Belos tempos. escrita por Laucamargo


Capítulo 6
O livro.


Notas iniciais do capítulo

Esse eu dedico a todas as leitoras que tão carinhosamente acompanham essa peripécia. E em especial para a minha grande e estimada amiga, Rayanny, por suas lindas palavras na primeira recomendação dessa estória. E a você Bia, meu muito obrigada pelas preciosas dicas . Beijo grande a todas.



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Assim que a Dú, saiu do seu quarto, Laura rapidamente desatou o cordão que prendia o pacote que Edgar lhe mandara. Estava ansiosa para ver qual livro ele escolhera para ela. Mas , foi obrigada a se submeter a todas as perguntas que sua Ba lhe fizera e ainda tomou o café da manhã sob a sua supervisão atenta. Conseguiu apenas que ela lhe deixasse ver o livro primeiro e sozinha, depois de prometer solenemente que lhe mostraria o livro, assim que ela retornasse para trazer-lhe o almoço.

Não soube bem o que pensar, quando se deparou com uma capa, estranha, parecia de couro, e estava ... costurada? Sim, era isso mesmo, parecia-se mais com uma pasta!

__ Mas não era para ser um livro? Rumurou para si mesma.

Apesar de achar estranho aquele “livro”, sua curiosidade foi maior e abriu a capa e o que viu a deixou ainda mais surpresa. Eram várias folhas desajeitadamente amarradas do lado, todas juntas e traziam uma escrita a mão.

__ Mas, o que é isso?!!

Assim que seus olhos percorreram as primeiras linhas, percebeu que era uma estória, um conto na verdade, e aquele era o original, não era a versão impressa. Leu avidamente, cada linha, cada página e se deliciou com a aventura que era descrita na estória. Tratava-se das peripécias de um povo pequenino que vivia na floresta e suas casas eram minúsculas e a vila das criaturinhas localizava-se em meio as raízes da maior árvore dessa floresta.

De repente, ela já não estava mais em sua cama, com o pé enfaixado, mas sim correndo e escalando raízes, voando agarrada as penas de um pássaro, sentada junto àquele povo ao redor da grande fogueira no acessa no centro da vila. A escrita era tão detalhada que era como se ela estivesse lá, vivendo tudo aquilo. Maravilhoso!

Em várias passagens, sentiu que prendia a respiração na espera do que aconteceria, e perdida em meio aquelas mágicas palavras, assustou-se quando a Ba, bateu à sua porta perguntando-lhe se poderia entrar.

__ Se eu disser não, você vai embora?

__ Você é tão engraçadinha, Laura!!

E dizendo isso, entrou.

__ O que você está fazendo?

__ Bá, você não vai acreditar nisso!

__ Nisso o quê? Já estou me arrependendo de ficar intermediando as encomendas desse garoto. Diga logo o que é?

Com um sorriso maravilhado no rosto, Laura contou para a D. Lurdes o que havia no pacote, enquanto lhe mostrava as páginas desajeitadamente arrumadas na pasta.

__ A estória foi escrita por ele Ba. Essas são palavras do Edgar, ele é o autor. Eu nem sei o que pensar! Ele disse que me mandaria um livro para eu ler, mas eu jamais imaginaria que seria algo escrito por ele. Veja.

Mostrou para a Bá, a última pagina, em que estava a assinatura de Edgar, a data provavelmente em que ele concluíra a estória, 19 janeiro 1925 e o local, “Riacho Velho, RJ”.

__ Tem certeza disso Laurinha? Você já leu?

__ Não, Bá. Eu engoli ferozmente. É uma estória cheia de aventuras de um povo minúsculo que vive na floresta. Humanos, porém minúsculos! Do tipo que você sabe que eu gosto. Dessas estórias que você viaja para longe enquanto está lendo!

__ Mas porque esse garoto te mandou isso?

__ Não sei. Não faço nem ideia. Talvez ele quisesse ver se eu gosto, ou quem sabe, ele mandou por engano ...

__ Pensa bem Laurinha. Esse menino veio aqui hoje, praticamente antes de o sol nascer, você acredita mesmo que ele se enganaria?!

Enquanto conversavam, D. Lurdes, olhou rapidamente as páginas e leu algumas passagens. E realmente parecia uma boa estória. Não havia porque não acreditar em Laura.

__ Não havia mais nada no pacote? Um bilhete, uma explicação, ... nada?

__ Não. Só encontrei o livro.

Laura e D. Lurdes depois de quase esgotarem o assunto, passaram para as lições de bordado. Atividade que a menina apenas suportava, para não brigar ainda mais com a mãe.

