Safe & Sound II: A Sociedade Secreta escrita por Gistar


Capítulo 27
A falha no plano




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“Não importa quantas mortes eu morra,

eu nunca esquecerei

Não importa quantas vidas eu viva,

eu nunca irei me arrepender

Tem um fogo dentro deste coração

e uma revolta prestes a explodir em chamas.”

Luke narrando

Eu não conseguia entender como Daniel havia falhado numa missão tão importante. As ordens eram claras: faça Steven libertar Leonardo e mate a garota.

Mas Daniel nunca foi prático. Desde criança gostava de jogos, como um predador que gosta de brincar com a presa antes de devorá-la. Talvez se ele tivesse simplesmente seguido as ordens, Leonardo estaria livre, a garota estaria morta e nossos problemas resolvidos.

Nenhum de nós imaginou que ele acabaria levando os negócios para o lado pessoal nem que um pequeno grupo de adolescentes criaria tantos problemas e jogaria o nosso plano por água abaixo.

O nosso plano era perfeito e as ordens eram claras. Porque Daniel tinha que estragar tudo e não seguir o plano?

Não podia dar em outra, foi um fracasso total e acabou sendo preso, o que colocou a todos nós em perigo.

Se não fosse pelo meu pai ele teria sido morto ou apodrecido naquela clínica. Foi ele quem pediu à Victória, que lhe devia um favor, para descobrir uma forma de tirá-lo de lá.

Então ele foi solto e meu pai o escondeu. A melhor solução era tirá-lo do país, mas meu pai era apegado demais a ele e decidiu que era melhor tê-lo debaixo do seu nariz.

Mas é claro que esse não era o verdadeiro motivo.

Como Daniel falhara com o plano, a Ordem me encarregou de limpar a sujeira que ele deixara. Mas meu pai simplesmente não acreditava que eu fosse capaz de concluir o plano e por isso o manteve por perto, para que ele terminasse o serviço se eu falhasse.

E eu falhei, em parte. Por que a primeira parte foi bem sucedida.

Eles entraram para a Ordem e foram obrigados a nos obedecer. Consegui forçar a garota a convencer o pai a libertar Leonardo.

Mas ainda faltava a outra parte do plano. Eu precisava matar a garota e foi aí que eu falhei.

Porque ela tinha que ser tão corajosa, confiante, teimosa, quente e decidida? Ela não podia simplesmente aceitar o seu destino?

E eu ainda tinha que suportar vê-la com Pedro. Eu não queria matá-lo, nunca esqueci a amizade que tínhamos e não queria chegar a esse ponto.

Eu tentava me convencer de que o namoro deles era bobo e que quando eu matasse Sara ele acabaria encontrando outra garota e seguiria em frente.

Mas o que eu via neles quando estavam juntos era algo inexplicável. Ela o olhava com admiração e ternura extremos, como se ele fosse seu mundo. Me contraia o estômago, pois eu queria que uma garota me olhasse daquele jeito. E ele também a olhava como um cego vendo a luz pela primeira vez, depois de andar muito tempo no escuro. E conforme eu via os dois sempre juntos era cada vez mais difícil continuar me convencendo que Pedro encontraria outra garota se eu a matasse.

É claro que ele não encontraria outra garota como Sara.

Porque ela era única e não havia garota no mundo que pudesse ser comparada à sua beleza, coragem, ousadia, confiança e paixão.

Ela demonstrava ter uma paixão pela vida, pela família e pelos amigos que brilhava e aquecia a todos que estavam à sua volta.

Eu comecei a ter inveja de Pedro e de seus amigos porque ela os amava e era fácil ver que não havia nada no mundo que ela não fosse capaz de fazer por eles.

Eu poderia ter usado isso contra ela se eu não desejasse tanto ser uma daquelas pessoas que ela amava.

Tentei me aproximar dela de todas as formas, mas eu era tolo em pensar que depois de tudo o que tinha feito, ela seria capaz de aceitar mesmo a minha companhia.

Quando a convidei para ir ao mausoléu naquela noite depois da soltura do Leonardo eu desejava lhe pedir perdão.

Mas ela simplesmente jogou na minha cara que eu era um hipócrita nojento, que a vida dela era um inferno e a culpa de tudo aquilo era minha.

E é claro que ela estava certa. Mas eu estava ali, tentando me desculpar pelo que eu estava fazendo e explicar os motivos para eu estar fazendo tudo aquilo. Ela não poderia ao menos tentar ver o meu lado?

Decidi convidá-la para jantar. Eu sabia que ela poderia não aceitar e tinha quase certeza de que ela o faria.

Mas ela me surpreendeu quando apareceu no restaurante. Ela estava linda e deixou claro que havia aceitado o convite apenas porque precisava me fazer algumas perguntas. Pra mim isso não interessava, o importante é que ela havia aceitado o convite.

Então ela pôs a mão direita encima da mesa e eu vi a aliança. Não parecia ser uma aliança de noivado, era mais uma dessas de compromisso que as pessoas compram.

