P.O.V Rose Weasley

Já fazia duas horas que estava ali dentro. Duas horas que eu estava presa com Scorpius Malfoy. A pior parte? Meu malão não estava ali e eu tinha ficado observando a paisagem durante essas duas horas. Eu já tinha tentado todos os tipos de feitiço para abrir a porta. Nas primeiras meias horas eu tinha feito à cabine sacudir, tomado um choque e explodido o estofado do meu assento, mas eu logo consertei. O mais revoltante era que o Malfoy não fazia nada. Finalmente, perdi a paciência.

– Faça alguma coisa! – gritei para ele.

– Por que eu deveria fazer alguma coisa? – ele indagou com os olhos ainda pregados no livro.

– Oras! Porque eu estou presa aqui até a Lily ter pena de mim e me tirar!

– Não é minha culpa, Weasley, se você entrou na minha cabine.

– E você vai ficar a viagem toda com a cara enfiada nesse livro? Nem sabia que você sabia ler.

– Eu sei ler muito bem para a sua informação. – tinha conseguido irrita-lo.

– Mas para a sua informação, você é tão babaca que eu aposto que esta só fingindo.

Ele se levantou. Olhou pra mim um segundo e depois se virou para a porta. Bateu com os dois braços nela e depois berrou:

– Alguém faça o favor de abrir essa porta?

Mas claro (e infelizmente) ninguém abriu.

– Por que te trancaram aqui? – ele indagou, se virando para mim e logo depois se sentando. – Pra que?

– Provavelmente pra curtirem com nossas caras. – opinei.

A expressão dele suavizou.

– Bem, então não vamos deixar eles satisfeitos! – ele exclamou.

– O que sugere? – ergui uma sobrancelha, curiosa.

– Vamos fazer um juramento de que não vamos brigar até chegarmos a Hogwarts.

– Isso seria impossível.

– Voto perpetuo?

– Não quero morrer, muito obrigada.

– Não quero ser motivo de piada.

– E você acha que eu quero?

– Então vamos fazer o voto.

Eu concordei. Ele esticou a mão e eu a peguei. Apesar da aparência pálida, a mão do Malfoy era quente e aconchegante. Ele murmurou algumas palavras e finas linhas douradas se enroscaram em nossas mãos, fixando-as.

– Nós juramos que não vamos brigar até chegarmos a Hogwarts. – falou o Malfoy.

– Eu juro. – murmurei.

– Juro.

As linhas se soltaram, não sem antes darem uma aquecida.

– Pronto. – ele disse, soltando as minhas mãos.

Logo ele se sentou novamente e enfiou sua cara dentro do livro de novo. Eu me sentei também, mas depois de passar dez minutos fazendo absolutamente nada, eu me irritei.

– Você vai ficar ai? – perguntei. – Só lendo?

– E o que mais eu poderia fazer? – ele rebateu.

– Conversar.

– Com você?

– Não, com o fantasma da sua vó.

– Minha vó está bem viva para a sua informação.

– Você é um idiota.

– Não esta ajudando.

– Eu estou com frio e entediada! O que você espera?

– Que você se controle. Ou esqueceu-se do voto perpetuo?

– Mas o meu malão não está aqui!

– Pode pegar um casaco do meu.

Eu estranhei o gesto dele. Mas mesmo assim subi em cima do banco para pegar o malão dele. De um lado ele só tinha livros e do outro estavam suas roupas, junto com algumas mudas da repugnante farda da Sonserina. Peguei o único casaco que eu encontrei que não tinha nenhum detalhe verde e vesti. Ele ficou enorme em mim, mas me aqueceu, de modo que eu não me importei.

– Posso pegar um desses livros? – indaguei, dando uma olhada nas capas.

– Não acho que você vá gostar de qualquer coisa que tenha ai. – ele admitiu.

– Querido John? Você lê romance?

– Algo contra isso?

– Não. Só que geralmente os garotos não leem romances. Mas eu esperava qualquer coisa, vinda de você.

– Vou considerar isso como um elogio.

– Mas lembre-se de que não foi.

Eu puxei esse livro mesmo, apesar de já tê-lo lido milhões de vezes. Sentei-me perto da janela, encostando a minha cabeça na mesma. Não sei quanto tempo eu passei lendo, só sei que quando eu levantei a cara do livro para dar uma olhada ao redor já estava de noite. Quando olhei pro lado percebi, com surpresa, que Malfoy estava dormindo. Ele estava com a cabeça balanceando pro lado, pendurada. Seus olhos azuis fechados e seu cabelo loiro caindo por cima dos olhos. Ele parecia uma pintura.

Subitamente eu tive uma ideia. Peguei uma folha em branco de dentro do malão de escrita do Malfoy, junto com uma pena. Com muito cuidado, porque o trem estava andando, eu desenhei os contornos do seu rosto, sua cabeça balançando pro lado, seus olhos fechados. Quando acabei vi que estava exatamente igual ao Malfoy em minha frente. Só faltavam as cores.

Ele gemeu e eu rapidamente guardei o pedaço de pergaminho no bolso da minha blusa. Com um suspiro abafado ele acordou.

– O que... – ele falou parecendo confuso.

Logo passou por ele uma expressão de compreensão e depois repugnância.

– Claro você esta presa aqui. – ele disse finalmente.

Depois disso ele tirou o cabelo do rosto e se ajeitou no lugar.

– Gostou do livro? – ele indagou.

Fui pega de surpresa com a pergunta. Mas decidi que ele só estava tentando ser convencional.

– Já tinha lido. – respondi, dando de ombros.

– Então porque pegou esse?

– Eu gosto.

– Quem sou eu pra falar? Leio livros mais de cinco vezes geralmente.

– Meu recorde é 10.

– Ainda vamos competir?

– Competir não é brigar.

– Sempre que competimos acabamos brigando de alguma forma.

– Sempre que conversamos acabamos competindo de alguma forma.

Ele se calou depois disso. Eu pensei que tinha ficado sem argumentos, mas não era isso.

O trem tinha parado, mas Hogwarts não estava à vista.