Belos tempos. escrita por Laucamargo


Capítulo 7
Visitas.


Notas iniciais do capítulo

Laura continua de repouso, mas receberá várias visitas ...



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Já estava quase na hora do almoço. Laura encontrava-se a rabiscar em seu querido caderno. Em sua última viagem à capital, o seu pai lhe trouxera um lindo caderno, grande com capa de couro, com espaços para colocar alguns lápis e ainda era possível acrescentar mais folhas! Seus desenhos representavam sua vontade de conhecer o mundo e deixar sua marca nele, e ela se enchia de alegria ao ver que o pai aprovava esses sonhos.

Laura ainda se entretinha com seus rabiscos, quando o pai chegou e chamou-lhe, colocando apenas a cabeça pela fresta da porta.

__ Filha?!

Apesar de ainda esta envergonhada por ter desobedecido aos pais, era sempre uma alegria estar com o pai. Sua presença era um conforto...

Ela estranhou a ausência da visita do pai pela manhã. Pensou até que ele estivesse muito bravo com ela para querer vê-la.

__ Oi paizinho! Entra. Achei que o Sr não viria me ver ...

Sr Assunção entra fechando a porta atrás de si.

__ Eu vim hoje bem cedo. Mas você ainda estava dormindo e eu não quis te acordar. Como está se sentido? O pé incomoda muito?

__ Não pai, estou bem. Quase não sinto dor. Mas ainda não consigo firmar o pé no chão.

__ Nem tente fazer isso, por enquanto. Talvez amanhã...

Enquanto o pai examinava o pé da menina, esta pensava o quão diferente fora a visita do pai e da mãe e se perguntava porque tinha que ser assim?!

__ Paizinho... Por favor, não fique magoado comigo! Perdoe-me...

__ Filha de meu coração! Não estou magoado, mas não quero saber de desobediências novamente. Algo sério poderia ter te acontecido ...

__ É eu sei... E te prometo que nunca mais faço isso. (Agora com um pequeno sorriso... ) Quando eu for lhe desobedecer daqui para a frente, eu lhe aviso antes...

__ Mas olha só! Por isso Constância implica tanto com nós dois, você não me leva a sério menina!

__ Levo sim papai. A diferença é que com o senhor eu consigo conversar e com a mamãe isso é impossível.

Então contou para o pai como se deu a conversa da mãe mais cedo, e como ela ficara magoada com as palavras da mãe.

__ Sua mãe se preocupa com você Laura. Ela só tem um jeito estranho de demonstrar isso. Quando ela chegou, ontem à noite, foi preciso segurá-la para não vir aqui e te acordar para ver com os próprios olhos que você estava bem, de tão aflita que ficou ao saber que você havia se machucado.

__ Acredito, porque é o senhor que está dizendo, mas hoje cedo ela não me pareceu nem um pouco preocupada com meu bem estar!

Pai e filha conversaram mais um tempo. O assunto enveredou-se principalmente sobre os cavalos que o pai estava planejando comprar para começar uma criação. Sr Assunção também avisara a filha de que o irmão havia pernoitado no vilarejo, na casa de um amigo mas que provavelmente chegaria para almoçarem juntos.

Laura pensou em mostrar o livro de Edgar para o pai, mas ficou receosa de que ele não aprovasse. Além de que teria que contar-lhe que Edgar voltara a fazenda para trazer-lhe o livro. Como ela não estava certa de que seu pai consentisse esta amizade, preferiu mantê-lo guardado embaixo do seu travesseiro, ... bem seguro. Ainda mais que o pai lhe garantiu que não havia motivos para ele lhe tirar da escola, pelo menos por enquanto, apesar de sua mãe já ter-lhe solicitado que fizesse exatamente isso, conforme ele lhe contara. Mas talvez ele mudasse a maneira de pensar se descobrisse a proximidade de Edgar.

Assim que o seu pai a deixou, seu irmão Albertinho entrou intempestivamente em seu quarto, segurando uma bandeja com uma travessa.

__ Olá, menina sapeca!

Indo em direção a Laura, que estava confortavelmente instalada em sua poltrona, ao lado da grande janela do quarto, aguardando sua Bá, trazer-lhe o almoço.

__ Mas que dupla surpresa! Você veio dar o ar de sua graça e ainda esta fantasiado de garçom?!

Assim que ele depositou a bandeja na mesinha, os irmãos dividiram um afetuoso abraço. Laura agitou-se de alegria por finalmente rever o querido irmão.

__ Ah! Que bom que voltou! Pensei que não iria sobrar nada de meu irmão para mim! Te procurei ontem cedo e você já havia saído ...

