Fallacy - Pride escrita por Luiza Martz


Capítulo 14
Problema em Dobro




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– So if you love me let me go, and run away before I know, my heart is just too dark to care, I can't destroy what isn't there...
Aquela voz fina e completamente desafinada definitivamente não pertencia ao Corey Taylor, vocalista do Slipknot.
Completamente anestesiado de sono, automaticamente um pensamento preencheu as lacunas da falta de consciência. Deliver me into my Fate, if I'm alone I cannot hate... Quando aquela música invadia meu subconsciente, eu demorava dias para conseguir tirar. Mas, a letra e a melodia inconfundível de Snuff não foi o que me fez acordar de péssimo humor. Afinal, era impossível que aquela música tão maravilhosa me incomodasse ou provocasse alguma coisa negativa em mim. Mas isso quando cantada pela banda. Não quando Hillary decidia espantar os males de seu espírito, fazendo todos ao seu redor sofrerem.
– Oh, my smile was taken long ago, if I can change I hope I never know! - Ela literalmente berrou, tentando entrar no tom.
Quase surdo, eu enterrei a almofada em minha cabeça. Não interessa o quanto fosse bela. Não tinha um pingo de afinação.
– Desça do palco, o show acabou! - Eu berrei. Mal sabia onde Hillary estava.
– Venha aqui agora! - A voz dela ecoou em minha mente. Rezei para que tivesse parado de estragar a música.
Por que diabos eu não podia ter ficado quieto? Ah sim, porque ela ia estourar meus malditos tímpanos.
Com a aversão estampada na minha expressão e impaciência, eu levantei. Meus dentes estavam trincados. Eu implorava para dormir pelo menos uma hora a mais. Como se Hillary fosse se importar com minha fadiga. Arremessei o travesseiro na cama com pena, quase como se estivesse vendo o amor da minha vida pela última vez. Por um segundo, eu achei que meus olhos se encheram de lágrimas. Pura impressão, obviamente. Logo depois, vi minha camisa no pé da cama, largada. Como um ser humano podia acordar e só depois perceber que estava sem camiseta? Eu começava a considerar a teoria de que a cantoria de Hillary havia me causado algum dano cerebral muito, muito sério.
Eu coloquei a peça branca em meu ombro e comecei a andar em direção à sala. Minha calça jeans larga estava caindo, e provavelmente metade da minha cueca estava de fora. Meus passos lentos e desatentos logo denunciaram o estado deplorável que eu me encontrava. Meu cabelo provavelmente devia estar parecendo um ninho. Voltar para a cama seria desnecessário; eu jamais conseguiria pegar no sono outra vez depois do trauma que Hillary me causara. Eu realmente poderia morrer sem ter ouvido aquilo.
Quando estrei no campo de visão de Hillary, – sentada no sofá, e para a minha surpresa com um fone de ouvido – rapidamente ela ficou sem expressão. Sua boca se abriu ligeiramente e suas sobrancelhas subiram. Os olhos fortemente azuis acompanharam a linha do meu corpo, dos pés até a cabeça. Devo ter corado, completamente lisonjeado. Conseguir fazer uma garota orgulhosa como ela perder o olhar em mim era uma tarefa relativamente impossível.
– Eu sei que olhar não tira pedaço, mas eu deixo você tirar se quiser... - Entonei galantemente. Ela riu baixo.
– Uma barriga definida não é nada demais. - Ela tratou indiferentemente.
– Tem razão. Uma barriga definida, não. Mas a minha é. - Ela sorriu.
– Muito bem Conquistador, estamos sem tempo para jogos. Eu quero te mostrar uma coisa.
– Claro... O que é? - Perguntei, me aproximando.
– Eu achei meu celular! - Ela irradiou de alegria.
Bufei.
– Do que adianta? Não tem sinal. - Respondi, apático.
– E daí? É o meu celular! Está com músicas, fotos, jogos, e sabe-se lá mais o que!
Hillary ergueu para mim um Iphone preto com alguns arranhões na tela. Para falar a verdade, o que mais me alegrou naquela manhã foi ver aquele sorriso sincero e os olhos brilhando de felicidade, tão inocentes. O humor dela estava tão bom que não se importou com o fato do aparelho ser inútil para nós. E, francamente, eu adorava quando Hillary ficava doce e gentil daquela maneira.
