Belos tempos. escrita por Laucamargo


Capítulo 14
Visita inesperada


Notas iniciais do capítulo

A amizade de Laura e Edgar dá mais um singelo passo ..



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A tarde Laura não estava completamente boa, mantinha-se num estado febril, mas alimentou-se, resmungando bastante, que não estava com vontade e que Du estava lhe entupindo de tanto comer ... Depois de examinada pelo pai, recebeu autorização para andar um pouco pelo jardim em frente a casa e ficar na sala.

Laura não quis ficar no jardim, logo pediu para sua bá levá-la para a sala. E lá estava num vestido simples e lendo um dos livros que Tais lhe emprestara, quando Du lhe avisa que tinha visita.

–Quem é Du? Ninguém avisou que vinha ...

– É que essa visita, geralmente vem sem avisar, mesmo...- E dirigindo-se a figura parada na porta convidou-lhe a entrar. – Entra, menino, ou vai ficar parado ai a tarde toda?

– Oi Laura. Se você quiser eu vou embora ... eu não sabia que você estava doente ...

–Oh! Edgar! Eu não estava esperando ... quer dizer só estou surpresa. É claro que quero que você fique! Sente-se, fique a vontade.

–Bem acho que vou preparar um lanche para vocês. Talvez em sua presença essa mocinha pare de resmungar para comer, Edgar!

Laura não sabia o que fazer para disfarçar seu constrangimento ... Era um sentimento bom e ruim ao mesmo tempo ter o Edgar ali em sua sala. E cada vez que ele fazia uma surpresa assim ela ficava sem ação. Não sabia direito o que fazer! Era diferente de quando o encontrava na escola ou no vilarejo, por acaso. Ele viera para vê-la e isso a deixava sempre envergonhada e sem palavras!

–Como esta o filhote? Até a última vez que nos falamos você não tinha escolhido um nome ainda.

– Ah, é ... Ele ... ou melhor ela, esta muito bem. Você tinha razão é muito mansinha e não dá trabalho nenhum. Agora estamos tentando fazê-la entender que se chama Bilica, para os íntimos, Bibi.

– E isso é nome de cachorro?

–Claro que é. E um nome muito meigo!

–Se você diz, eu tenho que acreditar ... E essa gripe, você estava bem na sexta.

– Papai até caçoou de mim, ele disse que eu adoeci de emoção.

–Como? E isso é possível?

– Não bobinho, é brincadeira dele. Eu saí para cavalgar um pouco ontem pela manhã e quando voltei já não estava me sentindo muito bem ... e só piorei depois...

– Você sempre arruma uma aventura quando sai para cavalgar?!

Como Laura olhou para ele com cara de poucos amigos, Edgar rapidamente sorriu e gracejou com ela:

–Calma, calma esquentadinha estou brincando! Acho que vou arrumar uma placa para te avisar antes, assim não apanho de você na próxima vez que eu fizer uma gracinha...

–Edgar! As vezes você é tão irritante!

Agora já rindo, os dois conversavam animadamente quando Du retornou com o lanche. Dividiram a refeição, num clima alegre e Laura mesmo sem apetite comeu bastante, queria parecer forte para Edgar. Logo Bibi, juntou-se a eles e aí a festa estava completa. Riram muito das estripulias da pequena cachorrinha.

–Laura, eu preciso ir. Logo escurece e não avisei mamãe que eu ia demorar.

– Edgar, adorei sua visita, você é irritante mas as vezes é engraçado.

– Alguém tem que amansar você não é Laurinha!

Eles não notaram, mas, Dr. Assunção estava no arco que separa as salas e ouviu o final da conversa:

–Mas olha só isso! Quem ousa chamar minha menina por esse apelido?!

Edgar levantou-se num salto, assustado com a chegada repentina do pai de Laura. Ele planejava sair antes que ele voltasse ...

–Dr Assunção. Me desculpe. Eu vim ver a Laura, Sr Benjamim me disse que ela não estava passando bem. Já estou de saída.

–Calma rapaz! Só estou brincando. Você quer “amansar” minha Laurinha e tem medo de uma brincadeirinha!?

Todos caíram na risada. E Edgar acabou por ficar mais alguns minutos conversando com Dr Assunção, mas por fim despediu-se, sem saber se o convite para voltar do Dr. era por educação ou sincero.

Já sentindo-se melhor, mas por recomendação do pai, Laura recolheu-se cedo e dormiu logo depois de tomar um caldinho que Du lhe dera. Não sentia mais febre, restara apenas um leve cansaço ...

Acordou de madrugada, assustada com o rimbombar dos trovões e a claridade dos raios ... seu “cão de guarda” dormia o sono dos justos, bem acomodada na caminha que fizera para ela.

Aos poucos o ritmo da chuva batendo em sua janela, embalou seu sono e logo estava a dormir novamente.

Laura acordara bem disposta pela manhã, e do resfriado restara apenas uma pequena rouquidão, mas o pai recomendou-lhe ficar em casa e descansar para recuperar-se completamente antes de voltar a escola.

