Cronicas das doze essências. escrita por Ak


Capítulo 9
Navegando pelo céu




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O senhor Booms nos acompanhou até uma plataforma de embarque com uma escada que levava ao deque do navio. O caminho inteiro ele falava como sua frota de navios era incrível e maravilhosa enquanto o general Clint fingia estar interessado. Haviam algumas pessoas no navio, certamente eram a equipe de navegação ou coisa parecida. Eles vestiam-se de branco e usavam boinas com asas dos dois lados. Estavam fazendo pequenos serviços, amarrando coisas ou soltando as velas. Alguns esfregavam o convés e outros pareciam estar dormindo.

Embarquei subindo as escadas enquanto a maioria simplesmente voou pra dentro do navio. Clint seguiu acompanhando o senhor Booms para uma cabine bem no centro do navio.

Eu ainda não havia entendido o ‘’decolarmos’’ que o general havia falado. Olhei em volta. Parecia um navio comum. Lembrava as caravelas do século passado.

– Preparar para decolar! – A voz do senhor Booms ecoou.

Dado aquele sinal, os ‘’marinheiros’’ tomaram suas posições. Eles rapidamente moveram-se pelo convés do navio, puxando cordas, girando manivelas e ativando alavancas.

Logo, pude ver o mastro do navio se abrir, revelando uma hélice. Quando ela começou a girar, o navio inteiro chacoalhou, jogando eu e alguns soldados no chão.

Pouco a pouco começamos a ganhar altitude. Durante a decolagem nos derrubamos algumas árvores, batemos em um navio que estava atracado ali próximo e quase demos de cara com uma montanha. Depois disso estávamos no ar.

– Uma decolagem segura e tranquila. – A voz do senhor Booms ecoou novamente. – Aproveitem a viagem!

– Cara, tenho medo de descobrir o que seria uma decolagem ‘’não tranquila’’. – resmunguei enquanto me levantava.

– HOMENS ! – Berrou Clint, que havia voltado ao deque. Ele parecia um pouco desorientado. Estava meio verde, também. Talvez tivesse ficado enjoado com a decolagem do navio.

– Argth ... Ouçam. – Ele disse. -Nos devemos chegar à torre pela manhã, então, por hora vocês devem descansar. Temos algumas camas no andar de baixo, mas acho que não serão suficientes para todos, então, usem o compartimento de cargas. – Dito isso, o general deu uma minuciosa olhada em volta e então seguiu para a cabine central, onde provavelmente estava o senhor Booms.

A maioria dos soldados apressou-se em descer para o compartimento de cargas enquanto outros se acomodavam ali mesmo. O dia havia sido longo e com certeza todos estavam esgotados.

Claro, eu também estava, mas, não pretendia dormir ainda.

Caminhei pelo deque e aproximei-me da borda do navio, em seguida debrucei-me ali. Já fazia um tempo que havíamos saído da ilha do povo do céu. Estava escuro, logo, não podia ver muita coisa. Embora a vista do continente estivesse limitada, a visão do céu era incrível. Eu estava tão entretido com as estrelas que não vi Yannefir se aproximar. Ela estava com suas vestes brancas e os longos cachos loiros caídos sobre os ombros.

– Sem sono? – ela disse

– ... mais ou menos. – respondi. – A quanto tempo está aí?

– Acabei de chegar, garoto. Como está seu braço?

– Melhor, melhor ... – murmurei enquanto coçava a nuca.

– Você parece preocupado. – ela me encarou.

– Yannefir. – eu disse – O que você sabe sobre os dois dragões?

–Hã? Fala dos deuses Tayio e Yoru, os dragões do dia e da noite?

– Sim. O que você sabe sobre eles?

– Ninguém sabe muita coisa sobre eles. – ela suspirou. - eles eram mais distantes que os outros, poucas vezes apareciam para os humanos.

– Hmpf .. - resmunguei

– Porque a pergunta, garoto? – ela arqueou a sobrancelha, cruzando os braços.

– É verdade que, quando aquele mago lá ...

– Kantheon. – ela interrompeu

– ... é, o Kantheon. – continuei. – É verdade que, quando ele chamou os deuses, Tayio e Yoru se recusaram a vir ?

