A Eterna Segunda Vida de Alex Tanner escrita por Laís Bohrer


Capítulo 10
Mourning


Notas iniciais do capítulo

Lay*: Nesse capítulo teremos três novos personagens e apenas um deles será familiar a vocês. Eu acho, pelo menos... Eu não sei como eu me sai escrevendo esse personagem, mas tudo bem, acredito que o capítulo tenha ficado bom, eu ia fazê-lo maior, mas desisti e deixei assim mesmo. Ontem mesmo enquanto eu ouvia Breaking Benjamin (Crawl), eu acabei imaginando um final bem bacana para a fanfic, agora é apenas como chegar lá. Mas eu e a Alex vamos nos esforçar para achar o caminho.

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"Alice: Quanto dura o eterno?
Coelho: As vezes apenas um segundo."
— Lewis Carroll



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Luto

Uma vez quando eu tinha dez anos, tive que fazer uma redação para a aula de português. O tema era livre, porém tinha que ser uma ficção. Fiquei um bom tempo olhando para a folha de caderno em branco na minha frente, balançando os pés que mal alcançavam o chão. Até o momento em que eu desistir e pedi ajuda para a minha mãe, ela disse para eu fazer um conto de princesas, mas achei muito normal e repetitivo. Então pedi ajuda ao meu pai, para minha frustração ele disse a mesma coisa.

Eu nem me dei ao trabalho de pedir ideia a Bree, ela não me ajudaria mesmo. Então minha última opção foi Edgar:

– Se você disser para eu fazer um conto de princesas, eu juro que eu vou te bater. – lembro de lhe dizer.

Edgar riu, virando de costas para a tela do computador e girando a caneta no dedo – do jeito que ele sempre fazia quando estava pensando.

Escreva sobre algo que você goste, mas tente mudar alguma coisa. – ele respondeu.

E foi o que eu havia feito.

Dias depois me encontrei de fronte a classe, com o caderno em mãos e minha redação pronta. Eu não me lembro do título, mas me recordo exatamente sobre o que falava. Quando eu disse a turma que havia me baseado em Alice no País das Maravilhas, todos ficaram animados... Até o momento em que comecei a ler. Era uma versão muito distorcida da história real, sobre uma garota chamada Thália que se viu em seu próprio “País das Maravilhas” como ela chamava, a diferença era aparente: Não havia maravilhas no mundo de Thália.

Eu me sentia como Thália, caindo em um buraco frio, vazio e escuro, como se não tivesse fim. Com rostos estranhos aparecendo em minha frente como fantasmas do passado. E quando Thália chegou ao final daquele buraco – finalmente -, ela desejou ter voltado para lá... Eu desejava ter voltado para lá. Eu não queria ter chegado no final do meu abismo.

Certamente eu fiquei atordoada com o método de Charlie para me fazer calar a boca de vez, mas por incrível que pareça funcionou. Quando Liam finalmente desceu da pedra e sacudiu a cabeça em negação, aquele gesto foi suficiente para me fazer entender: Nenhum deles havia sobrevivido.

Eu ainda estava deitada no chão, olhando para cima, para o céu nublado. A voz de Charlie tentando me puxar de volta daquele meu País Nada Maravilhoso, mas ele não conseguiu. Eu ainda estava em choque de modo que Charlie teve que me pegar novamente no colo para que eu saísse do lugar.

Uns minutos depois, estávamos em um campo cheio de flores. Charlie me deitou delicadamente no gramado úmido.

– Eu vou dar uma volta, certo? – disse Liam, até seu tom que normalmente era encharcado de divertimento estava desanimado e deprimido – Procurar algo para... Comer... Beber. Ah, tanto faz.

Então ele mergulhou na floresta, sem dizer mais nada.

Charlie olhou para a direção que Liam havia ido, então sacudiu a cabeça e se sentou na minha frente, me observando como se estivesse prevenindo que eu não fosse sumir, claro... Ir salvar algo que já não pode mais ser salvo.

