Me chamem de problemática,demente,ou sei lá o quê,mas eu AMO o cheiro das lojas de NY logo pela manhã.Saiba que isso é o.k. se você for uma filha de Afrodite.

Hebe me puxava de um lado pro outro toda vez que via um logo de algum jogo de videogame.E depois eu que sou louca por compras,arre.

–Ah,vamos,vai,sua candanga! Só mais uma! - Era o que ela sempre dizia quando entrava em alguma loja desse tipo.

Comprei uma infinidade de All-Stars,Crocs e sapatilhas para usar à noite na fogueira do Acampamento.Voltamos ao Olimpo ao entardecer,minha hora favorita do dia.Deixei minhas sacolas com Morfeu (Quem manda ele ser gentil,fofo e estar ali no meu caminho?) e fui para meu lugar favorito na morada divina,um jardim afastado de tudo e a céu aberto,onde eu podia ouvir minhas músicas favoritas,dançar e até ler um livro.

Sentei-me em uma árvore,e quando digo sentei,quero dizer que escalei-a para chegar em um galho confortável.Meus shorts se encheram de terra mas eu nem liguei.

Uma brisa de começo de noite soprava gostosa,bagunçando meus cabelos ruivos.Aproveitei a sensação que Éolo me fizera sentir,e então ele chegou.Sentou-se ao meu lado e começou a observar o céu que começava a ficar estrelado.

–É uma hora linda,não acha? - Me virei e congelei.Ah,não,não,não.Não pode ser.Olhei mais uma vez e me segurei para não me beliscar para ver se estava sonhando ou coisa parecida.Eros,em pessoa,estava sentado ao meu lado.Seu cabelo preto meticulosamente penteado e caído pelos ombros balançava com o vento.Ele mudara de roupas,e naquele momento,estava vestido como um mortal,com uma camiseta preta dos Beatles,sim,dos Beatles!,uma calça jeans e um coturno preto.Se não fosse por sua aura divina e seus olhos vermelho-sangue,qualquer um diria que ele era só mais um adolescente roqueiro perdido por NY - O que foi? Achou que os deuses só se vestiam com roupas cafonas ou tocas emboloradas?

–Bom,conhecendo minha mãe,acho que posso dizer que vocês,quero dizer,os senhores, são bem moderninhos - Nós dois rimos.

–Não precisa me chamar de senhor,Annabelle.Só Eros,okay? - Assenti com a cabeça.Ficamos em silêncio por um bom tempo,até que resolvi interagir com ele.

–Então,Eros - Enfatizei a última palavra - Como é o seu mito? Eu não sei muito sobre mitologia,e há pouco tempo fui reclamada - Eu admito,usei um pouco de charme com ele,e cruzei os dedos na esperança de conseguir alguma informação sobre o deus dos amores impossíveis.

–Bem.O que tenho a dizer? Minha mãe arranjou uma "treta",como vocês jovens falam,com uma princesa mortal chamada Psiquê e me mandou acertar a moça com uma flecha que a faria se apaixonar pela mais horrenda criatura.E realmente,assim foi-se feito.Ela se apaixonou por mim.

–Você não é horrendo - Parecendo não ter escutado meu comentário,continuou.

–Eu não sou horrendo,modéstia a parte.É o que eu represento.Ele é a coisa mais horrível e cruel desse mundo - Foi aí que me dei conta do que ele estava falando.

–O amor? - Ele afirmou com a cabeça - Mas o amor é tão...romântico! - Depois de ter percebido a asneira que eu falei,corei mais do que meu cabelo ruivo - Quer dizer,o amor é lindo,pense: duas pessoas ficam juntas por muito,muito,muito tempo por causa dele!

–Nem sempre.Você sabe que muitas pessoas se matam por amor,não é? Outras morrem por ele.O amor pode ser cruel,sim - Baixei meus olhos.Ele havia tocado,literalmente numa ferida antiga que nunca cicatrizava.Como se pudesse ler meus pensamentos mais íntimos,ele cobriu minha mão na sua - Desculpe.Não queria tocar naquele assunto.Sinto muito.

–Você não tem culpa - Pulei da árvore,sem me importar em cair.Afinal,eu nunca caía mesmo,e se eu me machucasse,eu tinha meu convênio de saúde Apolo.Mas antes,só por precaução,rezei para que ele estivesse em dia,pois detestava ter que ficar 1,2 horas na fila do chalé de Higéia para um de seus filhos me ajudar com algum corte ou arranhão - Quer dizer,você tem.E está certo em relação ao amor.Ele é realmente a coisa mais repugnante que já existiu sobre a face deste planeta - Um trovão ribombou por perto e internamente pedi desculpas à minha mãe.Corri em direção do único lugar que poderia me confortar naquele momento: minha cama no templo de Afrodite.