Voltaire - Z'Histórias escrita por Iva Sama


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Aviso: Naruto é de Kishimoto, assim como a obra "Cândido ou Otimismo" pertence a Voltaire. O título faz referência, também, à publicação do romancista "O Ingênuo".

Notas de abertura: A maioria das pessoas não curte um romance ou uma poesia, escrita por um filósofo, por achar a linguagem difícil, impregnada de um palavreado arcaico. Mas não é verdade! E Voltaire prova essa tese, através de uma trama recheada de humor, ação, romantismo, ironia e deboche, fazendo referências a dados históricos. Tudo isso, resultando numa leitura MUITO simples e agradável.

Pensei em fazer essa adaptação, com os personagens de Naruto, com a única finalidade de juntar duas coisas que eu, simplesmente, amo. Aliás, espero, através desse artifício, agregar um pouquinho de conhecimento ao imaginário de vocês, quebrando o estigma de que toda obra filosófica é chata!

P.S.: Próximo capítulo mais aberto e com abundância de diálogos.



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CAPÍTULO I

Como Naruto foi criado num lindo castelo e como foi dele expulso

Havia na Vestfália [1], no castelo do barão Hyūga, um jovem loiro de olhos azuis que a natureza tinha dotado dos mais brandos costumes. Sua fisionomia revelava a sua alma. Dotado de bom senso, espírito simples, por essa razão, acredito, o chamavam de ingênuo. Os antigos criados da casa desconfiavam que fosse filho da irmã do barão e de um bom e honrado cavalheiro da vizinhança, com quem esta moça jamais consentira em casar-se, porquanto ele só conseguira provar a legitimidade de setenta e um graus de geração, pois o resto de sua árvore genealógica havia sido destruído pelas injúrias do tempo.

O barão era um dos mais poderosos senhores da Vestfália, pois seu castelo tinha uma porta e janelas. A sala nobre ostentava até uma tapeçaria. Todos os cães de suas dependências compunham, em caso de necessidade, uma matilha; seus palafreneiros [2] eram seus supervisores; o vigário da aldeia era seu capelão especial. Todos o tratavam de monsenhor e riam quando contava casos.

A senhora baronesa, que pesava cerca de trezentas e cinquenta libras, granjeava com isso elevada consideração e fazia as honras da casa com uma dignidade que a tornava ainda mais respeitável. Sua filha Hinata, de dezessete anos, era uma morena de olhos perolados, muito corada, viçosa, rechonchuda, apetitosa. O filho do barão parecia em tudo digno do pai. O preceptor [3] Sai era o oráculo da casa e o pequeno Naruto escutava suas lições com toda a boa fé de sua idade e de seu caráter.

Sai ensinava matafísico-teólogo-cosmolonigologia. Provava de modo admirável que não há efeito sem causa e que, neste que é o melhor dos mundos possíveis, o castelo do senhor barão era o mais belo dos castelos e a senhora baronesa, a melhor das baronesas possíveis.

“Está demonstrado, dizia, que as coisas não podem ser de outra forma, pois, uma vez que tudo é feito para um fim, tudo é necessariamente feito para o melhor dos fins. Reparem que o nariz foi feito para sustentar o óculos. Por isso usamos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para vestirem calças; por isso usamos calças. As pedras foram formadas para serem talhadas e para construir castelos; por isso o senhor barão tem um castelo lindíssimo. O maior barão da província deve ter a melhor moradia. E ainda, como os porcos foram feitos para serem comidos, comemos porco o ano inteiro. Por conseguinte, aqueles que afirmaram que tudo está bem disseram uma tolice; deveriam, na realidade, dizer que tudo está da melhor forma possível.”

Naruto ouvia atentamente e, inocente, acreditava, pois achava a senhorita Hinata extremamente formosa, embora jamais tivesse tido a ousadia de dizer isso a ela. Concluía que, depois da ventura de ter nascido barão do castelo Hyūga, o segundo grau de felicidade era ser Hinata. O terceiro, vê-la todos os dias. E o quarto, ouvir o mestre Sai, o maior filósofo da província e, conseguinte, de toda a terra.

Um dia, ao passar nas cercanias do castelo, no pequeno bosque chamado parque, Hinata viu entre as moitas o doutor Sai dando uma aula de física experimental à camareira de sua mãe, loirinha muito bonita e dócil. Como se a senhorita Hinata tivesse grande inclinação para as ciências, observou, prendendo a respiração, as repetidas experiências que foi testemunha. Viu claramente a razão suficiente do doutor, os efeitos e as causas, e retornou toda agitada, muito pensativa, totalmente dominada pelo desejo de ser sábia, pensando que bem poderia ser a razão suficiente do jovem Naruto, o qual também podia ser a dela.

Ao voltar para o castelo, encontrou Naruto e enrubesceu. O loiro também corou. Ela lhe deu um bom dia com a voz embargada e Naruto falou com ela sem saber o que estava dizendo. No dia seguinte, depois do jantar, ao deixar a mesa, Hinata e Naruto se encontraram atrás de um biombo. A Hyūga deixou cair o lenço. O rapaz o apanhou, e ela pegou-lhe inocentemente a mão. O jovem beijou candidamente a mão da moça com uma vivacidade, uma sensibilidade, uma graça toda peculiar. Suas bocas se encontraram, seus olhos se incendiaram, seus joelhos tremeram, suas mãos divagaram. O barão do castelo Hyūga passou perto do biombo e, vendo aquela causa e efeito, expulsou Naruto do castelo com bons pontapés no traseiro. Hinata desmaiou. Foi esbofeteada pela senhora baronesa tão logo voltou a si. Houve grande consternação no mais belo e mais agradável dos castelos possíveis.

...CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

[1] Vestfália ou Vestefália (em alemão Westfalen) é uma região histórica da Alemanha, à volta das cidades de Dortmund, Münster, Bielefeld e Osnabrück, estando, agora, incluída no estado federal alemão Bundesland de Renânia do Norte-Vestfália (e uma parte a sudoeste da Baixa Saxónia).

[2] Palafreneiro (do latim tardio palafredarius: ministro ou servo do palafrém ou palafredus; este, provavelmente, de equus phaleratus: cavalo ornado) é o membro de uma corte responsável por cuidar e conduzir, em cortejo solene, o palafrém, o cavalo em que os papas, reis e nobres faziam sua entrada solene nas cidades. Na Idade Média, os papas usavam como palafrém não um cavalo, mas uma mula branca com um sino de prata atado no pescoço.

[3] A palavra preceptor pode ser utilizada também para designar a pessoa incumbida de acompanhar e orientar a educação de uma criança ou de um adolescente.



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