Fallacy - Pride escrita por Luiza Martz


Capítulo 13
Mackenzie




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– Você... Vai se sentar ou... Prefere ficar de pé, me encarando? - Ela debochou, rindo. Logo, me peguei com um largo sorriso estampado no rosto.
– Ah, sim, claro! - Eu passei a mão no cabelo, e devagar me senti ao lado dela, bem na ponta do sofá. - Ahn, me desculpe... Você me lembra uma pessoa.
– Desde que não seja a Hayden... - Ela sorriu.
Eu franzi o cenho e apontei com o polegar para o quarto onde “Hayden” estava. Mais uma vez, minha boca automaticamente deixou meus dentes fazerem um trabalho convidativo e prazeroso à amazona.
– Você quer dizer “Hillary”, não?
– Ah, tanto faz. - Ela puxou o cabelo loiro radiante para trás, e ele caiu pelo lado em uma franja perfeita. - Devia ficar feliz por eu saber que você é o David.
– Mas eu sou fácil de agradar. Ela não. - Sorri. - E devia se preocupar com isso.
– Mas eu não faço questão de agradar ninguém. E cá entre nós, eu não diria que ela gostou muito de mim.
– Relaxe, ela não gosta nem de mim. - Nós rimos.
Claire se recostou no sofá, me mostrando que estava perfeitamente à vontade comigo. Eu, por outro lado, não conseguia confiar tanto em mim mesmo. Eu preferia manter alguma distância e descartar qualquer tipo de risco.
– Mas voltando ao primeiro ponto, quem é a pessoa que eu te lembro?
Mais uma vez sorri, com a boca ligeiramente aberta. Era o exato tipo de sorriso que fazia um coração derreter.
– Na verdade, você me lembra minha mãe.
O canto da boca de Claire se arqueou, e seus olhos brilharam. Depois, ela apoiou o cotovelo no braço do sofá e sua mão passou por sua nuca, bem próxima a raiz de seu cabelo.
– Não deve ser uma comparação justa. Apostaria que ela é muito melhor que eu. - Ela sorriu. - Onde ela está?
– Em um lugar melhor, olhando por mim. - Suspirei. Claire hesitou.
– E-eu... Sinto muito, eu não...
– Está tudo bem. - Eu interrompi. - Já faz muito tempo.
– E o que viu em mim que te fez lembrar dela? - Ela perguntou.
– Vocês duas são lindas.
Ela sorriu mais. Daquela vez, com os olhos brilhando.
– Você é um amor, sabia?
Ela era inexplicável. O sorriso dela quase emitia luz própria, e conseguia me aquecer em meio todo aquele frio. Claire era maravilhosa. Ela tinha um charme próprio que me fazia lembrar eu mesmo. O modo com que falava, que respirava, e as piadas descontraídas que me faziam sorrir sem conseguir me controlar. Para piorar, eu sabia que poderia acontecer alguma coisa naquele exato segundo. E eu não tinha confiança o suficiente em mim mesmo para saber se eu ia conseguir frear ou não.
– Mas então... Vai me dizer o que aconteceu ou não?
Ela desviou o olhar e abriu a boca, esperando que as palavras saísse.
– Ahn... Na verdade, eu não tenho permissão para falar muita coisa. Mas, digamos que a atual Líder é uma vadia autoritária, e para piorar, não sabe controlar a Aldeia. Ela faz coisas terríveis para manter as garotas fortalecidas, e não tem limite algum. Eu me opus à liderança dela e suas práticas malignas, tentando mudar o que está acontecendo lá dentro. Mas a cachorra, mesmo perdendo para mim em uma luta justa, obrigou cinco amazonas me espancarem e me jogarem para fora da Aldeia, exilada. Ela queria me matar, mas sabia que isso só ia piorar as coisas.
Arregalei os olhos, claramente chocado. Era brincadeira, não era?
– Você só pode estar me sacaneando... - Ela riu.
– É verdade! Os ferimentos são disso, não dos dinossauros. - Ela apontou para os cortes e hematomas. - Ah, e a propósito, eu não tive a oportunidade de agradecer a você por ter salvo minha vida.
Eu ri com ironia.
