Voltaire - Z'Histórias escrita por Iva Sama


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Aviso: Naruto é de Kishimoto, assim como a obra “Cândido ou Otimismo” pertence a Voltaire. O título faz referência, também, à publicação do romancista “O Ingênuo”.



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CAPÍTULO II

O que aconteceu a Naruto entre os búlgaros

Expulso do paraíso terrestre, Naruto andou por muito tempo sem saber para onde, chorando, erguendo os olhos para o céu, voltando-os seguidamente para o mais belo dos castelos que encerrava a mais bela das baronesinhas. Seitou-se sem jantar no meio das plantações entre dois sulcos. A neve caía em grandes flocos. O loiro, transido de frio, arrastou-se no dia seguinte até a cidade vizinha, chamada Varsóvia, sem dinheiro, morrendo de fome e de cansaço. Muito triste, parou à porta de uma taberna. Dois homens vestidos de azul repararam nele.

– Camarada, disse um deles, aí está um jovem de bom porte e com a estatura requerida.

Aproximaram-se do rapaz e, muito educadamente, convidaram-no para jantar.

– Senhores, disse-lhes Naruto com uma modéstia encantadora, é muita honra para mim, mas não tenho com que pagar a minha conta.

– Ah! Senhor, disse-lhe um dos azuis, pessoas de sua classe e mérito nunca pagam nada. Por acaso, não tem cinco pés e cinco polegadas de altura?

– Sim, senhores, é minha altura, retrucou, com uma reverência.

– Pois então, senhor, sente-se à mesa. Não somente o isentaremos de pagamento, como jamais suportaremos que um homem como o senhor fique sem dinheiro; os homens só foram feitos para se ajudarem uns aos outros.

– Vocês têm razão, concordou Naruto. Foi o que Sai sempre me ensinou e posso ver que tudo está o melhor possível.

Pedem-lhe que aceite alguns escudos. Ele os toma e quer assinar recibo. Recusam-no e o convidam a sentar-se á mesa:

– Você não ama ternamente...?

– Oh! sim, respondeu, amo ternamente a senhorita Hinata.

– Não, disse um desses cavalheiros, estamos perguntando se você não ama ternamente o rei dos búlgaros.

– De modo algum, retruca, pois jamais o vi.

– Como! É o mais encantador dos reis e devemos beber à sua saúde.

– Oh! com muito prazer, senhores.

E bebe.

É o que basta, dizem-lhe. Acaba de tornar-se o apoio, o sustentáculo, o defensor, o herói dos búlgaros. Sua fortuna está feita, sua glória garantida.

Imediatamente lhe colocam correntes nos tornozelos e o levam para o regimento. Obrigam-no a volver à direita, à esquerda, a tirar a vareta, a repor a vareta, apontar, atirar, dobrar o passo, e lhe aplicam trinta chibatadas. No dia seguinte, faz o exercício não tão mal assim e só leva vinte chibatadas. No outro dia, só leva dez e seus camaradas já o olham como um prodígio.

Naruto, totalmente estupefato, não atinava ainda muito bem como podia ser um herói. Um belo dia de primavera resolveu dar um passeio, andando sempre em frente, julgando que era um privilégio da espécie humana, assim como da espécie animal, servir-se das próprias pernas a seu bel-prazer. Não andara ainda duas léguas, quando outros quatro heróis de sei pés de altura o alcançam, o amarram e o levam para o calabouço. Foi-lhe perguntado juridicamente se preferia ser fustigado trinta e seis vezes por todo o regimento ou receber de uma só vez doze balas de chumbo nos miolos. De pouco adiantou dizer que a vontade é livre, que não queria nem uma coisa nem outra. Teve de fazer uma escolha. Resolveu, em virtude do dom de Deus que é chamado liberdade, submeter-se trinta e seis vezes às chibatadas. Aguentou dois turnos. O regimento era composto por dois mil homens. Isso lhe valeu quatro mil chibatadas que, desde a nuca até o traseiro, lhe puseram a descoberto os músculos e os nervos. Quando estavam se preparando para o terceiro turno, Naruto, que já não aguentava mais, pediu por misericórdia que tivessem a bondade de partir-lhe a cabeça. Esse favor lhe foi concedido. Vendam-lhe os olhos, põem-no de joelhos.

Nesse momento, passa o rei dos búlgaros que se informa do crime do paciente. E como esse rei era dotado de um grande gênio, percebeu, por tudo o que soube a respeito do loiro, que se tratava de um jovem metafísico, extremamente ignorante das coisas deste mundo e concedeu-lhe o perdão com uma clemência que será elogiada em todos os jornais e em todos os séculos.

Um bom cirurgião curou Naruto em três semanas com emolientes receitados por Dioscórides [1]. Já estava criando um pouco de pele e já podia caminhar, quando o rei dos búlgaros travou combate com o rei dos ábaros.

...CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

[1] Autor greco-romano, considerado o fundador da farmacognosia através da sua obra De materia medica, a principal fonte de informação sobre drogas medicinais desde o século I até ao século XVIII.



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