Safe & Sound II: A Sociedade Secreta escrita por Gistar


Capítulo 12
Revelação




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“Está ao redor

Ficando mais forte, chegando mais perto

posso sentir que é hora de encarar isso

Eu consigo suportar isso?”

Sara

Acordei no outro dia com uma tremenda dor de cabeça e sem lembrar de ter ido pra cama.

Abri os olhos e vi que já passava do meio-dia. Jana estava sentada na cama escrevendo em seu laptop.

– Analgésicos? – perguntou, apontando pra mim um envelope de comprimidos junto com uma garrafa de água.

– Como eu cheguei aqui ontem? – quis saber enquanto tomava um comprimido junto com a metade da água da garrafa.

– Não se lembra de nada?

Forcei meu cérebro e tentei ignorar a pontada aguda na cabeça.

– Eu lembro do ritual todo, da piscina, da nossa conversa, da conversa com o Luke...

– O que vocês conversaram?

– Ele queria saber sobre o Steven, mas não lembro de mais nada depois.

– Você dormiu na espreguiçadeira. Tenho que admitir que foi engraçado!

– O que foi engraçado?

– O Pedro teve que te carregar até a limusine e depois subir os três andares de escada até o quarto. Os meninos começaram a tirar com a cara dele e perguntar se ele já estava treinando pra lua de mel.

– E ele? – perguntei curiosa pra saber se Pedro já havia pensado em casar comigo...

– Não disse nada, só riu. Então, como se sente?

– Péssima! – respondi desabando na cama de novo.

– Acho que você devia comer algo, vai melhorar com alguma coisa no estômago.

– Tem razão, já almoçou?

– Já.

– Então vou tomar um banho e depois descer pra comer alguma coisa.

Fazer parte de uma sociedade secreta era tão complicado quanto eu achava. Nós sempre tínhamos que largar quem ou o que estávamos fazendo se fosse chamado para alguma reunião ou serviço.

Havia festas, reuniões e recepções todas as semanas, que sempre duravam a noite toda. No outro dia eu estava péssima por não dormir direito e mal conseguia manter os olhos abertos na aula pra acompanhar a matéria. Mas hoje a coisa realmente ficou feia.

Estávamos na aula da professora Edna e eu estava apresentando um trabalho importante que valia a nota do semestre. Eu estava de pé diante da turma, passando slides num data show e quando eu peguei uma página das minhas anotações, havia um bilhete embaixo dela:

Venha agora!

O selo da sociedade estava embaixo. Eu não tive outra alternativa, senão juntar meu material e sair rapidamente. Sem explicações, sem desculpas, em silêncio, eu deixei a sala com meus colegas cochichando e a professora perplexa, certamente se perguntando o que eu estava fazendo.

Aquilo foi a gota da água! Quando cheguei na tumba, Luke estava me esperando, sozinho.

– O que houve de tão urgente que não poderia esperar eu terminar a apresentação de um trabalho? – perguntei indignada.

– Preciso que alguém organize os arquivos e livros da biblioteca.

– O QUÊ? Não acredito que você me tirou do meio de uma apresentação de um trabalho importante que valia a nota do semestre pra fazer faxina na biblioteca!

– Está questionando as minhas ordens? Sabe das regras, Sara!

– Sim, eu sei! Mas você podia ter chamado qualquer outro que não tivesse um trabalho importante pra fazer isso.

– Eu queria que você fizesse!

– Por quê?

– Por que eu quero que você faça isso! Não preciso de motivos.

Eu respirei fundo e pensei no que ele faria se eu simplesmente desse as costas e deixasse-o falando com as paredes...

– Ok! Mas eu não vou varar a noite aqui. Se eu não terminar hoje, volto amanhã depois da aula, não vou matar!

– Faça como quiser! – disse com um sorriso triunfante – Mas quero que dê uma atenção especial aos arquivos com os membros da sociedade. Coloque-os em ordem por ano e nome pra mim.