__ Pois é, mas isso não era motivo para você me aprontar uma dessas né irmãzinha?!

E assim os irmãos empreenderam uma conversa leve e fácil. Como Laura não poderia descer, eles almoçaram no quarto.

Laura tinha grande afeto pelo irmão e muito orgulho também. Albertinho sempre foi um bom companheiro, apesar da diferença de idade e de gênero, sempre a tratou com igualdade, a incluindo nas suas brincadeiras, atividades e passeios. Além de ser seu eterno protetor dos exageros de D. Constância, que ao saber que a menina estava com o irmão relaxava em sua eterna vigilância. Ela sentia muita falta dele, agora que Albertinho estava estudando na capital. Também sentia um pouco de inveja, pela liberdade que ele usufruía e que ela sabia que seria muito diferente com ela. Dar prosseguimento aos seus estudos era apenas um sonho bem distante...

Já era fim de tarde, quando Albertinho saiu e disse-lhe que voltaria logo mais a noite, para conversarem mais um pouco para que ela lhe contasse tudo o que lhe acontecera enquanto ele estivera fora.

Depois que o seu pai veio lhe ver, agora em companhia da mãe, que se limitou a apenas perguntar-lhe se estava precisando de algo para ajudar a passar o tempo, Laura tirou um pequeno cochilo, provavelmente efeito do remédio que o pai lhe ministrou para controlar a dor.

Quando enfim despertou, já era noite e a sua Bá, estava lendo em sua poltrona a beira da janela, sob a luz plácida de um lampião.

__ Olá ...

__ Oh, minha menina finalmente acordou! Já estava ficando preocupada com tanto sono!

__ Papai falou que é efeito do remédio bá.

__ Albertinho esteve aqui, há uma hora mais ou menos, não quis te acordar ...

__ Que pena, agora ele deve ter saído.

__ Engano seu. Ele esta dormindo. Acho que as farras de ontem foram demais para ele ...

A bá disse, com um sorriso travesso no rosto, o que deixou a Laura pensando no que o irmão estaria aprontando dessa vez... Com certeza Dú saberia, Albertinho, assim como ela, era muito apegado a essa doce senhora.

Quando se arrumara para dormir, bem mais tarde, a casa já se encontrava em completo silêncio. E com um pensamento inquietante a surgir em sua mente, a pequena, repousou num sono tranquilo.

Quando Du, viera lhe acordar pela manhã, encontrou a menina já sentada na cama a desenhar em seu caderno.

__ Mas olhem só, eu que achei que teria que sacudir a cama para te acordar! Que grata surpresa já te encontrar desperta e tão envolvida .... O que esta fazendo?

__ Oi Bá, bom dia! Não é nada demais, apenas amanheci inspirada para desenhar.

__ Laurinha, farei de conta que acredito. Pode parar um pouco para arrumar-se e tomar o desjejum, ou o trabalho não pode esperar?!

__ Claro que pode, já disse não é nada importante, é só para passar o tempo.

Já fechando o caderno e o colocando de lado, Laura vira-se para colocar os pés para fora da cama e tenta apoiá-los no chão, mas o pé machucado ainda estava inchado e ressentido de suportar o seu peso.

Então com a ajuda de sua Bá, ela troca sua camisola de cambraia, toda bordada por um vestido azul simples, mas singelo, com um avental, também com pequenas rosinhas bordadas ao seu redor. Esse era um de seus vestidos preferidos, exatamente porque era mais simples e fora feito pela sua Bá.

Tomaram o café da manhã, tranquilamente, com Dú lhe contando algumas novidades da fazenda. O livro de Edgar havia sido esquecido ... Quando já estavam a terminar o desjejum, Luzia, bateu à porta, e assim que Du atendeu e voltou para junto de Laura, informou-lhe da novidade.

__ Laurinha, a Tais, já voltou da capital, e mandou avisar que vem aqui hoje a tarde para ver-lhe.

Iluminada de alegria, Laura não conseguia conter-se:

__ Ah, que maravilha! Ela me disse que talvez só retornasse na segunda, que até iria perder a aula. Será que aconteceu alguma coisa Du?

__ Não, com certeza ela se enganou, duvido muito que a mãe da Tais permitisse que ela perdesse aula. Você sabe o quanto eles tem orgulho de ver a filha estudando.

__ É verdade ... não há de ser nada. Não vejo a hora de vê-la, sinto tanto a falta dela, para conversar, brincar ...

__ Que bom! Então é assim, essa velha coroca aqui não serve de companhia! Tudo bem! Eu entendi!

Laura sorrindo e abraçando a sua Dú, na cadeira ao lado, e disse:

__ Du, deixe de bobagem! Você me entendeu muito bem. É que a Tais é minha primeira e única amiga com a mesma idade que eu. E até hoje não consigo acreditar que mamãe não tenha colocado empecilhos em nossa amizade!

