Abrindo os Olhos de Mário Calderón escrita por Wanda Filocreao


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Ola pessoal estou postando o capítulo 8 da fanfic. Espero que gostem e se possível comentem.



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Mario sai da garagem da Ecomoda, cheio de caraminholas na cabeça.

“Que mar de confusões! Eu vi e ouvi, mas custo a acreditar! Preciso de ar puro! Acho que vou precisar reabastecer meus neurônios em qualquer casa noturna. - pensa ainda confuso - Quem sabe uma companhia feminina me tire deste estado de choque?” – pergunta para si mesmo.

Pensando assim dirige por várias quadras até encontrar o que procura, uma badalada casa noturna, bem no centro de Bogotá. Decidido para o carro em frente ao estabelecimento.

Desce do veículo ainda com as pernas bambas. Cumprimenta o manobrista e entrega a ele as chaves de seu carro para que estacione.

Vaidoso como sempre, olha para um espelho bem na porta de entrada, dá uma última conferida no visual, observando se está de tudo de acordo e entra na boate.

Lá dentro se depara com muito barulho. Barulho da música e do burburinho das pessoas conversando, rindo e se divertindo.

Alguns conhecidos logo que o veem, se aproximam e o cumprimentam com simpatia.

Uns dão tapinhas em seu ombro, outros lhe apertam a mão e outros ainda o abrançam, demonstrando alegria ao encontrá-lo.

Mario é tido por todos como um caral legal, alegre e brincalhão. Um homem desencucado. Alguém sem preocupações e que gosta de aproveitar a vida e os prazeres que ela lhe proporciona. Todos o admiram e gostam de usufruir de sua companhia.

Mario os cumprimenta e depois de algumas palavras logo se afasta, procurando Deus sabe o quê. Pois nem ele mesmo sabe o que quer. Se sente deslocado em meio a tantas pessoas. É como se não pertencesse mais aquele lugar.

Várias garotas lindas, daquelas com medidas: 60, 90, 60, verdadeiras modelos, quando o veem se acercam dele todas carinhosas, distribuindo doces beijinhos em sua face.

Mario bem que tenta, mas não consegue retribuir. Tenta ser simpático com elas, mas não consegue, ainda está muito pertubado em vista dos últimos acontecimentos.

Acredita que precisa relaxar, pede então um uísque e já no primeiro gole sente o estomago embrulhar.

O gosto não está como de sempre.

Deixa a bebida de lado.

“Não, decididamente hoje não é meu dia. Eu não serei uma boa companhia pra ninguém e muito menos quero companhia alguma.

Estou me sentindo como um peixe fora dágua. Este não é o lugar que necessito. Preciso sair daqui o quanto antes! Estou me sentindo sufocado!”- pensa aflito.

Paga a bebida e se despede das garotas, que ficam de boca aberta vendo-o sair.

Seus conhecidos também ficam admirados do jeito do amigo, pois ele costuma ficar até tarde e sai sempre muito bem acompanhado.

No entanto esta noite parece que há algo diferente em Mario Calderón.

Ele acena para eles e sai rapidamente da boate.

“Armando Mendoza! Olha só o estrago que está fazendo comigo! Por que estou assim tão impaciente e sem nenhuma motivação? Eu mesmo não me entendo! Acho que devo ir para o meu apartamento.” - reflete sem entender o que se passa consigo mesmo.

Sai da boate e pede ao porteiro que lhe traga o carro imediatamente.

Enquanto espera, olha ao redor e vê vários casais abraçadinhos, olhando-se com aquele mesmo brilho intenso nos olhos que ele detectou em Armando e Betty.

“Eles parecem muito felizes, como se o mundo fosse cor de rosa e como se os problemas não existissem. Cor de rosa! Mundo lindo e maravilhoso! Acho que estou delirando!”- pensa enquanto espera o manobrista.

No íntimo sente raiva! Raiva de tudo e de todos!

Raiva por nunca ter tido o que eles têm! Raiva por sua vida ser o que sempre foi solitária e vazia! E finalmente raiva por voltar de novo a estaca zero.

“Não! Não posso voltar a ser aquele menino triste e solitário de muitos anos atrás.

Eu me recuso a voltar a sofrer tudo outra vez! Não posso me entregar assim! Por favor, Meu Deus! Me ajude! Me dê uma luz! Me indique uma saída! ”

Assim que o manobrista aparece com seu automóvel, ele agradece, entra no veículo e começa a dirigir pensativo e sem rumo.

“E agora? O que faço? Volto para a solidão de meu apartamento e fico lá deprimido com minhas lembranças do passado ou devo ir a outro lugar?” - pensa com seus botões.

“Pelo visto a minha noite está perdida. Não vejo outra alternati... – está refletindo quando se depara com uma cena curiosa.

