Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 2
Cap 1: Atuação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/457123/chapter/2

A menina suspirou nervosa novamente. Já haviam passado uma noite dormindo no chão, grudados aos muros de Ba Sing Se, e ninguém teve alguma ideia de como entrar na cidade.

De acordo com Airon, que já havia invadido quase tudo no Reino da Terra graças a seu passado obscuro, entrar na grande capital era difícil, mas ficar lá dentro por muito tempo era quase impossível. Para Zara, estava cada vez mais complicada a ideia de achar um professor de dobra de terra dentro de Ba Sing Se.

Além das dificuldades que já teria com o tal elemento, somando com a dificuldade de apenas entrar na cidade, a menina estava perto de desistir.

– Podíamos nos vestir como camponeses e entrar dizendo que tínhamos ido numa cidade vizinha visitar algum parente. – Disse Gumo, tentando mais uma vez arranjar uma solução.

– Ah claro. Quando você arranjar uma dessas roupinhas verdes ou marrons, me avise. – Retrucou Airon, mal humorado e tentando arranjar uma posição confortável deitado sob uma rocha.

Gumo, já acostumado com o mal humor do dobrador de fogo, e entendendo seus motivos, apenas suspirou.

Do ponto onde estavam, viam as carruagens de comerciantes entrarem e saírem quase o dia inteiro. Afinal, uma capital daquele porte também deveria ser um ponto de alto comércio. A menina observava melhor as pessoas que entravam e saiam. Crianças nunca iam desacompanhadas, e sempre tinham alguma bagagem. Mas estas eram duas características que o trio não tinha, e não seria nada fácil de arranjar.

– E se... – ia supor a menina, antes de calar-se ao achar uma ideia ridícula.

– E se, o quê, Zara? – Perguntou Gumo, esperançoso.

– Nada, é uma má ideia. – Deixou de lado a menina.

– De más ideias estamos atolados. Mas de ideias novas... – Resmungou Airon numa fraca tentativa de incentivo.

A menina repensou um pouco na ideia, até achar que poderia fazer algum sentido.

– Bem... O quê os guardas fariam se três crianças da tribo da água desabrigadas chegassem chorando de medo ao serem atacadas na estrada e tivessem perdido seu avô? – Perguntou sem acreditar nem um pouco na ideia.

– Eles as levariam para dentro. Isso se acreditassem. – Disse Airon. – Nós não somos sem um pouco parecidos, e eu não vou chorar. Além de quê vocês dois estão com suas roupinhas da tribo da água, eu não. – Falou mal humorado.

Os três ficaram em silencio por um longo período.

– Mas e se Zara estivesse desmaiada e nós três muito sujos? – Supôs Gumo. Zara olhou para o menino com uma expressão pensativa. – Eu posso te emprestar minha camiseta e fico apenas com o casaco. – Continuou olhando para Airon. – Daí ninguém vai notar na sua calça preta, porque na tribo da água também usamos calças pretas. – Concluiu com um sorriso esperançoso no rosto.

Airon ia citar algum defeito do plano, quando parou realmente para pensar.

– A menos que tenha alguém da Dai Li no portão, pode funcionar. – Sussurrou Airon com a mão no queixo, pensativo.

Para que pudessem se certificar que a nada sutil diferença no tom da pele deles fosse percebida, decidiram tentar aquilo a noite. Gumo despiu a parte superior da roupa para entregar a Airon a camiseta branca que usava por baixo do casaco azul. O dobrador de fogo não estava muito contente em vestir a camisa suada e há muito tempo não lavada do outro garoto, mas sabia que precisava.

Zara com pouca dificuldade se sujou de terra e desfiou um pouco o seu vestido, para que parecesse surrado. Em pouco tempo, com os cabelos bagunçados e a roupa rasgada e suja, parecia ter sido atacada por coiotes.

Os meninos não estavam muito diferentes. Airon soltou o cabelo, deixando os fios compridos lhe caírem até os ombros, e se sujou com facilidade, assim como Gumo.

Depois de prontos, se entreolharam.

– Vocês estão acabados. – Brincou Zara. Os três sorriram.

O trio repassou a história que contariam e tentaram atuar, o que não deu muito certo.

Se não podiam ensaiar, teria que funcionar na adrenalina do momento.

Deram a uma volta larga para pegar a estrada longe da vista dos guardas e então Airon segurou a menina no colo com facilidade, por seu pouco peso e pela força do próprio garoto.

Caminharam cansados, como já estavam, e doloridos, como estavam atuando, em direção aos portões. Mal haviam chegado perto dos guardas, e os mesmos já pareciam interessados nas crianças.

Eram apenas dois guardas.