Yannefir custou a responder, mantendo-se em silêncio por alguns instantes. Seu olhar estava distante, ela fitava as estrelas.

– É o que dizem. – ela concluiu

– Tsc ... isso explica porque todos me olham estranho quando vêem essa espada. Devem pensar que o dragão da noite os traiu ou algo assim.

– Garoto, escute. – Yannefir disse em tom de ordem. Sua voz soou extremamente determinada. Cheguei a me assustar com a mudança repentina de tom. – Isso não importa. NADA disso importa. Não importa o que o seu dragão fez no passado, apenas esqueça tudo isso. O que importa é o presente e o que VOCÊ vai fazer AGORA. Entende, garoto?

Eu engoli seco. Admito, estava com um nó na garganta desde minha discussão com o Zenite antes do nosso problema com os macacos, quando ele disse que o deus na noite era um traidor. Mas, Yannefir estava certa, não importava mais o que ele havia feito.

Ela tinha um jeito tão simples de pensar. Aquele raciocínio foi tão lógico que cheguei a me sentir um idiota.

– ... você tem razão. – resmunguei

– Às vezes parece que tenho que desenhar tudo pra você. Tsc tsc tsc. – ela suspirou. - Aqui, pegue isso. - Yannefir colocou um pequeno frasco com um líquido verde enrolado no que parecia ser uma faixa branca sobre a borda onde eu estava encostado.

– Pro seu braço. - Yannefir deu as costas e seguiu na direção da escadaria que levava ao compartimento de carga.

– Yannefir ... – chamei. Ela não respondeu, apenas parou e me olhou discretamente por cima do ombro.

– Obrigado. – conclui. Ela assentiu com a cabeça logo seguiu pela escadaria, desaparecendo da minha vista.

Momentaneamente fechei os olhos.

‘’ – O que importa é o que eu vou fazer agora...’’ – retruquei.

Ergui-me usando o resto de energia que me restava e suspirei dando uma ultima olhada nas estrelas. As palavras de Yannefir ainda ecoavam na minha cabeça.

– A fama desta espada é pior do que eu imaginava ... tsc. – pensei.

Recolhi minha arma sobre meu ombro e caminhei pelo convés, levando comigo o remédio que Yannefir me entregara, até chegar à escadaria que levava ao andar de baixo.

O compartimento de cargas era imenso. Havia diversas caixas e engradados empilhados jogados por lá.

A maioria dos soldados estava descansando ali. Eles se acomodavam como podiam em sacos de dormir, redes ou mesmo no chão. Para um militar aquilo não devia ser problema.

Eu não vi Yannefir por lá, estava tão exausto que mal conseguia me manter de pé.

Sentei-me num canto do lugar deixando minha arma ao meu lado. Estiquei as pernas e encostei-me na parede. Logo, abri o vidro que Yannefir havia me dado. Tinha cheiro de limão.Cuidadosamente despejei o líquido sobre meu ferimento e em seguida o enfaixei. Cai no sono em seguida.

Naquela noite eu achei que teria mais um daqueles sonhos malucos. É eu estava certo. Mas, dessa vez não foi nada de especial. Sonhei com uma guerra. Mas não uma guerra comum. Uma guerra entre dois exércitos de hamburguês que usavam armas de batatas-fritas e com girafas eletrônicas. Sim, eu tava morrendo de fome quando fui dormir. Não que isso explique as girafas eletrônicas do meu sonho, mas enfim.

Já estava de manhã quando eu acordei. Esfreguei os olhos e lentamente olhei em volta.

O lugar estava vazio. Os soldados que ali dormiam haviam sumido.

Levantei-me e corri meus olhos pelo lugar mais atentamente. Meu braço estava melhor. Não doía, mas achei melhor não remover as faixas ainda. Lá dentro, nem sinal das tropas. Eu estava sozinho no compartimento de cargas com aquele amontoado de caixas.

– Será que acordei tarde demais ? – pensei.

Peguei minha espada e a coloquei no ombro pela alça da bainha, logo segui para a escadaria que levava ao convés.

Yannefir estava sentada na escadaria de braços cruzados, novamente com uma expressão séria.

