“Porque meus passos perderam a direção, de alguma maneira... Um vento negro te levou embora, para longe E segurou a escuridão pelo dia todo, naquela noite...”

Pedro narrando

– Não pode terminar comigo, eu te amo!

– Um relacionamento não é feito só de amor, também é feito de confiança, não adianta você me amar e não ter confiança em mim.

Eu resolvi sair logo dali porque eu já estava me descontrolando e não queria piorar as coisas.

Eu precisava caminhar um pouco, pensar e refletir sobre as coisas que estavam acontecendo entre Sara e eu.

Eu a amava muito!

Tudo o que havíamos passado esse ano que apesar de ter sido o pior da minha vida, também havia sido o melhor porque eu a havia conhecido, havia provocado mudanças profundas em mim.

Antes de conhecer a Sara, conhecer de verdade porque embora estudássemos na mesma escola durante quase quatro anos nunca havíamos trocado uma palavra, minha vida era sem sentido.

Perdi minha mãe muito cedo e meu pai me deixara a mercê das babás enquanto ele cuidava dos negócios da família.

Nós discutíamos muito porque além de ele ser a única família que me restava ele passava mais tempo no seu escritório e viajando do que em casa comigo.

Eu só não me perdi completamente porque eu tinha meus amigos.

Já minha vida amorosa não era tão bonita.

Eu simplesmente não queria perder nada da vida então fazia muita festa e pegava quantas eu pudesse. Fazia isso sempre, tentando encontrar em alguma delas algo que me completasse porque apesar de ter meus amigos comigo, havia um espaço vazio em meu peito que nem a amizade deles poderia preencher.

Um buraco chamado família.

Eu detestava meu pai e tudo o que ele havia feito e jurei a mim mesmo que um dia eu iria formar minha família e eu nunca faria com meus filhos o que ele fez comigo.

Quando começamos o Colegial conheci Tania e ela realmente deu alguma cor à minha vida que até então havia sido apenas preto no branco. Ela parecia ser a única além dos meus amigos que me compreendia e não se importava em passar um tempo comigo enquanto eu contava meus problemas e reclamava do meu pai. Até porque depois que Emerson assumiu o namoro com a Rose, eu perdi meu companheiro de farra.

Então era Tania quem me acompanhava nas festas e me aguentava.

Eu nunca lhe prometi nada e ela sabia disso.

Por isso achei que ela me compreenderia quando eu a deixei para ficar com a Sara. Mas eu estava errado.

Ela me procurou algumas vezes depois do sequestro e eu sempre dizendo que amava a Sara e que desejava o mesmo pra ela.

Depois de algum tempo ela parou. Nós entramos na Universidade e eu achei que ela já havia superado tudo, até aquela noite que eu a vi com Luke.

É claro que eu me surpreendi ao reencontrar Luke aqui na Universidade. Eu o conheci no primário e ele andou algum tempo com o nosso grupo, mas ele estava mais adiantado e logo saiu da escola. Eu só o vi mais uma vez, na minha formatura do primário.

Quando o vi aquela noite na festa da Universidade imediatamente me lembrei da Skull & Bones.

Eu sabia que nossos pais faziam parte dela e embora nunca tocassem nesse assunto, nós pegávamos uma conversa ou outra de vez em quando.

Mas eu nunca imaginei que a Ordem fosse nos recrutar, nem quando fomos aceito em Yale.

E pensar que eu acabei levando Sara para lá! Eu a incentivei a ir para a universidade e como diabos eu iria adivinhar que a Ordem iria querê-la? Justo a única sociedade secreta no mundo totalmente masculina!

Mas eu achei que talvez fosse bom para ela que era inteligente e conseguiria qualquer coisa que desejasse, porém eu queria que ela tivesse mais, eu queria que ela tivesse tudo. E eu imaginei que a sociedade seria muito boa para ela.

É, eu me enganei.

Eu que tentei tanto protegê-la do perigo, deixá-la longe de Daniel e de tudo o que pudesse machucá-la, foi quem acabou descendo a espada sobre a cabeça dela.

E pela primeira vez eu me senti com as mãos amarradas e completamente incapaz de protegê-la.

