Ele sorriu e estendeu a mão pra tocar meu rosto mas eu dei um tapa em sua mão antes que ela entrasse em contato com meu rosto.

–Não me toque .Eu não gosto . -Falei voltando a olhar pra frente.

–Tudo bem. Posso saber seu nome garota misteriosa? -Ele falou divertido.

–Alexia. -Falei baixo.

–Alexia...Gosto desse nome, ele é diferente e bem louco também.

Sorri de leve olhando para as minhas mãos cobertas pelas luvas. Minhas unhas estavam todas ruídas e havia sangue seco nos cantos e elas estavam doloridas.

–Bonitas unhas . -Ele falou e eu estremeci . -As minhas são iguais.

Ele estendeu as mãos e vi que as dele também estavam ruídas.

É claro, ele era um garoto. Garoto não fazem as unhas, eu acho. Mas eu, sendo menina, deveria cuidar delas.

–Garotos não precisam ter unhas bonitas. -Falei.

–Eu pinto as unhas as vezes. De preto. -Ele falou sorrindo.

–Você é roqueiro não é ? -Perguntei.

–Sim.E você? É o que?

–Não sei , acho que não sou nada. -Falei.

As garotas saíram do vestiário e o técnico ordenou que todos corressem em volta da quadra.

Me levantei e comecei a correr e Dele fez o mesmo, facilmente me alcançando.
–Porque sua roupa é diferente das outras garotas? -Ele perguntou.

–Não te interessa. -Falei continuando a correr.

–Sabe, se você não quiser falar eu não vou forçar. Só não precisa ser tão grossa.

–Desculpe...É que eu não estou acostumada com pessoas falando comigo. -Me desculpei.

Até agora ele tem se mostrado uma pessoa legal e boa. Não merecia que eu fosse rude com ele só por uma pergunta boba.

–Tudo bem. Eu entendo. Me lembro bem como é se sentir assim, tão sozinho no mundo. Eu era como você, não falava com as pessoas, sofria Bullying , e tinha auto estima baixíssima. Agora as coisas melhoraram. Eu sei que sou gostoso. -Ele falou rindo no final.

Sorri pra ele.

–Então...Você é novo na cidade ou apenas trocou de escola? -Perguntei.

–Eu... Não estudava em escolas .Eu estudava em outro lugar. -Ele falou sério.

–Uma clínica? -Perguntei mas depois de ver seu rosto se contorcer de dor me arrependi. -Oh, desculpe. Não precisa responder.

–Não, tudo bem... Eu fui internado por um mês em uma clínica. E o resto do tempo estudei em casa. Meu médico não me dava autorização pra estudar em escolas.

–Eu também fui internada. -Falei.- Fiquei 3 anos lá.

–Nossa! Tanto tempo assim? E eu pensando que um mês era terrível.

–Foi bem ruim mas passou. Sai de lá a 2 anos. -Falei baixo.

–E seu pai e sua mãe não sentiram saudade? -Ele perguntou.

–Minha mãe nos abandonou quando eu era pequena. -Falei. -Mas eu já tinha sido diagnosticada quando isso aconteceu, o que só me faz acreditar que ela ter ido embora é minha culpa. -Falei.

–Não é sua culpa, meu pai me espancava todo dia e eu achava que eu merecia. Mas eu era apenas uma criança, como poderia merecer? -Ele falou dando de ombros.

Eu sorri pra ele. Pelo menos meu pai gostava de mim um pouco. Quando minha mãe foi embora ele cuidou de mim, e ainda compra meus remédios mesmo ganhando uma miséria no trabalho.

–E a sua mãe? -Perguntei.

–Minha mãe sempre amou a mim e a minha irmã. Ele batia na minha mãe também. Ela denunciou ele pra polícia mas ele fugiu, e nunca mais apareceu.

Continua...