou baixinho, entre risos malvados.

– E o que você pensa fazer isso? - questionei, encarando Mika que estava com um ar de quem tinha uma brilhante ideia.

– Vamos escondê-las ate Carol notar que sumiram, aí, vamos ver a reação dela.

Não parecia uma má ideia, eu adoraria ver a reação embaraçosa que Carol ou Daryl ficariam.

– Mas aonde vamos esconder?

– No meu quarto. Carol quase nunca vai lá, descobri lugares secretos lá, onde só eu sei. Pegue algumas!

– Eu queria ter um quarto assim. - queixei-me agradável, pegando algumas camisinhas.

Entramos no quarto de Mika e o tal lugar secreto era uma fundo falso em seu guarda-roupa, realmente ninguém saberia aquilo. Escondemos direitinho e depois, começamos a rir como alto ate ouvirmos alguém subindo a escada.

– Venham comer! - ela falou, sem desconfiar de absolutamente nada.

Carol fez o almoço na mesa de piquenique, era simples, mas muito saboroso. Contou como estava o andamento do festival e que se tudo desse certo, dentro de duas semanas teríamos o aguardado festival.

– Festival de quê? - perguntei, antes de colocar um pedaço de brócolis na boca.

– Festival da colheita. - ela respondeu, bebendo um pouco de suco de laranja.

– Parece divertido. -Mika comentou.

– E é! Estamos calculando, com a ajuda de Maggie nas colheitas, estamos com várias acumulações.

– Tipo superfaturamento?

– Isso, só que para melhor. - ela respondeu sorrindo.

– E quem organizará?

– Alex e Beth. As duas são ótimas. - Carol se levantou. - Agora eu tenho que ir! Vou dar algumas aulas para crianças. Arrumem tudo antes de saírem!

Eu e Mika guardamos toda a bagunça de Carol e saímos. O dia estava bonito, um sol razoável, com o céu azul e nuvens extremamente brancas no céu. Certamente, não sabíamos o que íamos fazer, mas preferíamos andar feitos idiotas nas ruas ao ficar em casa.

– Podíamos ir à casa de Maggie. - Mika propôs, andando ao meu lado.

– Ela está nos muros. - eu respondi.

– Não estava doente? - ela me pergunta confusa.

– Parece que já passou, aliás, ontem ouvi uma conversa de Carol falando que ela não estava doente e que ela está desconfiando de outra coisa.

– Outra coisa?

– Eu não sei! Não consegui pegar o final.

Nós andamos ate a praça central, onde sentamos entediadas no banco e ficamos observando as crianças brincarem. Eu nunca imaginei que um apocalipse zumbi seria tão tedioso assim, sem nenhuma novidade ou alguém para fazer alguma coisa. Lauren de castigo, Patrick nos muros e uma irmã idiota.

Pude ver Beth se aproximar com a pequena Judith no colo. Ela sorriu aos nos ver e sentou ao nosso lado. Há tempos eu não via Judith, ela estava linda, um pouco mais grandinha, forte e muito esperta. Conseguia pronunciar algumas palavras estranhas.

Judith esticou os pequenos braçinhos para mim e eu a peguei. Ela sorriu e ficou brincando com o botão do bolso da minha camiseta.

– Ela está linda. - eu comentei com Beth.

– E está mesmo! Estou achando ela com a cara de Lori. - ela falou.

–Bom, eu não conheci Lori, mas olhando por Judith, ela parecia ser linda. - digo.

– E realmente era! Mas as atitudes dela não. Ninguém gostava de Lori. Talvez, a morte dela melhorou as coisas.

– e Jesus? - Mika perguntou, mudando de assunto.

– Está cuidando da horta. - Beth respondeu.

– E vocês dois? - eu perguntei segurando o riso.

– Não existi eu e Jesus. Somos apenas bons amigos. - ela tentou nos convencer. - Vocês não acham que são novas demais para pensarem nessas coisas?

– Você não acha que somos espertas demais para descobri que você está mentindo em relação a Jesus? - Mika perguntou com um olhar sínico. - Conhecemos você, Grenne.

– Vocês estão pior que Maggie. - ela comentou espantada. - Bom, me de Judith, hoje ela ficará com Rick porque pela noite visitarei Je... Bom é isso meninas!

Beth saiu constrangida carregando Judith nos braços. Judith, esperta, acenou para nós e depois voltou a puxar os cabelos de Beth. Eu e Mika decidimos voltar para casa e ficarmos por lá mesmo, o dia estava um tédio, nem mesmo uma briga com Isabelle poderia rolar afinal, ela estava trancada em sua casa chorando por Carl.