– Tudo bem. Mais alguma coisa? – perguntei sem consegui esconder o sarcasmo na minha voz.

– Não, é só isso, por agora.

– Ok! – respondi enquanto me encaminhava para a biblioteca pra começar meu serviço.

Meu relacionamento com Luke não havia evoluído muito. Eu procurava ser educada com ele como com o restante dos nossos irmãos, mas Pedro e os outros praticamente o idolatravam. Havia algo nele que gritava perigo, mas parecia que só eu sentia aquilo.

Um dia eu estava conversando com Mandy sobre isso:

– Eu não acredito nisso, Sara! Ele parece ser uma boa pessoa e, além disso, é um gato!

Eu virei os olhos.

– Talvez – cedi sabendo que não tinha como alguém argumentar algo com Mandy. – Mas às vezes ele me olha de um jeito que me dá medo... – confessei.

– Hummmm – ela disse como quem pensa sobre algo.

– Hummmm o quê? – perguntei já conhecendo aquela expressão de que ela queria dizer algo que não soaria muito agradável.

– É que, bem, eu não acho que você precise se preocupar com isso porque... esqueça! É bobagem.

Ela sabia que eu era curiosa e ficava irritada quando uma pessoa começava a contar algo e não terminava. Argh!

– Desembucha logo, Mandy!

– Tá, mas você não vai gostar de ouvir...

Eu fechei o notebook que eu estava usando para digitar minhas anotações do trabalho e cruzei os braços, tentando fazer uma cara brava. Acho que deu certo.

– Eu acho que ele está interessado em você! – ela cuspiu tudo de uma vez.

Eu senti meu queixo cair e meus olhos se arregalarem de incredulidade. Ela devia estar vendo coisas.

– Sem essa! – falei quando consegui me recuperar do choque – Se isso fosse verdade, Pedro já teria percebido e já teria feito alguma coisa.

– Sara, esqueceu que eles são amigos! Ele não teve ter percebido ainda e se percebeu, deve estar fazendo vista grossa, como nós estamos fazendo com a Tânia!

Ela tinha razão, eles eram amigos! Eu não sabia como, mas Luke havia mexido seus pauzinhos e havia colocado Pedro, Emerson e Jacson no time de futebol da Universidade. Mas eu tinha certeza de que ele havia usado a influência da sociedade pra conseguir aquilo, embora ele alegasse que só havia cobrado uns favores...

E ainda tinha Tânia que comia Pedro com os olhos na minha frente! E nós tínhamos que ignorá-la por que ela era nossa irmã! Aquilo já me tirava do sério e agora mais essa.

Será que Mandy tinha razão? Luke estava mesmo interessado em mim e Pedro sabia, mas ignorava isso? Mas porque Luke estaria interessado em mim? Mandy, Rose e as outras eram muito mais bonitas que eu! Não, não havia sentido naquilo...

– Eu sabia que não devia ter dito nada! Você não acredita!

– Mas isso é um absurdo! Você e Rosane são muito mais bonitas do que eu!

– Amiga, você não se vê com clareza, né? Além disso, eu não acho que homens como o Luke se interessem por garotas que só são bonitas e não tem nada na cabeça. Não que eu, ou Rosane ou qualquer outra das meninas não tenha nada na cabeça, você sabe o que eu quero dizer! Você não é só um rostinho bonito! Você é inteligente, esperta e tem atitude – então ela parou de falar e ergueu a sobrancelha como se tivesse lembrado de algo – só seu senso de moda que é um pouco fracassado...

– Você esqueceu da minha falta de coordenação.

– Também, mas ninguém é perfeito, Sara. Eu aposto que se você não estivesse namorando o Pedro, teria uma fila de pretendentes...

Eu bufei e ignorei o comentário dela. Não adiantava mesmo discutir com ela.

Essa conversa veio novamente à minha mente enquanto minhas mãos trabalhavam na biblioteca. Só percebi que passava da hora do almoço quando meu estômago roncou como um trator.