Eu me sentei lentamente e olhei para ele.

– O que fazemos agora? – eu perguntei.

Charlie desviou o olhar para as flores e depois para mim.

– Desculpe por antes – ele disse ignorando minha pergunta – Eu fiz por impulso.

Demorei a perceber que ele falava sobre o beijo.

– Não se preocupe com isso, você não beija tããão mal assim – eu disse sem ânimo. – Mas se você está arrependido...

– Não estou – ele apressou-se em dizer.

Eu o encarei erguendo as sobrancelhas.

– Quer dizer... – ele começou. – Não é que eu esteja arrependido... Eu... Eu queria te beijar... Eu só...

Eu dei uma risada curta ao vê-lo se embolar com as palavras, apenas assenti.

– Eu entendi. – menti. Na verdade não havia entendido nada, mas tudo bem, não fazia sentido pensar nisso agora. Nosso clã fora destruído, estávamos por conta própria agora.

Ficamos um longo tempo em silêncio apenas encarando o ar como se tivesse algo de muito interessante no mesmo. Perguntei-me se Xavier já sabia, provavelmente sim, na última vez ele parecia tão preocupado.

– Eu só queria ter tido... – eu disse sem pensar. Charlie olhou para mim e eu soube que não podia fingir que não tinha dito nada. – Eu só queria ter tido mais tempo, sabe? Queria ter tido tempo de criar mais laços com eles, de fazer parte da família de verdade.

– Não faz sentido – ele disse – Xavier havia adotado você como da família.

– É... – eu concordei. – Eu nem tive tempo de retribuir isso.

Mais silêncio. Uma corrente fria de ar passou por nós, assobiando em meus ouvidos. Eu olhei para o chão, fechei meu punho e o soquei fazendo um belo estrago no gramado.

– Ei... – Charlie tentou me acalmar.

Eu continuei dando socos no chão, mas a raiva parecia nunca ter fim, aquilo não aliviava em nada. Até que eu percebi isso e desisti de atacar o coitado do chão. Havia terra em minhas unhas, mas eu não ligava.

– Eu prometi – eu disse.

Charlie franziu o cenho.

– O que?

Não respondi.

Seja feliz enquanto pode com sua descoberta, Edgar Volturi. Antes que eu estilhace-a como eles fizeram com Bree.

Eu me ergui do chão, batendo minhas mãos uma nas outra para livrar-me da terra úmida que colava nelas. Olhei para o nada furiosamente, como se Edgar estivesse ali, sorrindo para mim com seu estúpido tom sereno de voz. Entrando na minha mente. Oferecendo-me uma vida ao seu lado... Eu não estava arrependida de ter recusado.

– Eu vou acabar com eles, Charles – eu disse sem olhar para ele, minha voz calma e sonhadora como a de Edgar – Eu vou destruir os Volturi, um por um ou todos de uma vez só... E eu vou deixar Aro por último.

– Alex... – ele chamou quase como um sussurro.

Fiquei um longo tempo olhando para o nada, quando Charlie chama meu nome novamente, dessa vez em um grito. Eu estava tão cega pelo ódio que não tinha notado antes, se não fosse por Charlie, eles já teriam arrancado minha cabeça. Charlie me empurrou para o chão.

Levantamos-nos na mesma velocidade que fomos a terra. Um forte cheiro de cachorro molhado agitou o meu olfato aguçado e lá estavam eles. Não eram nada parecidos com os lobos esculpidos na lareira da mansão Foster. Aqueles lobos eram bem maiores. Eram apenas dois deles, exibindo seus dentes e nem hesitando ao tentar arrancar nossa cabeça. Nós pulamos, corremos, desviamos até o momento em que Charlie me segura pela cintura e estamos em um dos galhos mais altos de um pinheiro, ainda a vista dos lobos.

– Que droga é essa? – eu perguntei.

– Não são eles... – disse Charlie franzindo a testa.

