Safe & Sound II: A Sociedade Secreta escrita por Gistar


Capítulo 9
Iniciação


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a quem comentou. Boa leitura!



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“Eu só sei que não há escapatória

quando ele fixa os olhos em você

Mas eu não vou correr

vou encarar isto de frente.”

A parte de dentro da carta fora queimada em alguns lugares e grandes pedaços chamuscados deixaram marcas pretas nas minhas mãos enquanto eu tentava desdobrá-la e ler o que estava escrito. Como antes, a escrita estava torta na página, que estava dobrada em um hexágono irregular. Desta vez, tinha cheiro de fumaça. Era isso o que dizia:

Neófita Samers

Aos cinco minutos depois das oito esta noite, saia da base da Torre Whitney e ande para o sul pela High Street. Não olhe para a direita nem para a esquerda. Passe pelos pilares sagrados de Hércules e aproxime-se do Templo. Bata três vezes nos portais sagrados. Não diga a ninguém o que fizer.

— Rex Grave

Humm, tuuuudo bem. Eu sabia o que todas aquelas palavras queriam dizer, mas a soma delas ainda era um mistério. E que tipo de roupa se usa nisso? Eu devia usar uma saia? Calças de ginástica?

Fiquei a tarde toda decidindo o que usar. É claro que se eu pudesse, eu ligaria para uma das meninas e perguntaria que tipo de roupa se usa quando se vai para uma iniciação, não sabendo onde você vai parar e o que vai fazer lá.

Por fim, eu pus um moletom e uma baby look que era o que eu tinha como confortável.

Faltando quinze minutos para as oito, eu me encaminhei para a High Street, a essa altura eu já estava tremendo de nervosismo.

Quanto parei na frente do mausoléu da Skull & Bones não pude deixar de sentir um frio na espinha. Olhei para os dois lados da rua para ter certeza de que não havia ninguém ali. Pedro estava certo, as pessoas evitavam aquele caminho.

Respirei fundo e andei até a porta.

Vamos lá!

Bati três vezes como mandava a carta e esperei.

A porta se abriu. Vislumbrei um rosto nas sombras, talvez um par de mãos, e então alguém jogou um capuz de juta em cima da minha cabeça, me agarrou pelos dois braços e me puxou para dentro.

Eu gritei. É claro.

— Silêncio, Neófita — mais mãos me rodearam e eu fui erguida no ar.

— Está pisando em solo sagrado. — Um homem entoou de algum lugar próximo ao meu joelho direito.

Balancei minhas pernas inutilmente.

— Não estou pisando em nada — resmunguei sob o capuz. Alguém chegou a ter a ousadia de me dar um tapa na bunda.

— Quieta.

— É melhor ter sido alguém que eu conheça ou eu vou processar por asséd...

— Eu disse "quieta"!

— Tire a mão, seu patife encapuzado — dei pinotes com meu corpo enquanto meus captores me carregavam para baixo por uns poucos degraus com uma série de sacolejos violentos.

Ouvi uma risadinha perto da minha omoplata esquerda.

Toda a conversa cessou conforme a equipe virava à esquerda, parava, depois me botava de pé sobre meus pés (compreensivelmente) bambos. Duas mãos nos meus ombros me empurraram para cima do que me pareceu ser um banco de madeira e outra arrancou o capuz da minha cabeça. Abri os olhos, mas o aposento ainda estava escuro demais para ver muita coisa

— Neófita! Você busca ser iniciada nos Mistérios Sagrados da Skull & Bones, dedicar a Resolução dos seus Ossos, a Paixão do seu Sangue e o Poder da sua Mente... - E à paciência dos meus ouvidos, pensei, para ouvir essa bobagem cafona. Quem escreve esse negócio? — ...à nossa Ordem. É esse o seu desejo?

— Pode apostar!

Alguém me cutucou.

— Diga "Aye".

— Aye — eu repeti, esperando não soar como um pirata.

— Não fale precipitadamente, Neófita. Pois, depois desta noite, não poderá se afastar do Caminho da Skull & Bones. Sua mera admissão em nossa tumba, sua presença aqui, já lhe mostraram mais do que é permitido a qualquer Bárbaro, mas até mesmo esses Mistérios não passam de minúsculas centelhas ao lado da Candeia do Conhecimento. Está disposta a Testemunhar essa Luz e ser levada para sua Chama, mesmo que ela possa cegá-la? (Dava para ouvir as letras maiúsculas na voz dele, por falar nisso.) Escolha com cuidado, Neófita, pois não poderá voltar atrás.

Humm, está bem, Morfeus...

— É, eu vou tomar a pílula vermelha.

— Hein? — disse a voz. Outra pessoa riu abafado.

— Me desculpe — falei. — Quis dizer "Aye".

Aí uma luz brilhou na sala e um lampião antiquado flutuou na minha direção.

— Então, venha conosco, Neófita Samers, e Renasça.

Eles me carregaram novamente para outra sala, mas esta estava clara. Eles me soltaram de pé num círculo e eu arfei de surpresa ao ver quem estava lá.

Nós estávamos em um semicírculo e estavam todos lá: Pedro, Mandy, Jacson, Rosane, Emerson, Jess, Eric, Ângela, Bruno, Jana (eu sabia!), Alex, Tânia (tinha que ter alguém pra estragar) e mais dois caras que eu não conhecia.

À nossa frente estava um tipo de altar de pedra, com um símbolo da Skull & Bones atrás. Mas não pude ver direito por que havia várias figuras vestidas com uma capa vermelha. A figura que estava na frente do altar estava com o capuz abaixado e pela primeira vez pude ver quem era: Luke McNamara. Eu soube instantaneamente que aquele era o Cara da Sombra n° 2, o mesmo que falara este-é-o-seu-arquivo-do-FBI.