Se não funcionar, ainda temos o plano B. Pensava Airon com a ideia fixa de “desacordar” os guardas.

– Ajuda! Ajuda! – Começou a gritar Gumo correndo em direção aos guardas, mancando.

– O que houve garoto? – Perguntou um dos guardas franzindo o cenho para o menino sujo na sua frente. O outro guarda se aproximou de Airon, que carregava sua melhor expressão cansada no rosto.

– Estávamos com vovô. – Começou a dizer Gumo, já com lágrimas pesadas nos olhos. – Então dois caras pararam a carroça. – Falava com pausas longas e expressões de dor. – Aí... aí... – Ia dizer, quando escondeu o rosto entre as mãos, sem mais conseguir falar.

O outro guarda se aproximou de Zara e de Airon com cautela.

– O que aconteceu com ela? – Perguntou o segundo guarda para Airon.

– Ela tem asma... – Disse ofegante. – E correu demais, depois caiu de um barranco. – Explicou o menino tremendo um pouco. O guarda percebeu que o menino não ia aguentar carregar aquele peso por muito mais tempo. Assim que percebeu aquilo, Airon caiu de joelhos, com cuidado para não machucar a menina em seus braços.

O guarda se abaixou diante dele, enquanto o outro tentava entender algo do que Gumo falava entre longos soluços de choro.

– Diga garoto, seu irmão ali parece que não consegue nem falar. – Disse o guarda tentando ficar mais frio. – Você me parece mais controlado. – Completou.

Airon abaixou a cabeça, olhando para o rosto de Zara, perfeitamente “desacordado” em seus braços.

– Estávamos vindo com vovô trazer umas coisas, eu não sei o quê que tinha na carroça. – Começou a contar o menino ofegante. - Então uns caras na estrada nos pararam e nos atacaram. Yui saiu correndo de medo, e eu fui atrás dela. Ela tem asma, não pode correr! – Disse exclamando a ultima frase, como se estivesse sofrendo muito. – Hian ficou lá com o Vovô, e quando eu voltei... – Ia terminar, mas apenas fechou os olhos com força e virou a cabeça, como se tentasse esconder lágrimas.

O guarda colocou uma mão no ombro de Airon.

– Tudo bem garoto, vai ficar tudo bem. – Sussurrou o homem, sem jeito. Zara ouvia tudo ali, e sentia as mãos de Airon tremerem de verdade.

– Eu não devia ter ido, é culpa minha. – Sussurrou Airon. Para Zara, aquela foi a frase mais verdadeira que jamais tinha ouvido o menino falar. Sentiu uma lágrima cair em seu rosto. Só queria poder parar de fingir e abraçar seu amigo. – Ela vai ficar bem, seu guarda? – Perguntou depois de alguns longos segundos em silencio.

– Claro que vai, menino. – Sussurrou o homem, antes de se levantar e sinalizar para que trouxessem ajuda e abrissem o portão.

O outro guarda tentava fazer Gumo parar de chorar, mas não funcionava. Quando nervoso, Gumo chorava de verdade, então não era muito difícil chorar.

Não demorou para que mais dois guardas chegassem e o portão fosse aberto.

Um dos guardas tentou tirar Zara dos braços de Airon num certo momento.

– Não. Eu levo ela. – Dizia muito frio sempre que alguém se oferecia para levar a menina.

Logo foram levados para uma sala na guarita da guarda, onde receberam água e responderam algumas perguntas.

– Vocês têm lugar para ficar? – Perguntou um dos guardas.

– Não. – Sussurrou Airon, sentado numa cadeira, ainda com Zara em seu colo.

O guarda suspirou inquieto.

– Acha que pode arranjar lugar para ficar? – Perguntou outro guarda. Airon ficou em silencio, pensativo.

– Sim. – Disse. Os guardas se entreolharam um tanto aliviados.

Foi mais ou menos quando Zara “acordou”. Um dos guardas olhou encantado para os olhos verdes e tão claros da menina.

Ela olhou para todos ao seu redor, um pouco hesitante, para então olhar para o rosto sujo, cansado e “sofrido” de Airon. Abraçou-se com o menino, escondendo o rosto em seu peito. Ele retribuiu o abraço.

Zara precisava abraça-lo desde que sentiu a lágrima cair em seu rosto.

Os guardas olhavam com pena.

Foi então que um homem entrou no cômodo. Tinha as roupas mais elegantes que os outros guardas, e usava roupas mais elegantes. Olhou para os três, e em seguida para os guardas. Um deles se apressou para contar o acontecido para o recém-chegado. Ele olhou para Airon, que era claramente o “responsável”, com certa desconfiança.

Por um segundo Airon chegou a pensar que fosse um membro da Dai Li.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!