Belos tempos. escrita por Laucamargo


Capítulo 13
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Sempre me impressiona a maneira com que as crianças lidam com os problemas.... gostaria de não ter esquecido como se faz. Vamos a mais um pedacinho desse causo...



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Naquela noite, Laura pediu para dormir com sua Bá, como fazia quando era bem pequenina. E sem coragem de lhe negar esse pedido, a bondosa senhora a acolheu. Contou-lhe um linda estória e brincaram de escolher como chamariam o filhote, que ainda estava sem nome. Até que ficaram entre Bibi, de Bilica, Rô, de Rosa e Sofi de Sofia. Mas Laura acabou por escolher Bibi, de Bilica, e as duas riram muito, tentando fazer a cachorrinha entender que esse era o seu nome.

O sábado amanheceu esplendoroso, perfeito para um passeio com Trovão, agora que seu pai disse que ela já poderia ir um pouco mais longe, desde que avisasse para onde e determinasse quando voltaria.

A pequena Laura encontrou-se com o pai na mesa do desjejum e com os olhos eles afirmaram que iam conseguir resolver tudo, e que no fim tudo daria certo e eles ficariam bem ...

Era notável que os dois tentavam evitar falar do assunto que pesava em seus corações e depois de muita insistência Du sentou-se a mesa com eles e riram lembrando-se das peripécias da cachorrinha agora chamada Bibi.

– Eu sabia que não deveria ter dado tanta trela pra esse menino. Veja só o que ele me arrumou agora?!

–Ora, papai, o sr mesmo viu ela é realmente muito mansinha e nem chora a noite e eu vou cuidar muito bem dela, ela não vai dar trabalho algum, pode acreditar.

Com um sorriso vencido Dr Assunção, que já havia terminado o desjejum, pediu licença e dirigiu-se para o estábulo a fim de acompanhar a acomodação dos novos animais que havia adquirido.

– Posso ir ver os cavalos também Pai?

– Pode Laurinha, mas espere só até o fim da manha, porque eu nem os vi ainda e alguns precisarão de um pouco mais de doma.

– Vou me encontrar com o senhor então um pouco antes da hora do almoço, pode ser?

–Sim, agora eu preciso ir, tenham um bom dia!

Laura e sua bá, ainda aguardaram uns instantes em silêncio, enquanto Dr Assunção deixava a sala.

– Ele esta muito triste não é Ba?

– É natural minha menina ... mas não quero você preocupada com isso, lembre-se do que falamos ontem a noite!

– Sim, você tem razão bá, é um problema deles e eles têm que resolver sozinhos. Mas apesar de nunca ter dado certo com minha mãe, eu estou sentido saudade dela, gostaria de saber se esta bem entende?

– Então, porque você não escreve para ela?! Ou talvez você queira ir fazer uma visita a ela...

– Gostei da carta, mas a visita eu dispenso, eu não gosto muito da capital, você sabe disso, nesse ponto sou igual ao meu pai.

– Até parece que é só esse ponto não é Laura? Faz-me rir...

E assim terminaram o desjejum, e aos poucos a tristeza de Laura amainou-se, sua bá tinha razão, esse não era um problema dela, e ela não poderia fazer nada para ajuda-los, só poderia continuar amando-os e era isso que iria fazer.

–Du, papai permitiu que eu andasse com Trovão um pouco hoje, e eu vou só até o limite da mata, próximo da gruta.

–Você quer que eu vá com você?

–Agora é você que esta me fazendo rir! Você não chega nem perto de um cavalo D. Lurdes, como quer ir comigo?!

– Ah, não sei, vou caminhando...

Com um beijo carinhoso em seu rosto, Laura disse:

–Não precisa, eu ficarei bem e não vou me demorar, e prometo não mudar o trajeto. Palavra de honra.

–E você tem isso menina, garanto que você nem sabe o que é!

– Sei sim, Du, eu já sou bem crescida e todos dizem que sou uma menina muito sabida!

Ainda na brincadeira, Du com carinho disse á sua menina:

– Então, por favor use essa sabedoria toda para não se machucar, pode ser?

– Sim, pode deixar que estarei aqui em no máximo duas horas, dona mandona!!

E já esquecendo de todos os problemas, Laura saiu alegre rumo a cocheira onde estava o seu pônei. Lá o menino João a ajudou a montar depois de preparar o Trovão e repetiu as recomendações que o patrão havia lhe dado.

– Pode ficar sossegado, daqui a pouco eu estarei aqui. Eu aprendi a lição direitinho!

Saiu trotando devagar do pátio dos estábulos, ao longe viu o seu pai e o sr Benjamim conversando provavelmente sobre os cavalos que haviam chegado no dia anterior.

–Vamos companheiro, você esta sentindo falta de liberdade também, não está? - falou afagando o pescoço do Trovão.

Para Laura, não havia nada mais purificador do que sentir o vento batendo em seu rosto e o ritmo das patas de seu querido trovão batendo no chão.... era uma sensação única e ali parecia-lhe que o mundo era perfeito. Pelo menos por alguns minutos, era isso o que teria: um mundo perfeito.