– Depois disso, eu estou começando a duvidar que eu tenha feito isso. Se eles te mordessem, provavelmente iam quebrar os dentes. Você deve ser de aço, ou algo do tipo. - Nós rimos.
– Eu sou mais humana do que pareço. - Ela sorriu. - Mas de qualquer modo, obrigada Dave. Um dia eu vou retribuir, pode ter certeza.
– Não precisa agradecer, Claire. Provavelmente você não teria feito diferente por mim.
– É... Mas a Hillary teria me deixado morrer. - Nós rimos alto.
– Provavelmente.
Claire, um pouco mais à vontade, se aproximou um pouco mais de mim. Mas ainda assim, encarar aqueles olhos alucinantes não me deixavam perceber a maldade que podiam conter.
Resolvi testar minha sorte – o que eu realmente não acreditava possuir. Se ela tivesse vinte e três anos, aquilo seria uma problema. Mulheres com essa idade, com o rosto e o corpo como os dela são sempre um problema para mim. Ainda mais se elas gostarem de homens dois anos mais velho.
– Se importa se eu deixar essa conversa um pouco mais pessoal? - Eu perguntei.
– De modo algum. Eu adoraria conhecer você melhor.
Se aquilo foi sorte ou azar, eu honestamente não consegui distinguir.
– Quantos anos tem, Claire?
– Fiz vinte e três dois meses atrás.
Por que eu tinha a impressão de que já eu sabia?
– E... Você tem algum namorado, uma amizade colorida ou algo do tipo?
Ela riu do jeito mais meigo possível.
– Meu último namorado me trouxe problemas sérios... Então, não. Eu estou solteira.
Eu juro que xingaria baixo se ela não fosse escutar o meu desespero.
– Mas, e quanto a você, sr. Matlock?
– Eu o que, meu Deus? - Claire riu baixo.
– Você e a tal Hillary... Como é que isso funciona?
Passei a mão por meu rosto, pensando.
– Nós estamos meio juntos sim. Digo, começamos a não muito tempo, mas acho que temos uma coisa legal. Não é oficial nem sério ainda, mas eu realmente estou me apaixonando por ela...
– É, eu acho que entendi isso. Mas, eu estou mais interessada em saber do David Matlock de outros relacionamentos, para falar a verdade. - Ela sorriu. - Eu senti algo em você. Não sei se é bom ou ruim.
Sorri, incrédulo. Que belo modo de começar.
– Ahn... Do que eu tenho cara? - Perguntei.
– Hm... Dificuldade de se prender. Falta de compromisso, irresponsabilidade e não leva nada a sério.
Arregalei os olhos mais uma vez, assombrado.
– Não me diga que você é o diabo e veio para me levar para o inferno! - Claire gargalhou.
– Acertei, não foi?
– Você não precisa saber desse meu lado agora, Claire. Não precisa começar a me achar um estúpido tão cedo.
Ela sorriu com uma ponta leve de ironia. Mais uma vez, as covinhas me deixaram maravilhado.
– Dave, homens tão bonitos não costumam ser inteligentes. E acho que você me ganhou quando eu descobri que você sai desse padrão.
“Respira fundo, Dave” foi o que eu escutei minha consciência dizer. Mas, daquela vez realmente foi difícil. Eu não estava preparado para uma garota como ela. Melhor dizendo, não estava preparado para resistir a uma garota como ela.
– Tem certeza de que você quer saber? - Perguntei mais uma vez.
– Tenho. Vamos, me conte.
Suspirei.
– Eu sei que sou a pessoa mais errada do universo, mas eu nunca me importei com isso. São meus erros que definem quem sou eu. Nunca deixo de fazer nada, e nem me arrependo de fazer o que faço. Eu não me importo; realmente não dou a mínima. Nunca fui fiel em relacionamento nenhum, e mesmo sabendo que meus sentimentos são entorpecidos, eu não deixava de fazer mulheres se apaixonarem para se machucarem depois. Eu sou todos os defeitos do mundo unidos e convertidos em uma única qualidade.
Claire trincou os dentes de modo discreto, mas depois sua boca se arqueou levemente em um sorriso consideravelmente cético.
– Isso é uma camada externa. Pelo seu tom de voz eu posso perceber que você vai além disso.
– Seria um pouco superficial se eu não fosse, não acha? - Perguntei, sorrindo timidamente.