Eu me sentei ao seu lado e dei um beijo leve em sua bochecha. Depois, ela envolveu o celular em minhas mãos, quase como se estivesse pedindo para que eu olhasse o conteúdo. E foi o que eu fiz. Primeiramente vi as fotos dela; a grande maioria com o namorado - e a cada dia que se passava ele parecia mais feio para mim, incrível. Depois, Hillary me mostrou alguns vídeos dela. Quando olhei as músicas, me surpreendi verdadeiramente. Apenas clássicos do Metal. Minhas bandas favoritas estavam lá. Sorri, descrente. Que surpresa agradável.
Depois, tomei a liberdade de ler as mensagens. Curiosamente, encontrei ali coisas que me chamaram atenção ao mesmo tempo que surpreenderam.
– “Amiga, eu vi a cobertura do evento! Não a-c-r-e-d-i-t-o que você deixou aquele loiro maravilhoso sem saber o que dizer!” - Li em voz alta, com um falsete estranho feminino. Hillary riu. - De Ali.
– O nome dela é Alice. Ela é meio estranha e histérica, mas é minha amiga... - Disse Hillary, em um tom deprimido. Eu ri.
– “Eu entendi bem?! Você conheceu o próprio Matlock? Ele deve ter caído aos seus pés, não é vadia?” - Li mais uma. Ela riu mais. - De Tiff. Essa parece ser um pouco mais...
– Tiff é mais... Alegre. - Ela puxou o cabelo negro para trás.
– Hm... Essa é interessante. “Eu não quero ver aquele cara te olhando mais uma vez, Hillary. Todo mundo sabe como ele é, e eu não o quero perto de você. Eu não confio nele. Não me interessa se ele é o sr. O-Mundo-É-Meu, eu acabo com ele se te dirigir a palavra mais uma vez. ” De Johnny. Muito sutil. - Ironizei.
– Achei que já estivesse acostumado com a ideia... - Ela tirou o aparelho da minha mão, um tanto embaraçada.
– Está tudo bem. Ele é seu ex.
Ela me encarou, em uma expressão que não consegui decifrar.
– Eu não terminei com ele ainda... - Ela disse.
– Mas começou comigo.
– Ah, então você está tornando as coisas oficiais?
– Se é assim que gosta de pensar, sim. Somos oficialmente um casal.
– Ahn... Tipo namorado e namorada? - Ela perguntou, ainda sem entender muito bem.
– Um casal de gêmeos obviamente não somos. - Eu sorri. - Você não quer que eu peça, quer? Isso é meio ultrapassado e constrangedor.
– Tem razão... - Ela fitou o nada por um segundo, pensativa. - Haha, que merda.
– Que foi?
– Eu sou a nova namorada de David Matlock. Puta que pariu.
Nós rimos alto, antes de nos beijamos com intensidade para selar nosso compromisso. Um beijo da maneira que ela tanto gostava: lento, provocante e teatral. O tipo de toque que colocava a curiosa simetria que Hillary e eu tínhamos em evidência. Depois, ela sorriu, ainda de olhos fechados. E quando abriu, estavam brilhando intensamente. Simplesmente perfeita.
– Já sei... Vamos tirar uma foto!
Hillary ativou a câmera frontal do Iphone de modo que tivesse nós dois como foco. Ela encostou seu corpo ao meu e deitou sua cabeça em meu ombro suavemente, com um sorriso aberto e encantador. Eu, por outro lado, juntei meus lábios arqueados em algo que misturava sarcasmo com humor. Uni minhas sobrancelhas, tentando dar a mim mesmo um tom meigo-idiota. Então, ela bateu a foto, e rapidamente me mostrou.
Ela era a garota deslumbrante. E eu, era o babaca que não sabia o que fazer ao lado da garota deslumbrante. Essa era a definição justa.
Hillary riu baixo, de forma agradável.
– Eu gostei.
– Claro. Você está linda. E eu com cara de imbecil. - Resmunguei.
– Essa é sua cara o tempo todo, Dave. - Ela riu.
– Obrigado, Hill.
Seus olhos em um instante passaram do amor para o ódio, quase como se uma nuvem de raiva tivesse tomado conta de sua mente.
– Meu nome é Hillary.
– Por que não gosta que eu te chame de Hill?
– Porque “Hill” me lembra “Inferno”. E acho isso tremendamente sarcástico vindo de você. Pode por favor me chamar pelo meu nome?
– Óbvio que te lembra inferno, gata. Você é tão quente que só poderia ter saído de um lugar.
