– Senhor Salvatore, faz quatro horas que você está dentro dessa sala, mexendo no computador e bebendo uísque. Tem certeza que está tudo bem? - perguntou minha secretária. Acho que seu nome era Andie ou coisa assim.

– Traga mais uma garrafa de bourbon e suma da minha frente. - digo ríspido.

Odeio quando as pessoas fingem se preocupar comigo. Sem sombras de dúvida, se eu fosse um cara comum nessa empresa, a maioria das pessoas que me cumprimentam com um sorriso falso estampado no rosto iriam me olhar com repulsa. O motivo? Ter tido um filho muito novo. Tenho trinta um anos, e minha filha treze... Como meus pais morreram a vinte anos atrás, eu e Stefan herdamos essa empresa e a monstruosa fortuna deles. - metade para cada um. - mas eu não importo e se forem ver a conta corrente, o dinheiro continua intacto. Ou com uma pequena diferença de dois ou três mil dólares, a quantia mensal da escola de April.

– Aqui está senhor. - falou Andie, entregando-me uma garrafa de vodca. Se eu não estiver muito velho, pelo que me lembre, eu pedi mais um bourbon.

– Senhorita Star, eu pedi uma garrafa de bourbon e não de vodca. - sorrio sarcasticamente.

– Oh, me desculpe, eu...

– Demitida. Entregue-me seu crachá, recolha suas coisas e espero nunca mais vê-la nessa cidade.

Ok, acho que exagerei ao falar "nessa cidade." mas agora é tarde para pedir desculpas. Ela me encarou com lágrimas nos olhos, entregou seu crachá, e bateu a porta de meu escritório com força.

– CAROLINE! - grito. No mesmo instante a loira aparece. Era uma das únicas pessoas que realmente confio, ela e Klaus somente.

– O que foi, sen.. Quer dizer, Damon. - corrigiu, já que falo mil vezes para me chamar de Damon. Afinal, não sou muito velho. - Se for falar sobre o relatório da semana passada, eu entreguei pro Klaus e...

– Tem como você ficar quieta e me escutar? - falo. Ela sorri envergonhada, e se senta na cadeira a minha frente. - Obrigado... Daqui alguns segundos todos irão sabem, mas darei a honra de te contar a primeira mão. Demiti a senhorita Star, e preciso de uma nova secretária.

– Porque a demitiu? Ela é tão legal com você, Damon... Ela se preocupa demais e você faz isso com ela? Coitada.

– Eu pedi um bourbon, e ela me deu vodca. - dou de ombros, e a loira me encara, parecendo estar com raiva.

– Você a demitiu por causa dessa besteira?

– Não é besteira... - bato a mão na mesa nervoso. - Preciso de uma secretária, conhece alguém?

– Conheço... Ela é minha melhor amiga desde que me conheço por hoje. Se chama Elena Gilbert, tem dezenove anos, solteira e se formou em jornalismo em julho do ano passado.

– Hoje, eu vou colocar um anuncio no jornal e amanhã irá começar as entrevistas. Veremos se a Gilbert é boa ou é só ladainha sua.

– Então, me prometa uma coisa. - colocou o dedo indicador na minha cara, me ameaçando. - Não ouse beber depois que acabar o trabalho porque serão muitas meninas e não quero que você corra o risco de dormir no meio da entrevista.

– Pode deixar, mãe. - sorri com as mãos em cima. Ela me abraçou, dando um beijo na minha testa. - E mais uma coisa, Care... Tem como buscar a April na escola pra mim? Vou estar meio atolado com o relatório já que estou sem secretária.

– Claro que sim, vai ser um prazer cuidar da pestinha. Você sai do trabalho as cinco, certo? - eu assinto e ela olha em seu relógio de pulso. - Ou seja, daqui a duas horas... Como meu turno já acabou, vou ficar com ela até o senhor "demiti minha secretária porque pedi bourbon e não vodca" chegar. Beleza?

– Olha como fala comigo, loira do banheiro. Posso muito bem te demitir, continuo sendo seu chefe. - mostro a língua.

– Muito maduro você, hein Salvatore.

(...)

Abro a porta do meu apartamento, e vejo Caroline dormindo no sofá enquanto assistiam The Big Bang Theory, assim que April me viu, saltou do sofá e se aproximou.

– PAPAI! - April me abraçou com um sorriso gigante no rosto. - Fiz um desenho na aula de Artes, somos eu e você.

Mostrou o desenho, havia dois bonecos de palitinhos, e estava escrito: "Papai e eu." Dou um sorriso, pego um imã e o coloco na geladeira.

– A professora mandou fazermos um desenho da nossa família. Angeline começou a rir, e falou que eu não podia fazer o que ela pediu porque não tinha mãe. - me encarou com lágrimas nos olhos.

– Claro que você tem mãe, amor. Ela está em um lugar melhor, eu tenho certeza, e quando essa menina falar isso, sabe o que você fala? - ela negou com a cabeça. - Que ela mora com a gente.

– E ela mora? - perguntou, secando as lágrimas que caíam de seus olhos azuis.

– Sim, dentro daqui ó. - aponto para o nosso coração. - E mamãe está nos olhando orgulhosos, falando para todos que somos a melhor coisa que ela já teve na vida.

– Vou pro meu quarto fazer o dever de Matemática. Fala pra tia Care que eu mandei um beijo?

– Claro, agora vai. - dou um tapinha em suas costas sorrindo.

Escuto a porta se fechar e vou até Care que estava agarrada ao travesseiro, ela resmungava alguma coisa e depois falava "Klaus."