– Concordo. Mas, fracamente, eu acho essa mistura bem interessante pelo fato de ser singular... Sentimentos anestesiados com sucesso, mesmo sem uma ponta de maldade no coração.
Sorri, sem conseguir determinar se estava lisonjeado ou ofendido pela suposta inocência que ela alegou que eu tinha.
– Talvez minha maldade esteja escondida onde você não possa ver, senhorita. - Ela balançou a cabeça negativamente, com os lábios franzidos.
– Você sabe que jamais machucaria alguém com quem realmente se importe. E isso é o que vale em alguém, para mim. Na verdade, nós dois não somos tão diferentes.
– Ah, então você não é exatamente a garota legal que eu estava pensando que você era? - Nós rimos com discrição, de modo baixo e instantâneo.
– Talvez eu seja; talvez não... Depende do seu ponto de vista.
– E o que você poderia oferecer de risco a mim, além de sua aparência, se me permite dizer?
Claire corou.
– Me acha bonita, sr. Matlock? - Ela entonou de modo atraente e devasso.
– Mais do que minhas palavras podem expressar, srta. Mackenzie.
Merda. Eu não podia flertar com ela. Não podia mesmo. E o olhar convidativo e tentador que Claire lançou a mim foi a minha maior evidência. Sua íris de moveu lentamente, fitando cada pedaço do meu corpo, e com sensatez, ela mordeu o lábio inferior vagarosamente. Talvez nem mesmo tivesse percebido seu ato sedutor. Ou talvez tenha.
– Respondendo a sua pergunta anterior, às vezes eu me torno um pouco obsessiva. Eu gosto de conseguir o que eu quero. Mas, geralmente não são coisas passageiras que me atraem a atenção. Eu não costumo correr atrás de coisas irrelevantes.
– Então, é esse o seu grande defeito? - Perguntei. Admito, minha voz não conseguia largar o tom charmoso do flerte.
– Eu sou todos os defeitos do mundo unidos e convertidos em uma única qualidade, David. - Claire enfatizou. Em seguida sorriu abertamente.
– Então você deve ser minha irmã, sua mini-Matlock. - Nós rimos alto. - Ladra de frases. - Resmunguei.
– Não... Irmã não. Seria estranho. - Ela puxou o cabelo para trás mais uma vez.
– E por que você acha isso?
– Você seria interessante demais para ser meu irmão. Isso acabaria não dando certo.
Mentalizei rapidamente uma resposta concreta. As fibras do meu ser imploravam para que eu não cortasse as indiretas daquela garota tão perfeita. E honestamente, me partiu o coração ter que dar a ela uma resposta tão cínica, me fingindo de inocente:
– Qual é o lance com você? Não poderia ofuscar seu brilho?
Claire expirou com força, deixando claro que tinha percebido minha farsa.
– É, Dave. Você não poderia ofuscar meu brilho. - Ela ironizou.
Eu sorri envergonhadamente.
– Podia ter sido mais discreta... - Ela sorriu.
– Você é um péssimo mentiroso, sabia?
– Não me entenda mal... Você é linda de morrer e se é o que você quer saber, sim, eu estou tento problemas de autocontrole... Mas... Não posso. Hillary e eu...
– Hillary, Hillary, Hillary... - Ela deu uma risadinha debochada deliciosa, me interrompendo. - Você é antagônico, não é? Uma hora diz que não se importa; na outra diz que não quer machucá-la...
– Eu não disse que não me importava com ela. Pelo contrário até. Hillary é a única com quem eu me importei até agora.
Ela sorriu com certa ironia.
– Então por que deixou que nós dois fôssemos tão longe? Foi você quem começou.
– É mais forte que eu, Claire. E eu honestamente não me sinto preparado para me manter longe de uma garota como você. Peço desculpas humildemente por contribuir, mas eu não posso passar disso...
Seus olhos se perderam completamente nos meus, e ela desalinhou as sobrancelhas de maneira suave e extremamente adorável. Torceu o canto dos lábios em uma expressão triste, porém que mais parecia uma brincadeira exagerada de criança. Obviamente não se afetou tanto... Mas aquele charme irresistível ela não largava. E quanto mais eu me encantava, mais aquela íris mista entre azul e violeta parecia brilhar.