Mordi o lábio inferior, unindo minhas sobrancelhas na tentativa frustrada de fazer Hillary rir. No início, ela continuou séria e impenetrável, mas a minha expressão encantadora foi demais, até mesmo para o coração de pedra dela. Logo, minha linda namorada abriu um sorriso largo e feliz, e puxou o cabelo negro para trás, balançando a cabeça de forma negativa. Ela definitivamente me achava um idiota. Mas, era justamente isso que ela amava em mim.
– David?
Não foi Hillary que me chamou. Tanto que, quando ouviu a voz provocante pronunciar meu nome, seu foco saiu de meus olhos para algo que parecia estar atrás de mim. O sorriso dela cessou em um segundo. Não era necessário mais nada para saber de quem se tratava.
Claire estava com o cabelo loiro radiante preso no alto da cabeça em um rabo de cavalo, mas a franja continuava meio puxada para o lado direito. A parte que me preocupou foi o fato de que ela estava usando apenas a peça de couro que equivaleria a um sutiã, e o short curto que ficava por baixo da saia. Estava ofegante e sorrindo. O suor escorria pelo seu colo e caía no vão entre seus seios. Os olhos estavam completamente violetas naquela manhã; brilhando como um espelho que refletia o Sol. Sua barriga – que mais uma vez me chamou atenção pelas linhas suaves e delicadas – estava na altura de meu rosto. Não pude deixar de reparar um hematoma enorme em sua costela, com pequenos arranhões e pedaços da pele esfolados. E imediatamente, como se soubesse que eu tinha o machucado como foco, ela levou sua mão esquerda até lá, cobrindo-o.
– Eu selei os cavalos. É o jeito mais rápido e seguro de chegar à Aldeia. - disse Claire.
– Eu odeio cavalos. Não vou montar um nem em um milhão de anos. - Hillary resmungou, relutando. Claire sorriu de forma malandra.
– É, geralmente as pessoas gostam de coisas que podem fazer bem, não é?
Minha gargalhada quase escapou. Hillary por outro lado, bufou.
– Eu também não sei montar, Claire. Seria mais fácil ir à pé.
– Não posso ir andando até lá, Dave. E não se preocupe com sua montaria; não estou em condições de fazer isso sozinha. Eu ajudo você.
Uma única dúvida surgiu: Hillary ia matar Claire naquele momento ou deixar para depois?
– David te contou as novidades, Claire? Estamos namorando oficialmente agora! - Ela irradiou, de forma no mínimo irônica, segurando meu braço. Sorri, meio sem jeito.
Claire abriu um sorriso largo e aparentemente verdadeiro. Se ela não podia enganar a mim, definitivamente Hillary também não acreditaria.
– Parabéns aos dois! Dave me disse ontem à noite enquanto conversávamos sozinhos – ela enfatizou – que ele realmente gosta muito de você! Isso não é surpresa.
Hillary virou a cabeça de modo lento e dramático. Quando seus olhos encontraram os meus, estavam vermelhos como sangue. Mas assim permaneceram por apenas três segundos. O ódio que tinha tomado seu corpo quase fez com que perdesse o controle, mas ela ainda podia ser a garota mais fria que eu já conhecia. Por sorte, o pouco tempo que denunciaria o lobisomem de Hillary não foi suficiente para ser notado por Claire.
– Espero vocês dois lá em baixo. Não demorem.
Hillary se levantou e caminhou até a porta. Depois, saiu sem bater. Eu tinha medo de quando ela agia dessa maneira indecifrável.
Claire sorriu, visivelmente satisfeita, olhando para a entrada.
– Como eu disse, histérica e temperamental. Não vai com a minha cara. - Ela comentou, como se fosse um pensamento alto.
– Disse a Santa. - Ironizei. - Você bem que provoca, Mackenzie.
– Se ela me tratasse bem, juro que faria diferente. Eu sou legal com você, não sou?
– Você é bonita demais para ser legal comigo, Claire. Hillary sabe disso.
– Eu sei que sou bonita, mas ela também não é de se jogar fora, isso é incontestável. Até eu admito. Devia confiar mais nela mesma. Gente com autoestima baixa me cansa.
– Claire, a autoestima dela é mais alta que a sua. - Ela arregalou os olhos, surpresa. - Ela apenas saiu daqui porque é madura o suficiente para evitar uma briga. E ela confia em mim, e nela mesma. Se fosse diferente, teria ficado.
– Ah, mas você quis me beijar ontem a noite. - Ela mordeu o lábio inferior.
Sorri, incrédulo.
– Você tem que provocar tanto? É necessidade?
– Muito bem, eu vou parar com meus jogos. Prometo tentar ser mais agradável com ela. - O sarcasmo estava claramente presente.