– Eles quem? – eu exigi.

Ali de cima eu já podia ver melhor os nossos dois amigos peludos lá em baixo. O primeiro tinha pelagem marrom e bem escura, quase um preto. Seus olhos eram da mesma cor. O segundo era mais claro, como o cabelo do Liam.

– Tá explicado o cheiro de cachorro... – eu disse.

Charlie olhou para mim, finalmente dando-me sua atenção.

– Isso foi grosseiro. – ele disse.

Revirei os olhos, nesse momento uma nova voz surgiu.

– Twill, Spencer! – gritou ele.

– Cuidado! – eu gritei.

Mas o carinha novo me ignorou totalmente, se aproximando dos lobos como se fossem cachorrinhos problemáticos latindo para os vizinhos. Ele tinha o cabelo preto e encharcado pela chuva, bronzeado, seus olhos eram escuros. Uma pequena profundidade acima dos altos planos de suas maçãs do rosto. Ele tinha apenas um arredondamento infantil em torno de seu queixo. Vestia apenas uma bermuda escura. Ele era bem bonito, mas exalava o mesmo cheiro de cachorro molhado que os outros lobinhos “simpáticos” abaixo de nós.

Então para meu espanto, os dois lobos recuaram ao seu chamado.

Charlie revirou os olhos e me puxou junto ao mesmo tempo em que ele pousava no chão.

– Ei! – só deu-me tempo de dizer.

Os dois lobinhos chamados Twill e Spencer – eu não sabia qual era qual... – exibiram seus dentes afiados para nós.

– Acalmem-se crianças – zombou o garoto voltando-se para nós. – Charles Foster e companhia, porque isso não é um prazer?

– Jacob... – disse Charlie sem expressão.

Mais silêncio.

– O que faz aqui? – perguntou o cara chamado Jacob. – Está fora dos seus limites.

– Não, você é que está fora de seu canil – disse Charlie friamente. – Pode pedir para os seus cães de caça pararem de cheirar a minha amiga aqui?

Ah, sobre isso. Era verdade. Eu tentava me manter imóvel enquanto os lobos procuravam algo de incomum em mim, me cutucando com seus grandes focinhos.

Jacob olhou para mim, divertido e riu.

– Twill, Spencer... Melhor vocês começarem a se preocupar com vocês mesmos ou vão dormir do lado de fora hoje. – zombou Jacob.

Os lobos rosnaram para Jacob em indignação, mas o mesmo não parecia estar com nem um pingo de medo.

Jacob apenas riu.

Eu olhei curiosamente para ele, e ele percebeu e parou de rir.

– Perdeu o olho, garota? – ele provocou.

Eu poderia ter dado mil respostas irônicas e grosseiras. Já recebi aquele tipo de pergunta várias vezes e sempre saia ganhando de uma discussão causada por ela. Mas eu simplesmente me contentei em perguntar.

– Porque você tem cheiro de cachorro molhado? – eu perguntei.

– Não sei, já tentou pentear o cabelo? – ele retrucou.

– Isso não vai trazer eles de volta, vai? – eu resmunguei.

– O que? – ele exigiu.

– Nada – vociferei.

Charlie me puxou para trás.

– Jacob faz parte de uma alcatéia de lobos, é uma longa e chata história – ele disse impaciente.

– Lobos? – eu repeti irônica – Ótimo. Vampiros, lobos... Qual é o próximo? Mula sem cabeça? Fada do Dente? Papai Noel?

Eu tive quase certeza de ver um quase sorriso se formar no canto dos lábios de Jacob, isso me fez pensar que talvez ele pudesse ter ao menos um pouco de senso de humor.

– Twill e Spencer são novatos – disse Jacob – Estão com um pequeno problema com a transformação...

Os lobos rosnaram irritados com a tentativa falha de Jacob de segurar um riso, como se aquilo fosse muito engraçado.

– Mas novatos. – disse ele.