Já estavam bem envolvidas nessa atividade, quando D. Constância entrou no quarto, sem bater. Essa era uma das coisas que sua mãe fazia que mais irritava a menina. Sua mãe se recusava a levar em conta qualquer possibilidade de que seus filhos usufruíssem do mínimo de privacidade.

__ Laura! Agora você vai me explicar o que estava fazendo no meio do mato com um qualquer e ainda por cima contra as ordens que seu pai e eu lhe demos.

__ Bom dia pra Senhora também minha mãe. Eu estou passando bem, meu pé já nem dói tanto.

__ Não me venha com esse sarcasmo insolente, menina. Sei que seu pai não consegue ser rigoroso o suficiente com você, mas comigo a conversa é outra.

Laura já havia deixado o bordado de lado e preparava-se para mais uma conversa com a mãe. Elas nunca conseguiam se entender, não importava que assunto fosse. Sempre se viu mais próxima do pai. Com sua mãe tudo era sempre motivo para briga. Ela implicava com seus livros e o tempo que perdia com eles, inventava mil atividades que segundo ela tornaria a Laura mais feminina e preparada para um bom casamento. Era terminantemente contra a filha estudar na escola do vilarejo, não gostava de morar na fazenda, por ela eles já estaria morando na capital. Laura imaginava que o seu casamento com o Dr Assunção, foi uma estratégia para sair do interior e ir para a cidade grande. Mas o que sua mãe não considerou foi a paixão que o seu pai tinha por aquelas terras e pela criação de cavalo que ele tão habilmente estava a iniciar. Essas atividades eram pontos constantes de conflitos entre os dois. Mas o seu pai era irredutível: não queria morar na capital da república, pelo menos por enquanto. E essas questões deixavam a D. Constância ainda mais nervosa e irascível do que o normal, e Laura era sua vítima preferida, principalmente agora que o seu irmão estava estudando na capital.

__ Mamãe ... o papai já me colocou de castigo e deu-me um belo sermão! Não se preocupe. O que tanto incomoda a senhora não irá acontecer tão cedo! Eu estou proibida de sair de casa até segunda ordem.

__ Pelo menos isso. Mas não pense que você irá me distrair com essa falação. Quero saber quem é esse moleque com o qual você estava.

Laura não sabia o que dizer. Não imaginava que a mãe soubesse do Edgar. O pai lhe disse que não iria lhe contar.

__ Vamos Laura. Estou esperando. Responda.

A secura de sua mãe sempre a incomodava, não importava quantas vezes tivesse que passar por isso. Não via como seria possível explicar sobre o Edgar para ela, muito menos mostrar-lhe o livro que ele escrevera. Ela não entenderia, e ainda era capaz de rasgar o livro do menino.

__ Mãe. Ele estuda lá na escola do papai, e quer a senhora acredite ou não, encontrei-me com ele na mata por pura obra do acaso. Estava com o pé machucado e ele me trouxe para casa. Só isso.

__ Olha só o que essa porcaria de escola que o seu pai inventou esta trazendo para a nossa casa. Sabe-se lá que tipo de garoto é esse.

D. Lurdes que até então se mantinha calada, resolveu apaziguar os ânimos.

__ D. Constância, eu conheço o menino e não representa problema algum.

Com um olhar feroz, Constância rebate a interrupção.

__ Não te perguntei absolutamente nada.

E virando-se novamente para a menina, diz:

__ Pois bem. Se agora, eu não conseguir convencer o seu pai de que você não pode continuar a estudar nessa escolinha de quinta, eu não me chamo Constância Bragança Assunção.

__ Mãe, por favor, não faça isso. A senhora sabe o quanto eu gosto de estudar. Por favor ...

Mas sua mãe já estava batendo a porta e não quis ouvir as queixas da filha. Como a filha se sentia era um assunto secundário, ela não perderia tempo com isso, era sempre assim. E Laura se ressentia desse tratamento que recebia da mãe. Enquanto ela servia para pousar de filha perfeita nas festas que a mãe oferecia, ou quando recebiam visitas, mas quando estavam a sós não restava mais nada. Seus olhos estavam marejados de lágrimas e assim que a D. Constância bateu a porta, sua bá correu a lhe abraçar e sussurrar palavras de carinho.

__ Não fique assim criança! Shi shi, isso já vai passar. Tenho uma ideia, porque você não lê o livro do Edgar para mim, enquanto esperamos a hora do almoço?

Laura, enxugando as lágrimas que teimavam em cair, ensaiou um sorriso para sua querida Dú.

__ Bá, o que seria de mim sem você?!! Eu te adoro sabia?!

E assim elas se acomodaram na cama e Laura pôs-se a ler, agora calmamente, a bela estória escrita pelo seu novo amigo.


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Notas finais do capítulo

Maravilhosa semana a todas e até domingo que vem!