– Claire, é sério... Ela vai perder a paciência. Pode contribuir? Por mim.
– Ok, Matlock. Você ganhou dessa vez. Eu vou tentar, de verdade.
Uma coisa me irritava profundamente nela. Mas, tecnicamente, a própria Claire não tinha nada a ver com o que me preocupava. O jeito provocante dela me tentava e ela tinha conhecimento do fato. Mas, eu me sentia mal quando eu tinha aquele tipo de diálogo com ela, e segundos depois eu achava que eram apenas palavras puras, e sem significado. Não era que ela não fosse tentar de verdade. Mas era que isso não deixaria menos inseguro na sua frente, e mesmo que ela se tornasse melhor amiga de Hillary, eu ia continuar com a mesma vontade louca de fazer com que ela fosse minha.
Claire puxou o ar entre os dentes e levou a mão mais uma vez ao hematoma em suas costelas.
– Você tem que proteger isso. - Eu pronunciei, apontando a ferida.
– Eu mal consigo passar a atadura por volta do corpo, Dave. Dói demais, e está me limitando.
Eu juro que pensei antes de falar:
– Posso ajudar você. Venha.
Me levantei, e acompanhado por Claire, fui até o outro quarto, procurando pela atadura. No silêncio da manhã, nossos passos me assustaram por um breve segundo. Ainda mais por pensar que não era Hillary que estava comigo.
O rolo de gaze, o algodão e uma pomada cicatrizante - que Hillary roubara do kit médico do avião - estavam em cima de uma mesinha de bambu que ficava ao pé da cama. Quanto toquei o tecido poroso e flexível da bandagem, por um segundo, me perguntei que diabos eu achava que estava fazendo. Brincando com fogo mais uma vez, obviamente. Sozinho com Claire, no quarto, completamente vulnerável. Mas ainda assim, eu ia passar o curativo por volta de sua cintura. Às vezes eu não conseguia distinguir o que contava mais nessas situações: minha carne fraca ou meu cérebro desprovido de inteligência.
Quando me virei para Claire com os medicamentos, ela levantou os braços, rindo, e esticando as costelas para mim. Respirei fundo, mais uma vez. Eu realmente cheguei a desejar boa sorte a mim mesmo.
Eu passei a pomada na ponta do dedo indicador, em com toda a suavidade do mundo, coloquei em sua costela. Claire se encolheu com a dor que meu toque leve causou, mas não hesitou. Espalhei-a, com movimentos circulares. Meus dedos ficaram atolados no medicamento. Quando dei por mim, as pontas não eram mais o suficiente. Devagar, a minha área de contato com o corpo dela ia aumentando. Meus dedos deslizaram por sua pele macia até que a palma da minha mão tocou sua barriga. Claire passou a fitar meus olhos com intensidade naquele momento. Evitei olhar para seu rosto. Só não pude definir se para impedir que algo demais acontecesse ou por causa da concentração no toque suave em seu corpo.
Minha mão esquerda perdeu a movimentação, e desceu por sua lateral até a altura do quadril de Claire, fazendo o desenho de seu corpo impecável. Depois, eu coloquei o algodão no ferimento, para que a pomada não saísse. Novamente, ela puxou o ar entre os dentes.
Desenrolei a gaze. Comecei colocando uma das pontas da atadura sobre o ferimento com a mão esquerda, e com a direita, fui passeando suavemente por sua barriga, fazendo o caminho com a bandagem. Em nenhum momento, permiti que perdêssemos contato corpo a corpo. Claire nem mesmo se movia. E, quando fui passar por suas costas, tive que abraçá-la para alcançar o outro lado da gaze, dando mais uma volta. A parte da frente de nossos corpos se tocou completamente quando fiz isso. Senti que ela se arrepiou ligeiramente com minha respiração em seu pescoço. Mas, logo aquela tortura – que ao mesmo tempo era tão prazerosa – acabou. A atadura se sustentou com dois pequenos ganchos de ferro. Eu sorri, aliviado, mesmo que parte de mim não quisesse que aquilo tivesse acabado.
– Acho que já podemos descer. - Pronunciei, vulnerável.
– É... Vamos logo.
Claire e eu descemos então. Para o bem dos dois, evitamos até contato visual.

Hillary continuava impaciente com o animais, já completamente preparados. Claire desceu as escadas saltitante, e seguindo alguns metros à minha frente. Apenas parou quando estava prestes a montar.
– Posso ir com você, Dave? - Claire perguntou.
– Você é uma amazona. Pode cavalgar sozinha, Claire. - Disse Hillary.
