Lenda de Nico escrita por Bruno Leão


Capítulo 2
Capitulo 2 - O Jardim de Estrelas


Notas iniciais do capítulo

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Não pude desfrutar de meu poder. O mundo estava em ruinas, não havia um ser vivo, apenas escombros com os restos de uma civilização que se afundou na própria violência.

Andei por muito tempo, procurando por algum sinal de vida. Não encontrei, comecei a perceber que no fim, eu não era diferente de ninguém. Assim como eles, afundei-me na minha violência, no meu medo e me entreguei à sede de poder.

O ódio no qual eu havia me entregado, o ódio que havia me consumido era a causa e consequência do meu sofrimento. A minha vontade de ser diferente deles, a minha vergonha de ser um humano, tudo aquilo estava deixando de fazer sentido. Eu não tinha a quem odiar, de quem sentir vergonha. Meu ódio foi se tornando solidão.

O tempo foi passando e a cada dia era mais difícil encontrar comida. O fato de eu ser imortal só piorava as coisas. Certa vez, havia lido sobre o submundo, lá as pessoas más eram torturadas e no fim do dia eram mergulhadas em um rio de lava que curava todas as suas feridas, para que no dia seguinte elas fossem torturadas novamente. Parece que aquele era meu inferno particular.

Apesar de tudo, a noite me trazia certa tranquilidade. Não conseguia dormir porque sempre tinha pesadelos. Minha única escolha era ficar olhando as estrelas. Engraçado como o céu noturno sempre foi do mesmo jeito por bilhões de anos, mas sempre olhava pra ele como se fosse uma grande novidade. Eu chegava a não me sentir sozinho, como se a lua e as estrelas me fizessem companhia.

Em algumas noites que eu acabava me entregando ao sono, minhas pálpebras ficavam pesadas e eu caia no terror absoluto. Infelizmente essa foi uma destas.

Cair no sono nunca era uma coisa boa. Eu estava indo até a casa do Capitão Rufort, contar o que tinha acontecido. Estava em um carro do exército, de terno com um certificado de honra ao mérito para entregar a família do capitão. Ao chegar desci do carro. Avistei sua casinha branca de madeira, com uma pequena cerca também de madeira branca. Subi a escadinha e toquei a campainha. Alguém abriu a porta e eu me deparei com ela, exatamente do jeito que eu imaginava. Ao perceber que eu era do exército seu sorriso acabou se desfazendo.

— Pois não? — Ela não parecia muito feliz com minha visita.

— A senhora Rufort está?

—Minha mãe morreu há alguns anos. — Abaixou a cabeça com se quisesse evitar contato visual. Seu olhar começou a brilhar por causa das lágrimas se acumulando.

— Há, desculpa não sei o que di...

— Não precisa fingir que se importa. — Disse ela enquanto se recompunha.

— Olha, eu realmente me importo. — Tentei me aproximar.

— Como assim? Você nem me conhece. — Ela curvou o tronco para trás, recuando.

Eu peguei o colar que o pai dela havia me dado.

— Isso é... Quer dizer que... - Seu olho começou a lacrimejar mais que da outra vez. Era doloroso ver aquilo. Pelo que o capitão disse ela era o melhor tipo de pessoa que podia existir, não merecia nenhum sofrimento. Havia perdido mãe, e agora o pai... Por minha culpa

— Ele salvou um inimigo, e esse inimigo o atacou pelas costas. A culpa foi minha, ele estava na mira, mas eu não tive coragem de atirar. Se for culpar alguém culpe a mim. — Minhas pernas estavam bambas.

Ela não falou nada, apena abaixou a cabeça, deixando seu cabelo tampar o rosto. Mesmo sabendo o que ia acontecer, eu fiz a mesma coisa de sempre: Aproximei-me e toquei seu ombro. No mesmo instante ela levantou o rosto que não era o mesmo, era o rosto cadavérico daquela criatura que me fez imortal. Aquele rosto de pele acinzentada, ossos e carne expostos e o buraco dos olhos tinham apenas pontos brilhantes. Cai para trás de susto e ela explodiu na minha frente, aquela mesma explosão verde com brilho fantasmagórico e labaredas que formavam rostos de sofrimento...