Alex e Rick estão andando juntos e Carol ate aponta um romance entre os dois, mas eu acho que não. Alex é bem fechada; quase nunca aparece nas reuniões do conselho ou outra coisa, apesar de ser uma peça fundamental. Rick é outra pessoa bastante fechada e não combina nem um pouco com Alex, ou combinam.

De repente, começamos a ouvir tiros. Eu não entendia muito bem, tudo começou a fica extremamente confuso. Os ‘’soldados’’ WE foram correndo atender os muros e os tiros passaram a ser cada vez mais intensos.

– As duas! Para casa! - Glenn gritou, quando nos viu paradas no meio da confusão.

Puxei Mika pelo braço e comecei a correr. Ela tentava me acompanhar, mas como tinha ataque inicial de asma, não conseguia me acompanhar. Mesmo assim, continuei a correr, puxando-a e tentando de todas as maneiras chegar em casa.

– Vamos Mika! - eu pedia, tentando incentiva-la a correr, mas ela continuava cansada.

– Não consigo. - ela respondeu, parando e respirando completamente ofegante.

– Nós estamos quase chegando. Você é minha irmã e vai conseguir ser forte o bastante para ser forte.

– eu não consigo. - ela repetiu, com a voz embasada e chorosa.

– Pelo menos tente. - eu incentivei.

Voltamos a correr, Mika ainda ia sem muita força, mas já era alguma coisa. Os tiros aumentaram e ouvimos de alguém que Negan estava fazendo um ataque. Eu não sabia quem era Negan, certamente, era um inimigo ou um louco como o governador.

Trombamos com Ty, que também nos ordenou que entrássemos em casa e ficássemos por lá ate os tiros acabarem. Mika estava assustada e eu tentava manter a calma para não deixa-la mais nervosa. Como irmã mais velha, eu precisava passar a calma para ela, falar que tudo ficaria bem.

Conseguimos chegar em casa, Mika estava desesperada, respirava ofegante, estava começando a ter um de seus ataques. Eu não sabia o que fazer, nunca a vi tendo um ataque e talvez há um ano Mika não venha tendo ataques, mas eu precisava fazer alguma coisa.

– Por favor! Respire com calma! Calma! 1 2 3! - eu tentava fazer com que Mika voltasse a respirar normal. - Vou pegar um copo d’água para você. - levantei e enchi um copo. - Tome! Respire com calma! Calma!

Mika tentava respirar com calma, os tiros lá foram também não ajudavam em absolutamente nada. Ela bebeu a água e conseguiu ficar calma, mas não parava de chorar. Ele deitou no meu colo e ficava repetindo que tudo ficaria bem, que tudo ia passar.

Depois de muito tempo, os tiros secaram, eu estava curiosa para saber o que havia acontecido, mas não podia deixar minha irmã sozinha. De repente, Carl entrou em casa assustado e apressado.

– O que foi? - perguntei preocupada.

– Venham as duas comigo. - ele respondeu.

– Eu não vou com você. - eu retruquei, afastando.

– Emma, por favor! Daryl levou um tiro. - foi como um soco no meu coração.

Corremos ate o centro de emergência, havia centenas de pessoas lá, inclusive o conselho inteiro. Carol estava aos prantos, sendo amparada por Maggie. Eu não queria chorar ate ver a situação de Daryl. A médica de lá, Molly, tentou me impedir de entrar, mas eu consegui sair de alguma maneira e entrar na sala onde Daryl estava.

Ele tinha um tubo de respiração, sua barriga estava sangrando bastante e alguns médicos haviam acabado de terminar o curativo. Eu tentei me controlar, mas comecei a chorar. Daryl está desacordado, e seus batimentos – uma máquina velha e antiga mostrava os seus batimentos numa folha – estava muito fraco. Parei ao lado dele e segurei sua mão.

– Por favor, acorde! - eu pedi, mesmo em vão, talvez ele nem estivesse me ouvindo. - Acorde Daryl! Você não pode ficar deitado nessa cama sendo um inútil. Você precisa me proteger. Por favor, acorde - Carol entrou na sala e ficou em silencio. - Acorde seu idiota! Pare de brincadeiras. É um assunto sério isso, não se deve brincar com isso.

– Emma... - Carol me chamou, com a mão sobre a boca e os olhos cheios d’águas. - Ele... Ele não está te ouvindo.

– Mas ele vai me ouvir, ele sabe que precisa acordar. Esse inútil tem que acordar. - eu corri e abracei Carol.

– São poucas as chances... - ele murmurou me abraçando

– Ele tem que acordar. Ele precisa nos salvar, mãe!