– Não com esses ferimentos.
– Você pode ir com Hillary também, Claire.
Elas se encaram com nojo por um breve segundo com meu comentário, olhando dos pés a cabeça. Além de inoportuno, era completamente em vão.
– Tudo bem David, pode ir com ela. Apenas vamos logo.
Era óbvio que estava fazendo aquilo para evitar mais confusão. Hillary claramente não queria que eu fosse com Claire, mas era orgulhosa demais para demonstrar. Mas, deixou isso evidente quando, como se fosse profissional, colocou o pé no estribo do cavalo marrom e em apenas um impulso, montou com perfeição. Uma batida leve de seus calcanhares foi o suficiente para fazer o animal trotar rapidamente para bem longe de nós dois. Quando fez aquilo, eu duvidei muito que não soubesse montar.
Claire sorriu, me convidando para montar primeiro. E foi exatamente o que eu fiz; talvez sem a mesma graça de Hillary ou da própria loira que veio logo atrás de mim. Quando se sentou em minhas costas, passou as mãos no vão entre meu tronco e meus braços, e pegou a rédea. Fez com que meus dedos envolvessem o pedaço de couro completamente, puxando-o para trás e fazendo o enorme animal se virar com nós dois, pronto para partir. Depois, com a batida leve de seu pé, o fez andar com os passos lentos que aos poucos foram ganhando ritmo de marcha. Ela soltou as rédeas devagar, me deixando pegar o controle.
E suas mãos desceram e alisaram minha perna delicadamente.
– Vai me desconcentrar... - Eu sussurrei. Ela riu baixo.
– Mantenha os olhos no caminho e me esqueça, ora bolas. É fácil.
– Ah, claro.
Claire me envolveu em um abraço, se segurando em mim pela minha barriga. Mas, mesmo quando eu achei que poderia ser inocente, não foi. Seus dedos levantaram minha camisa e tocaram os músculos do meu abdômen, curiosos. Ela fez um barulho provocante, com o fundo da garganta.
– Que gracinha... Tudo definidinho. - Ela comentou baixo, em meu ouvido.
– Isso é tentativa de estupro. - Ela riu. - Pode parar, por gentileza? Eu estou começando agora!
– Por que você pode tocar a minha e eu não posso tocar a sua?
Sorri, incrédulo.
– Eu estava ajudando você.
– E eu não estou fazendo nada demais, pelo amor de Deus.
– Ok Claire, pode por favor permanecer quieta até chegarmos a tal Aldeia?
Ela bufou.
– Você é muito sem graça.
Sobre as amazonas, eu honestamente não me via muito preocupado. Provavelmente eram mulheres lindas e provocantes, mas eu não achava que isso fosse ser um grande problema. Eu nunca poderia encontrar nenhuma mulher mais bonita que Hillary ou Claire. E, se eu estava com uma, e resistindo fielmente a outra, nada poderia me tirar da linha.
Um pouco à frente de nós, encontramos Hillary. Não trocamos uma palavra durante todo o caminho. A única coisa que ouvimos por um belo tempo foi o barulho dos cascos dos cavalos no solo.

Puxamos as rédeas quando avistamos, completamente perplexos. Tinha um muro alto de toras de madeira pontudas, com tochas presas em estruturas de metal enterradas no chão, e apenas uma entrada sem portões. Uma abertura enorme de talvez três metros de altura e quatro de largura, separando a floresta da Aldeia. Havia feno no chão da entrada, exatamente como na época da Inglaterra Medieval. O tamanho era notável. Um arrepio passou feito um choque pelo meu corpo. Claire suspirou, completamente atraída por sua antiga sociedade.
– Estão sem guardas na entrada hoje. Temos sorte, mas temos que ser discretos. Acreditem em mim, vocês não querem chamar a atenção delas. Principalmente você, Dave. Não deixem que dirijam a palavra a você.
– São perigosas? - Hillary perguntou.
– Demais. Tenham cuidado.
– Vamos logo, Claire. Eu não posso esperar mais um segundo para entrar. - Eu disse, animado.
Claire desceu do cavalo com um pulo, e pegou o rumo em nossas frentes. Hillary e eu seguimos seu movimento, prendendo as rédeas em troncos de árvores antes de partir para a Aldeia. Assustada, ela segurou minha mão com força. Estava gelada. Tremia e suava frio, nervosa. Não adiantava tentar acalmá-la. Não sabia o que esperar dali em diante.
Eu, por outro lado, não podia esperar para descobrir.


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