Era muito velha para brincar... escrita por Carolina Trindade


Capítulo 2
Capítulo 2




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CAPÍTULO 2

Oito anos se passaram, era aniversário de Natalie. Ela havia crescido forte e inteligente, um amor de menina. A tia de Jane foi passar o fim de semana com eles, para comemorar.

Natalie adorou a mulher, adorou ainda mais o presente que a velha lhe dera: uma boneca, um pouco menor que Natalie, que era meio pequena para sua idade, com cabelos negros e pele branca assim como ela. Quase poderia ser confundida com uma menina de verdade. Quase. A diferença entre a menina e a boneca era que, Natalie tinha olhos vermelhos e a boneca, olhos amarelos.

John estava no trabalho e deixou a velha cuidando de Natalie. Então resolveram dar um passeio no bosque no fim da tarde. Elas andaram pelas margens de um pequeno rio que havia ali, colhendo as belas flores que a vegetação possuía naquela época. Fizeram um pequeno piquenique e foram brincar de esconde-esconde em meio às árvores.

Marie era a primeira, ela procurou e procurou a menina, mas não a encontrava em lugar algum, ela continuou procurando em todos os lugares, mais de uma vez. Voltou ao lugar onde deixaram suas coisas, mas havia apenas a velha cesta, e a boneca não estava mais lá, ela havia falado para Natalie deixar a boneca ali para não a perder e, quando saíram dali, ela não portava a boneca. Então continuou procurando a menina, e começou a se desesperar, correndo loucamente. Então se virou para trás, mas não encontrou a trilha pela qual chegara ali, apenas muitas árvores e arbustos.

No céu a lua já brilhava, Marie estava mais que preocupada com o desaparecimento de Natalie. Foi então que ouviu um barulho em meio à mata.

— Quem está aí? É você Natalie?- perguntou para a escuridão.

Não houve resposta. Os barulhos iam se aproximando mais e mais. Marie estava com medo, muito medo. O que havia acontecido com Natalie? Onde ela estava? Será que estava bem? Ela não sabia. Mas nunca iria saber, já que algo acertou sua cabeça fazendo com que despencasse no chão. Antes de apagar, pôde ver a silhueta de uma menina, mas um sorriso não humano e os olhos...

John chegou em casa cansado e com fome. Foi até o quarto de Natalie, que dormia como um anjo, abraçada com a boneca. Andou pela casa à procura de qualquer coisa diferente. Nada, mas Marie não estava em nenhum lugar, talvez voltara para casa mais cedo, mas deixou Natalie sozinha? Que irresponsabilidade! Não era a cara de Marie fazer algo desse tipo. Mas ele resolveu deixar de lado e ir pra cama.

Na manhã seguinte, era um belo dia de sábado. John não iria para o trabalho, ninguém trabalha em fins de semana por ali. O dia estava ensolarado, então resolveu fazer um passeio de barco com a filha.

Pegaram alguns sanduíches e água para o almoço, ele não queria ter que voltar ali antes do pôr do sol. Levou também umas iscas e varas de pescar, quem sabe não tivesse sorte de ainda restarem peixes naquele lago.

E assim, passaram a tarde inteira pescando e conversando sobre a escola. John tinha pena da filha, ela costumava falar que as outras crianças a maltratavam ou a ignoravam, chegou até a falar com a professora de Natalie, mas essa daí era outra que não gostava de sua filha.

Estavam voltando para casa, seguindo a margem do rio. Foi então que John avistou uma pilha na beira do rio, à medida que se aproximava, a pilha ia tomando forma e o cheiro de carne podre era ainda maior. Ele correu até o corpo que jazia no chão. O susto foi imenso. O cadáver destruído era Marie! Coitadinha, seu corpo estava muito desfigurado, os olhos estavam fora das órbitas, uma grande concentração de sangue em seu peito, e na barriga exposta estava com arranhões que pareciam letras destorcidas. Não. Realmente eram letras, uma caligrafia até bonita para um relevo como a enorme barriga de Marie. Parecia uma mensagem, John conseguiu ler: Ela já era velha para brincar de esconde-esconde. Ele se virou para a filha.

— Não veja isso! Vamos para casa, vou chamar a polícia! – ele pegou a menina no colo e se pôs a correr.

Uma hora depois os policiais chegaram. John explicou tudo a um detetive que tinha um nome um tanto esquisito, Boringuer. Eles levaram o corpo. John resolveu ir falar com a filha.

— Natalie, você sabe o que aconteceu com sua tia? O que aconteceu ontem, meu amor?

— Não sei papai. Estávamos brincando de esconde-esconde no bosque, e eu me cansei e voltei para onde deixamos nossas coisas. Então a boneca disse que a tia Marie foi até a cidade comprar bolinhos e chocolate-quente, e que era para eu ir para casa.

— Natalie, bonecas não falam, meu anjo. Diga a verdade.

— Mas estou falando papai! Eu esperei a tia Marie, mas acabei dormindo. Quando eu acordei você já tinha chegado, ainda era noite, então Mary-Lynette me contou histórias para dormir.

— Quem é Mary-Lynette? – perguntou um tanto assustado.

—É a minha boneca, ela me disse que se chama Mary-Lynette. Disse que vem de uma antiga dinastia que reinava na França, ela disse que o pai dela era o rei. Ela é uma princesa, papai! – disse a menina sorrindo inocentemente.

— Natalie, meu amor. Bonecas não falam, não têm história e não contam histórias para dormir. Falando em dormir, vá para a cama, você precisa descansar.

— Tudo bem, papai. Boa noite. - ela abraçou o pai e foi para seu quarto.


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