Take Back the Night escrita por Camyarsie


Capítulo 20
Despedida


Notas iniciais do capítulo

"Sem você ao meu lado... Sinceramente me sinto perdido."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/457781/chapter/20

Só naquele instante que Rick reparou o resultado da batalha noturna.

Mesmo à distância, o solo continha várias crateras. Eddard e Rick tinham que cuidar na hora de avançar para não acabarem caindo em alguma delas. Boa parte das casas continham rachaduras... E outras foram decoradas com sangue.

Faltava pouco tempo para o pôr do sol. Chegaram ao exato instante que começavam a carregar os corpos para o templo. Os mesmos estavam envoltos em mortalhas verdes escuras; então à distância somente pareciam suprimentos ou simples cobertores... O que ajudava um pouco as famílias dos falecidos a minimizar a dor.

Encaminhando-se para os corpos, a dupla passou por Henry. Se não estivesse tão mal, Rick teria rido da cara que fez. Ele não sabia se era de medo, raiva ou repulsa. Nada impedia de serem os três. Mesmo não gostando de ter esse sentimento, Rick ficou satisfeito em ver a marca roxa que fez no seu rosto.

Voltando a olhar para frente, Rick reconheceu o corpo de Jean – já que ele tinha dezesseis anos, era o menor entre os mortos. Foi carrega-lo e seguir os outros.

– Pode deixar que eu levo esse – uma mulher falou.

Não, eu o levo – o tom de Rick não admitia discussões. A mulher saiu meio assustada.

Piscou forte para reprimir as lágrimas. Várias memórias de Jean enchiam sua mente.

Tendo uma ideia, desenterrou entre os tecidos os seus braços. Ignorando a criatura que remexia em seu estômago, Rick retirou as suas pulseiras marrons. Estavam completamente ensanguentadas; contudo nada que uma lavagem não pudesse resolver.

As colocou em seus próprios pulsos.

– Você não vai simplesmente desaparecer da minha vida.

Tendo ajustado novamente os braços flácidos, estava sendo uma tarefa difícil erguê-lo, porém sentia que devia cumprir esse serviço. Ele é o meu melhor amigo. Depois de me salvar, é o mínimo que posso fazer.

Praguejava mentalmente por ser obrigado a arrastar os seus pés quando o Mestre o ajudou. Juntos, seguiram a estrada de cascalho atrás dos que iam para os templos.

* * *

Nem andaram meia hora. O templo de arenito era meio camuflado de longe por conta das dunas ao seu redor; contudo de perto era outra história.

Duas torres de cinco metros erguiam-se ao redor da entrada decorada com desenhos entalhados no próprio arenito. Mesmo com bastante areia ocultando um pouco as artes, seria impossível não ver o símbolo de todos os templos antigos: o Ankh.

De acordo com os livros do Mestre, ele imita uma cruz, só com a diferença de ter a ponta fechada e arredondada em cima, sendo o símbolo da vida. Essa era a segunda vez que Rick visitava o templo; e a segunda vez que ficava enraivecido com a ironia cruel.

Após entrarem no local, viam vários espaços vazios entre as colunas. No centro, o chão continha alguns entalhados em laranja e azul sem nenhum significado aparente.

Todos sabiam qual o destino dos falecidos: deixariam os corpos descansarem ali por mais ou menos uma semana no máximo – por questão de respeito – e depois os cremariam e jogariam as cinzas na areia ao redor.

Não tinham muitas opções – não havia como escavar o arenito e nem queriam fazer isso.

Olhando para cima, dava-se para ver através do segundo andar uma abertura que deixava o céu a vista. O mesmo estava alaranjado.

Nem todos os aldeões vieram – porém os que estavam presentes separaram-se um dos outros para acomodar os mortos em diversos cantos. Assim que Rick e Eddard ajeitaram Jean, o adulto saiu e foi dar uma ajuda para os outros.

O adolescente suspirava várias vezes para manter o autocontrole. Já chorara o suficiente naquele dia. O conselho que Jean dera horas antes de morrer ressoava em seus ouvidos: “... A vida sempre terá seus altos e baixos... Contudo um verdadeiro guerreiro os suporta e segue em frente sem mostrar fraquezas”.

Realmente é muito difícil. Rick pensou.

Vagamente, escutou Rodrick fazendo um discurso com o coro de choros. O garoto não escutava e nem queria entender as palavras. Sabia que só pioraria a situação.

E no único instante que prestou atenção provou sua tese. Descobriu que entre as baixas, uma delas havia sido a mãe de Jean. Envergonhou-se por saber disso só naquele momento.

Então, a voz silenciou-se. Espiou na sua direção. A maioria do pessoal dirigia-se a saída. Poucos ficaram e aproximaram-se de ente queridos. Por outro lado, Rick nem sequer saíra da frente de Jean. E permaneceu em pé, imóvel, por um longo tempo. Até que só sobrasse ele no templo.

Rick fitou o corpo envolto na mortalha.

– Jean... Obrigado por sempre me apoiar. Obrigado... Graças a você que consegui seguir em frente com alguma luz em minha vida... Obrigado por dizer as palavras certas nos meus momentos mais difíceis... E acima de tudo... Obrigado por ser meu único amigo.

Parou um pouco para conseguir falar novamente. Toda vez que se lembrava dele sentia uma ferroada no coração e sua voz fraquejava. As lágrimas vinham sem que ele pudesse conte-las.

– Sem você ao meu lado... Sinceramente me sinto perdido.

De repente, a raiva borbulhou dentro de si. Não tão intensamente quanto quando estava conversando com o Mestre; contudo ainda assim com uma força considerável. Herobrine tirara tudo o que ele mais gostara – a sua família, o seu lar, o seu melhor amigo.

– Mas o seu sacrifício não será em vão. Eu te juro pela minha sanidade. Ele vai pagar o preço da sua vida. Nem que seja a última coisa que eu faça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Take Back the Night" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.