Perguntei sobre a aliança e ela parecia muito feliz ao contar que Pedro lhe havia dado.

É claro que eu fiquei com ciúmes e confesso que não fui agradável aquela noite com ela. Apesar de parecer mais receptiva ela continuava com a guarda alta e ficou furiosa quando comecei a falar sobre Pedro. Deixei-me levar pelos sentimentos e esqueci o verdadeiro motivo de tê-la convidado para o jantar.

Ela acabou derramando vinho tinto em seu lindo vestido e foi um pouco engraçado vê-la tão furiosa daquele jeito. Ela saiu correndo do restaurante e eu não poderia deixar a noite terminar assim depois de ter estragado tudo.

Consegui alcançá-la quando estava indo embora e me desculpei, pedi para ela aceitar pelo menos a minha amizade e ela foi generosa o bastante para fazê-lo.

Meu pai já havia me pressionado e dito para eu matá-la e acabar logo com tudo. Eu pedi mais tempo e disse que precisava esperar pelo momento certo, mas é claro que eu estava apenas tentando ganhar tempo. Sara me conquistara e isso tornava a possibilidade de matá-la cada vez mais remota.

Eu havia deixado a chave do meu alojamento no bolso do casaco que havia emprestado. Lógico que eu tinha uma chave extra, mas sabia que assim que amanhecesse ela viria devolvê-la.

Então eu levantei no outro dia e deixei a porta destrancada quando fui tomar banho. Ela foi até lá e mais uma vez eu tentei explicar meus motivos. Pedi perdão, mas ela parecia magoada demais para aceitá-lo. Foi quando percebi que a ferida que eu havia lhe provocado era maior do que eu havia pensado.

Acabei me descontrolando quando a abracei e mais uma vez passei dos limites quando não resisti e a beijei.

É claro que ela não gostou e me disse que eu era tão canalha quanto Daniel. Aquilo me despedaçou.

Como ela podia me comparar com ele? Ele a odiava e queria matá-la, estava ansioso para que eu falhasse e ele pudesse terminar o serviço.

E eu a amava e queria protegê-la. Mas antes que eu pudesse lhe dizer isso ela se foi e eu era covarde demais para ir atrás dela.

Estava tomando coragem para lhe contar tudo sobre o plano quando na noite passada ela apareceu na minha porta.

Estava muito brava e partiu pra cima de mim assim que abri a porta. Ela jogou algumas fotos em cima de mim e eu precisei dar apenas uma olhada de relance pra saber do que se tratava.

Pelo visto alguém havia enviado fotos nossas para Pedro, ela pensava que era eu e estava lá para tirar satisfação.

Eu não tinha feito aquilo, mas percebi na hora o que estava acontecendo.

Meu pai percebera que eu havia falhado e que não concluiria o plano, por isso havia dado um jeito de resolver o problema.

Mas acho que ele pediu ajuda à pessoa errada.

Tania estava muito envolvida com Pedro para planejar algo que fosse mais eficiente e apesar de ter cometido alguns erros, conseguiu causar algum efeito.

Contudo, eu sabia que se meu pai estava metido nisso significava que eu já estava ficando sem tempo.

Levei algum tempo até conseguir acalmá-la o suficiente para que ela pudesse perceber o que havia acontecido e apesar de ter levado alguns socos e arranhões fiquei aliviado que ela tivesse acreditado em mim.

Quando iria aproveitar a oportunidade e falar sobre tudo, ela entrou em crise.

Ela estava limpando alguns ferimentos que tinha causado em meu rosto quando de repente parou o que estava fazendo e ficou olhando para o algodão sujo de sangue em suas mãos como se estivesse vendo algo terrível.

Eu nunca a tinha visto daquele jeito. A dor tomou conta de seu semblante e lágrimas começaram a cair de seus olhos. Eu nunca vira alguém sentir tanta dor assim, parecia ser dor demais para alguém aguentar, se eu sentisse algo assim acho que explodiria.

Comecei a sentir medo também e a sacudi para tirá-la do transe. Quando percebeu que estava chorando, simplesmente se entregou as lágrimas.

Eu não precisava perguntar para saber o que estava acontecendo. Pelo visto ela e Pedro haviam brigado feio, mas não era só isso. Parecia que era algo que ela vinha escondendo de todos e suportando há muito tempo sozinha e que de repente ela precisava pôr para fora.

Eu a abracei tentando fazer algo para aliviar aquilo enquanto ela chorava e soluçava sem parar. Eu tentava consolá-la e dizia que ela não precisava se preocupar, que ficaria tudo bem e que eu iria ajudá-la.

Mas nada parecia acalmá-la e eu realmente me senti a pior das criaturas porque eu era responsável pela dor dela. Ela havia chegado aqui com todas aquelas feridas tentando se curar. Ao invés de ajudá-la o que fiz foi cavar a ferida e deixá-la ainda maior e mais funda.

Ela tinha razão, eu era mesmo um monstro tão vil quanto Daniel. Eu não merecia a amizade nem o amor dela. Eu não era digno sequer de beijar o chão que ela pisava. Eu não merecia o seu perdão, merecia me afogar num mar de culpa e remorso.