– Deus... - Eu sussurrei.
– O que foi?
– Seus olhos. Como podem ser tão... - Eu deixei a frase morrer, fascinado.
– Sendo, ora bolas. - Ela riu. - Presente do meu pai. Mas, não entendo como pode estar tão interessado neles quando os seus são do jeito que são...
Claire se aproximou de mim em um movimento rápido. Inteligente, não permitiu que eu perdesse o foco. Me encarou intensamente, tão perdida em mim quanto uma criança em uma floresta escura. O pouco do controle que me restava foi destruído pela sensação da pele suave e acetinada de seus dedos, tocando delicadamente meu rosto, influenciando-me a ir de encontro a ela prudentemente. Engoli em seco, e respirei fundo. De repente, comecei a fitar seus lábios, completamente dominado por um desespero de tê-la. Uma agonia causada pela vontade insana e incontrolável de consumi-la por completo...
– É simples... Primeiro os olhos, depois a atenção vai baixando lentamente para a boca...
Claire fechou os olhos vagarosamente, e inclinou o seu rosto, completamente pronta para que seus lábios tivessem os meus de encontro. Francamente, uma força dentro de mim suplicou para que eu fizesse aquilo. De repente, me vi perdido na tentação de tal forma que aparentava estar tentando escapar de um nevoeiro expresso e aparentemente sem saída. Meu sangue pulsou em minhas veias, latejante. De repente, me senti fraco. Eu não podia fazer aquilo.
Eu amava Hillary.
Não amava?
E aquele fato foi o que me impediu de fazer mais uma vez o que já era clichê de minha parte. Não me interessava que Hillary e eu não estivéssemos em nada sério, era ela que eu queria. Claire era maravilhosa, mas era tarde demais. Eu não podia seguir com aquilo; eu não queria. Pela primeira vez, eu não quis.
E em uma crise de consciência me afastei devagar, sem assustá-la. A loira logo abriu os olhos, e sorriu ainda de modo provocante.
– Não me diga... Eu já sei de tudo.
– E-eu... Não sei se devo pedir desculpas. - Minha voz trepidou.
– Está tudo bem, Dave. Eu te entendo. Aliás, talvez eu deva pedir desculpas por ser tão fria em relação a isso. Eu prometo que não vai acontecer mais.
Eu podia jurar que o tom dela era irônico e provocativo. Jurar.
Querida Claire... E se parte de mim não quisesse que isso terminasse?
Aliás, mal havíamos começado. Para que terminar tão cedo?
Eu sorri para ela timidamente, ainda envolvido na contradição que tomou conta da minha pobre e sofrida mente. Claire puxou os cabelos para trás mais uma vez e ajeitou a franja, puxando-a para o lado da cabeça. O modo com que seus dedos se afundavam completamente na maciez dos fios loiros e cheios de vida me deixou praticamente catatônico. Qual a necessidade de uma mulher como aquela na minha vida, naquele momento? Alguém realmente gostava de brincar com o pobre Dave.
– Ahn... Então, eu acho que vou deitar. É bom que você descanse um pouco também, pois se estiver melhor amanhã, nós provavelmente iremos à sua Aldeia, tentar resolver as coisas...
Ela expirou com força.
– A Hillary não me quer aqui, não é? - Zombou Claire.
– Esqueça ela. Só estou tentando te ajudar...
– Bem, a menos que você seja um super herói ou algo do tipo, não vejo maneira de você mudar alguma coisa em uma Aldeia de assassinas treinadas para decapitar... Mas, já que insiste... - Ela deixou a frase morrer. Eu engoli em seco.
Depois, sorri por um milésimo de segundo. Quem precisa de super herói quando se tem um lobo mau?
– Boa noite, Claire.
– Até amanhã, Dave.
Eu dei as costas enquanto ela deitava no sofá e segui até o quarto onde Hillary já dormia feito um bebê. Com leveza, eu subi na cama e dei um beijo leve em seu ombro descoberto. Depois daquilo, me enterrei completamente entre os lençóis, forçando as pontas do travesseiro contra minha cabeça quase como se estivesse tentando me esconder. Eu simplesmente não podia acreditar no quanto minha suposta sorte podia se transformar em azar.


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