– Bom dia – acenei

– Finalmente você acordou. – ela rebateu. Era tão bom ver aquele bom humor logo pela manhã.

– Perdi alguma coisa?

– Não. – ela suspirou – Ainda devemos estar na metade do caminho

– Metade do caminho? O senhor Booms não falou que chegaríamos lá pela manhã?

– Ele superestima demais esses navios, devia estar se gabando quando falou isso. Devemos chegar à torre ao anoitecer, se tivermos sorte. De todo modo, aqui, pegue isso.

Yannefir tinha uma sacola de couro em seu colo. Ela a jogou pra mim

– O que tem aqui? – perguntei

– Comida. – ela respondeu – Você deve estar com fome.

Abri aquela sacola. Dentro havia um tipo de pão redondo e uma fruta que parecia um botão de rosa do tamanho da minha mão.

– Hehe ... obrigado.

– O senhor Booms nos serviu mais cedo e você ainda estava dormindo. Se não comesse nada ia ficar fraco e inútil.

– Obrigado pela consideração. – respondi cerrando os dentes e a encarando.

Yannefir deu os ombros. Levantou-se e seguiu subindo as escadas. Eu a acompanhei logo atrás.

– Onde estão os outros ? – perguntei. Eu tinha dado uma mordida no pão. Aquilo era poroso e fofo demais, de modo que ficou difícil de falar. Foi quase como tentar dizer algo coma boca cheia de farinha.

– Estão lá em cima ... ‘’se aquecendo’’. – ela fez sinal de aspas com as mãos

– ‘’se aquecendo’’ ? – fiz o mesmo - Como?

Ela nem precisou responder. Quando chegamos ao topo da escadaria, vi os soldados reunidos no deque. A multidão formava um círculo em volta do general Clint e de outro soldado. Eles estavam armados com espadas de madeira, trocando golpes um com o outro. A cada estocada e choque das armas, os guardas em volta gritavam eufóricos. Gritos de incentivo e coisas do tipo.

‘’ Braço, um ponto’’, ‘’Acertou o peito, dois pontos’’, eles gritavam, vez ou outra.

Obviamente era um duelo de esgrima ou coisa do tipo.

Logo, soou um apito. Um dos soldados entrou naquela arena improvisada e ergueu o braço do vencedor.

– Fim do round. – ele exclamou – o placar é de treze pontos a seis. Vitoria do general Clint!

O general ergueu aquela espada e riu enquanto era aplaudido por seus soldados, enquanto o perdedor deixava a arena, também aplaudindo seu superior, recebendo uns ‘’tapinhas nas costas de seus companheiros.’’ Lutou muito bem’’, ‘’bom trabalho, cara’’, eles diziam.

Agora eu finalmente havia conseguido terminar aquele pão que parecia não ter fim e estava dando a primeira mordida naquela fruta. Que era dura e extremamente doce, por sinal.

– Mais alguém quer enfrentar o general ? – Questionou o juiz.

Não houve resposta, por motivos óbvios. O general olhou em volta, quanto secava o suor de sua testa. Ele fixou os olhos em mim, o que me fez morder a língua.

– Que tal você?-Ele me desafiou, apontando aquele sabre de madeira na minha direção.

Instantaneamente, os olhos de todos os soldados que ali estavam se viraram pra mim e eu tive vontade de me jogar de navio.

– Er... eu ? –perguntei, tentando não transparecer meu nervosismo

– É, jovem, venha aqui! Não precisa ter medo, é apenas diversão – o general argumentou

– ‘’Diversão” – retruquei. O jeito que ele me olhava dizia exatamente o contrario. E aquele tom de voz fazia parecer que seu definição de ‘’diversão’’ seria arrancar os membro de alguém.

Naquela situação, se eu recusasse provavelmente viraria a piada daquele pelotão.

– Certo, eu vou. – Respondi, em seguido colocando na boca o que havia sobrado daquela fruta esquisita. Minhas palavras foram firmes e centradas. Yannefir me olhou como se dissesse ‘’sério que ele aceitou isso?’’. A reação dos soltados gritava a mesma coisa. Eles abriram caminho me dando passagem para aquela arena. Logo, estava frente a frente com o general Clint, que me encarava com um sorriso caótico e intimidador.


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