Lost In Paradise

09 – She.

Era assustador. Tremendamente assustador.

E, caramba, assumir isso feria profundamente seu orgulho e ego. Mas não é como se ela pudesse fazer algo a respeito no momento, estava apaixonada e era uma verdade irrevogável.

Mas de alguma forma Adel queria poder passar pelo próprio orgulho de gelo, queria poder se aproximar novamente de Kyoya e perguntar o porquê daquilo logo quando tudo andava perfeitamente bem, quando haviam entrado em um consenso e até se conhecido um pouco melhor.

Quanto mais os dias se passavam mais angustiada a morena ficava, ao menos agora ela sabia o porquê das lágrimas, de sua preocupação e estresse.

Suspirou, retomando a compostura quando batidas na porta de seu quarto se fizeram presentes.

Ergueu-se de sua cama largando o celular sobre o criado-mudo que havia próximo, e assim seguiu para a entrada do aposento. E quando abriu a porta, fora apenas para deparar-se com alguém cuja presença Adel se quer fazia questão.

Parado no corredor Julie apenas fitou o vermelho frio dos olhos da mulher que amava. Mas, de alguma forma, aquele gelo todo parecia estar se quebrando, se partindo, se despedindo numa enxurrada de decepções. Por que ele podia não ser perfeito, podia ser mulherengo e até um merda de um traidor; mas Katou Julie sempre sabia e via quando uma mulher estava triste, decepcionada e frágil; e Adel não era exceção por que por mais dura e fria que ela fosse isso não mudava o fato de que ela era uma mulher e que também tinha suas decepções e frustrações – mesmo que nunca quisesse deixá-las a mostra.

– Está tudo bem? – indagou, e pode jurar ver a opacidade do vermelho dos olhos da morena diante daquelas palavras.

– Por que não estaria? – e mais uma vez o frio invernal retornou, com estalactites mais afiadas que anteriormente, com pontas que o miravam apenas esperando o mínimo deslize para dar um fim a tudo aquilo.

– Adel eu lhe conheço bem, apenas... De te olhar nos olhos posso dizer que não está bem. – afirmou-o empurrando a porta e aproximando-se da Suzuki para lhe acariciar a face. – Eu sei que é difícil para você admitir, mas eu posso ver o quão ferida você está Adel, sei que fui o causador de grande parte desses machucados, mas, por favor, permita-me lhe ajudar. – suplicou-o. – Ao menos hoje, ao menos agora enquanto você realmente precisa de alguém.

Sufocada pela surpresa, pelas palavras, pelas decepções e por palavras que jamais esperou ouvir; a morena rendeu-se a uma angustia sem precedentes e, enquanto o corpo belo escorria para os braços do homem que um dia lhe traiu, as lágrimas desciam por seu rosto marcando a pele clara e queimando como gelo.

Era errado? Ela não sabia. Tinha apenas a plena certeza de que se acolhia nos braços de quem um dia amou enquanto chorava as lágrimas de cristal por motivos egoístas e fúteis.

E, em meio ao pranto cruel, a rainha de gelo percebeu – talvez em um momento em que abandonara qualquer orgulho, ela pode enfim abrir os olhos um pouco mais para a questão – que talvez, apenas talvez, houvesse um motivo para aquilo e esse motivo podia não ser necessariamente ela, ou algo que ela própria havia feito.

Hibari devia ter, ele tinha de ter um bom motivo.

Agarrando-se àquela mínima possibilidade, a rainha de gelo adormeceu, esperando que – de alguma forma – pudesse desvendar o mistério que se formou por essa questão.

Esperando que não se estilhaçasse mais.

Esperando que Hibari sentisse por ela algo, mesmo que mínimo, mas, ainda sim, algo.