Ao parar em um farol vermelho vê um homem cego com um cão guia atravessando na sua frente e entrando numa grande livraria do outro lado da calçada.

Ao ver o deficiente visual, Mario lembra-se imediatamente de Nanda.

Mas fica curioso. “Um cego numa livraria? Como pode isso?”

Como sempre a curiosidade vence! Com certeza tem que bibilhotar e matar a sua tão aguçada curiosidade!

Imediatamente dá sinal para os carros que porventura veem logo atrás dele e estaciona nas imediações da livraria.

Desce do carro rapidamente e entra também no estabelecimento, seguindo o homem cego com seu cão, a certa distância para que não percebam a sua presença.

Observa o cego dirigir-se a um determinado stand e logo vem uma recepcionista lhe atender.

Mario para a uma distancia onde pode ver e ouvir o que falam.

– O senhor deseja algum livro específico? –pergunta a jovem ao cego.

– Sim. – fala o homem- Eu estou procurando um livro infantil, só que em braile, pois tenho um filho pequeno e ele ainda não sabe ler e gostaria muito de eu mesmo ler uma história para ele.

Mario fica surpreso com o pedido do homem e enquanto a moça vai a procura do livro, ele não se aguentando de curiosidade se aproxima do homem.

– Boa noite! - fala de repente - O senhor não me conhece. Eu me chamo Mario Calderón.

O cego a princípio fica surpreso, mas acostumado sempre a ser interpelado por curiosos querendo saber como se vira em várias situações, se tranquiliza e estende sua mão a ele e lhe sorri com simpatia:

– Boa Noite! Muito prazer senhor Mario. Eu me chamo Geraldo Gutierrez Galácia. O senhor deseja algo? - questiona o homem curioso com essa aproximação repentina.

– Não, me desculpe. É que ouvi o senhor falando de um livro em braile e como tenho uma amiga deficiente visual também, gostaria que me indicasse um bom livro.

Geraldo logo se interessa e lhe pergunta:

– A sua amiga também é uma criança como meu filho?

– Nã...Não. Ela já é uma moça, acontece que ela tem dois irmãos gêmeos de sete anos e creio que eles adorariam vê-la lendo uma história para eles.

Geraldo fica tocado com o interesse de Mario pela jovem e por seus irmãos, e perspicaz percebe que de alguma maneira este interesse vai além da amizade. E nota sinceridade em sua voz, algo que ele consegue identificar a léguas de distância.

– Por favor, vamos nos sentar – sugere para Mario - Sentados poderemos conversar melhor sem atrapalhar a passagem.

Mario concorda imediatamente e ajuda Geraldo guiando-o a umas poltronas bem confortáveis ao fundo da livraria, onde poderão ficar tranquilos conversando.

Ele observa curioso que o cão vai guiando o deficiente não deixando que ele tropece ou esbarre em qualquer obstáculo.

Assim que eles se sentam, o cão se senta do lado da poltrona onde está seu dono e fica lá tranquilo e sossegado.

– Fico admirado com o comportamento de seu cão. – fala Mario ao cego.

– Ah! Este é Homero é o meu cão guia, ele já está comigo há 3 anos. Ele foi treinado desde filhote para guiar pessoas como eu, deficientes visuais. Ele é mesmo um amigão. – fala Geraldo enquanto acaricia a cabeça do animal.

Mario percebe o entrosamento entre eles e fica surpreso.

Logo a seguir aparece a funcionária da livraria trazendo nos braços uns dez livros infantis e os entrega nas mãos de Geraldo, Mario o ajuda, pegando metade dos livros.

Ele observa que os livros são como os comuns que nós vemos em qualquer lugar, com ilustrações grandes e coloridas, só que ao abrir se depara com vários pontos em relevo, passa a mão e pode sentir esses pontinhos. “Então isso é que é o braile, a linguagem escrita para os cegos.” – analisa com interesse.

Fica curioso e pergunta ao Geraldo:

– Você consegue decifrar tudo o que está escrito aí?

– Consigo sim! – afirma o deficiente- Para mim é muito natural, consigo ler tudo com as mãos. Pois desde menino aprendi a linguagem para cegos.

Mario fica surpreso com o seu comentário.

– Então qual o livro que você indicaria para dois garotos que estão no início da alfabetização. - pergunta Mario com interesse.

– Qual o seu livro preferido na infância?- devolve-lhe com outra pergunta Geraldo.

Mario fica um instante pensativo e depois parece que uma chama se acende em sua memória e se lembra de um livro que sempre gostava de ler.

– Eu vivia lendo “O soldadinho de chumbo”- diz com um tom de melancolia na voz, que não passa desapercebido pelo cego.

– Pois então é esse livro que você deve levar. Pela sua voz pude notar que foi um livro que marcou muito a sua vida. Ou estou errado?

Mario se surpreende com a perspicácia do homem.