__ Você não imagina porque?

__ Imagino sim ...

Elas sabiam que um dos motivos de D. Constância aprovar a amizade das duas meninas é que a família da Tais era muito bem relacionada com pessoas importantes na capital. Isso compensava o fato de ser uma simples família de fazendeiros com renda bem modesta. Assim que a mãe descobrira, numa das cartas de Albertinho, que ele conhecera um tio da Tais na capital que era Senador da Republica, sua mãe de repente aprovara completamente sua nova amiga.

Essa maneira que sua mãe julgava e separava as pessoas incomodava em demasia a pequena Laura, que pela influência do pai, era mais propensa a ver as pessoas pelo que elas eram e não pelo que possuíam ou pelas suas relações abastadas ou influentes. E a medida que crescia essa postura da mãe lhe parecia ainda mais fora de propósito.

Logo depois do almoço, Laura estava ansiosa pela chegada da amiga, que para ela estava tardando demais ...

Até que, uma batida suave na porta, lhe trouxe a aguardada amiga.

__ Entra, Tais. Que bom que você já voltou. Foi um horror ficar aqui nesse feriado sem minha amiga.

Tais entrou, e se aproximou da cadeira onde Laura estava sentada.

__ Mas o que aconteceu com você Laurinha?

Laura resumiu como aconteceu o acidente, mas o que despertou a atenção da amiga foi a presença do menino molhado.

__ Mas como ele foi parar aqui na sua fazenda? E você já sabia o nome dele? E não me contou? Mas que negócio é esse? Pode falar tudinho agora, já que você não tem como fugir!

E assim as duas meninas, passaram longas horas, com Laura contando todos os detalhes do que aconteceu desde o dia em que ela viu o Edgar ensopado na entrada da escola. E também mostrou para a amiga o livro que ele lhe mandou. Assim como Laura, Taís ficou encantada com a estória e queria levar o livro para ler, porém Laura foi categórica em não permitir isso, se ela quisesse teria que ler lá com ela.

__ Não fique zangada Tais, mas não posso emprestar algo tão importante assim, sem a autorização do dono, entende?!

__ Ta bom ... mas não devolva até que eu possa ler, me promete.

__ Combinado.

Meio ressabiada, Laura pegou seu caderno e mostrou algo para a amiga, dizendo:

__ Dê uma olhada nisso aqui... Você acha que serve para retribuir o empréstimo do livro?

Tais olhou atentamente, as folhas de papel, que a Laura lhe mostrou e com os olhos brilhando disse:

__ Laura estão maravilhosos, agora é que eu preciso ler mesmo esse livro, para ter te inspirado assim, deve ser uma estória fabulosa!

__ É uma bela estória, Tais, uma das melhores que eu já li, e o mais surpreendente é que foi ele que escreveu. Como? Pelo que sei ele começou a estudar a pouco tempo, e o pai é um feirante, simples e sem instrução, assim como a mãe, eu acho. Pelo menos foi o que Dú descobriu, nas rápidas conversas que teve com ele.

__ É realmente uma surpresa, mas pode ter várias explicações, não seja limitada amiga. Há um ano atrás eu também não sabia ler, e hoje veja só o quão a vontade me sinto com as palavras.

__ É verdade, você tem razão. Estou parecendo a minha mãe ...

As meninas esgotaram o assunto, e ficou acertado que Laura deveria sim entregar os desenhos para Edgar. Se ele não gostar, paciência ...

Tais, então contou a amiga, tudo o que fizera em sua viagem, e do baú que ganhara de sua avó ...

__ Laura, ela me deu todos os livros que eram do meu avô, disse que eram minha herança, já que eu era a primeira mulher da família a aprender a ler. Imagina como estou maravilhada, nem foi possível ver todos, mas há vários títulos e assim que você estiver melhor vamos explorar aquele baú ...

__ Que presente maravilhoso Tais... Mas um motivo para eu sair logo desse quarto! Não estou me aguentando mais...

__ Calma. Será que você vai poder ir a aula amanhã?

__ Papai disse que sim, desde que eu não fique andando. Ele irá me levar.

Assim elas embrenharam em outras conversas e brincadeiras, e o tempo esgotou-se rapidamente, como sempre acontece quando estamos com verdadeiros amigos.


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Notas finais do capítulo

Agradeço imensamente o carinho de todos os leitores, abraços e até mais.