Ainda estava de noite. Como sempre, meu sono não durou muito, eu estava suado e tremendo. Sempre tinha aquele pesadelo, não havia como escapar. Eu sempre fazia as mesmas coisas mesmo tendo consciência que era um sonho. Era frustrante!

Pelo menos ainda podia desfrutar da vista do céu noturno. A noite estava clara e o brilho melancólico da lua já me fazia relaxar de novo.

— Se eu pudesse ao menos morrer e dormir para sempre sem sonhos, só a escuridão pra sempre. — Pensei alto.

Nesse instante um pequeno risco de luz aparece no céu, parecia uma estrela cadente. Então, tudo ficou escuro...

Abri meus olhos, ainda era noite.

— Como sempre não dormi muito, pelo menos não tive aquele sonho.

Eu não estava mais nos escombros. Acordei em uma pedra que parecia um altar e ao meu lado havia um lençol branco. Ao redor, era uma espécie de jardim cheio de flores estranhas que emitiam uma luz negra, algumas azuladas, outras meio roxas, outras com várias cores misturadas. O fato é que todas cintilavam.

Eu tentei me levantar e procurar alguém, mas meus joelhos não me sustentaram. E então cai no chão.

— Ai! — Gritei.

— An, Lupus? — Disse uma voz feminina, vinda de trás de uma cortina de flores.

— Não! Na pedra! — Respondi enquanto tentava me levantar outra vez.

— Ho meu Glob! Menino que estava dormindo há décadas é você?

— Caroço! Ele acordou?- Disse outra voz, masculina e meio rouca.

— Ham... Sim, eu acho. Pera aí, décadas? Ai! — Não deu certo, meus joelhos não estavam em boas condições.

Eu não acreditava que alguém tinha me encontrado... Eu estava muito confuso, e feliz de certa forma...

— Aguenta ai dorminhoco. Você dormiu por muito tempo e seus joelhos devem ter atrofiado. — E a voz feminina veio se aproximando.

De repente escuto um barulho de vidro quebrando.

— Mas que caroço! De novo não!— Gritou a menina. Parecia ter derrubado algo.

— A ursa menor de novo? Por que você não troca de lugar, talvez pare de esbarrar. — A voz masculina falou com um uma gargalhada.

— Você sabe que não posso.

— Vocês estão bem?- Perguntei.

— Sim. Desculpe, não acontece sempre. Mas eu esbarrei em uma constelação. Só um segundo.

— Há, acontece sim toda hora. — A voz masculina entregou. — Você é uma desastrada. — Gargalhou.

—Constelação? — Pensei que não tivesse escutado direito.

— É. Mas eu já arrumei. — Disse a menina enquanto passava pelo portal de flores.

Ela era linda. Pele pálida, olhos bem lilás, e um cabelo prateado, diferente de tudo que já tinha visto. Parecia emitir luz. Eu fiquei hipnotizado com tanta beleza...

— Era a ursa menor, eu sempre esbarro nela, mas não posso mudar de lugar. — Disse enquanto limpava a mão na própria camiseta.

— Uau! — Estava em estado de choque. Não tinha certeza do que estava falando, eu só não conseguia parar de olhar. Igual um babão.

— Boa noite, belo adormecido. — Disse ela abrindo o sorriso.

O sorriso só fez eu me perder ainda mais.

— Olá? — A menina se aproximou e passou a mão na frente do meu rosto como se estivesse me acordando de um transe.

— Há, er... Desculpa. Onde estou? Que papo é esse de constelação? Por quanto tempo eu dormi? — Falei tão rápido que quase fiquei sem fôlego.

— Calma, uma pergunta de cada vez. — Disse ela enquanto sorria e me ajudava a sentar na pedra. — Você dormiu, por muito tempo... muito mesmo. Por falar nisso que sono agitado, não parava de murmurar e rolar. Tava tendo um pesadelo?

— Parecia um bebezinho tremendo. Que sonho era esse tinha a ver com queijo? Odeio queijo. — A voz masculina foi se aproximando. Quando de traz da cortina de flores sai uma espécie de cachorro sobre duas patas.

— Talvez, não me lembro... O quê?! Esse cachorro fala? — Eu estava confuso, só podia estar no sonho ainda.

— Você vai entender. Enfim, eu sou a princesa Lua, esse é o lord Lupus, e você está no meu palácio o Jardim das Estrelas.


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