Apesar de ter ficado em casa a contra gosto, era evidente que o repouso acelerara a melhora de Laura. A tardezinha, sua amiga Tais e a mãe vieram lhe fazer uma visita.

Assim que ficaram a sós, Tais pôs-se a contar para a amiga o acontecimento da manhã na escola...

– Laura, eu não quis dizer na frente de mamãe, porque ela com certeza me chamaria a atenção por eu trazer preocupações para você...

– O que aconteceu de tão preocupante assim Tais, me conta logo, ou é capaz de eu voltar a ter febre de curiosidade!

Laura brincou, imaginando alguma peripécia dos colegas, ou quem sabe uma brincadeira nova, mas rapidamente seu coração apertou-se ao ouvir a amiga referir-se ao Edgar ...

– ... eles estavam fazendo comentários maldosos a seu respeito para o Edgar, de início parecia brincadeira, mas um dos meninos, aquele de cabelo avermelhado, lembra? Que certa vez derrubou o meu lanche?

– Sim lembro. O que tem ele? O que aconteceu, conta logo criatura!

– Eu não sei direito, porque o que eu vi parecia uma dessas brincadeiras bobas de meninos, mas quando dei por mim esse cabelo vermelho estava no chão e com sangue saindo da boca. O Edgar deu-lhe um soco. Aí você pode imaginar a bagunça que virou o intervalo e os dois foram parar na sala de D. Ana... e eu não fiquei sabendo de mais nada, só o “disque me disse” na saída.

– E o Edgar, como ele está?! E eu aqui, sem poder sair ... Talvez a Ba me leve no vilarejo hoje, então talvez eu saiba de mais alguma coisa ... – Laura pensava em voz alta, já com planos mirabolantes para fugir ao repouso recomendado pelo pai.

– Amiga, eu não queria te deixar preocupada, mas seria pior não saber. Eu preferia que você me contasse se a situação fosse inversa... Mas pode tirar esse pensamento de sair daqui hoje. É óbvio que o seu pai não vai permitir. E também acho melhor ele não saber dessa briga!

– Mas Tais, eu só quero saber como ele está! - Falou, triste admitindo que a amiga tinha razão.

– Amanhã saberemos. Você provavelmente vai à aula, e então saberemos ...

– É vamos esperar ...

Logo, Du retornou com D. Marta que já chamava a filha para irem embora.

Laura, despediu-se da amiga, com o desejo de que ela pudesse ficar mais um pouco para conversarem ...

Por Edgar.

Depois de receber uma bela reprimenda pela diretora da escola, ainda ouviu pacientemente a bronca dos pais. Ele achou melhor não falar muito, pois sabia que havia exagerado, porém se não freasse aquele mexeriqueiro ele logo criaria problemas e como pedir educadamente não funcionou ele seguiu o conselho do avô: “Resolva os problemas assim que eles aparecem, ou ficarão maiores que você.”

Os seus amigos, as vezes faziam um gracejo ou outro, mas eles sabiam da consideração que Edgar tinha pela Laura e no fundo invejavam a amizade dos dois, como já haviam confessado nos momentos em que a conversa era mais séria. Mas aceitar aquele problema ambulante a fazer piada de sua amiga e da amizade com ele, isso ele não iria tolerar e já o havia avisado de que parasse de dizer tantas ofensas, mas não adiantara, estão quando deu por si já o havia derrubado com um soco. Não gostava de resolver seus problemas com violência, mas nessa ocasião não conseguiu controlar-se .... o pior é que não estava arrependido.

Quando subia para o quarto, para começar a cumprir o castigo, Edgar só pensava na vergonha que sentiria quando Laura soubesse do ocorrido. Para sua sorte, ela não fora a aula, mas como já estava bem melhor do resfriado na última vez que a vira, provavelmente estará na escola no dia seguinte.

Sozinho em seu quarto, ele voltou a trabalhar em sua nova história ... e logo tudo desaparecia para dar lugar a magia das palavras.

Ele resolvera colocar no papel a estória que havia criado para o irmão, Edson. Os personagens, Mariana e João Alfredo, eram dois irmãos que moravam numa casinha no bosque com os pais, e o quintal da casa era um mundo maravilhoso e cheio de aventuras... para eles bastava imaginar e tudo se tornava real. Seu irmão adorava ouvir as estórias que ele geralmente criava de improviso, por isso resolveu registrá-las.

Quando terminou a primeira estória, da série que seria as aventuras dos irmãos, logo se pôs a pensar se Laura gostaria de lê-las quando estiverem prontas... Ela aprovou a estória que ele lhe mostrara quando ela estava a se recuperar do acidente, pareceu sincera... talvez quisesse ler estas também! Mas logo seu coração se apertou ... O que ela pensaria dele quando soubesse da briga na escola? Talvez nem quisesse falar com ele novamente ... De alguma forma, a possibilidade de perder a amizade de Laura lhe angustiava e era o único castigo que ele temia.


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Notas finais do capítulo

Até mais meus amores!