– Care... Hora de acordar. - a sacudo, ela desperta assustada e me dá um soco no olho. - Ai.

– Ai meu deus, me desculpa. Damon, você está bem?

– Eu parece bem? Porra, você é bem forte hein. - tiro a mão do meu olho e ela me encara assustada. - O que foi?

– Seu olho... Ele...

– É perfeito, eu sei.

– Está roxo.

O que? Corro até o espelho mais próximo e vejo a roxidão em meu olho esquerdo... É hoje que Caroline vai morrer.

– Me desculpa, mas eu sei como disfarçar. Amanhã de manhã, eu chego mais cedo e faço. Elena deve estar me esperando e mais uma vez desculpas.

– Vai logo antes que eu te mate, Forbes.

Ela riu, me deu um beijo na bochecha e saiu do meu apartamento. Meu celular começa a tocar, olho no visor e vejo Klaus.

– Sua namorada é muito forte, hein. - digo para provocar.

– Eu já disse que ela não é minha namorada, caralho. Mas como assim forte?

– Ela dormiu aqui, quando a chamei pra ir pra casa, ela me deu um soco no olho.

– COMO ASSIM DORMIU, SALVATORE?

– Não precisa o ciúme de algo que não é seu, ela estava cuidando da April. E a propósito, eu estou bem, obrigado por se preocupar, mas porque me ligou?

– Você tem cinquenta garotas histéricas querendo ser sua secretária. Espera... Setenta agora. Era só isso mesmo, tchau.

De manhã.

Caroline chegou mais cedo em minha casa, botou uma base em meu olho e nossa, nem parece que essa loira invocada me deu um soco.

– Obrigado. - agradeço.

– De nada, mas é melhor se atrasar chefinho, você está atrasado.

Alguns minutos depois.

– Bom dia, pai. - desceu as escadas com seu uniforme escolar, seu cabelo estava solto o que realçou seus olhos. - O que temos hoje? E não diga que é panqueca ou comida chinesa da semana passada porque eu cansei de comer só isso pelos últimos meses.

– Cereal porque ambos estamos atrasados.

Chegamos em sua escola, abri a porta do passageiro e a abracei. Ela lembrava muito sua mãe em todos os aspectos, e a abraçando eu tinha a sensação de estar abraçado com ela.

– Pensa no que eu te falei, April. E lembre-se... Papai e mamãe te amam muito.

– Eu te amo papai.

– Eu também te amo, amor. - lhe dei um beijo na testa, e a vejo correr em direção a Charlotte.

O dia foi muito cansativo, algumas candidatas falaram exatamente a mesma coisa. Outras falaram que só estavam aqui por dinheiro, outras tentaram me seduzir e algumas praticamente pularam em mim.

– Elena Gilbert. - a chamo. Lembrei-me que era a amiga de Caroline, ela estava muito bonita. - Sente-se na cadeira. - apontou para a cadeira na sua frente. - O que faz da vida?

– Me formei em jornalista em julho do ano passado. - sorri, mas permaneço sério.

– Idade?

– Dezenove. - responde, e me finjo de surpreso. - Sim, eu sei que sou muito nova mas eu era uma das alunas mais avançadas na minha escola.

– Porque gostaria de trabalhar aqui?

– Acho que é porque eu simplesmente amo o que faço, sinto prazer em escrever uma matéria expondo minha opinião sem deixar de lado a dos outros, claro. Minha mãe sempre me dizia que tinha um dom especial para escrever e seria uma ótima colunista. E desde que eu tinha sete anos, sonho em ser uma colunista doThe New York Times.

Esboço um sorriso de lado, e escrevo uma coisa em meu notebook que nem eu entendi.

– Ok... Acho que esta bom de perguntas por hoje. - falo, largando meus óculos suspirando. - Ligaremos em torno de uma semana.

Escolhi Elena por vários motivos: A carisma, a inteligência, acredito que tem capacidade de muito mais, determinação e também dá um ar mais novo a empresa. E também por a achei gostosa.

Cinco anos depois.

Ligo para Elena, que me atende no segundo toque.

– O que você quer, Salvatore? - diz grossa.

– Você. - digo com um sorriso malicioso em meu rosto.

– Vá se fuder. - ela ia desligando, mas eu grito desesperadamente um "espera." - O que?

– Estou em dúvida no que dar para a April no seu aniversário de dezoito anos.

– E precisa me ligar as duas da manhã pra isso? - tenho quase certeza que ela revirou os olhos.

– Sem revirar os olhos pra mim, mocinha.

– Como você sabe? - pergunta desconfiada.

– Tenho um iPhone 10 que dá para ver o outro sem sair de casa, sabe? - respondo irônico.

Nós dois não temos um relacionamento muito bom como chefe e secretária, mas aí me perguntam porque ainda não a demiti? Simples, porque nesses dois últimos anos descobri que estou apaixonado por ela assim como era apaixonado por minha ex mulher ou talvez até um pouco mais.

– Idiota... Preciso acordar cedo para trabalhar, você não mas eu sim. E se me dá licença, vou voltar a sonhar com o meu casamento com Michael Jackson.

– Ele está morto, sinto te informar.

– Vou pra França, lá é legal se casar com defunto. Agora me deixar dormir. - desligou o telefone.

Boa noite, Elena... Durma com os anjos. Tenho vontade falar, mas eu já sei que ela desligou, então ligo de volta.

– O que foi, porra?

– Boa noite.

– Você me ligou para falar boa noite? Considere-se um cara morto, Damon Salvatore. - desligou com raiva.