A volta de Alice escrita por Serena


Capítulo 3
O comunicado de Mathilda


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!

[revisado: 30/11/2015]



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Alice pediu para o homem da carruagem levar seu malão até a varanda da casa. Ela estava um tanto admirada, afinal, quase não se lembrava dela. A casa tinha uma estrutura encantadora, infestada de detalhes em ondas sobre a madeira branca. Dinah procurava caminhar no mesmo ritmo da dona, mas ser uma gata velha não a ajudava muito. Seus passos eram lentos e cansativos e pareciam afundar na grama recém cortada.

Quando Alice já estava próxima o suficiente da varanda para escutar até a respiração de sua mãe, a porta se escancarou. Uma Mathilda mais do que feliz sorria de orelha a orelha. Logo atrás dela, o seu marido indecente dava um sorriso sem graça ao lado da sra. Kingsleigh. Parecia não acreditar que a filha havia chegado. Alice devolveu um sorriso e tirou algumas moedinhas do bolso do sobretudo, entregando-as nas mãos cheias de calos do homem da carruagem. Ele agradeceu e partiu pelas estradas.

— Alice! — exclamou Mathilda, correndo com os braços magricelas em direção da irmã para abraçá-la. Ela estava muito bonita, seus olhos azuis brilhavam como cristais e seus cabelos estavam presos em um coque loiro bem apertado. Alice estava até um pouco aliviada por estar em casa. — Não acredito! Que saudades!

— Eu também estava morrendo de saudades suas, irmã! — falou Alice calmamente. Ela olhou para o marido da irmã com o canto dos olhos e deu um sorrisinho amargo de relance — Eu vou vigiá-lo bem de perto — Alice não emitiu nenhum som, apenas mexeu os lábios num ar desafiador. Ele ficou em um estado de choque discreto, assim como havia ficado quando Alice havia dito aquelas exatas palavras na volta do buraco, há três anos atrás.

— Eu também senti muito a sua falta, Alice — a mãe falou, num sorriso tão animado quanto assustador. Ela parecia estar mais do que depressiva. Suas madeixas já grisalhas caíam emaranhadas sobre sua testa e a parte de baixo de seus olhos estava funda por olheiras. O marido era tudo para ela, desde um homem até um porto seguro — Minha menininha cresceu e agora não a vejo acordar toda manhã.

— Ah, mamãe! — respondeu Alice, um pouco comovida — Eu senti sua falta muito mais! Você está tão bem... — mentiu Alice e, quando notou que a pausa seria longa demais, complementou. — Lembrando que você não vai usar um bacalhau na cabeça se esse for o apropriado.

Alice deu uma breve risada, mas parou instantaneamente quando a expressão animada da mãe se fechou, ela era muito vidrada no apropriado, e sempre foi. Mathilda notou o clima pesado e já foi logo quebrando o silêncio:

— Bom, entre! — Mathilda pegou na mão da irmã mais nova e a guiou até a sala de estar. O habitual lustre continuava logo acima dos sofás estampados por rosas e tulipas que contornavam a lareira de mármore. Logo acima da lareira, se manteve a bela pintura de seus falecidos avós maternos lado a lado e de sua mãe e seu tio, morto em um conflito civil. — Você vai dormir no seu antigo quarto, tudo bem?

— Tudo bem — Alice deu um sorriso sem graça.



O jantar fora muito mais agradável que a recepção, porque abordou peixe com alguns outros frutos do mar no cardápio, além de suco de laranja e torta de morangos na sobremesa. Aquilo era um dos cardápios preferidos de Alice e tinha certa impressão de que tinha sido tudo feito para ela, principalmente porque seu aniversário seria em dois dias.

Porém, o assunto não fora lá essas coisas. Ficaram conversando sobre o casamento de Mathilda e tocaram no assunto de Alice se casar. Ela negou a todo custo, disse que não tinha ninguém que gostava e muito menos que conhecia. Como a irmã disse, aquela era uma oportunidade única quando ia se casar com o lorde, afinal, sua beleza não era eterna, tinha que ter aproveitado. Ainda mais porque era um lorde, não é mesmo?

Depois do jantar, todos se reuniram na sala de estar. Mathilda e seu marido conversavam entre eles e riam de forma irritante. Alice procurava ao máximo ignorar a vontade de levantar e gritar ali mesmo o que ele fizera, ou simplesmente estrangulá-lo com as próprias mãos.

Alice observou por muito tempo o fogo dançante na lareira e não ousou dizer nada durante aquele andamento. Seus olhos e o fogo se admiravam e ela não podia simplesmente deixar de encará-lo. Magnífico. O fogo era magnífico para Alice, mesmo depois de enfrentar um dragão. Não, Alice, pensou. Ter um devaneio. Você está tratada, devia ter consciência de que não era real.

— Filha — sussurrou a mãe, cutucando o ombro de Alice com o dedo indicador. A jovem não sabia muito bem o motivo, mas se sentia muito desconfortável quando alguém fazia isso.

— Fale, mamãe — respondeu Alice, no mesmo tom de voz que a mãe.

— Eu estou sentindo que Mathilda está escondendo alguma coisa de nós.

Ao ouvir as palavras da mãe, automaticamente se virou para a irmã e arregalou os olhos em susto quando Mathilda percebeu a expressão desconfiada de Alice. Ficaram se encarando por pelo menos cinco segundos e não demorou nada para ela notar o medo no olhar da irmã. Mentira. Alice odiava as mentiras. Assim, o marido da irmã estava falando sozinho sem ao menos perceber.

Mathilda ficou sem graça. Boba, se levantou do sofá e ameaçou falar alguma coisa. Seus olhos azuis tinham insegurança e lágrimas e Alice podia enxergar seus joelhos tremendo embaixo do vestido. Ela pediu com o olhar que os empregados deixassem a sala e eles o fizeram sem questionar. Se Alice fosse um daqueles empregados, ficaria ouvindo tudo por trás da porta. Tinha certas dúvidas de que eles fariam isso mesmo.

— Eu...

— Mathilda, não! — O marido tentou a interferir segurando o seu braço com aparente firmeza para deixá-lo roxo, mas ela o ignorou. Alice nunca tinha visto a irmã daquele jeito, tentando se dividir entre orgulho próprio, medo e preocupação. Queria saber o que estava acontecendo por trás do casal. Sabia bem que o que ia contar era só uma fagulha do que eles escondiam. É de uma fagulha que se abanca um incêndio.

— ... estou grávida — concluiu, trêmula.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler.



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