O único problema do dia é que era um sábado, e no sábado Edgar não poderia sair da mercearia pela manhã ... Mesmo assim ela resolveu que aproveitaria cada minuto desse tão aguardado passeio! O primeiro depois que ela se machucou.

Tomou bastante cuidado para voltar após um certo tempo, não queria deixar ninguém preocupado, e estava um pouco cansada, provavelmente por ter ficado um bom período sem montar, estava fora de forma ...

Ao entrar em casa, depois de entregar seu pônei aos cuidados do João, encontrou-se com Du, surpresa com seu rápido retorno.

–Mas não é que você cumpriu a palavra mesmo, não esperava você aqui tão cedo!

– Eu me cansei e resolvi voltar logo, acho que o sol esta muito forte e acabei perdendo o costume, depois de tanto tempo sem montar.

– É .... pode ser...

Mas Du não gostou do que viu, sua menina estava abatida e lhe pareceu um pouco quente quando tocou-lhe a testa.

–Laurinha, acho melhor você subir para o quarto. Vou preparar algo pra você comer e já te encontro lá, esta bem?

–Acho que vou me deitar um pouco mesmo Ba...

E saiu sentindo o corpo cada vez mais pesado ...

Como D. Lurdes desconfiara, Laura foi acometida por um forte resfriado. Assim que Dr. Assunção viu que sua filha não foi ao seu encontro, veio até a casa grande com receio de que ela pudesse ter se machucado de novo durante o passeio a cavalo. Mas para sua surpresa, encontrou-a dormitando em sua cama, com a incansável D. Lurdes ao seu lado ...

– Dr eu já estava para mandar chama-lo. Laurinha chegou desanimada, dizendo que estava cansada, mas logo vi que já estava com febre. E não quer baixar,... consegui que ela tomasse um pouco de canja e bebesse um pouco d’agua, mais foi só. O chá ela não quis nem saber!

Dr Assunção, já examinando a filha que oscilava entre um sono e o despertar, pediu a D. Lurdes que providenciasse alguns itens para ele e ela rapidamente foi atender ao seu pedido.

Passaram toda a tarde e a noite revezando-se para controlar a febre, apesar do medicamento que seu pai lhe administrou, Laura não melhorava e não aceitava nenhum alimento ... Preocupado, o Dr Assunção, começou a preparar tudo para ir com ela até a cidade, talvez precisasse dos recursos de uma clinica. Mas como sua menina era sempre dada a surpresas, na manha de domingo, depois de passar mal, quase toda a noite, acordou mais animada, e até mesmo alimentou-se direito. Só a febre é que se mantinha constante, apesar dos esforços, era baixa mais não ia embora. Por isso, Laura estava proibida de sair do quarto, pelo menos até ficar sem febre.

Laura e Du ocuparam o tempo lendo uma para a outra, e retomando alguns pontos de bordados, que para surpresa de sua bá, a menina estava fazendo com muito esmero.

– Mas que novidade é essa agora? Você esta bordando quase tão bem como eu!

– Ba, sabia que você é muito modesta?

– Isso é para gente boba. Eu sei que bordo muito bem e não vou ficar dizendo o contrário!

Rindo, Laurinha respondeu:

– Sabe o que é bá, eu gostei muito dessa ideia de vocês de ajudarem as mulheres do vilarejo. E se tem uma maneira de eu te ajudar com isso é aprendendo a bordar. Eu observei que algumas delas não sabe escrever, provavelmente não leem também...

– Mas o que é que esta passando por essa cabecinha?! Em todas as vezes que você me acompanhou eu não imaginei que estivesse prestando atenção. Até porque era eu me distrair um pouco e você já estava de conversa com seu “novo amigo”.

–Ah, já vai começar! Pode parar viu ... Edgar é meu amigo sim, e você sabe que eu gosto muito dele, gosto de conversar com ele e o papai não vê nada de errado nisso!

– Calma, oncinha! Eu só disse que você conversa com ele! Só isso! Eu também gosto dele, é um bom menino e sendo filho de Margarida, não poderia ser diferente ... E retomando o que você disse, vamos começar ensinando-as a costurar e bordar peças para vender na capital. A Lucia tem uma irmã que mora lá e se prontificou a expor a mercadoria em sua loja e com o que vendermos, e se vendermos, dividiremos entre todas as que participarem. De inicio estamos trabalhando com doações das esposas dos fazendeiros da região, mas logo não precisaremos mais.

–Então, por isso que resolvi aprender de vez essa tortura, assim posso te ajudar na associação.

– Então quer dizer, que você não aprendeu até hoje por que não quis?

– Ah, Du, eu não via utilidade para essa atividade, agora eu vejo!

– Laurinha, eu desisto, você vai dar muito trabalho para o seu pai, isso sim. E eu espero que ele saiba disso. – disse rindo da esperteza de Laura.


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Notas finais do capítulo

Abraços a todas e até mais ...



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