Saí da tumba e fui para o restaurante.

No caminho encontrei a pessoa que eu menos queria ver. A professora Edna caminhava em minha direção com ar de preocupação.

– Sara, você pode me acompanhar até a sala? Preciso conversar com você.

– Claro. – respondi engolindo um nó na garganta.

– Está tudo bem? O que aconteceu pra você deixar a sala daquele jeito? – ela perguntou assim que ficamos sozinhas.

– Desculpe, professora! Eu tive uma emergência e tive que sair pra resolver...

– Sara, aquela não foi a primeira vez que isso aconteceu na minha aula e alguns professores comentaram que você também fez isso na aula deles. Eles também disseram que você tem perdido algumas aulas importantes. Você está com algum problema, querida?

Era difícil mentir para Edna, ela agia como se fosse minha mãe. Mas eu tinha que manter sigilo.

– Estou, mas não se preocupe, vai passar.

Ela se levantou da cadeira e pegou minhas mãos nas suas.

– Pense bem no que está fazendo, Sara! Ás vezes não vale à pena... E essas pessoas são perigosas, elas não estão brincando...

Do que ela estava falando? Será que ela sabia alguma coisa?

Eu ainda estava muda quando ela continuou.

– Apenas me prometa que se as coisas piorarem, se acontecer algo... você vai me contar?

Eu ainda não conseguia falar...

Ela parecia sincera e triste com algo que eu não sabia.

Eu tirei minhas mãos das delas e recuperei a voz.

– Está tudo bem professora Edna, não se preocupe. – Falei já me dirigindo para a porta.

– Tome cuidado! – Foi a última coisa que ouvi antes de fechar a porta atrás de mim.

Quando cheguei ao restaurante, ele estava vazio. Enquanto comia, repassava a conversa que tivera com Edna. Será que ela estava falando da sociedade? Ou ela estava se referindo a outra coisa?

Perdi a fome depois de algum tempo e fui procurar Pedro, queria vê-lo antes de perder a tarde toda trancada na biblioteca.

Bati em sua porta e Alex atendeu.

– Olá Alex! O Pedro está?

– Não, ele foi ao treino.

– Ah, é! Eu tinha esquecido que ele tinha treino hoje. Avise-o que eu vou passar a tarde hoje... ãhn, - busquei uma forma de disser aquilo sem me denunciar – você sabe onde organizando alguns livros e pede pra ele me encontrar lá, ok?

– Entendi. Eu aviso.

– Obrigada, tchau!

Havia me esquecido completamente que Pedro treinaria a semana toda para o jogo que havia no sábado. Isso me desanimava, porque o deixava exausto e diminua ainda mais o tempo que tínhamos pra nos ver.

Voltei pra tumba e recomecei o serviço.

Depois de algumas horas, encontrei o arquivo dos membros da sociedade que Luke pedira pra eu organizar. Estava mesmo uma bagunça e comecei a separá-los por ano.

Parei em um arquivo. Era o arquivo de Steven. Ele se formara em Direito e dizia que ele era da turma da sociedade de 1992, Anno 160. Exatamente há vinte anos.

Continuei examinando os arquivos, dessa vez prestando mais atenção nos nomes. Consegui identificar também os pais de Pedro, Mandy, Jacson, Rose e todos os outros que eu conhecia.

Quando cheguei no ano de 2005, Anno 173, senti meu sangue gelar quando li o nome debaixo de uma foto com um rosto muito familiar... Era um rosto que há meses estava em meus pesadelos, um rosto que eu jamais esqueceria, um rosto que eu odiava e desejava nunca ter conhecido: o rosto de Daniel!


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Notas finais do capítulo

O que acham de Daniel ter feito parte da Sociedade? Será que ela tem ligação com o sequestro? O que será que vai acontecer? Me digam o que estão pensando, eu não mordo! Bjs