– Legal, sabe o que seria mais legal? – perguntou Charlie. – Se isso interessasse a alguém aqui.

Eu comecei a rir.

– Não conseguem voltar à forma humana? – eu perguntei nem me forçando a segurar o riso. – Devem estar em pânico...

Eu estava rindo como uma retardada, até que encontrei o olhar de Charlie e fiquei séria novamente.

– Ah, quer dizer... – eu comecei constrangida – Olha! Um passarinho azul.

– Essa é a minha amiga, Alex... Ela é nova no clã – explicou Charlie.

– Amiga, é? – disse Jacob olhando para nos de modo suspeito. Seu olhar estava exatamente no braço de Charlie, que ainda estava ao redor da minha cintura. Seu braço escorregou no mesmo instante em que ele reparou que ele ainda estava ali.

Os lobos se alarmaram e Liam apareceu ao meu lado.

– Ei, galera – ele disse. – Olhem o que eu achei!

Ele exibia três esquilos mortos, segurando-os pelo cabo. Ele tinha um pequeno sorriso no rosto, mas quando vou os lobos rosnando para ele e Jacob, ele ficou sério.

– Vocês de novo – disse Liam desanimado.

– Perfeito – disse Jacob – Onde está o resto da festa?

– Queimando nas ruínas da mansão Foster – eu respondi secamente.

Mais uma vez, o silêncio cortante resolveu surgir entre nós. Jacob me encarava curiosamente, como se estivesse procurando algum sinal de sarcasmo em minha voz.

Liam assobiou e olhou para o céu.

– Olha! Um passarinho azul. – ele disse constrangido.

– Já usei essa, cara – eu disse para ele.

– Amarelo. Passarinho amarelo – corrigiu Liam.

– Os Volturi – concluiu Jacob, como ele sabia... Eu não sei.

Charlie abaixou a cabeça, fechando as mãos em punhos.

– Charlie... – eu tentei chamá-lo, mas ele me ignorou.

Jacob e Charlie pareciam ter uma rivalidade, mas Jacob parecia compreender que aquele momento não seria dirigido para brigas idiotas entre dois lados. O passado dos Foster com aqueles lobos eu não sabia, mas parecia ter sido algo realmente sério.

Eu coloquei a mão no ombro de Charlie.

– Eu vou destruí-los, ok? – eu disse. – Eu tenho que...

Charlie sacudiu a cabeça.

– Você não pode. – ele disse. – Não sozinha. Viu o que eles podem fazer.

Eu recuei.

– Vi... - eu disse. - Eu vi que eles fizeram a cabeça do meu irmão. Vi que eles destruíram minha família duas vezes. Vi eles arrancando a cabeça de Bree como se ela fosse só... Uma boneca de porcelana. Não espere que eu fique bem com isso, Charlie.

Ele não respondeu e nem olhou para mim.

– Vocês deviam ir atrás dos Cullen – disse Jacob de repente – Eu os levo até lá. O velhote da cadeira não é... Era amiguinho dos Cullen?

– Não precisamos da sua... – começou Charlie.

– Eu agradeceria – disse Liam dando um passo a frente e jogando seus três esquilos em seu ombros. – Aliás, nós. Não temos ideia de onde eles moram mesmo, então...

Jacob assentiu fazendo um gesto para os dois lobos que hesitaram, mas no final, eles deram a volta e com u último uivo desapareceram entre as árvores.

Jacob se virou para nós.

– Vamos, se vocês puderem acompanhar o meu ritmo.


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Notas finais do capítulo

Spencer e Twill são realmente novatos na alcateia e são originais como imaginado. Nesse capítulo é que a Alex começa a mudar, no momento em que ela prometeu destruir os Volturi, inicialmente esse era seu objetivo, mesmo que isso inclua destruir Edgar, pois quando ele se uniu aos Volturi ela o viu como um traidor.
Espero que tenham gostado!
Beijos Azuis e Vampirescos.



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