– Não. Você está certo. Este livro me acompanhou em muitos momentos difíceis ele me trouxe muito alento e consolo. - fala Mario com voz triste.

Geraldo rapidamente tateia o monte de livros e encontra com facilidade o livro a que ele se refere e o estende a Mario.

– Leva esse então meu amigo. Eu conheço essa história e é muito bonita. Tenho certeza que seus amiguinhos e a irmã deles vão gostar muito. Pois é algo que te tocou profundamente na sua infância e tenho certeza vai tocá-los também. – fala Geraldo com sabedoria.

Mario pega o livro das mãos do homem e agradece. Ainda tem dúvidas sobre o que fazer.

Geraldo percebe e sabiamente lhe fala:

– Olha seu Mario eu não o conheço o suficiente, mas pude perceber que o senhor tem muito carinho por essa jovem e pelos seus irmãos. – começa calmamente – E se estou certo, creio que deva compartilhar com eles algo que vai em seu coração. E se esse livro foi assim tão importante para o senhor na sua infância, creio que os seus amigos vão ficar felizes por poderem de alguma forma compartilhar um pouco de sua vida. O que o senhor acha?

Mario fica um pouco pensativo refletindo nas palavras do homem e conclui que ele está certo e sorrindo lhe diz:

–Muito obrigado pelo conselho eu aceito de bom grado. O senhor está certíssimo.

Mario então começa a folhear o livro que foi tão importante na sua vida e repara com satisfação que além da escrita em braile tem também a escrita normal, sinal que os meninos quando souberem ler fluentemente também poderão aproveitar para ler o livro na hora que quiserem.

“Pronto está decidido! Vou levar o livro “O soldadinho de Chumbo”.- pensa determinado.

Mario observa Geraldo manuseando os livros com atenção e curioso lhe pergunta:

– E o senhor? Já se decidiu? Qual livro vai levar?

Geraldo lhe sorri e lhe mostra um livro com a figura de um menino de madeira, que imediatamente identifica.

–“Pinochio”- falam os dois ao mesmo tempo.

Geraldo e Mario riem descontraídos.

Os dois se levantam cada qual com o livro que vai levar e Mario chama a jovem que os atendeu. Ela faz rapidamente a anotação com o preço e eles seguem para o caixa para pagar a mercadoria.

Mario nota que quando Geraldo vai pagar o livro, ao abrir a carteira pega com presteza uma nota dobrada.

“Creio que para cada valor a nota é dobrada de forma diferente. Assim ele consegue identificar o valor.”- conclui enquanto o observa guardar o troco, dobrando as notas como havia pensado, de maneira diferente.

A seguir Mario também paga o seu livro e ambos saem da livraria com as sacolas com os respectivos livros.

Geraldo é o primeiro a falar:

– Tive um imenso prazer em conhecê-lo seu Mario, ou melhor, posso chamá-lo só de Mario, pois pela voz você me parece ainda muito jovem?

– Por favor, pode sim e eu também vou chamá-lo de Geraldo, pois vejo que tem mais ou menos da minha idade. – comenta Mario satisfeito.

Geraldo lhe estende um cartão e lhe diz:

– Quando quiser conversar tem aqui um novo amigo. Olha este é o meu cartão, sou advogado e trabalho aqui perto, neste endereço aqui, pode me procurar quando quiser.

Mario lhe agradece muitíssimo e aperta a mão que ele lhe estende com satisfação.

– Pode deixar Geraldo. Creio que em breve o procurarei para conversarmos com mais tempo. Espero que seu filho goste do livro.

– Eu também espero que os gêmeos e a irmã também apreciem “O soldadinho de Chumbo”. Boa noite meu amigo. – diz Geraldo.

– Boa noite Geraldo. – retribui Mario observando-o se afastar com Homero o seu fiel cão guia.

Mario ainda não sabe, mas ali acabara de começar uma bonita e sincera amizade que vai ajudá-lo muito no transcorrer de sua vida.

Uma amizade diferente das que estava acostumado a ter. Sem interesses ou cobranças.

Uma amizade que vai marcá-lo para sempre.

Parece que de alguma forma Deus do céu olhou para ele e ouvindo o seu lamento, mandou este homem para ajudá-lo de alguma forma.

Mario segue até o seu carro. Enquanto caminha sente-se mais tranquilo. Toda aquela agonia como que por encanto se dissipou. Está mais sereno e confiante. Tem certeza que dias melhores virão.

Entra no carro e coloca a sacola com o livro do seu lado. Olha para ela e é como se dissesse:

Tenho certeza que meus amigos vão gostar deste livro, pois de alguma maneira estarei abrindo meu coração para eles.

Sorri serenamente, pois em sua mente aparece a imagem dos dois pequenos e de sua linda irmã.


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Notas finais do capítulo

Aguardem os próximos capítulos.