– Bem vindos Neófitos! Hoje vocês serão iniciados nos mistérios da Irmandade, serão testados e, se forem achados dignos, receberão o título de Cavaleiros da Ordem. Hoje vocês farão o seu primeiro teste.

Então ele apertou um botão que havia embaixo da mesa e de repente, saiu um pedestal do chão contendo um vidrinho cilíndrico com um líquido transparente. Havia um desses na frente de cada um de nós.

– Tirem suas roupas, como prova de que estão se despojando também de sua antiga vida.

Tá, parou a palhaçada!

– O quê? – eu perguntei. Aquilo já era demais, tudo bem beber coisas estranhas, mas ficar nua na frente de um bando de gente era demais pra mim.

Todos me lançaram um olhar de o-quê-você-pensa-que-está-fazendo, inclusive o Pedro. Sim, meu namorado parecia estar totalmente de acordo com a idéia de ver a namorada dele nua na frente de outros homens.

Ângela que estava do meu lado já estava tirando a blusa. Os outros também já haviam começado a tirar as roupas. Eu continuei parada e cruzei os braços.

– Tá de brincadeira? – perguntei para o tal Luke que parecia ser o líder ali.

– Nós parecemos estar brincando, Neófita? – ele disse indo até onde eu estava. A essa altura os homens já estavam todos de cueca e as meninas de lingerie.

AiAiAi

– Olha, eu achei que isso fosse uma coisa mais séria, mas já que vocês vão pedir pra ficarmos nu e provavelmente bebermos sei-lá-o-quê, eu estou dando o fora. Isso passou dos limites! – disse me virando pra sair dali.

Ele segurou meu braço.

– Devia ter pensado nisso antes de aceitar a convocação, Neófita. Agora é tarde demais, você não tem escolha.

— Isso é agressão! — falei. — Eu vou gritar!

— Se alguém pudesse ouvi-la, o que não pode, acha que ia fazer alguma coisa? Um grito vindo da tumba da Skull & Bones na Noite de Iniciação? — Algumas das figuras ao meu redor riram. O medo correu pela minha espinha e minha pele começou a se arrepiar.

Isso era uma brincadeira, certo? Parte do jogo de iniciação. Mas eu também tinha ouvido histórias sobre os Cavaleiros e seus desentendimentos com a lei. De alguma forma, o poder da Skull & Bones prevaleceu e os membros se livraram ardilosamente de todas as acusações. Algumas pessoas diziam que a sociedade era dona da polícia, eu lembrei de Steven.

Mas Luke era filho do vice-presidente; ele não participaria de nada muito ilegal, certo? A não ser que você acreditasse nas lendas que diziam que a Sociedade também dominava todo o governo.

– Eu não vou fazer isso! – falei tentando me soltar, mas seu aperto era firme.

– Pensava que você fosse mais corajosa! Para alguém que enfrentou terroristas, você me parece covarde... agora estou duvidando de tudo o que falaram.

Então ele achava que só porque eu havia enfrentado um sádico como o Daniel, eu faria tudo o que ele pedisse?

– Não fale do que você não sabe! Você não estava lá, não sabe como foi... – falei com a voz falhando no final. – Não vou tirar a roupa só pra mostrar que está errado!

– Você vai tirá-la, ou vamos tirá-la por você. Você escolhe!

Eu lancei um olhar de desespero para Pedro, mas ele estava imóvel e de cabeça baixa.

Tudo bem que ele não pudesse me ajudar, aliás havia uns sessenta homens ali e mesmo que Emerson e os outros se juntassem a ele, nós estaríamos em desvantagem. E mesmo que eu conseguisse fugir, eu não sabia pra que lado era a saída.

Droga!

– Tudo bem! Pode me soltar, eu vou entrar no seu joguinho!

Ele me soltou, mas ficou parado, esperando que eu fizesse o que ele pedira.

Ficando mais vermelha que nunca, tirei os tênis, a blusa e a calça, ficando de calcinha e sutiã como as outras.

Luke me olhou de cima abaixo e se afastou.

– Hoje vocês renascerão para uma nova vida. Deixarão para trás tudo o que aconteceu e nada mais importará, começarão suas vidas do zero. Bebam!

O QUÊ? Eu quase gritei de novo. Eu encarei o tal Luke, incrédula. Eu não sabia o que tinha ali e minha mãe sempre diz pra não beber nada de estranhos...

Os outros beberam sem pestanejar e já que eu sabia que se eu não quisesse beber eles provavelmente me enfiariam aquilo goela a baixo, não tinha alternativa.

Muito bem, Sara, é hora de entrar no espírito da coisa. Que se dane! Mas a coisa não tinha gosto de nada. Parecia água...

– Agora vocês deitarão em seus caixões e renascerão para uma nova vida. – Ele disse isso e indicou um lugar atrás de nós.

Eu me virei e vi que havia quinze caixões num círculo.

Todos começaram a andar até eles e depois se deitaram dentro. Eu respirei fundo e fiz o mesmo tentando não pensar no que viria depois.

O caixão era forrado com um tecido frio, parecia seda e eu não pude conter um tremor quando tocou a minha pele nua.

Assim que deitei, imediatamente fiquei sonolenta e um torpor invadiu meu corpo. Antes de perder os sentidos ainda pude ver Luke se debruçar sobre o caixão e antes de abaixar a tampa dizer:

– Tenha bons sonhos, Neófita!


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Notas finais do capítulo

O que acham que vai acontecer agora? Aonde a Sara e os outros se meteram?