Depois de chorar algum tempo, ela adormeceu e eu a coloquei na minha cama.

Peguei alguns cobertores e fui dormir na sala. Demorei a pegar no sono porque a culpa e o remorso me consumiam, sufocando meu peito. Então começaram os gritos.

Eu fui ver o que estava acontecendo e parecia que ela estava tendo pesadelos. Eu a sacudia tentando acordá-la e ela parava de gritar, mas voltava a dormir em seguida. Isso aconteceu durante quase toda a noite até que eu acabei ficando com ela ali na cama, até ter certeza que havia acabado.

Eu consegui tirar um cochilo no sofá, mas acordei cedo. Resolvi preparar um café e estava indo acordá-la quando abriu a porta.

– Já acordou? Ia bater na porta pra chamá-la.

– Não se preocupe eu já vou. – disse passando por mim e indo para a sala.

Ela parecia melhor e aparentava não se lembrar dos pesadelos.

– Eu fiz café da manhã, não está com fome? – perguntei indo atrás dela.

Ao entrar na sala percebeu que o sofá estava desarrumado e parou encarando-o surpresa.

– Confesso que não foi muito confortável, mas deu pra dar uma cochilada depois que você parou de gritar. – falei, mas não desejava tocar no assunto a menos que ela quisesse.

– Desculpe por isso. Eu não devia ter vindo aqui ontem.

– Você não tem que se desculpar. Se alguém tem culpa da sua vida ter virado um inferno sou eu.

– Tem razão. Você tem culpa porque está escondendo aquele canalha do Daniel. – ela comentou e eu merecia ouvir aquilo.

– Você nunca vai me perdoar né? Nunca poderá me amar. Não depois de tudo o que fiz.

– Não. Eu nunca vou conseguir amá-lo, Luke. Eu sempre vou odiá-lo. A única pessoa que eu odeio mais do que você é Daniel.

– Se houvesse algo que eu pudesse fazer para consertar as coisas, eu faria.

– Nada do que você disser ou fizer vai mudar o que aconteceu, Luke. Aquelas famílias foram mutiladas para sempre, meus amigos e eu fomos marcados para sempre. E enquanto Daniel estiver vivo não vamos ter paz nem descansar nossas cabeças no travesseiro à noite. Isso nunca vai acabar.

– Sinto muito por tudo isso.

– Palavras são apenas palavras. Não adianta você ficar me dizendo que sente muito e ficar acobertando um assassino. È difícil acreditar que você realmente sente muito.

– Você me perdoaria se eu fizesse alguma coisa? Se eu tentasse consertar um pouco dos danos que eu ajudei a causar. Você passaria a me odiar um pouco menos?

– Depende do que você vai fazer, talvez eu lhe odeie um pouco menos.

Era tudo o que eu precisava ouvir para criar coragem o suficiente e fazer o que precisava ser feito.

– Então eu sei o que vou fazer. – disse enquanto pegava as chaves e saia pela porta. - Me espere aqui. – pedi - Eu vou consertar tudo. Eu vou te ajudar.

– O que vai fazer?- perguntou assustada.

– Eu vou entregar o Daniel!

Eu sabia o que precisava ser feito. Tinha que ir até meu pai, dizer a ele para entregar Daniel à polícia e deixar Sara e os amigos em paz.

Não iria ser fácil enfrentar meu pai e convencê-lo a fazer aquilo, mas ele não tinha opções, ou ele fazia ou eu o faria.

Dirigi rápido para casa esperando pegá-lo antes de ir para o escritório. Ele estava pegando a chave para sair quando entrei correndo em casa.

– Pai, espera!

– Eu sei o que quer, Luke, e a resposta é não. Eu já cuidei de tudo.

– O que quer dizer com isso?

– Sara e Pedro brigaram e irão sumir do mapa. Todos pensarão que fugiram e ninguém desconfiará de nós. Sem corpos, sem crime.

– Ficou louco? Os amigos deles saberão que foi você e eu não vou deixá-lo fazer isso!

– Tarde demais Luke, eu já fiz! Pedro já deve estar morto e Sara deve estar tendo o mesmo destino. E acontecerá o mesmo aos amigos deles se não ficarem de bico calado.

– Quem você incumbiu de fazer isso?

– Daniel, é claro! Eu não poderia deixar de dar essa chance à ele.

– Eu vou impedi-lo. – avisei enquanto voltava para a rua.

– Não vou deixar você fazer isso. – respondeu e fez sinal para dois seguranças que me imobilizaram. - Não me obrigue a fazer isso Luke.

– Pois se quiser me impedir vai ter que me amarrar e me trancar em casa.

– Foi você quem pediu.

Então eu me vi sendo carregado até a biblioteca. Eles esvaziaram meus bolsos de celular, carteira, chaves e saíram, trancando a porta.

Havia uns dez seguranças espalhados pela casa e eu sabia que todos receberiam ordens para não me deixar sair.

Nesse momento Sara estava correndo perigo.

E eu não poderia salvá-la.


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