Aquilo acabou comigo.

Quando Luke contou tudo aquilo e toda a relação que a Ordem tinha com o sequestro, eu tive que usar de todas as minhas forças para não esganá-lo ali mesmo.

Mas se eu fizesse algo contra ele, eu sabia que acabaria sendo punido e Sara precisava de mim. Eu era responsável por ela, eu a havia metido naquele buraco e precisava dar um jeito de tirá-la de lá.

Cada lágrima que ela derramou naquela noite era uma facada em meu peito. Eu sabia que a culpa era toda minha.

Eu realmente passei a odiar Luke com todas as minhas forças.

Como ele podia ter feito aquilo comigo? Como ele podia olhar para a minha desgraça e sorrir?

Eu que pensei que fosse incapaz de odiar alguém mais do que eu odiava Daniel vi que estava enganado.

Se colocassem os dois na minha frente, eu não saberia escolher com quem eu acabaria primeiro.

Ficar ao lado de Sara e ver que eu era o responsável por todo o seu sofrimento estava acabando comigo, por isso comecei a me afastar um pouco dela. Eu não conseguia ver a dor em seu rosto e me sentir bem, não quando sabia que eu era responsável por aquilo.

Então muitas vezes preferi ficar treinando ou fazendo algum trabalho a estar com ela.

Sim, eu sou um covarde! Mas aquilo era mais do que eu podia suportar.

Quando percebi que Luke estava interessado nela fiquei com medo. Ele havia mudado muito e eu não sabia o que ele era capaz de fazer para conquistá-la. Eu não podia perdê-la e embora tivesse certeza de que ela não cederia a ele eu tinha que esfregar na cara dele que ela era minha e de mais ninguém. Foi quando comprei as alianças.

Passamos o fim de semana juntos e renovei minhas forças. Estava disposto a enfrentar o mundo por ela mais uma vez e então eu achei que finalmente as coisas entre nós iriam se resolver. Mais uma vez cometi um engano!

Sara estava estranha...

Parecia estar sempre preocupada com algo e me fazia perguntas sobre Luke. É claro que ela tinha motivos para estar preocupada, mas parecia que havia algo mais. Percebi que havia algo que ela não estava me contando e eu tinha medo que ela fizesse alguma besteira.

Esperei que aquilo passasse, mas aquilo continuava lá como uma goteira irritante pingando sempre. Eu queria tirar ela logo daquela situação e propus a única solução que eu fui capaz de pensar: fugir com ela.

Mas isso parecia ser mais do que ela poderia suportar e eu não tinha coragem de exigir mais dela.

Sara era corajosa, a pessoa mais corajosa que eu já havia conhecido, porém às vezes ela parecia que iria desmoronar a qualquer momento, cair e se partir em mil pedaços.

Por isso eu não conseguia entender o que ela havia feito.

Ela havia ido a um encontro sozinha com Luke e não me falou nada.

Justo a pessoa responsável por tudo o que estávamos passando. Jantou com ele e eu não sei como ela conseguiu ser tão fria com ele. Ainda foi até o alojamento dele pra devolver o casaco e as chaves!

Era óbvio que ele iria se aproveitar da situação, por isso não acreditei quando ela falou que tinha sido só um jantar e não havia acontecido nada.

Porque ela não me contou tudo? É claro que eu a perdoaria e entenderia. Mas não, ela escondeu isso e sabe se lá o que mais ela não estava escondendo de mim.

Ela disse que tem mais, mas o que de tão grave ela estaria escondendo de mim? O que ela fez que acha que eu não vou perdoar ou entender? Ela tem o direito de me culpar, me xingar, me bater, qualquer coisa, mas simplesmente não me contar qual é o motivo da aflição em seus olhos e do seu silêncio é demais para mim.

*

Era muito tarde da noite e sem perceber eu havia me distanciado muito do campus.

Estava pensando em voltar quando um carro escuro parou derrapando no asfalto ao meu lado. Alguém abriu a porta e me puxou para dentro. Colocaram um saco em minha cabeça e eu tentei resistir, mas algo picou o meu braço e uma sensação de sonolência me tomou.